J.M. Felic
SERENA
Os aplausos ao redor eram ensurdecedores. Eu queria cobrir meus ouvidos, mas não podia.
De pé em uma plataforma elevada perto do trono do rei, percebi que tinha que me portar bem na frente deles, pois agora eu era sua rainha.
Eu, uma rainha. A rainha deles.
Uma rainha. ~
A palavra soava na minha cabeça repetidamente. Como cheguei aqui mesmo?,eu me perguntei.
Com a cabeça confusa, lembrei de tudo o que aconteceu quando acordei naquela manhã específica, dois dias atrás…
***
"Dormiu bem?", o rei perguntou, sua voz aguda cortando o belo chilrear dos pássaros do lado de fora da minha janela.
Meu estado sonolento desapareceu em um instante. Ele estava vestindo uma camisa branca larga com calças e botas pretas. Seu cabelo escuro estava bagunçado de uma forma sexy.
Ele provavelmente acabou de sair do banho e parecia renovado.
Deus, ele é lindo, pensei, mas logo me repreendi. ~Não deixe sua mente se distrair!~ ~
Ele estava sentado na enorme cadeira almofadada do meu quarto, com as pernas cruzadas, parecendo entediado.
Arrepios instantâneos explodiram em meus braços.
Eu não entendia por que ele estava aqui no meu quarto e como ele me encontrou tão facilmente com tantos quartos na mansão, mas eu sabia que sua visita tinha um preço – um preço como... minha cabeça.
Talvez ele tivesse mudado de ideia e agora estivesse pronto para me executar.
Empurrando-me para cima da cama e cobrindo sensatamente meu corpo do peito para baixo com um lençol, lancei-lhe uma carranca e murmurei: "Dormi. Por que você se importa?"
"Porque eu preciso de você apta para a agenda de hoje", ele retrucou.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram. "Espero que não precise me preocupar com a preparação para o meu túmulo."
Ele zombou. "Depende de você."
Ele me encarou como se tivesse uma arma de congelamento. Eu estava paralisada. Ele deveria fazer umas aulas de socialização. Suas habilidades de conversação eram unilaterais.
"Por que você está aqui, Sua Alteza?", perguntei quando percebi que ele estava escondendo informações. Bom, ou isso, ou ele estava com muito medo de me dizer algo.
"Tenho uma proposta para você. Uma proposta de negócios, por assim dizer." Ele finalmente soltou, enfatizando a palavra inofensiva. Sua aura ainda era a de um homem orgulhoso. Isso parecia não mudar nunca. Na Terra, os negócios são tratados com importância e ambas as partes deveriam mostrar respeito. Nunca vejo respeito nos olhos deste rei, apenas arrogância.
"Primeiro seu irmão e agora você?", eu disse, olhando-o com uma sobrancelha levantada.
Ele passou a mão no cabelo e franziu o nariz. "Esqueça o acordo com o meu irmão. Ele não sabe o que está fazendo".
"Ah, jura?", questionei, não realmente acreditando nele. "Ele disse que conhecia pessoas que podem me ajudar a voltar ao meu mundo."
Por um momento, houve um leve reconhecimento em seus olhos, e então ele sorriu. "Hum, é verdade, mas eu tenho um acordo melhor."
Franzi minhas sobrancelhas. Bom, pensando bem, ele era um rei, e se eu fosse basear isso nas tradições da Terra, os reis sempre tinham mais a oferecer.
"Os reinos foram criados para alcançarem ordem e paz", ele começou. Tive que arquear minha sobrancelha de novo, não a fim de fazer um curso intensivo sobre a história deles.
"É uma regra absoluta que uma pessoa só pode cruzar as fronteiras entre reinos se for por uma razão válida como, digamos, reuniões reais, reuniões oficiais dos tribunais, exportações comerciais, importações e eventos com risco de vida.
"Há uma ponte para cada reino guardada por certos indivíduos. Elijah pretende entrar em contato com um dos guardiões para ajudá-la a retornar, mas este não é um plano convincente."
"Onde você quer chegar com isso?", perguntei, querendo pular a aula de história.
O músculo em sua mandíbula se contraiu visivelmente. "Segure sua língua, mulher, e espere", ele se acalmou e, em seguida, soltou um longo suspiro controlado enquanto olhava bruscamente para mim.
Eu tinha certeza de que tinha acabado de testar sua paciência ali mesmo.
"As pontes são o principal mecanismo de viagem entre reinos, mas há uma
exceção", continuou ele. "Existem indivíduos talentosos e poderosos que conseguem viajar entre os reinos. Felizmente para você, eu sou um deles."
Lentamente, uma ideia se formou na minha cabeça. Ele está me oferecendo seus serviços? ~
"Você quer voltar, certo? Se você concordar com meus termos, posso levá-la de volta ao seu reino com apenas o movimento de um dedo. Sã e salva. Sem nem um arranhão."
Minha boca se abriu. Eu tinha razão. Ele estava oferecendo seus serviços. Mas tinha condições. Eu me pergunto quais são. ~
"Você poderia me dar um momento?", pedi, percebendo que essa conversa provavelmente cobriria uma boa quantidade de tempo. "Obviamente, acabei de acordar. Eu preciso me refrescar e responder ao chamado da natureza."
"Não, eu sou um homem ocupado", ele retrucou. "Eu não quero que você desperdice meu tempo, então me escute agora."
Interiormente, eu suspirei. Este rei realmente precisava aprender a ser mais complacente com as mulheres. "Estou ouvindo", respondi, submetendo-me, apesar de contra a minha vontade.
"Como eu disse, isso é apenas um negócio. Estou oferecendo a você uma maneira rápida de voltar para casa se concordar em se casar comigo e se tornar minha rainha.
Instantaneamente, o pavor tomou conta de mim. "O quê?!" Meus olhos se arregalaram.
Como me casar com ele poderia me ajudar? Pelo que entendi, casar com ele e me tornar sua rainha significava ficar neste mundo infestado de lobisomens para sempre. Para todo sempre!
"Os parafusos da sua cabeça estão soltos?", soltei. "Pensei que você queria que eu fosse embora. Casar com você e se tornar sua rainha significa o oposto disso!"
"Não se preocupe com isso. Tenho um plano", ele declarou calmamente, como se estivesse falando de algo trivial como o clima.
Controlei meu temperamento. Deus, era tão incrivelmente difícil. "Deixe-me adivinhar, você quer que eu morra depois de nos casarmos?"
"Hummm, obrigado por me dar essa ideia", ele sorriu, "mas não, esse não é o meu plano.
Mas estou inclinado a guardar esse como um plano b." Cerrei os dentes. Ele era insuportável!
"Saiba que estou lhe oferecendo isso porque não tive escolha. Como você bem sabe, graças ao meu irmão, estou tendo dificuldade em conseguir uma rainha."
"Porque você odeia mulheres", explodi.
Ele ignorou e continuou com sua raiva mal contida: "O falecido rei, meu pai, criou um decreto absoluto para eu me casar e eleger uma rainha para o meu reino. Se eu não puder cumprir isso, serei destituído da minha posição como governante de Phanteon. Obviamente, eu não quero que isso aconteça. É um golpe para o meu orgulho."
"Bom, isso não teria sido um problema se você não odiasse as mulheres", observei.
Ele fez uma careta para mim. "Pare de me lembrar disso!"
Dei de ombros, rindo silenciosamente por dentro, vendo como seu destino era desagradável. Ah! Bem-feito. "Desculpe, sua Alte–za. Não consegui evitar."
Ele suspirou e relaxou em sua cadeira novamente. "Ainda bem que o decreto era apenas para casar e ter uma rainha. Não dizia nada sobre ter um herdeiro." Ele olhou para mim com uma expressão incrivelmente presunçosa. Revirei os olhos.
Sim, essa deveria ser minha próxima pergunta. Se eu aceitasse sua proposta, eu tinha que ter certeza de que não dividiríamos a cama.
"Certo", murmurei. "É reconfortante ouvir isso."
"Muito reconfortante", ele acrescentou com confiança enquanto me dava um olhar gelado.
Por um momento, foi meu orgulho como mulher que foi atingido. Ele não me via como uma mulher desejável, uma parceira adequada na cama, nem sequer beijável. Isso machucava.
Argh. ~
Afastei meus pensamentos errantes. Droga. De onde veio isso? ~
Ele estava me usando como uma ferramenta – isso eu sabia. Mas, bom, eu também. Nós dois estamos usando um ao outro em benefício próprio.
"Então", ele se levantou e arrumou a camisa, "suponho que você topa. Espero você dentro do castelo vestida com seu traje de casamento em dois dias."
"Dois dias?!", gritei, sem saber exatamente como sentir. Devo ficar feliz ou triste?
Quanto mais cedo me casasse com ele, mais cedo poderia voltar para minha casa; mas quanto mais cedo eu me casasse com ele ~, mais cedo eu me tornaria sua uh... esposa; e apesar de ser apenas no papel, esperava-se que eu morasse com ele no castelo, fingisse afeto na frente de seus súditos e até compartilhasse o quarto apenas para manter as aparências.
Talvez isso seja uma má ideia. ~
Mas eu não podia recuar. Ele era a minha maneira mais fácil de sair deste reino.
"Sim, em dois dias", ele esclareceu. "Quero cumprir o decreto do meu pai no dia do meu aniversário. Duas ocasiões em uma. Festa maior, despesas menores."
Ri com ironia. Este rei odeia as mulheres e é um avarento ou, no caso deste reino, um acumulador de ouro.
"Vejo você em dois dias, então", respondi, evitando o assunto sobre quaisquer preparativos durante esses dois dias. Eu sabia que ele resolveria tudo. Afinal, ele era o rei deste reino e provavelmente prepararia um grande casamento para mostrar a seus súditos que não tinha medo de uma mulher.
Rá! Que grande estratagema seria, de fato. ~
De qualquer forma, se esses dois dias significassem que eu ficaria nesta mansão sozinha e em paz, então eu aceitaria de todo o coração. Como diz o ditado: "Calmaria antes da tempestade".
Então vou aproveitar essa "calmaria" antes que a tempestade de merda aconteça.