
Série Zohra 3: Harwal
Eu tenho mais medo dos aliens gigantes do que de qualquer outra coisa… e agora estou presa com um deles. Ele é frio e impenetrável… mas tem algo nele que me atrai.
Ela é a solução oficial da equipe — a destemida que sempre dá um jeito nas situações mais complicadas. Pelo menos, é o que todo mundo pensa. Por trás da fachada de coragem, existe uma mulher fugindo do passado… e do seu maior medo: os imponentes Zohra, alienígenas de chifres ameaçadores. Ficar perto deles? Seu pior pesadelo. Mas quando a missão exige, ela não recua. Ela mergulha de cabeça, mesmo que isso signifique invadir um laboratório perigoso em sua cidade natal e se unir a Harwal, um Zohra tão enigmático quanto irritante. Ele a apavora. Ele a instiga. E sobreviver a essa missão vai exigir enfrentar tanto o inimigo lá fora quanto o medo dentro dela. Alguns monstros te perseguem. Outros fazem você querer persegui-los de volta.
Inferno na Terra
Livro 3: Harwal
Estou numa enrascada e tanto. Tudo deu errado, e eu fiz besteira ao ficar com a tripulação.
Trabalhei com eles por cinco anos. Bem quando eu começava a me sentir em casa, tudo desabou.
Nossa capitã — a Jas — agora é a Imperatriz dos Zohra. Ela sempre foi durona e diferente, então não é totalmente inesperado... mas ainda é muito estranho.
Confio na Jas. Sempre segui ela. Mas agora? Não faço ideia para onde estamos indo.
Odeio os Zohra. Não pertenço a este lugar — mas por algum motivo maluco, topei ficar com eles.
Em casa, as pessoas precisam de mim. Preciso de grana e farei qualquer coisa para cuidar da minha família.
Nem sei mais como vou ganhar dinheiro.
Por que eu disse sim?
Jas e o marido alienígena dela estão agindo como um casal normal, mas e quanto ao resto de nós? Onde nos encaixamos?
Pego meu coldre e vou para o meu quarto. Eu deveria estar em casa, planejando como me virar. Não presa aqui com os monstros que ferraram minha vida.
Todo mundo sabe que tenho más lembranças dos Zohra — mas não conhecem a história toda. Todos nós sofremos desde que eles invadiram. Alguns tiveram vidas terríveis antes disso também, então talvez a minha não pareça grande coisa. Mas ainda assim... a dor é minha.
Meus primeiros anos foram um inferno, mas eu escapei. Encontrei paz. Amor. Aí os alienígenas vieram e levaram tudo embora.
E foi um Zohra que fez isso. Uma daquelas criaturas com chifres, não-humanas, que agora estão ao meu redor.
Não me engano. Vejo através da falsa gentileza deles. Armas não funcionam neles, mas ainda carrego a minha. Não ajuda muito — mas me faz sentir melhor.
Não serei indefesa de novo.
Então por que ainda estou aqui?
Chego ao meu quarto. Depois de checar o corredor, uso meu cartão-chave e entro. Escorrego pela porta, cansada de sempre vigiar minhas costas.
Aquela coisa — o Zohra enorme — é o pior. Só de vê-lo trouxe de volta meus pesadelos.
Ele é quase idêntico ao que me machucou. Mesmo tamanho. Mesmos chifres. Só os olhos são diferentes — azuis em vez daquele branco-rosado doentio que ainda vejo quando durmo.
Não importa. Forma grande. Chifres de touro. O resto parece igual.
Então por que ainda estou aqui?
No começo, Greece me convenceu a entrar nessa loucura. Agora sei que preciso ajudar a levar o grandão para Joddel.
Joddel. Minha casa.
Eu morava em Bogotá quando o mundo acabou. Vi ela virar o lugar pobre e controlado que é agora. Trabalhei lá — antes e depois. Conheço como a palma da minha mão.
E me arrependo de ter deixado a tripulação saber disso. Sempre mantive meu passado escondido. Seguro.
Tudo que fiz — cada trabalho, cada escolha difícil — foi para proteger as pessoas que amo.
Agora, algo perigoso está vindo para minha cidade.
Tremo e cubro o rosto com as mãos. Eu deveria visitar Joddel. Ver a família. Relaxar. Em vez disso, estamos sendo levados para lá por sabe-se lá qual motivo.
Tudo deu errado, e é minha responsabilidade.
Eu poderia dizer não — sei que poderia — mas não vou. Vou me forçar a fazer isso e convencer Jas a topar. Preciso ajudar a consertar o que aconteceu naquele lugar terrível, estivesse eu diretamente envolvida ou não.
Sinto meu estômago embrulhar.
Ninguém pode saber toda a verdade.
Contei parte dela para as meninas. Um pouco de verdade. O suficiente para me conectar, não o bastante para revelar tudo. Tenho medo que sintam pena de mim — ou pior, me julguem.
Elas compartilharam seus passados numa boa. Eu não pude. Deveria ter feito, mas... estava com medo.
Levanto do chão, tranco a porta e pego um celular velho da mesa de cabeceira. Não faz mais ligações. São só... lembranças.
A tela mostra uma foto: eu, jovem, mais feliz — com aquele cabelo cacheado bobo que Aaron dizia amar. Eu era linda então, cheia de amor e empolgação. Nós dois éramos.
Passo para outra foto — Aaron e eu juntos. O braço dele me puxa para perto, nossos olhos verde-escuros brilhando de felicidade. Éramos felizes então.
Conecto fones de ouvido velhos e procuro as músicas dele. Tudo Enrique Iglesias, claro. Aaron tinha fases. Essa nunca acabou.
As músicas são antigas, mas continuo ouvindo. Aparelhos são caros. Armazenamento em nuvem é furada. Esse celular é tudo que me resta dele.
Dez anos da mesma voz.
Eu odeio isso.
A parte mais chata é que a maioria das músicas de Enrique são em espanhol, mas o tradutor as muda para inglês. Minha língua nativa, como todas as outras, foi tirada de nós. Só os pobres ainda ouvem suas línguas maternas. Mais uma coisa roubada de nós.
“I can be your hero, baby,” Enrique canta.
Essa era a favorita de Aaron. Ele cantava o tempo todo — mal e alto. Dizia que o significado era mais importante que como soava.
“I will stand by you forever.”
Outra mentira.
Cerro a mandíbula. Aaron não queria mentir. Mas foi forçado a isso.
Ele morreu há mais de dez anos. Um Zohra o matou. Eu vi acontecer.
Ele me salvou do meu passado. Das drogas. Da dor. Ele era meu herói.
Mas não deveria ter precisado ser.
Se eu tivesse sido mais forte... se não tivesse ligado para ele em pânico naquela noite... ele ainda estaria vivo.
Ele deveria ter ficado com o irmão. Mas atendeu esse telefone.
Eu não o merecia. Ainda não mereço.
Tiro os fones e desligo o celular. No banheiro, ligo a água quente e me sento embaixo dela, deixando-a queimar minha pele.
A culpa ainda me incomoda depois de todo esse tempo. Se as coisas tivessem sido diferentes, eu teria morrido com ele.
Amaldiçoo estar viva todos os dias. Vivo sem vergonha, fazendo coisas das quais não me orgulho. Mas orgulho não importa mais. Vivo para proteger os outros, como ele fazia. É a única forma de encontrar paz com o que aconteceu.
Enxugo os olhos e bato nos joelhos. Eu estava melhorando. Devagar. Mas agora? Tudo parece novo de novo.
Viver perto dos Zohra. Que piada.
Depois de me lavar, passo maquiagem e me olho no espelho. Meus olhos verdes, antes brilhantes, estão opacos. Nenhum rímel pode consertar isso.
Seco o cabelo e faço um coque bagunçado. Hora de resolver isso. Não posso esperar pelos outros — preciso proteger quem precisa.
Dei algumas informações para Jas sobre o laboratório — mas não tudo.
Eles não sabem que trabalhei lá como faxineira. Pagavam bem no começo. Limpávamos depois dos operários, cientistas, vendedores.
Aí o pagamento parou. E, como muitos outros, começamos a vender nossos corpos para sobreviver.
Fizemos o que era preciso para ficar vivos.
É uma coisa terrível de aceitar, mas é verdade se você quer manter as mãos limpas de sangue. Sempre há escolhas — escolhas que ninguém vê até ser tarde demais.
Eu poderia ter feito cabelos. Aberto um salão. Mas nada disso pagava o suficiente.
E eu tinha gente para proteger.
Fiz o que precisava. Ainda faço.
Com o tempo, mulheres começaram a sumir. Descobri o motivo: estavam sendo vendidas quando não havia outras coisas para vender.
Tentei sair. Quietinha. Mas me pegaram.
Foi assim que vim parar aqui.
Jas nos salvou. Pude ver meus entes queridos de novo. Mas essa missão — está me machucando.
Não só o perigo para minha casa. Não só a ameaça ao planeta. Eles. Os alienígenas que ferraram minha vida.
Mas não posso fugir.
Farei qualquer coisa para proteger a Vovó e o Dante.
Troco de roupa, colocando jeans e uma camiseta branca, pronta para falar. Preciso contar a Jas o que sei.
Respirando fundo, coloco meu coldre e arma, então destranco a porta.
Não saí da nave desde que chegamos, mas tenho certeza que Jas está com seu homem na nave dele. Deveria ter falado no centro de comando em vez de esperar até ter que passar pelos alienígenas.
Poderia esperar para vê-la de novo, mas posso perder a coragem.
Tem que ser agora — ou nunca farei isso.
Coração acelerado, vou até a saída. Olhando para o dia escurecendo, não consigo respirar.
A nave enorme deles está cercada de Zohra.
Não posso fazer isso. Recuo, mão trêmula na arma.
Eles dizem que não vão me machucar, mas como posso confiar? É absurdo. Ninguém diz “não vou te atacar” sem motivo. Completa besteira.
Isso é um erro. Um erro enorme. Eu me viro e esbarro em algo.
“Jesus!” grito, tentando pegar minha arma até ela cair no chão.
“Calma — espera! Está tudo bem,” diz uma mulher, segurando meus braços. “Não balance uma arma assim.”
Assustada, tento me soltar — até perceber que ela é humana. Só uma mulher baixinha, nada assustadora. Não uma das nossas.
“Oi, você está bem? Desculpe ter te assustado,” ela diz, me soltando devagar. “Meu nome é Ava. Moro nesta cidade.”
Aceno, olhando para trás. Vários Zohra com caras sérias vêm em direção à nave.
“Eu — não quero nada com eles,” gaguejo, me escondendo atrás da porta.
Ava olha para fora e acena. “Está tudo bem,” ela grita para os Zohra antes de se virar. “Estou aqui porque ouvi que vocês estão ensinando Harwal a ser um escravo guarda-costas. Não sei o que isso significa.”
“Merda.” murmuro, agachando e observando os alienígenas. Eles pararam de se aproximar, graças a Deus. Parecem prontos para me matar pelo menor movimento errado. Eu sabia que isso era um erro enorme. Eles vão nos matar a todos.
“Olá?” Ava diz, chamando minha atenção.
“Desculpe,” murmuro, ainda vigiando os Zohra enquanto pego minha arma. “O que você disse?”
“Vamos recomeçar,” ela diz gentilmente. “Sou Ava, e você é?”
Aperto sua mão. “Candice. Do que você precisa?”
Ela olha para os Zohra que estou observando, então me lança um olhar triste. “Você está-”
“Com medo deles? Sim. Ok? Talvez.” Levanto, guardando minha arma. “Do que você precisa?”
“O Shurak mandou Harwal para mim para treinamento de escravo, já que tenho experiência,” ela explica. “Mas não sei sobre escravos guarda-costas. É diferente de escravos comuns?”
Me forço a desviar o olhar dos alienígenas. Ava me observa, cabeça levemente inclinada. Respiro fundo, tentando sorrir — até ver seu pescoço.
Hematomas. Marcas de mordida. Talvez chupões.
Meu sorriso some. As lembranças voltam com força. Eu pensava que as marcas de dentes eram só o que meu captor gostava. Mas não. Coisa de Zohra.
“Escravos guarda-costas são diferentes. É um bom trabalho para Zohra,” consigo dizer, tentando não encarar seu pescoço. “Que tipo de alienígenas te possuíam, se posso perguntar?”
Ava cora e toca o pescoço, sorrindo suavemente como se fosse uma boa lembrança.
Ela gostou.
Meu Deus. Não entendo essa gente.
“Xalavianos e Fhaen,” ela diz, respondendo a pergunta que esqueci que fiz.
“Certo... eles geralmente não têm tipos diferentes de escravos,” digo, finalmente olhando em seus olhos. “Mas em cidades maiores, têm funções especiais. Escravos sexuais, guarda-costas — são os mais comuns. Humanos eram os principais no começo, mas agora é mais... misturado. Comércio galáctico e tal.”
Ela inclina a cabeça. “Então por que estou ensinando Harwal? Você claramente sabe mais do que eu.”
Meu rosto fica frio. Meus braços envolvem meu peito como proteção.
“Eu — não quero,” sussurro. “Talvez as outras meninas possam ajudar. Não tomo decisões — pergunta para a capitã.”
“Ah, a Shuran?” Ela olha para fora. “Tentei o quarto deles, mas estavam... ocupados.”
Esfrego meus braços, dando um passo para trás. “Certo. Então vamos achar outra pessoa.”
Ava me observa recuar. “Claro. Estou feliz em ajudar, mas preciso de alguém que realmente saiba. Você poderia me apresentar?”
Aceno rapidamente, acenando para ela seguir, grata por não insistir no assunto. “Vamos ver quem está por perto.”
“Harwal diz que é urgente. Gostaria de achar alguém hoje para começar o treinamento.”
Forço um sorriso, apertando as pontas dos dedos atrás das costas para manter a calma. “Estamos todos meio ocupados. Todo mundo está juntando informações sobre os lugares que visitamos. Não sei o quanto podemos ajudar.”
Minha mente está girando. Estou encurralada.
Rita e Greece estão ocupadas com trabalho técnico. Reyes está fazendo um monte de papelada. Rosaline provavelmente ainda está com o namorado alienígena e não saberia nada sobre sistemas de escravos.
E a capitã?
Com certeza ocupada.
Isso está indo exatamente para onde não quero que vá.
Não estou pronta. Não agora. Não tão cedo.
De jeito nenhum.
Não posso ficar perto daquele homem. Não posso ensinar ele a agir como um escravo. Um movimento errado, uma palavra errada — e ele poderia me matar. Só de pensar nisso me dá ânsia.





































