Colégio Saint Rock 1: Sabor Agridoce - Capa do livro

Colégio Saint Rock 1: Sabor Agridoce

Elfy G

Desculpas

TORY

No quarto da minha infância, estou deitada no chão ainda vestida de noiva, chorando sem parar. Como ele pôde fazer isso? Como ela pôde fazer isso? Como eu não percebi antes?

Ouço uma batida na porta. “Filha, você está bem?”, minha mãe pergunta com carinho.

Bem. Já nem sei mais o que essa palavra significa. Eu estava bem até esta manhã, quando achava que ia me casar com... ele. Eu nem consigo dizer o nome dele agora.

“Filha? Tory?”, minha mãe insiste.

“Deixe-a em paz, Rose. Ela vai sair quando estiver pronta”, meu pai diz, sempre me protegendo.

“Estou preocupada com ela, John. Só quero que ela fique bem.” As vozes deles ficam mais baixas, e posso ver meu pai afastando minha mãe, dizendo que preciso de um tempo.

Olho para a minha cama e me lembro da nossa primeira noite — a noite em que perdi a minha virgindade — como se fosse ontem. Depois do baile, eu o escondi no meu quarto, fazendo algo que nunca tinha feito antes.

Olho ao redor novamente, ainda presa naquela lembrança. Por que voltei para cá? Para reviver o passado? Para chorar mais? O quê? Por quê? Digo a mim mesma para parar e pego um travesseiro seco entre os vários molhados.

Ouço novamente a voz da minha mãe. “Filha, preparei um banho para você. Vai te fazer bem.”

Eu havia me esquecido de como ela é insistente quando quer. Provavelmente vai ficar o dia todo na porta do meu quarto para ter certeza de que estou viva.

Eu amo minha mãe, mas agora ela está me incomodando. Melhor acabar logo com isso.

“Tá bom, mãe”, digo, com a voz embargada. “Obrigada, eu... eu vou.”

Eu me levanto e me olho no espelho. Ai. Vestido idiota. Tento abrir o zíper, mas não alcanço. Começo a entrar em pânico. Tire. Isso. De. Mim. Não quero isso encostando em mim.

“Mãe. Mamãe, me ajude!”

A porta se abre imediatamente, e em um piscar de olhos ela está ao meu lado.

“Tire isso de mim, mãe”, eu choro. “Tire isso.”

Um momento depois, meu vestido branco cai no chão. Eu desabo nos braços dela, chorando muito. Não me importo de estar só de roupa íntima. Eu só preciso dela. É por isso que vim para cá. Sabia que precisava dela. Precisava dos dois.

“O que está acontecendo?” De repente, a voz do meu pai se junta a nós, e eu entro em pânico de novo. “Ouvi a Tory gritando.”

“PAI!” Eu eu grito ao mesmo tempo que minha mãe berra, “JOHN!”

“Desculpe, desculpe!” Ele recua, fechando a porta.

Que vergonha. Apoio a cabeça no ombro da minha mãe e respiro fundo, tentando me acalmar.

“Vai ficar tudo bem, querida”, ela diz baixinho, fazendo carinho nas minhas costas. “Você vai ficar bem.”

Tento acreditar nas palavras dela, incapaz de falar. Isso parece tão longe da realidade que não consigo imaginar ficar bem depois disso. Talvez um dia, mas não agora.

Então, um barulho alto vem do andar de baixo. Minha mãe me solta. Enxugo o rosto e olho para onde ela está olhando enquanto outro som se segue.

Isso foi meu pai gritando?

Visto um pijama rapidamente e desço correndo, deixando minha mãe para trás. Ao me aproximar, ouço duas vozes e quase escorrego no último degrau. Ele não. Por favor, ele não.

“Saia da minha casa. Ela não quer te ver.”

“Sr. Summer, com todo respeito, mas…”

“Com todo respeito? Rapaz, você não sabe o que essa palavra significa, não depois do que fez com minha filha.”

“Talvez não, mas se você acha que ela sabe depois da cena que ela fez, então você está maluco”, Davis diz com raiva. Ele me vê quando avanço, e meu pai se vira.

“Filha”, ele começa, mas eu o interrompo.

“Pai, tudo bem. Tudo bem”, digo mais alto quando ele continua falando.

“Você ouviu ela”, meu ex-noivo diz com maldade.

Meu pai não olha para ele. “Se precisar de mim, estarei na cozinha”, ele diz, beijando minha testa.

Eu me volto para Davis, que parece mais confiante com meu pai ausente. Quem eu estava enganando? Não estou pronta para falar com ele.

Respire. Respire. Respire.

Meu coração está batendo tão forte que tenho certeza que ele consegue ouvir.

É hora de acabar com isso.

“O que você quer, Davis?”

Ele levanta uma sacola. “Trouxe suas coisas.”

Aquele sentimento estranho retorna. O sentimento de nunca saber se Davis será gentil ou agressivo.

“Eu tinha pedido para Judy trazer, mas obrigada…” Tento pegá-la, mas ele a afasta, sorrindo com maldade. Cretino desgraçado.

“Não tão rápido”, ele diz. “Quero que você peça desculpas primeiro.”

“Pedir desculpas?”, eu pergunto, incrédula.

“Por nos fazer passar vergonha. Eu e a Katy no altar.”

“Não foi ideia minha”, digo com raiva, tentando não chorar. “Mas se quer saber, vocês mereceram depois de me fazerem passar vergonha no que deveria ser nosso casamento.”

“Foi um erro”, ele diz friamente.

O que quer que tivesse restado do meu coração se despedaça. Eu o encaro, chocada, mal notando suas mãos se fechando em punhos.

“Não”, digo baixinho, mal conseguindo me ouvir sobre o zumbido na minha cabeça, “nós não éramos um erro. Mas vocês dois são.”

“Nós?”, ele ri. “Eu a amo, Tory. Preciso dela.”

“Precisa”, rio. “Eu não me importo com o que você precisa.”

O rosto dele se contorce em uma cara feia e familiar, que eu já vi antes. “Estou vendo que você não vai pedir desculpas”, ele diz, jogando a sacola no chão aos meus pés. “Aqui, pegue. O que vou fazer com suas coisas? Mas…” — ele adverte enquanto eu a pego — “isso não acabou. O que você fez não foi legal, Tory.”

E o que você fez foi? Quero jogar isso na cara dele.

“Talvez não, mas pelo menos não estou ameaçando te machucar fisicamente.”

“Você faria isso se não fosse tão pequena”, ele rebate.

“Uau.” Bato palmas uma vez para mostrar que não me importo. “É isso, esse é seu grande discurso? Me deixe dizer uma coisa. Vá se ferrar. Vão se ferrar os dois.”

A mão dele se fecha em punho, mas ele apenas se vira, dizendo, “aproveite a vida sozinha”, antes de entrar no carro e ir embora.

Eu fecho a porta e me sento encostada nela, chorando. Minha vida acabou antes mesmo de começar.

“Pai”, eu choro.

Ele me abraça imediatamente. “Querida, o que foi?”

“Eu... preciso da sua ajuda.”

Ele beija minha cabeça. “Qualquer coisa.”

“Você pode me tirar daqui?”

“Te tirar daqui...?” Ele apoia o queixo na minha cabeça e me balança para frente e para trás como uma criança. “Claro, filha, claro. Deixe-me fazer uma ligação.”

Ele fala, fazendo perguntas que não respondo. Não me importo para onde vou. Só quero ir embora e nunca mais voltar. Não quero estar aqui quando o bebê deles nascer. Não quero andar pela cidade e ver os três juntos.

Preciso recomeçar, e não importa onde. Qualquer lugar é melhor do que aqui.

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