
Eu observo, surpreso, enquanto a enfermeira baixinha sai do meu quarto toda emburrada. Ainda estou chateado por causa do cigarro, mas me sinto um pouco mal. Não devia ter sido tão grosso com ela. Dá para perceber pelo cabelo ralo debaixo do lenço que ela também está lutando contra essa maldita doença.
Eu balanço a cabeça, incrédulo com a situação. Há apenas três semanas, tudo estava normal — ou pelo menos eu achava que estava. Agora, olhe para mim. A vida definitivamente sabe como ser cruel. Primeiro a Bella, agora isso.
Ouço um toque suave e vejo meu celular acender. Quem será agora? Não estou com vontade de ler mensagens de consolo. Mas é o Robbie, me enviando um vídeo bobo.
Abro a mensagem e assisto, ficando cada vez mais surpreso. É um vídeo do Instagram de um sujeito que deixou uma gravação para ser tocada em seu funeral. Todos estão ao redor do caixão, e dá para ouvir ele gritando que quer sair e que está escuro lá dentro.
Começo a rir baixinho. O Robbie é realmente uma peça. Ele puxou mais a mim do que à mãe, eu penso, igualmente palhaço e sem noção.
Dou uma olhada nas mensagens, mas não há nada novo. Antes de desligar o celular, mando uma mensagem para o Rob pedindo para trazer umas roupas limpas pela manhã. Achei que ficaria aqui só um dia, mas parece que o tumor é tão grande que precisa ser tratado imediatamente.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço passos pesados no piso azul dos corredores. O pessoal do turno da noite deve estar saindo.
Eu solto um suspiro profundo. Esta noite será uma merda quando a enfermeira noturna fizer a ronda. Sempre acordo facilmente, e não acho que vou dormir muito.
Pego minha calça de moletom e escova de dentes, indo para o banheiro trocar por algo mais confortável. Apesar das circunstâncias ruins, tenho sorte de ter um quarto individual, o que significa que não preciso dividir o banheiro. Sem mais nada para fazer, eu tomo um banho demorado.
Quando volto ao quarto, vejo a enfermeira baixinha, a que ficou brava mais cedo, parada ao lado da minha cama.
“Vim ver como você está, e o médico receitou um comprimido para dormir. Se não conseguir pegar no sono, é só chamar que eu trago para você.” Ela não olha para mim, e fico pensando se ainda está brava comigo. “E... quero pedir desculpas.” Ela me olha, e as bochechas pálidas ficam vermelhas.
“Eu não devia ter agido daquele jeito, mas eu...” Ela desvia o olhar, pigarreando. “Deixe para lá. Eu simplesmente não devia ter gritado com você.” Ela me encara novamente, sem desviar o olhar.
Eu rio baixinho, cruzando os braços. “Tenho que dizer, não são muitas pessoas, especialmente pessoas pequenas como você, que têm coragem de gritar comigo daquele jeito. Você teve coragem, moça.”
Os olhos dela se arregalam ao ouvir o que eu disse, mas aí ela sorri. Por um momento, fico surpreso. O sorriso dela é tão sincero e natural. O olhar cansado e triste no rosto dela some, e vejo a mulher que ela provavelmente era antes de adoecer.
“Você é mesmo uma figura, hein?” O sorriso dela se transforma em uma risadinha gostosa.
Ela verifica como estou, fazendo algumas anotações, antes de ficar séria novamente. “Mas eu estava falando sério antes. Você realmente não pode fumar aqui. É proibido em todo o hospital, e não é justo com os outros pacientes.”
Eu olho para o rosto dela e penso por um momento. Eu poderia provocar e dizer que tenho um maço inteiro comigo, mas ela parece tão cansada que me contenho e aceno com a cabeça. “Prometo não fumar no quarto de novo, tá?”
Ela não responde. Os olhos dela me encaram, como se ela não acreditasse em mim. Torço para que ela não me peça para esvaziar os bolsos. Mas então ela acena rapidamente. “Tudo bem. Mesmo que eu tenha quase certeza de que você tem mais cigarros escondidos em algum lugar, confio que não vai fumá-los aqui no hospital.” E com essas palavras ela se vira, parecendo um pouco orgulhosa, me deixando bem surpreso.
Eu acordo quando alguém sacode meu braço de leve. “Bom dia, Edward. Tenho um comprimido para você tomar antes da cirurgia.”
Surpreso, eu me sento e olho para a janela. As cortinas ainda estão fechadas, mas um solzinho fraco entra por uma fresta. Olho para a enfermeira da noite passada. Ela tem um sorriso caloroso. “Pela sua cara, você está surpreso por ter dormido.”
Sorrio um pouco ao ver os olhos dela brilharem. “Você está acostumada a trabalhar de noite, não é? Normalmente eu acordo fácil, mas de algum jeito você foi tão silenciosa que nem ouvi.”
O sorriso dela aumenta. “Isso mesmo. Geralmente trabalho de noite, e é bom ouvir que faço isso o mais silenciosamente possível. Eu também não gostaria de ser acordada no meio da noite.” Ela estende a mão com um copinho contendo um comprimido. “O centro cirúrgico acabou de ligar. Você é o primeiro desta manhã.”