
O Professor
Ele foi a primeira obsessão dela — jovem, inteligente, inacessível. Agora ela é uma escritora de romances eróticos best-sellers, de volta aos corredores onde tudo começou. Quando seu antigo professor lê o que ela escreveu sobre ele, a linha entre fantasia e realidade se confunde — e o desejo se torna impossível de resistir.
Capítulo 1
SARAH
Ele era proibido. Meu professor. Meu primeiro desejo.
Dez anos haviam passado, e ali estava eu, de volta a Willowridge. Com um vestido que mais parecia um convite à tentação, um exemplar do meu livro recém-lançado – a história que nunca deveria ter sido contada – e um nó no estômago que não era nada parecido com a empolgação dos eventos literários.
Era algo mais profundo. Mais cortante. Uma ansiedade que me roía por dentro, como se o passado estivesse prestes a me engolir de novo.
Não era só mais um evento. Era o lugar. O colégio onde tudo começou. Onde aprendi, na pele, como a solidão pode doer.
Por um instante, foi como se eu visse minha versão de dezessete anos refletida nos vitrais empoeirados: a garota invisível, sempre encostada nas paredes, com livros como escudo e silêncios como armadura. Não frequentava festas, não trocava olhares com os meninos nos corredores, não usava roupas que chamassem atenção. Para as meninas populares, eu era só mais um móvel. Para os garotos? Nem isso.
Então, eu me refugiei nas páginas. Nos mundos onde podia ser quem quisesse, onde as palavras me abraçavam quando o real pesava demais. E me afoguei nos estudos, porque era a única coisa em que eu brilhava – mesmo que ninguém além dos professores notasse.
Mas, estranhamente, agora até aquelas lembranças tinham um gosto doce. O barulho dos armários se fechando com força, os posters desbotados nas paredes, as viagens de ônibus onde todos cantavam e eu só observava, absorvendo tudo como se fosse matéria de prova. Nunca participei, mas aquelas cenas faziam parte de mim também.
Não era tudo ruim. Havia os professores que acreditavam em mim, as tardes escrevendo em cadernos surrados, a descoberta de que algumas palavras pareciam ter sido feitas só para mim. Sem perceber, cada página virada, cada noite sozinha, cada dor silenciosa estava me esculpindo. Me preparando.
Porque eu não era mais aquela menina.
Agora, as pessoas sabiam meu nome.
Sarah Levick, a rainha dos romances eróticos. Um sucesso que nem eu mesma conseguia acreditar. Leitores no mundo todo devoravam minhas histórias, sussurravam sobre minhas cenas picantes como se fossem segredos proibidos. Falavam de mim como se eu tivesse construído um império, mas havia dias em que ainda me sentia uma impostora, à espera de alguém gritar: ”Fraude!”
E então veio o convite para o reencontro. Com um detalhe que me deixou gelada: ”Ex-aluna de sucesso. Autógrafos obrigatórios.”
Minha agente – e melhor amiga – era a culpada por eu estar ali, vestida como se fosse a protagonista de um dos meus próprios livros. Sandra, baixinha, cheia de curvas e energia suficiente para iluminar uma cidade, era a razão pela qual eu conseguia escrever entre xícaras de café e crises existenciais. Também era a razão pela qual eu estava prestes a enfrentar meus fantasmas.
“Tem certeza que esse vestido foi uma boa ideia?” perguntei, descendo do helicóptero, enquanto as hélices agitavam o ar frio do outono.
O vento bagunçava meu cabelo, trazendo o cheiro de folhas úmidas e fumaça de fogueiras – como se a estação quisesse me lembrar de que eu não pertencia mais àquele lugar.
Ajeitei a barra do vestido vermelho, justo demais, decotado demais, ousado demais. Sandra havia escolhido a dedo. Ele moldava meu corpo como uma segunda pele, e o decote era tão profundo que eu jurava que meu coração ia pular para fora a qualquer momento.
“Você preferia aquele moletom cinza furado?” ela rebateu, saltos altos batendo no chão com a confiança que eu nunca tive.
“Aquele é confortável”, murmurei, sentindo o ar frio arrepiar minha pele, enquanto uma onda de calor subia pelo meu pescoço.
Ela cheirava a baunilha e perfume caro, um contraste com o aroma terroso do outono. Um olhar seu foi suficiente para me fazer engolir qualquer protesto.
“Esse vestido é perfeito. Você só está com medo porque não é um moletom.” Ela ajustou os óculos escuros, caminha em direção ao carro que nos esperava como se fosse a dona do mundo. “É só uma noite. Amanhã, você volta a se esconder atrás do computador e escreve sobre sexo intenso que não faz há anos.”
“Ei!” protestei, mas ela tinha razão.
“Tô mentindo?” perguntou, já sabendo a resposta.
Suspirei. “Talvez não.”
“Essa é minha garota.” Ela entrou no carro com a elegância de quem nasceu para ser o centro das atenções.
Eu a segui, franzindo o cenho. “Tudo isso é realmente necessário?”
Sandra deu de ombros e pegou a taça de champanhe que nos esperava no banco traseiro. “Culpe seu ex-diretor. É assim que tratam a convidada de honra.”
“São três da tarde”, resmunguei.
“Hora não importa quando se é uma lenda.” Ela brindou sozinha, balançando a taça com um sorriso malicioso.
A viagem foi curta – trinta minutos –, mas suficiente para que as memórias me atingissem como um soco no estômago.
O ensino médio não foi sobre amizades para mim. Foi sobre professores. Eles me viam quando os outros não viam. Sorriam para minhas redações, me empurravam para concursos que eu nunca teria coragem de enfrentar sozinha. Aqueles pequenos gestos me fizeram acreditar que eu importava.
Entre uma linha escrita para a escola e outra para um livro, comecei a sonhar. Não em ser popular, não em ser notada – mas em ter minhas próprias palavras um dia. Palavras que fossem só minhas, que contassem minhas histórias.
O prédio estava quase igual: a varanda de pedra, as paredes de tijolos, as vigas escuras de madeira. Mas a escola havia crescido. Uma piscina ocupava o espaço onde antes havia um campo vazio, e novos dormitórios e quadras brilhavam sob o sol da tarde.
Saí do carro, e por um segundo, o ar ficou preso nos meus pulmões. Por um instante, eu tinha dezessete anos de novo, carregando pilhas de livros, sonhando com um futuro longe dali.
Sandra se aproximou com nossas malas, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, uma voz familiar cortou o ar:
“A maravilhosa e talentosa Sarah Levick!”
Me virei, e o sorriso veio antes que eu pudesse controlar.
Diretor Chad Stanfort.
Mais velho, o cabelo quase todo branco, mas com o mesmo sorriso caloroso e os olhos azuis que brilhavam como se guardassem segredos.
“Diretor Stanfort!” chamo, deixo que ele me abrace como um pai faria.
Ainda cheirava a tabaco de cachimbo e menta – um aroma que me transportava de volta às tardes em seu escritório, discutindo poesias e prêmios de redação.
“Estou tão orgulhoso de você, Sarah”, disse, a voz rouca de emoção. “Sempre soube que faria algo incrível com esse cérebro brilhante.”
Meu rosto esqueceu como não corar. “Obrigada. É bom estar de volta.”
“E quem é essa jovem encantadora?” Ele olhou para Sandra, que derreteu na hora.
“Minha agente, Sandra”, apresentei.
Ela sorriu, as bochechas vermelhas quando ele beijou sua mão com uma reverência que parecia saída de outro século.
“Um prazer, minha cara”, disse ele, com um charme que faria qualquer mulher suspirar.
Sandra soltou um som entre um gemido e um suspiro. Ergui uma sobrancelha, guardando aquilo para provocá-la depois.
Dentro do colégio, os corredores me envolveram como um abraço apertado. Quase conseguia ouvir as risadas, sentir o peso das mochilas, a ansiedade de não pertencer. Às vezes, eu pensava naquela garota quieta, que vivia mais entre as páginas do que na vida real. Se ela me visse agora, andando por aqueles mesmos corredores como uma autora de sucesso, será que acreditaria?
Não foi por acaso que cheguei aqui. Foi com coragem – e com a ajuda de alguém que acreditou em mim quando eu mesma duvidava. Alguém que me fez enxergar que eu podia ser mais do que uma sombra.
E então, ele veio à mente.
Um rosto. Inesquecível. Um que não via há uma década.
Parei no meio do corredor, o ar preso na garganta.
“Sarah?” Sandra tocou meu braço, mas eu não conseguia responder.
Porque, no fundo, eu sabia.
Eu o veria novamente.
“Venham, vou mostrar a escola antes da festa”, disse o diretor Stanfort, nos guiando até seu escritório.
Ele carregou nossas malas com um orgulho que só quem ama aquele lugar poderia ter. Willowridge não era só seu trabalho – era sua casa. Desde que sua esposa, a co-diretora, faleceu há três anos, ele tocava tudo sozinho.
Eu entendia aquela solidão melhor do que a maioria. Minha mãe morreu no dia em que nasci, e meu pai se foi quando eu mal tinha idade para me virar sozinha. Sandra era a única família que me restava.
Deixamos as malas e seguimos para o salão principal. Sempre fora bonito, mas agora parecia mágico: tetos altos, paredes de vidro, luz natural inundando tudo. Um palco ocupava uma das extremidades, mesas redondas espalhadas pelo espaço, bandejas de petiscos e taças brilhando sob as luzes. Funcionários que eu reconhecia circulavam, ajustando os últimos detalhes.
Peguei um canapé, os dedos tremendo levemente enquanto ajeitava o vestido – como se ainda fosse aquela garota desengonçada, de blusões largos e óculos de fundo de garrafa.
“Como é reviver os melhores anos?” provocou Sandra, com um sorriso que dizia que ela já conhecia a resposta.
“Melhores anos?” Ri, secamente. “Eu era a nerd oficial da escola.”
Ela me olhou, incrédula. “Você é uma das autoras mais bem-sucedidas do país. Como isso não chamou atenção?”
“Meu sucesso era com os professores, não com os alunos.” Dei de ombros, mordendo o canapé. “E isso aqui”, apontei para o meu corpo “não existia dez anos atrás.”
Sandra gargalhou. Balancei os quadris, exagerando o movimento, e ela riu ainda mais.
Até que ele apareceu.
A porta se abriu, e o ar parece ter sido sugado do salão.
William Stanfort.
Entrou com a mesma confiança tranquila de sempre, como se o mundo girasse ao seu redor sem que ele precisasse pedir. Meu coração disparou, uma mistura de excitação e terror me paralisando no lugar.
O tempo só o tinha tornado mais bonito. O corpo alto, os ombros largos, os cachos castanhos que eu conhecia tão bem. Os olhos verdes, estreitos e intensos, o maxilar forte que lhe dava um ar de autoridade silenciosa.
E aquele sorriso.
Ainda era o mais perfeito que eu já tinha visto. Ainda me fazia fraquejar.
Todas as emoções que eu havia enterrado voltaram com tudo. Minhas mãos tremeram ao redor do canapé, como se fossem trair o segredo que guardavam há anos.
“Espera… é ele?” A voz de Sandra foi um sussurro atordoado.
“Não. Quem?” menti, rápido demais.
“Meu Deus, Sarah.” Ela me olhou, os olhos arregalados. “É ele, não é? É exatamente como você descreveu nos livros. Suas leitoras iriam matar por um homem assim.”
“Para, Sandra”, sibilei, o pânico subindo pela garganta. “Não estraga isso—“
Mas então ele olhou para mim.
Nossos olhares se encontraram.
O salão desapareceu.
Meus lábios se curvaram sem permissão, como se meu corpo se lembrasse do que minha mente tentara esquecer. Seu sorriso permaneceu – quente, intenso, como um raio de sol rasgando nuvens escuras.
E então…
Ele começou a caminhar na minha direção.
Cada passo seu era um golpe no meu peito. O chão parecia se mover, o ar ficava mais denso. Meu coração batia tão forte que jurava que ele podia ouvir.
“Sarah”, disse, a voz mais profunda do que eu lembrava, como vinho envelhecido.
Meu nome soou como se sempre tivesse sido dele.
E assim, todos os sentimentos que eu não deveria ter – que achei que havia enterrado entre páginas e segredos – voltaram com uma força avassaladora.






































