"Liz, eu... eu-eu não posso..."
"Maya, acalme-se", ela fala ao telefone. "Diga-me o que há de errado, bebê."
"Jace! Jace é o que há de errado! Que merda! Porra!" Eu grito no telefone enquanto deslizo pelos portões, fora da faculdade.
"Jace? Por que você ainda está pensando nele, Maya? Achei que ele tinha morrido para você."
"Ele é meu professor. Jace é meu novo professor."
"Ele é o quê?!", ela diz. "Eu estou indo buscá-la. Você ainda está na faculdade? Maisie quer sua mamãe, e eu quero respostas." Ela desliga imediatamente.
Eu não posso lidar com isso. Não agora. Já estou perdendo meu turno na loja em que trabalho.
Rapidamente ligo para o serviço dizendo que estou doente, esperando que meu chefe me dê outra chance. Eu apenas flerto com ele um pouco e ele me libera.
É doentio mesmo, sendo a feminista que sou, ter que flertar com meu chefe que já é um pervertido com poder. Mas preciso do emprego e tenho responsabilidades - tenho Maisie.
Não posso fazer isso, não com Maisie. Não posso ficar toda frenética e chateada por um cara que me largou por mensagem de texto. Isso não vai acontecer. Eu preciso me recompor.
Eu até xinguei no telefone, estava chateada.
E estou fazendo de novo. Eu não falo mais palavrão. Quebrei os maus hábitos quando planejava ter minha filha, para criá-la direito. Eu era uma garota festeira, vivia para as emoções da vida.
E eu esperava que os anos viriam e fariam as coisas passarem. Mas eu desisti. E estou feliz por isso. Tenho muitos arrependimentos, mas Maisie não está nem perto de ser um deles.
Na verdade, as ações caóticas que eu exibia enquanto era adolescente... Eu gostaria de ter sido melhor.
Rompi o relacionamento com meu pai, estar grávida de Maisie foi o último prego no caixão. Ele me implorou para abortá-la ou entregá-la para adoção.
Ele jurou que não ajudaria se eu continuasse com ela. Isso deveria me assustar para fazer o que ele queria. Mas eu não fiz. E ele escolheu cumprir sua palavra.
Com a ajuda de Liz, eu consegui. Aluguei um apartamento graças a alguns programas para mães solteiras, que me ajudaram financeiramente até que eu me levantasse.
E agora meus empregos pagam o mínimo para Maisie e para mim. Mas é o suficiente.
Meu pai achava que eu não conseguiria fazer isso, que eu não poderia ser a mãe que Maisie precisava. Ele me via como uma festeira imprudente e, para ser justa com ele, eu era.
O que ele nunca entendeu, o que os homens não entendem, é como é ter uma vida crescendo dentro de você. Alguém que é bom e puro. Isso me mudou bastante.
Mudou toda a minha perspectiva de vida. E eu simplesmente não conseguia desistir dela. Foi a melhor decisão que já tomei, mesmo com os sacrifícios que faço.
"Oh, Maya", Liz diz com simpatia ao notar minhas bochechas manchadas de lágrimas. Devo estar pior do que normalmente pareço.
Todo o meu rosto se ilumina com a visão da minha filhinha, e eu estendo os braços para alcançá-la.
"Mamãe", ela exclama com uma risadinha adorável.
"Como foi seu dia, lindinha? Você se divertiu com a Mel?", eu pergunto a ela com um grande sorriso para combinar com seu humor brincalhão.
Ela está na fase em que pode passar de beligerante e teimosa a completamente feliz e risonha.
Eu particularmente não gosto de limpar respingos de comida das paredes quando ela está satisfeita, mas ela é incrivelmente fofa, mesmo que seja com um beicinho de ‘não quero mais’.
"Mm... Ma", ela responde, colocando os braços em volta do meu pescoço e enterrando o rosto no meu ombro.
Ela disse sua primeira palavra há apenas alguns meses, o que eu temia ser algo anormal. E foi.
"Cansada, docinho?", eu pergunto a ela, e ela balança a cabeça e bate no meu rosto com as mãos.
É difícil não rir das travessuras da menina, porém, suas travessuras estão me impedindo de rir enquanto ela aperta minhas bochechas juntas.
Com o canto do olho, noto o único homem que não quero ver, saindo da com a Srta. Wexler pendurada nele.
Ele claramente usou seus encantos nela, e não se importou com o fato de que ele me beijou horas atrás. Eu realmente não significo nada para ele. Como pude pensar que tomei a decisão errada de não contar a ele sobre Maisie?
Ele claramente não cresceu e, se vale de alguma coisa, ele deveria ser o adulto entre nós.
Mas dói. Por que isso dói? Eu não deveria me importar, mas eu me importo. Ele não tem mais nada comigo.
Liz segue minha linha de visão e zomba alto, chamando minha atenção de volta para ela.
Liz foi quem me levou às festas da faculdade. Ela apresentou Jace para mim, embora ela pessoalmente não gostasse dele. Ele era encantador e um jogador, e eu me envolvi com tudo isso.
Nos encontramos e ele disse que estava só comigo. Que ele era meu namorado, um cara da faculdade.
"Eu não posso acreditar que ele é seu professor. E não posso acreditar que ele está saindo com outra professora, provavelmente para transar com ela, depois de ver você."
"Cuidado com o que fala" repreendo-a, levando uma das mãos ao ouvido de Maisie e a outra coberta pelo meu ombro.
"Desculpe", ela responde com culpa, e sua expressão furiosa suavizou depois de olhar para o meu rosto. "Sinto muito, Maya." Desta vez, ela diz isso para me consolar sobre Jace. "Maya... Jace sempre foi um idi-idiota."
"Talvez eu deva apenas me transferir, ir para outra faculdade-"
"Não! De jeito nenhum! Você não vai deixar ele te expulsar. Você chegou primeiro!" Ela argumenta enquanto coloco Maisie em sua cadeirinha. Eu deslizo para o banco da frente e suspiro, encostando minha cabeça no encosto.
"Não quero vê-lo todos os dias. Eu não posso lidar com isso. E se ele descobrir sobre Maisie?"
"Ninguém mais naquela escola sabe sobre Maisie. Por que você acha que ele vai descobrir? Trate-o como qualquer outro professor e ele nunca saberá!"
"Mas ele não é como qualquer outro professor", eu choro, exasperada.
"Ele é o pai da minha filha. Ele é meu ex. Ele é o único cara com quem estive de verdade. Como vou ignorá-lo como se ele não fosse nada? Depois da aula que tive com ele, eu o confrontei e ele... me beijou."
"Ele fez o quê?! Você o deixou beijar você?"
Estou prestes a responder com uma negação ao ‘deixar’, mas ela me interrompe. "Não se atreva a dizer que você não deixou. Ninguém pode forçar você a fazer nada, Maya. Você é uma mãe solo forte, então não me diga que não conseguiu evitar."
"Fiquei surpresa quando ele fez isso, e então eu não queria que ele parasse. Mas eu parei. Eu o coloquei em seu lugar, e então ele usou seus... lábios para me afetar mais."
Ela olha para mim com um olhar crítico, e eu apenas reviro os olhos. "Mantenha seus olhos na pista. Você quer matar Maisie?"
"Não, mas eu posso querer matar você se você se meter de novo com Jace, no mínimo. Você não precisa dele. Existem muitos caras que adorariam estar com você e alguns deles não serão uma perda de tempo.
"Jace pode ser seu primeiro amor, mas ele não será seu único. Quando Maisie ficar mais velha, talvez você comece a namorar de novo. Jace não te merece, e quer saber, você nem precisa de um homem se não quiser.
"Veja tudo o que você conquistou - uma mãe solo forte -"
"Eu precisei de um homem para fazer Maisie, no entanto", eu rosno para ela com um pouco de amargura.
Eu não quero estar defendendo meus sentimentos não recíprocos por Jace, mas... Eu sou patética. Isso tudo é patético. Eu tive quase dois anos para superar Jace.
Maisie tem algumas de suas características, no entanto. Ela tem seus grandes olhos azuis com meu cabelo castanho. E ela tem esse sorriso, esse lindo sorriso. Não o sorrisinho fofo, mas o grande sorriso. Isso me lembra ele.
Ela é um lembrete dele que não consigo esquecê-lo, não consigo seguir em frente. Eu não posso fingir que Jace nunca aconteceu porque sem ele, eu não teria minha filhinha.
"Eu não vou te dar um sermão, Maya. Você é adulta o suficiente para tomar suas próprias decisões. Principalmente quando se trata de Maisie, sei que você fará a coisa certa. Só... não o deixe te enganar.
"O que quer que você decida, apenas certifique-se de que está vendo com clareza, e que não vai ser algo impulsivo como aquele beijo."
"Eu sei. Preciso decidir o que é certo para Maisie, sério."
