
Lydia irrompeu em seu quarto palaciano e fechou a porta atrás de si. Hiperventilando, ela pressionou as costas contra a porta, lentamente deslizou para baixo e fechou os olhos, tentando recuperar a compostura.
Mas ela estava perdendo o controle. Lydia estava prestes a se tornar a protetora de Imarnia. Ela concordou com os termos do rei. Ela aceitou que eles teriam que dormir juntos para solidificar a união.
Só agora, no quarto de Lydia, toda a grandiosidade da decisão começou a atingi-la.
"Lydia, você está bem?"
Lux saltou, acariciando sua perna. Com a cabeça apoiada nas mãos, balançando para frente e para trás, Lydia mal percebeu que seu amigo felino estava ali.
"Lydia, o que foi?" ele perguntou, ronronando.
"Eu... eu consegui, Lux. Fiz um acordo com o rei".
"Você quer dizer…?"
Ela assentiu, ainda em choque. Lux pulou em seu colo, forçando-a a encontrar seus olhos vermelhos.
"Tem certeza de que é o que você quer, Lydia?" ele perguntou.
"É a única maneira de obter controle total dos meus poderes de Slifer," ela disse trêmula. "Se eu realmente quero ser uma grande feiticeira, eu tenho que fazer isso."
Ela estremeceu. Até mesmo dizer essa palavra a fez imaginar todos os tipos de possibilidades impertinentes que estavam prestes a se desdobrar com o rei.
"... então ele não vai se importar com o que eu faço depois. Que posso deixar o reino. Eu estarei livre."
"Oh, Lydia", disse Lux, esfregando o rosto na palma da mão dela, tentando confortá-la. "Isso é... demais."
"Eu sei."
"Quando será a cerimônia?"
"Não tenho certeza. Em breve. Os preparativos já estão em andamento. O rei mencionou que o anúncio real acontecerá primeiro. Alguns visitantes estão a caminho."
Lux assentiu, franzindo a testa. "E quanto a mim? Ainda poderei ficar com você?"
Lydia percebeu que ela nem tinha perguntado. É claro que Lux iria ficar com ela. Se Gabriel negasse, ela o forçaria a reescrever o contrato.
Ela estava prestes a dizer isso a ele quando uma batida forte na porta atrás dela a fez pular. Ela podia sentir as batidas vibrando contra sua espinha.
"Lydia, abra a porta", disse uma voz rouca.
Ela conhecia aquela voz, e seus olhos franziram em uma carranca. Ela se levantou lentamente e abriu apenas uma fresta.
"O que você quer?"
Lucius, com os olhos vermelhos e bêbado, estava do outro lado, cambaleando.
"Acho que precisamos conversar..."
O velho feiticeiro estava sentado em uma cadeira de frente para a cama de Lydia. Seus ombros estavam curvados. Em suas mãos, ele segurava seu fiel cantil. Lydia percebeu que tinha um amassado novo, de quando ela o jogou fora dos portões do palácio.
Ela se sentou na cama com Lux aninhado no colo, esperando que ele começasse.
"Então?" ela perguntou impaciente. "O que foi?"
"Eu sei que você e o Rei Gabriel chegaram a um acordo..." ele disse. "Como você se sente sobre tudo isso?"
"Não é como se eu tivesse muita escolha, Lucius. Ele me disse que só serei uma verdadeira Slifer depois de nos unirmos. Um fato que você nunca pensou em trazer à tona durante todo o nosso treinamento."
"Eu não sabia como..."
"Então, todas as nossas aulas eram apenas para exibição? Uma maneira de me manter ocupada? Afinal, ainda sou fraca. Eu não consegui nem me defender de um lobisomem."
"Não!"
Seu grito a pegou de surpresa. A emoção em sua voz era algo a que ela não estava acostumada.
"Não," ele repetiu mais baixo. "Tudo isso era importante. Quando seus poderes estiverem totalmente ativados, você verá. Tudo o que ensinei a você estabeleceu sua base."
"Por que eu deveria acreditar em uma palavra que você diz?"
Lucius assentiu com tristeza. "Se eu fosse você, também não confiaria em mim, Lydia. Eu vou te deixar em paz. Agora que você tem o Rei, não precisa mais de mim. Mas antes de eu ir, quero que você saiba de uma coisa..."
É claro que o velho bêbado iria deixá-la. Isso só provou o que ela passou a acreditar: que ele nunca realmente se importou com ela.
Mas então, quando ela olhou nos olhos de Lucius, ela viu que eles estavam cheios de lágrimas.
"Há centenas de anos, antes de começar a beber, algo me aconteceu. Algo que me mudou. Eu não posso te dizer o quê. Mas basta dizer que morri um pouco por dentro."
Lydia não podia acreditar que Lucius estava se abrindo—embora sua imprecisão, sua recusa em confessar totalmente, a enfurecesse ao mesmo tempo.
"Eu forcei você a ser apenas minha aprendiz, Lydia, porque embora eu estivesse criando você, eu sabia que esse dia chegaria. O dia em que eu teria que dizer adeus."
"Lucius", ela sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas de raiva.
"Não, Lydia", ele a interrompeu. "Me chame do que você sempre me chamou. Seu avô. É assim que eu quero que você se lembre de mim."
Então, antes que Lydia pudesse impedi-lo, Lucius se levantou e a abraçou, segurando sua cabeça contra seu peito. Ela podia sentir o cheiro de rum em sua capa. Era o cheiro do seu lar.
Ele entregou a ela uma pulseira de prata. "Guarde isso com você. Sempre, Lydia."
Lydia não entendeu por que ou o que Lucius quis dizer, mas ela sentiu que a pulseira era importante.
"Sentirei sua falta", disse ele. "Seja boa para o rei. Embora haja escuridão em seu coração, você pode mostrar-lhe a luz."
"Vovô, espere!"
Mas ele já estava se afastando, parando apenas para beijá-la na testa.
"Adeus, Lydia..."
Então, ele saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, deixando Lydia sozinha, tendo apenas Lux como companhia.
Tão dominada pela emoção, Lydia não pôde fazer nada além de desabar em sua cama em lágrimas. Ela lentamente colocou a pulseira de prata.
Como ela iria sobreviver sem ele?
"Está tudo pronto, Aero?"
O Rei Gabriel entrou no grande pátio com Aero logo atrás dele. Em todos os lugares, os servos se preparavam para o Dia de Honra, preparando apenas as melhores mesas e talheres para o banquete que se aproximava.
Lampiões iluminavam o jardim, fazendo-o brilhar com uma luz quase mística.
"King Morrison deve chegar com um convidado especial a qualquer momento", disse Aero, acenando com a cabeça. "Assim que tiverem descansado, as festividades vão começar logo pela manhã."
"Excelente", disse Gabriel. "Estou curioso para conhecer esta mulher misteriosa."
Muitos falaram sobre a garota que aparentemente apareceu do nada para capturar o coração do Rei de Freyr. Este era o reino vizinho mais próximo e, embora não fosse do tamanho ou proeminência de Imarnia, era um aliado histórico da mais alta importância.
Gabriel estaria mais curioso para ver como sua nova protetora, Lydia, se comportaria agora dentro do acordo. A ideia de anunciar sua união não agradou a Gabriel.
Mas depois de sua conversa com Lucius, uma vez que ele entendeu o que estava em jogo, o rei percebeu que não tinha escolha.
Era reivindicar a Slifer ou colocar todo o reino em perigo. Como rei, ele tinha que colocar seu reino em primeiro lugar, independente de seus próprios sentimentos.
Ainda assim, a ideia de dormir com a garota o fez vibrar com uma onda de emoções contraditórias. Por um lado, ela tinha apenas dezoito anos, ainda era virgem e era indigna em todos os aspectos que ele esperava da realeza.
Mas também havia algo bruto e animalesco sobre Lydia que ele não podia deixar de desejar. Quanto mais ele olhava em seus olhos ardentes, mais ele se perguntava como seria vê-los se abrindo ainda mais quando ele a penetrasse...
Apenas a ideia por si só foi suficiente para fazê-lo enrijecer de ansiedade.
Ele limpou a garganta quando uma voz distante e familiar interrompeu seu devaneio.
"Gabriel! É verdade mesmo ?!"
Ele se virou para ver sua irmã, Lis, sorrindo, correndo em direção a ele e Aero pelo pátio. Ele suspirou, exasperado.
"Como quiser, Gabriel", disse ela, jogando os braços em volta do pescoço e abraçando-o com força. "Eu estou tão feliz."
Mesmo sem querer deixar transparecer, Gabriel sorriu. Fazer sua irmã sorrir era um dos únicos vestígios de alegria que o rei ainda mantinha perto de seu coração. O resto, ele sacrificou em troca de poder.
A magia das sombras dentro dele fazia sua alma escurecer a cada dia.
Mas Lis o lembrava de quem ele era. Ela o fazia acreditar que poderia ser aquele rei de bom coração novamente um dia.
Como se ela estivesse lendo sua mente, Lis se afastou e olhou para seu irmão de perto.
"Você está preparado para o que a união entre vocês dois vai desencadear?"
Ele não gostava de falar sobre sexo com sua irmã. Era impróprio em todos os níveis. Mas sua preocupação não era sobre o ato de intimidade em si, apenas os resultados.
Lis sabia que não apenas os poderes da Slifer seriam ampliados, mas também os seus próprios. Depois que ele e Lydia fizessem sexo, quem permaneceria? O rei ou a sombra?
"Não se preocupe, Lis," disse Gabriel, afastando-a. "Tenho tudo sob controle."
Mas agora, tudo em que ele conseguia pensar era em perder o controle. Com Lydia...
Ela jogou as cobertas de lado e saiu da cama, sentindo-se como se ainda estivesse em chamas. Na ponta da cama, Lux estava enrolado, ainda dormindo.
Ela estava grata por isso. A última coisa que ela queria era explicar o que acabara de sonhar.
Ela abriu a janela da varanda silenciosamente, deixando o ar fresco tocar sua pele e acalmá-la. Ela respirou.
"Controle-se, Lydia", ela se repreendeu.
Ela estava prestes a fechar a janela e voltar para a cama quando ouviu um som distante e curioso. Uma voz muito agradável e misteriosa... cantando.
Por razões que Lydia não conseguia entender, ela se sentiu atraída pela voz. Ela tinha que saber sua fonte. Então, pegando uma capa, ela silenciosamente saiu do quarto e a seguiu.
Lydia parou em seu caminho quando viu a figura de uma jovem deitada sozinha na beira de um rio. A lua brilhante acima lançava um brilho prateado na água cristalina.
Então, Lydia viu o que ela estava fazendo e sentiu como se seu coração tivesse parado. Passando a mão pela superfície da água, a mulher estava criando um delicado fluxo no ar.
Ela estava fazendo movimentos circulares e acenando com a mão, criando a forma de um cisne na água flutuante.
Era a visão mais linda que Lydia já tinha visto.
E quando seu estômago embrulhou, ela percebeu que não era uma magia comum. Esta mulher estranha na margem do rio era exatamente como ela.
Lydia encontrou outra Slifer...