
Ai, minha cabeça! Sinto como se ela estivesse se partindo ao meio de tanta dor. Tento abrir os olhos, mas a claridade intensa do quarto me obriga a fechá-los novamente.
O ambiente está preenchido por sons suaves de equipamentos e conversas em voz baixa, mas por mais que eu tente me manter acordado, acabo adormecendo outra vez e tudo se torna escuro.
Desperto novamente, dessa vez porque alguém está mexendo no meu braço. Tento colocá-lo de lado, mas ele parece pesar uma tonelada. Eu abro os olhos, mas algo está errado — eu só consigo enxergar pelo olho direito.
Assustado, tento tocar meu rosto, mas alguém segura a minha mão. “Não mexa aí, Sr. Winter. O senhor está com curativos no lado esquerdo da cabeça.”
Eu viro a cabeça para ver quem está falando. Não é a enfermeira de ontem à noite. Essa voz é diferente — mais firme, mas também mais acolhedora.
Uma jovem, aparentando uns 25 anos, está ao meu lado. Ela tem feições delicadas, olhos grandes e castanhos, e parece ser bastante gentil. “A cirurgia foi bem-sucedida. O médico virá mais tarde hoje para conversar com o senhor, se estiver tudo em ordem.”
Eu tento falar, mas minha língua parece um pedaço de couro, e minha garganta está seca como o deserto. A enfermeira dá uma risadinha ao ouvir os sons da minha boca ressequida.
Depois de algum tempo, em uma cadeira de rodas eles me levam de volta para o meu quarto, e eu caio em um sono profundo sem sonhos. Quando acordo novamente, vejo alguém sentado no meu quarto com os pés na minha cama. Fico surpreso inicialmente, mas quando percebo quem é, abro um sorriso.
“Bom dia, filho. Trouxe as coisas que pedi?”
Rob não retribui o sorriso. Ele parece muito sério. “Isso não tem graça, pai. Você disse que era só uma consulta de rotina, não uma cirurgia no cérebro!” A voz dele vai se elevando enquanto ele fala.
Eu me afundo no travesseiro e fecho os olhos. “O que você queria que eu fizesse? Te contasse que eu poderia ter um tumor fatal no cérebro? Você perdeu sua mãe há pouco mais de um ano. Eu não queria te preocupar à toa. Eu realmente achava que seria só uma consulta normal, não uma cirurgia. Acho que não prestei atenção direito no que o médico estava falando.”
Eu faço a minha maquiagem com bastante precisão, ajeitando meu lenço preferido antes de lançar um último olhar ao espelho. Meu rosto está pálido e inchado, com olheiras profundas sob os olhos verdes. Ainda assim, considero que meus olhos têm certo encanto. Solto um suspiro pesaroso e profundo. Eu me sinto tão pouco atraente.
Uma melodia familiar ecoa do banheiro, me arrancando um sorriso. Nena ainda está acordada, preparando-se para dormir. Eu a deixo em paz, já que ela não tem aula amanhã.
Bato levemente na porta do banheiro. “Oi, querida. Estou de saída para o trabalho. Comporte-se, viu?”
Antes que eu possa me afastar, a porta se abre e Nena me envolve em um abraço apertado, me beijando. “Tenha um bom plantão, mãe.”
Eu a encaro, surpresa. “A que devo esse carinho todo? Aconteceu alguma coisa?”
Nena ri. “É só porque te amo”, diz ela, me girando e quase me derrubando.
“Tchau, mãe!” Ela exclama, fechando a porta do banheiro com estrondo.
Ao me dirigir para o corredor, Bart emerge da cozinha. Ele me observa, fixando o olhar no meu lenço. Sei que ele não gosta de me ver usando lenço na cabeça. Ele insistiu muito para que eu usasse uma peruca, algo que eu detestava porque me fazia sentir falsa.
Eu me aproximo rapidamente dele para dar-lhe um beijo, mas quando coloco minhas mãos em seus ombros, ele se esquiva. Quando nossos olhares se cruzam, os olhos dele estão frios e indiferentes.
“Tenho que trabalhar até tarde amanhã, então você precisa arranjar alguém para ficar com a Nena”, ele diz com um olhar maldoso enquanto afasta minhas mãos de seus ombros.
Eu o encaro, chocada. “Amanhã é o meu último plantão noturno. Está marcado no calendário. Você não pode simplesmente não vir para casa!” Eu quase grito enquanto minha surpresa se transforma em raiva.
“Não faça tempestade em copo d'água”, Bart diz, revirando os olhos. “Ela tem treze anos, Alex. Pode se virar sozinha.”
Eu fico triste com a indiferença dele. “Não é só sobre cuidar dela, Bart”, eu imploro. “Você quase não tem ficado em casa ultimamente. Só quero que passe mais tempo com ela.”
Ele permanece em silêncio por um momento, apenas me encarando com desprezo. Então ele cruza os braços. “Olha só, Alex. Eu fiz tudo por você nesses últimos anos. Fiquei ao lado da sua cama de hospital, aguentei você reclamando o tempo todo. Quase vomitei toda vez que você vomitou. Sempre te dei um balde e lenços quando metade acabava nos lençóis de qualquer jeito. Sempre tive que limpar tudo. Estou de saco cheio de limpar e de tarefas domésticas. Eu preciso de um tempo para mim agora. Olha, fico feliz que seu câncer não tenha se espalhado, mas estou cansado de você me dizer o que fazer.”
Ele me encara novamente, e seus olhos parecem distantes. “Pode parar de perder seu tempo com essa maquiagem. Não importa o quanto você passe, ela nunca vai esconder seu rosto inchado.” Ele se vira bruscamente, retornando à cozinha. Mas antes de sair, ele se vira para mim. “Ah, e a propósito, eu não vou estar em casa amanhã à noite.”