
Eles a deixaram sozinha, o que era uma tremenda falta de educação. Será que achavam que ela não era perigosa? Era melhor do que estar amarrada, mas eles não a viam como uma ameaça. Devia haver algo no quarto que ela pudesse usar a seu favor.
Isla foi até as janelas grandes nos fundos. Poderia abrir uma facilmente, mas já tinham zarpado. Sua cidade ficava cada vez mais longe. O navio estava em alto-mar agora, e as ondas estavam agitadas. Ela sabia que não conseguiria nadar tão longe. Seria um jeito horrível de bater as botas.
Mas ela não jogaria a toalha sem lutar. Não ficaria de braços cruzados.
A cabine do capitão era espaçosa. Havia um tapete grosso cobrindo quase todo o chão. Uma mesa robusta estava presa ao piso, com seis cadeiras grandes e macias ao redor. Dois mapas detalhados estavam espalhados sobre a mesa, presos por um instrumento de navegação, uma ampulheta e uma tigela com algumas frutas.
Ela pegou uma maçã e uma faca de prata, escondendo a faca na manga. Não era tão afiada quanto a que perdeu antes, mas era melhor que nada.
Um armário guardava pratos, copos e alguns livros. Entre as luminárias na parede, havia duas espadas penduradas, mas ela não era forte o suficiente para usá-las bem. Deixou-as lá; a faca era mais adequada para ela.
Um espelho dourado pendia sobre um baú, que ela tentou abrir. Mas estava trancado, e ela fez cara feia para seu reflexo. Um segundo baú maior estava no chão, também trancado. Doía saber que provavelmente continham joias e dinheiro nos quais ela nunca poderia pôr as mãos.
Em um pequeno cômodo com duas janelinhas, havia uma cama grande encostada na parede com um baú aos pés. Este não estava trancado, mas só continha roupas. Uma bacia, jarro e copos estavam ao lado de uma pia, enquanto um penico e um balde vazio para água suja estavam no chão.
E era só isso. Uma prisão agradável ainda era uma prisão.
Isla puxou uma das pesadas cadeiras e se sentou com um suspiro. Não havia nada que pudesse usar além da faca que pegara, e mesmo essa só funcionaria se tivesse sorte. Mas e depois? Mesmo se conseguisse esfaquear um homem, estava em um navio com duzentos marinheiros.
Ele a fez esperar por duas horas, provavelmente para fazê-la imaginar as piores coisas que poderiam acontecer. Mas ela se recusou a ficar com medo.
Finalmente, a porta se abriu, e Henrik entrou. Ele tinha pouco mais de um metro e oitenta de altura, com ombros largos sob um longo casaco elegante usado sobre um colete e camisa. Sua barba preta estava trançada em duas partes, presas com anéis de ouro, e seu cabelo preto estava solto até os ombros.
Isla o observou atentamente enquanto ele tirava o casaco, pendurando-o em um gancho atrás da porta. Sua camisa sem mangas revelava uma tatuagem em volta do braço direito, uma mistura assustadora de polvo e serpente. Isla franziu a testa. Algo nela fez os pelos de sua nuca se arrepiarem.
Ele atravessou a sala, cruzando os braços enquanto a observava por um longo período, analisando sua camisa longa e solta, calças e botas. Seus lábios se contraíram. Ela o encarou de volta.
"Quem é você?" Ele perguntou com sua voz educada, que era suave e calma. Provavelmente era um filho menos importante de uma família rica, tentando fazer uma boa carreira depois de comprar uma posição. Ela não conseguia identificar de onde era seu sotaque.
Ela apertou os lábios.
Ele ergueu uma sobrancelha. "Seu nome, garota. Vamos tentar não brigar por tudo."
"Isla."
Ele assentiu, mas não disse seu nome. "Onde está a bolsa que você roubou?"
Ela o olhou sem demonstrar emoção, vendo seus olhos azuis, e como ele parecia cada vez mais divertido com seu silêncio. Ela desviou o olhar e fungou.
"Sem resposta?"
Não, ela não lhe daria o prazer de outra resposta. Além disso, "vá ver se eu estou na esquina" não era algo inteligente para dizer na sua situação.
"Tudo bem. Vou arrancar a resposta de você com o chicote, então."
Isla olhou para ele, tentando ver se estava mentindo. Ele não tinha se movido, e seu rosto não revelava o que estava pensando. Parecia capaz de fazer o que dizia.
"Eu escondi a bolsa," ela disse.
"Ah, é?" Ele sorriu, como se a achasse engraçada. "Quer me dizer onde?"
"Você não vai encontrar. Se me soltar, eu digo onde está." Valia a pena tentar.
"Soltar?" Henrik riu. Então abriu os braços, como se apontasse para o mar ao redor deles fora de sua cabine. "Você pode sair quando quiser. Sabe nadar tão bem assim?"
"Minha liberdade e um pequeno barco, e eu digo onde sua joia está escondida."
Henrik riu baixinho, como se estivesse gostando de algo. Provavelmente dela. "Minha joia?"
Ele deu um passo em sua direção, quase perto demais, e olhou para baixo. "Você não sabe o que roubou, não é?" Sua voz era suave, pouco mais que um sussurro. "Você é só uma ladra que viu uma oportunidade e a agarrou, não é? Pelos Deuses, como você sequer sabia que estava lá?"
Isla não era uma simples ladra, era a melhor no seu ofício. A pergunta dele era estranha, e ela o olhou com antipatia. "Estava pendurada no seu cinto. Difícil não ver."
"Você conseguia vê-la?" Ele perguntou, parecendo surpreso.
"Claro que eu conseguia ver." Que tipo de pergunta era aquela?
Ele a encarou demoradamente, com uma expressão que ela não conseguia decifrar. Estava curioso? Interessado? Ela não sabia dizer. Mas seus olhos eram intensos, e ela desviou o olhar primeiro.
Então ele balançou a cabeça levemente, como se estivesse esquecendo aquele momento, antes de perguntar: "Você sabe o que fazemos com pessoas que invadem a Serpente Negra?"
Isla ergueu o queixo. "Eu não invadi. Seus homens me carregaram para este navio. Vocês me sequestraram."
Ele sorriu. "Você sabe o que fazemos com os que invadem e os que sequestramos?"
Não havia nada que ela pudesse dizer, então ficou em silêncio, apenas cerrou o maxilar.
Seu sorriso aumentou, como se até o silêncio dela o divertisse. "Nós os amarramos nus ao mastro, damos doze chicotadas, os fazemos limpar o convés pelo resto da viagem e os vendemos no próximo porto."
Ele não ousaria! Mas ela não conseguia afastar o medo frio em seu estômago. Isla tentou manter o rosto calmo, mas sabia que não tinha conseguido.
"Sou uma mulher, senhor. Não tem nenhuma educação?"
"Não sou um cavalheiro, e uma mulher como você seria vendida por um bom preço como escrava."
Não havia bondade em seu rosto, e Isla engoliu em seco nervosamente. "Você não arriscaria quebrar a lei, senhor. Exijo ser entregue às autoridades para contar meu lado da história."
"Quebrar a lei?" Sua risada foi afiada e cruel. "Você está no meu navio. Só existe uma lei aqui."
"A lei marítima se aplica a este navio como a qualquer outro, Capitão Henrik. Eu exijo—"
"Por que você acha que me importo com a lei marítima, garota?" Sua mão disparou, agarrando-a pelo pescoço antes que ela pudesse reagir. "Você não está em posição de exigir nada."
Ela agarrou seu pulso automaticamente, mas tinha tanta chance de tirá-lo dali quanto de nadar de volta para terra. "Você é um oficial da marinha, senhor," ela ofegou. "Não tem nenhuma honra?"
Seu sorriso era frio. "Nunca disse que tinha."
Seus olhos se arregalaram ao perceber. "Você é... você é um pirata?" Puxa vida.
Ela deixou a outra mão cair, a faca escorregando de sua manga para sua mão.
Mas ele notou. Olhou claramente para ela, então ergueu uma sobrancelha. "Gostaria de um pouco de manteiga com isso?"
Ela segurou o cabo da faca com força. Ele não achava que era perigosa; ela mostraria como estava errado.
"Me solte." Era difícil falar, com o aperto dele forçando seu queixo para cima e dificultando sua respiração.
A mão de Henrik apertou mais, espremendo até que ela mal conseguisse respirar. "Vai me esfaquear?"
"Não estou brincando," ela engasgou. "Me solte, agora."
"Ah, mas estamos brincando sim." Seus olhos brilhavam enquanto a observava como um gato diante de um rato. E ela odiava ser o rato.
Talvez ele achasse que ela miraria em seu rosto, mas seria fácil demais para ele bloquear. Em vez disso, ela apontou a faca para sua virilha, mais para distraí-lo do que para machucá-lo. Distraí-lo, então colocar a lâmina em um lugar mais importante.
Isla sabia que era rápida, mas não imaginava que ele seria mais rápido.
Ele se virou, recebendo o golpe na perna. A lâmina não era afiada o suficiente para penetrar fundo, mas perfurou suas calças de couro e entrou em sua perna, e a força do golpe sacudiu a faca em sua mão.
Então ele agarrou seu pulso e apertou, forçando-a, pela segunda vez naquele dia, a largar sua única arma. Ela caiu no chão.
Seus olhos estavam frios. "Por isso, serão vinte e quatro chicotadas."
"Não," ela ofegou, olhando para ele enquanto as lágrimas vinham aos seus olhos. Vinte e quatro chicotadas arrancariam a pele de suas costas. Ela ficaria gravemente machucada, talvez até a matasse. Um homem poderia sobreviver a vinte e quatro, mas ela sabia que nunca conseguiria.
Ela não tinha arma, nem ajuda, completamente à mercê dele.
E acabara de esfaqueá-lo.
"Por favor." A palavra saiu sem que ela quisesse.
"Nua," ele disse, seus olhos não mostrando misericórdia, "no mastro. Vinte e quatro chicotadas, e vendida no próximo porto."
"Por favor, não," ela engasgou, com o aperto dele tão forte que era difícil respirar.
"Finalmente aceita que posso fazer o que digo?"
Ela tentou assentir, mas ele estava forçando seu queixo para cima. "S-sim."
"Que você é minha prisioneira?"
"Sim."
"Meu navio, minhas regras." Ele sorriu. "Minha lei."
"Sim, droga, sim!"
Ele a soltou tão repentinamente que ela quase caiu para frente, inspirando profundamente enquanto esfregava a garganta dolorida.
"Vou pegar isso de volta," ele disse, puxando sua camisa para baixo com uma mão enquanto a outra alcançava o interior.
Ela ainda tentava recuperar o fôlego, chocada por um momento com a maneira como ele a tratava e quão ousado era. Levou um momento para reagir. Só então ela agarrou sua camisa, a outra mão tentando impedi-lo. Mas ele acabou facilmente com suas esperanças.
A mão dele moveu-se pelas tiras que seguravam seus seios, os dedos passando bem entre eles, tocando levemente sua pele. Então ele pegou a bolsa e a puxou.
"Você... Como?" Ela o encarou. Ele sabia que estava lá.
Ele sabia o tempo todo.