
Que merda eu fiz ontem à noite?
Por que diabos eu fiquei na casa dela? Ainda por cima, transei com ela mais de uma vez e fiquei abraçado com ela por sabe-se lá quanto tempo. Normalmente não fico de chamego com ninguém. Sou um pegador e pretendo continuar assim.
Geralmente nem lembro os nomes das garotas.
Mas o dela eu lembro. Tory.
Só de pensar nela eu já fico duro. Me agarro ao sofá e tento lembrar como começou a noite passada.
Eu estava de papo com uma loira qualquer, nem lembro o nome. Janette. Jules. Tanto faz. Quando vi a Tory pela primeira vez, achei engraçada a forma como ela estava me encarando, e quando ela se virou, pensei que ia se esborrachar no chão. Lembrar disso me dá vontade de rir de novo.
Mas aí a porra do Stuart teve que ir lá puxar papo com ela. Fico puto só de lembrar como ela parecia desconfortável. Se o Stuart não fosse tão esquisito, eu nem teria ido até lá. Eu estava me dando bem com a Jane, Judy, sei lá o nome dela.
Eu devia ter caído fora quando ele saiu, mas não consegui ficar longe dela. Tinha algo especial nela que me fazia querer saber mais, chegar mais perto, como se eu soubesse que ela seria mais importante que todas as outras garotas.
Por sorte, ouço umas batidinhas na porta, o que me impede de continuar pensando na Tory.
Tomara que não seja minha irmã. Não estou a fim de ouvir mais um sermão dela. Ainda mais tão cedo.
“Charlie.” Eu digo ao abrir mais a porta e deixar entrar o namorado da minha irmã caçula. Ele é gente boa, diferente de mim, o que me deixa feliz. Posso ser um cara ruim, mas minha irmã é a única pessoa que importa na minha vida.
“Você tem um minuto, cara? Quero trocar uma ideia com você.” Os dedos dele ficam batucando na calça jeans, e ele coça o pescoço como se estivesse nervoso.
“Manda ver”, digo.
“Então, é que você é o único que posso perguntar isso porque seus pais já faleceram e tal…”, os olhos dele se arregalaram quando percebeu o que ia dizer. “Putz, foi mal. Isso soou melhor na minha cabeça.”
“Tenho certeza disso. Dá para ser rápido? Estou ocupado”, eu não preciso ser lembrado de que meus pais se foram, especialmente minha mãe. É um assunto delicado, principalmente para a minha irmã.
“Eu quero me casar com a Lily. Eu... eu queria sua permissão primeiro”, a voz de Charlie treme um pouco.
Faço uma pausa. “Você quer casar com minha irmã mais nova?”
“Sim, e eu tinha que pedir para você. Você é a pessoa mais importante na vida dela. Bom, além de mim”, ele acrescenta com um sorrisinho.
Quando ele me vê franzir a testa, seu sorriso some. O meu franzido se transforma em um sorriso.
“Se você magoar ela, eu te mato.”
“Isso... é um sim?”
“Sim, seu bobão. Espero que quando você pedir a ela, não esteja tão cagado de medo quanto agora”, eu reviro os olhos.
Ele parece surpreso. Não sei por quê. Sou assim com todo mundo, menos minha irmã.
“Agora cai fora”, eu digo quando ele ainda não consegue falar. “Tenho coisas para fazer.”
Ele sai rapidinho do meu apartamento. Fecho a porta e me permito sorrir de verdade. Eu gosto dele. Ele é bom para a minha irmã.
Meu bolso vibra. Tiro o celular que tá tocando e atendo.
“Fala, capetinha.”
“Se eu sou capetinha, você deve ser o próprio capeta com o jeito que vive sua vida.”
Eu rio. “Você sabe que me ama.”
“Sorte a sua. Eu sou a única.”
Dou uma risadinha. É verdade. Casos de uma noite não significam amor, mas a Tory parecia ter curtido muito o que fiz com ela ontem à noite... pelo menos fisicamente. Por que eu ainda estou pensando nela? Seu sorriso provocante não sai da minha cabeça, me provocando com aquele cabelo e aqueles olhões verdes tristes...
“Levi? Levi, você está aí?”
“Sim, sim”, eu tusso, tentando parar de pensar no corpão de Tory nua. “Relaxe. Estou aqui.”
“Você não parece aqui. Levi, está tudo bem?”, dá para ouvir a incerteza na voz dela. “A Darla está te enchendo o saco de novo?”
Eu gemo. Por que ela tinha que mencionar minha ex-mulher? Não quero saber nada sobre aquela vadia.
“Olha, Lily, agora não é uma boa hora. Tenho que ir. Falo com você depois.”
Ainda dá para ouvir ela falando enquanto desligo. Jogo o celular do outro lado da sala e me jogo no sofá, esfregando o rosto enquanto lembro daquele dia, sentindo raiva e mágoa tudo de novo.
“Ainda não acredito que a Darla não veio. Quer dizer, ela é sua esposa”, Lily disse enquanto olhávamos para a terra fresca e a lápide no túmulo da nossa mãe. Maldito câncer.
“Desculpe.” Lily me deu um beijo na bochecha. “É melhor irmos nos juntar aos outros.”
E um nome que eu conhecia de todas as reclamações da Darla agora saindo da boca dela de um jeito que ela nunca tinha dito o meu.~
~Eu cruzei os braços. “Pelo menos você escolheu o sofá em vez da nossa cama.”
Levanto, tentando esquecer a pior lembrança que já tive e saio do apartamento. Preciso de uma garota. Uma que eu possa esquecer fácil. Preciso me sentir como a pessoa que sou agora em vez de quem eu era ontem à noite quando abracei a Tory. Aquele antigo eu. Aquele que a Darla podia trair. Eu nunca mais quero ser ele de novo.