A Princesa Alfa - Capa do livro

A Princesa Alfa

Kellene

Capítulo 3

CELINA

Forço o meu poder sobre o meu pai. “Pai, por favor, me leva ao médico”, digo com a voz suave, mas firme.

A tensão toma conta da sala. O rei licano também me observa. O Xander e a minha mãe abaixam levemente a cabeça na minha direção. Até o Ruben tensiona o pescoço, tentando resistir a mim.

O Christopher está de olhos fechados, provavelmente tentando acalmar a sua fera. Não é a primeira vez que causo essa reação. Mas é estranho que ele esteja com a mão no peito.

Finalmente, meu pai recua e abre os punhos. “Com licença, Vossas Altezas, a minha filha precisa de mim.”

Deixo que ele me guie para fora da sala, e caminhamos para a ala hospitalar em silêncio.

Ele anda ao meu lado, olhando para baixo. Dá para sentir que está envergonhado. Não é só porque se submeteu a mim—nenhum de nós está pronto para falar sobre isso. É porque perdeu a cabeça na frente do rei licano.

Eu só queria evitar uma possível guerra.

Ele para nas escadas. “Celina, sei o que você estava tentando fazer. Sei que não está machucada a ponto de precisar da minha ajuda. Por favor, volte para o seu quarto. Sua mãe e eu precisamos conversar.”

“Pai—” começo, mas ele me interrompe com um olhar.

“Cel, agora”, ele diz em um tom irritado, me deixando surpresa.

O Xander segura o meu braço. Eu nem tinha percebido que ele estava nos seguindo.

“Cel, é melhor nos prepararmos para o baile”, ele diz.

Suspiro e deixo ele me puxar pelo corredor, ainda chocada com o comportamento do meu pai.

O Xander me leva até o meu quarto e me direciona para a cama. Olho para ele confusa enquanto passo a mão pelo edredom. Ele fecha a porta e as persianas rapidamente.

“O que você está fazendo?”, pergunto ao ver ele farejando o meu closet.

“Cel, você foi atacada.”

Levanto o meu braço. “Sério? Nem tinha percebido.”

Ele me lança um olhar sério antes de continuar procurando. “Você era o alvo. Precisamos ter cuidado até você estar acasalada.”

“Até eu estar o quê?” Encaro o meu irmão.

Ele se aproxima e fala mais baixo. “Não é fácil falar isso, Cel, mas o seu poder me faz parecer um fracote. Já é mais forte que o do papai. Com você como companheira, eles poderiam facilmente derrubar o rei licano e o rei alfa.”

Abro a boca para argumentar, fecho, e então abro de novo. “Então, para evitar problemas para todos nós, preciso de um companheiro?”

Xander fica vermelho. “Mais ou menos. Quer dizer, não quero que você seja acasalada contra a sua vontade, só estou te contando o que me disseram.”

“Odeio ser mulher”, resmungo e me jogo na cama—mas então olho para cima. “Espera, como assim o que te disseram?”

Xander suspira. “É, sobre isso... O papai recebeu uma carta do conselho. Eles disseram que se você não tiver um companheiro depois da Reivindicação, vão escolher um para você.”

“É sério?!”, grito e me levanto com um pulo. “Por favor, me diz que você está brincando.”

“Eles acham que alguém como você deveria ser acasalada para continuar uma linhagem forte”, Xander diz. “E com a ameaça aos tronos, acho que vão insistir ainda mais.” Ele me lança um olhar reconfortante. “Vai ficar tudo bem, Cel.”

“Mas essa regra idiota só vale para a família real dos licanos!”, digo, quase chorando.

“Bem, depois que você matou o seu companheiro licano, meio que se aplica a você também...”, Xander diz, meio sem graça.

Rosno, jogando um travesseiro nele. Ele pega e joga de volta. “Fica aqui e descansa um pouco. A Jenna deve vir mais tarde—”

“Espera, a Jenna vem?” Fico feliz em pensar na companhia da minha melhor amiga, mas também curiosa. “Ela me disse que ela e o Eddy estavam vendo lugares para o casamento essa semana.”

O Xander fica com uma expressão estranha. “Hm. É. Ela vem. Vou deixar ela te contar. Só dorme um pouco para tirar o resto do wolfsbane do seu corpo, depois você pode se arrumar para o baile. Vou deixar um guarda na sua porta, só por precaução.”

“Tudo bem, tanto faz...”, suspiro e me jogo de volta na cama enquanto ele sai.

Ele tem razão. Não só ainda estou me recuperando do envenenamento por wolfsbane, como também estou cansada da viagem. O meu corpo precisa mesmo de uma pausa.

Mas não consigo dormir mais do que três antes do meu celular me acordar.

Gemo e atendo sem olhar quem está ligando. “Alô?”

Uma voz sombria soa do outro lado, “Acorda, Celina...”, e me faz despertar na hora. Sinto um arrepio percorrer o meu corpo.

“Declan”, digo, olhando ao redor do meu quarto escuro. “Como conseguiu o meu número?”

“Não importa. Só queria dizer que estou ansioso para te ver na Reivindicação.”

“Declan, para com isso. Nós ~terminamos~”, digo irritada, me levantando da cama. “Me deixa em paz.”

“Eu te pedi em casamento, Celina! Você nem deveria participar da Reivindicação.”

“E eu disse não”, respondo, ficando com raiva. “Estou te falando isso há seis meses, Declan. Não quero ser sua companheira!

“Bem, depois de amanhã, você não vai ter escolha.”

Ele desliga. O que isso quer dizer?!

Suspiro quando alguém bate três vezes antes de abrir a minha porta.

Me viro, com a testa franzida, mas em vez disso, solto um gritinho animado. “Jenna!”

Corro para a minha melhor amiga e a envolvo em um abraço apertado, depois me afasto para olhar para ela.

O seu cabelo ruivo está preso em um coque bagunçado, e ela está usando uma calça de moletom verde-água. Os seus lindos olhos cor de jade me analisam de cima a baixo. Ela é só um pouquinho mais baixa que eu, e é filha do Beta Logan.

Ela aponta para o celular que ainda está na minha mão. “Ouvi você gritar. Quem era?”

“Só o Declan”, digo, jogando o celular na cama. “Acho que preciso de um número novo—de novo.”

Ela parece preocupada. “Vocês terminaram há seis meses. Ele já não deveria ter superado?”

“Pois é.” Balanço a cabeça. “Esquece isso. Não esperava que você viesse hoje à noite. O Xander que me contou. O que aconteceu? O casamento ainda vai ser no dia da formatura?”

Ela me segue até o sofá, com um sorriso fraco. “Na verdade... ele terminou comigo.”

“O quê?” Paro, olhando fixamente para ela. “Quando foi isso?”

Ela faz uma careta. “Segunda-feira. Dá para acreditar?! Ele disse que só me pediu em casamento para evitar a Reivindicação! Ele não estava planejando me marcar depois da formatura. Ele só estava... ~me usando~.” A raiva da Jenna se transforma em tristeza, e ela começa a chorar. “Agora tenho que participar da Reivindicação!”

Eu a abraço, deixando ela chorar. Infelizmente, isso é comum de acontecer. Se você declara para o conselho que vai acasalar e fica noivo, não precisa participar da Reivindicação.

A Jenna faz 22 anos no mês que vem, o que faria com que ela não fosse mais qualificada para a Reivindicação. O Eddy poderia ter esperado; ele só estava sendo cruel. Principalmente por fazer isso na semana do baile.

Eu adoraria acabar com a raça do Eddy, mas a Jenna seria cúmplice. Talvez eu possa mandar um monte de cobras para o quarto dele...

O meu celular toca de novo, agora com um toque assustador que significa que é um dos conselheiros. Olho para a tela e vejo que é o Conselheiro Geoff. Ignoro, deixando ir para a caixa postal.

Falando em assustador... “Jenna, sei que é a última coisa que você precisa ouvir agora, mas temos que ir. Precisamos estar no baile daqui a pouco.”

Ela solta um gemido e se joga no meu colo. “Não quero ir.”

“Tive uma ideia. Ficamos lá só o suficiente para deixar a minha mãe feliz, depois voltamos para cá, comemos salgadinhos, bebemos o vinho bom do escritório do meu pai e assistimos filmes ruins de romance.”

Ela funga. “Sério?”

“Uma hora, duas no máximo.”

Ela se senta e limpa os olhos. “Posso me arrumar aqui?”

“Claro. Você vai dormir aqui também”, digo, dando um beijo em sua bochecha. “Vamos ser caçadas em um terreno hostil. Precisamos de uma festa do pijama.”

“Vou me arrumar, então”, ela diz, retribuindo o beijo. “Volto para deixar as minhas coisas aqui.”

“Vou tomar banho. Pode ficar à vontade”, digo enquanto ela sai.

Assim que a porta se fecha, o meu celular toca de novo. Caminho até a minha cama. “Velho chato, idiota e mandão, sem—Conselheiro Geoff, como posso te ajudar?”, pergunto com uma voz muito doce.

O tom dele é suave e calmo. “Princesa Celina, ouvi que você foi atacada.”

“Sim. Fui atacada por um licano ladino enquanto investigava o ataque à Matilha Colina da Lua.”

“Um licano? Está ferida?”

Ele sabe do ataque mas não sabe que estou ferida? “Sim. Tive um corte profundo com veneno de wolfsbane. Eu o matei antes que ele pudesse fazer pior.”

“Entendo. E você ainda vai conseguir participar amanhã?”

É com isso que ele está preocupado? “Eu, ahn, sim. Acho que sim. Está quase cicatrizado.”

Há uma pausa antes dele responder. “Que bom. Bem, queria te informar que se você não tiver um companheiro até o final da Reivindicação, será designado um companheiro para você até o seu aniversário de vinte e dois anos.”

Tento não vomitar. “Nesse caso, aguardo notícias suas.”

A voz dele mostra que ele não está satisfeito. “Você não vai deixar outro te marcar, vai?”

“Não. Tchau, Conselheiro.” Desligo e jogo o celular na cama antes de ir para o banho.

CHRISTOPHER

O Ruben invade o meu quarto, deixando a porta aberta. Ele tem uma expressão péssima no rosto.

Ele se joga no sofá branco e enterra o rosto nas mãos, soltando um gemido abafado. Reviro os olhos. Meu irmão mais novo sempre foi dramático.

“Tem algum motivo para você estar me incomodando?” pergunto, desviando meu olhar do computador.

Apesar de estarmos em outro lugar, ainda tenho trabalho a fazer. Não estou nem um pouco satisfeito de estar aqui—muito menos de ter que cuidar da princesa.

Ela é linda, tenho que admitir, mas não tem nada de extraordinário para chamar a minha atenção. Além disso, não estou interessado em alguém só para passar o tempo. Já cansei disso. Quero encontrar a minha companheira.

Penso em como o papai agarrou o Ruben e eu depois da saída daquela princesa mimada. Ele quase quebrou os nossos pescoços, nos forçando a nos submeter à sua ordem.

”Vocês dois vão proteger a princesa hoje e amanhã. Ela não pode ser marcada de jeito nenhum.”

“Aquela princesa alfa”, Ruben comenta, mexendo no seu terno. “O meu lobo está enlouquecido com o poder dela. Tentei flertar com ela, mas ela mal olhou para mim. Não sou bom o suficiente para ela?”

Reviro os olhos de novo, mas o meu lobo, Rajin, rosna, o que me deixa confuso. Ele parece irritado com o interesse do Ruben pela princesa. Não entendo. Ela é bonita, mas é só isso. A sua arrogância e agressividade ofuscam a sua beleza.

Não estou disposto a entrar nesse assunto com o meu irmão, então continuo analisando os relatórios sobre os licanos desaparecidos. “Pelo que percebi, ela não curte muito relacionamentos”, murmuro.

“Você acha que ela não gosta de mim?” Ruben pergunta, ignorando o meu comentário. “Não, impossível. Todo mundo gosta de mim. Talvez ela seja lésbica.”

Solto uma risada. “É, se uma mulher não se interessa por você, só pode ser lésbica.”

“Obrigado”, Ruben diz, sem entender o meu sarcasmo. “Por que você está trabalhando? Precisamos descer em cinco minutos.”

Lanço um olhar sério para ele. “Alguém precisa descobrir de onde esses ladinos estão vindo.”

Ruben se levanta. “Chris, você está prestes a ir para uma festa cheia de mulheres solteiras. Aproveita um pouco!”

“Não deveríamos vigiar a princesa?” pergunto.

Ele sorri. “Deixa ela comigo.”

“Você vai ficar grudado nela, não é?”

Ele se inclina para mim. “Prefiro pensar que estou cumprindo o meu dever de proteger a princesa alfa.”

“Ela vai te dar um chute”, aviso enquanto me levanto e fecho o meu notebook.

“Talvez, mas você sentiu o poder daquela garota. Vai me dizer que não quis se submeter a ela?”

“Uma mísera loba? Só pode estar brincando”, respondo, me esquivando quando ele tenta dar um tapa no meu ombro. “Mesmo sendo uma princesa alfa, acha mesmo que ela merece a minha atenção?”

“Se visse as pernas dela, mudaria de ideia”, Ruben diz, me empurrando para a porta aberta. “Relaxa por uma noite. É temporada de acasalamento. Para beijar. Para transar. O que você quiser.”

Ele me empurra para o corredor. “Só vai se divertir.”

“Me divertir?” pergunto, colocando a minha máscara preta de lobo. “Como é que se faz isso?”

Ruben parece confuso. “Você não fazia nada em Londres?”

“Na verdade, não. A Mia me mantinha ocupado quando eu não estava trabalhando.”

Ruben ri. “Aquela vadia? Ela tinha tempo para você quando não estava fodendo com mais ninguém?”

Fico furioso com o comentário, mas não é com o Ruben que estou bravo; apesar da sua falta de noção não ajudar nem um pouco.

“Ela dava um jeito, eu acho”, murmuro. “Cinquenta anos desperdiçados.”

Ruben dá um sorriso malicioso. “Quem sabe você não recupera um pouco desse tempo hoje à noite.” Ele ergue as sobrancelhas sugestivamente e me empurra de brincadeira.

Eu o empurro de volta, surpreso ao perceber que a minha fera parece estar animada. “Talvez eu possa ter uma noite de diversão.”

O Ruben ri. “É assim que se fala. Só dança, conversa, e—pelo amor da Deusa da Lua—bebe um pouco. Relaxa”, Ruben insiste, amarrando um lenço no meu pescoço. “Sério. Você é o primeiro príncipe, não o primeiro chato.”

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