M. H. Nox
HAZEL
No dia seguinte ele apareceu na livraria, de repente surgindo em minha frente enquanto eu percorria um dos corredores estreitos para guardar alguns livros em uma estante.
Parei, surpresa em vê-lo.
"Eu gostaria de levar você para jantar." Ele anunciou, sem se preocupar com cumprimentos.
Seus olhos eram sedutores e eu quase concordei de cara, mas então me contive.
Obriguei-me a desviar o olhar e me concentrei em um ponto atrás dele.
"Me desculpe, mas eu acho que não posso", eu disse.
"Por quê?"
"Eu não te conheço. Quero dizer, com certeza você me salvou naquela noite, e eu sei seu nome, mas..." Eu parei, incapaz de terminar a frase quando ele agarrou meu queixo e ergueu meu olhar para encontrar o dele.
Seu toque era gentil, mas ele era um completo estranho, e dessa vez minha reação foi mais normal do que no dia anterior, no parque.
"O que você está fazendo?", perguntei em choque.
Ele me soltou subitamente, como se minha pele o tivesse queimado.
"Sinto muito." A confusão em seu rosto o fez parecer surpreendentemente vulnerável.
"A maneira que você está agindo é um pouco estranha e intensa", expliquei.
Isso sem nem mencionar a forma como seu toque fazia minha pele formigar e empolgação explodir em meu estômago. Eu nem conheço esse homem. O que há de errado comigo?
"Mais uma vez, sinto muito. Eu deveria me conter. Porém eu realmente gostaria de conversar com você para conhecê-la melhor, e achei que fazer isso durante uma refeição tornaria tudo mais agradável."
Apesar do fato de que cada parte lógica minha me dizia para não aceitar, algo em mim queria muito aceitar seu convite.
"Só um jantar", me peguei dizendo antes que pudesse impedir as palavras de saírem.
"Sim, eu até deixo você escolher o lugar."
"OK."
"Posso te buscar aqui hoje, depois do trabalho?"
"Pode", eu respondi após alguma consideração.
Ele sorriu triunfantemente antes de se virar e ir embora, e mais uma vez, fiquei com uma sensação de confusão.
Depois que ele foi embora, meu bom senso voltou para mim, e fiquei indignada com o que tinha acontecido. Ir jantar com um estranho nunca era uma boa ideia, mesmo quando ele salva a pessoa de homens assustadores em um beco.
Além disso, ele parecia saber mais sobre mim do que deveria, como por exemplo onde eu trabalhava e quando terminava o meu expediente.
"Quem é o homem misterioso?", Crystal perguntou em um sussurro depois que Seth se retirou e a porta se fechou atrás dele.
Seus olhos castanhos estavam brilhando em antecipação pela fofoca.
Eu amava Crystal, e ela era uma ótima amiga, mas ela tinha uma tendência a ser um pouco intrometida às vezes.
"É só um cara. Nada importante", eu disse com indiferença.
"Ah, vai. Só um cara?" Ela obviamente pensou que havia mais nessa história.
"Sim." Eu não estava pronta para falar sobre ele.
Não havia muito a dizer além do fato de que ele tinha me salvado, mas eu não queria falar sobre aquela noite. Eu contei à minha mãe e depois prometi a mim mesma não falar mais sobre isso.
Mesmo que nada muito grave tivesse de fato acontecido, a verdade é que poderia ter, e ainda assim foi uma experiência traumática.
"Daqui parecia que estava rolando um clima, só dizendo. Parecia um pouco intenso para ele ser 'apenas um cara'", ela disse, jogando seus cachos caramelo para trás do ombro.
Eu não respondi.
"Então, o que ele queria?", ela perguntou impaciente enquanto caminhávamos até o balcão para atender alguns clientes que estavam prontos para pagar por seus livros.
"Ele me convidou para jantar", respondi quando os clientes saíram e ficamos sozinhas novamente.
"E?"
"E... eu disse sim." Suspirei.
"Bem, quando você estiver pronta para me contar mais sobre ele, eu quero detalhes." Crystal disse com um sorriso.
"Tanto faz." Eu não pude deixar de sorrir de volta para ela.
"Ele é muito bonito, embora pareça um pouco assustador." Crystal admitiu com uma expressão pensativa no rosto.
Ela se referia às cicatrizes, eu tinha certeza. E era verdade, ele parecia bastante intimidante.
"Eu também acho." Dei de ombros.
Ela sabia que eu estava pronta para mudar de assunto, então deixou passar. Eu estava grata que, apesar de sua intromissão, ela não era do tipo que pressionava muito por informações.
Passei o resto do dia de trabalho distraída, o que me deixou desajeitada, e fiquei esbarrando em coisas e quase as deixando cair. No final do dia eu estava chateada com Seth, porque era tudo culpa dele.
Quando estava prestes a sair, uma parte de mim esperava que ele me desse um bolo, mas quando saí da livraria ele já estava lá, esperando por mim.
Novamente ele estava vestindo jeans preto, mas dessa vez seu suéter era azul marinho, e em vez de carregar nos braços seu casaco, ele o estava usando.
Suas roupas imaculadas contrastavam muito com sua aparência robusta, mas ele estava bonito e eu não pude deixar de notar como as cores combinavam com ele. Meu coração disparou ao vê-lo.
Ele me deu um sorriso torto.
Pare com isso,eu chamei minha própria atenção quando meu peito ficou quente e meu estômago deu uma cambalhota nervosa, como se fosse algum tipo de encontro romântico ou algo assim. Afastei esse pensamento da minha mente.
Era apenas um jantar e, no final, diria a ele para me deixar em paz.
Decidi que não precisava desse homem - que fazia meu corpo reagir de maneiras estranhas e dizia coisas que eu não entendia - na minha vida.
Quando me aproximei seu sorriso se alargou, e ele me olhou de forma radiante quando finalmente parei na sua frente.
"Você já sabe onde quer comer?", ele me perguntou.
"Não, não tive tempo para pensar nisso", respondi.
Na verdade eu simplesmente não tinha sido capaz de escolher um lugar, já que minha capacidade de pensar tinha sido ligeiramente prejudicada por sua aparição repentina mais cedo, mas eu não ia dizer isso a ele.
"Eu tenho uma sugestão, então. Pode ser um pouco atrevido, e não é algum tipo de truque ou qualquer coisa parecida, mas gostaria de levá-la para minha casa."
Eu fiquei sem palavras por um momento. "De jeito nenhum."
Seth franziu a testa com a minha resposta, mas eu não me importei. Eu não deixaria ele me levar para sua casa.
Não importava o que ele dissesse, já ouvi isso várias vezes e sempre era um truque. Nunca significava apenas jantar, ou apenas conversar, ou apenas sair. Não, não mesmo.
"Para que você saiba, sou um ótimo cozinheiro, mas tudo bem, sua perda", disse contrariado.
Ele pensou por um momento. "Há uma lanchonete não muito longe daqui. Então vou levá-la lá."
Ele estava claramente descontente, mas eu não me importei. Eu não iria para casa dele.
"Tudo bem", eu disse.
Eu já havia passado por essa lanchonete várias vezes, mas nunca havia entrado nela. Cheirava a fritura e café, e meu estômago roncou com a perspectiva de comer.
Seth me levou a uma mesa em um canto, longe de todas as outras.
Fez sinal para que eu me sentasse em uma das duas cadeiras contra a parede, então ele se sentou na cadeira oposta a mim, posicionando-se entre mim e os outros clientes.
"Bem, se não é o próprio Seth King." A garçonete - uma mulher pequena, redonda, e mais velha - exclamou feliz quando chegou à nossa mesa.
Seth ficou tenso por um momento, mas então relaxou novamente quando ouviu a voz dela.
"Olá, June." Ele sorriu calorosamente para a mulher.
"Você não aparece há semanas." Ela deu um tapa em seu braço e o lançou um olhar severo que logo se transformou em algo afetuoso.
"Eu sinto muito. Tenho estado ocupado com... trabalho", disse ele.
O jeito que ele falou foi estranho, mas June pareceu entender o que ele queria dizer e assentiu.
Ela se virou para mim e me olhou de forma curiosa antes de voltar sua atenção para Seth.
"Será o de sempre para você, então?", ela perguntou a ele.
"Com certeza."
"E você, querida?", perguntou virando-se para mim novamente.
"O que você me recomenda?", perguntei, pois eu não tinha ideia do que era bom no menu.
"As panquecas são as minhas favoritas. Elas são as melhores da cidade. Se você quiser algo que não seja tão café da manhã, eu indicaria o hambúrguer Pinewood ou o ensopado de lua."
Era um nome estranho para um prato, pensei.
Decidi pelas panquecas, afinal pareciam apetitosas.
"Só levarei um minuto," disse June, enquanto desaparecia por um conjunto de portas que imaginei que levassem à cozinha.
Em pouco tempo ela estava de volta, segurando uma bandeja que continha um prato cheio de panquecas fofas e douradas, junto de uma pequena garrafa de xarope de bordo para mim, e para Seth um grande prato cheio de ovos mexidos, bacon, e uma fileira de pães recém-torrados.
Era muita comida, mas ele era um homem grande, e eu esperava que ele precisasse disso para sustentar todo aquele volume e músculos.
Ela também trouxe dois copos e uma jarra cheia de água - gelada, a julgar pela camada de gotículas coladas no exterior.
"Obrigado, June", disse Seth, colocando a mão em seu braço e dando-lhe um aperto suave.
Quando ficamos sozinhos novamente, Seth olhou para mim com expectativa quando eu estava prestes a dar minha primeira mordida. A atenção me deixou um pouco desconfortável, mas eu estava com muita fome e as panquecas cheiravam muito bem.
Quando coloquei a primeira garfada na boca, entendi a razão de elas serem chamadas de as melhores panquecas da cidade. Elas eram as melhores panquecas que eu já havia comido em toda a minha vida, e deixei escapar um suspiro de satisfação.
Seth sorriu e acenou com a cabeça em aprovação, antes de comer sua própria comida.
"Eu acho que todas as lanchonetes deveriam servir também café da manhã durante todo o dia", eu comentei enquanto colocava mais das deliciosas panquecas em minha boca.
"Eu concordo totalmente com isso." Seth riu.
Eu me sentia muito mais confortável perto dele do que pensava que deveria.
Enquanto comíamos, Seth me perguntou sobre meu trabalho, meus hobbies, minha família, e ele ouvia com tanta atenção que era quase irritante. Como se tudo o que eu falasse fosse a coisa mais interessante do mundo.
Então eu fiz minhas próprias perguntas quando senti que a sua atenção sobre mim estava sufocante demais.
Aprendi que ele era filho único, embora sempre tivesse desejado ter um irmão mais velho. A expressão em seu rosto quando ele disse isso me confundiu.
Ele cresceu em Pinewood Valley, como eu, mas aparentemente foi educado em casa.
Ele era apenas dois anos mais velho do que eu, mas às vezes parecia ser muito mais velho. Havia um peso sobre ele que eu não consegui definir o que era.
Apesar do meu receio anterior sobre jantar com ele, e de um momento estranho em que ele ficou tenso e olhou para dois homens sentados a algumas mesas de distância de nós, eu realmente me diverti com Seth.
Quando fui para a cama naquela noite, depois que ele me acompanhou até em casa, adormeci com um sorriso no rosto.