
"Dillon!" Deanna disse, surpresa ao ver seu irmão mais novo na porta.
"Ouvi dizer que você foi atacada," seu irmão disse ao entrar em seu quarto, examinando-o minuciosamente como se esperasse ver os restos de um campo de batalha mortal.
"Sim, como está Mary?"
"Não! Eu temia isso. Devemos detê-los!"
"O que está errado?"
Deanna mordeu o lábio, imaginando o quanto era seguro revelar.
Os irmãos de Deanna não tinham o mesmo relacionamento com a rainha que ela.
E, desde que ele começou seu treinamento com os cavaleiros, Dillon não parecia ter o mesmo relacionamento com Lamont.
O que ela poderia dizer a ele sobre Mary? Ela não tinha provas de nada.
"Acredito que seja um mal-entendido", disse Deanna. Isso não era totalmente falso.
"Como assim?" perguntou Dillon.
"Conheço Mary toda a minha vida. Tenho certeza de que deve haver alguma explicação" respondeu Deanna.
"Que explicação poderia justificar a tentativa de homicídio?"
"Não, Deanna."
"Não?" Deanna ficou surpresa com a contrariedade de seu irmão mais novo.
"Estou farto disso! Você é fraca. Ela cometeu traição e precisa sofrer as consequências."
Deanna ficou chocada. "É você ou Lamont falando?"
Isso era o que Deanna temia; seu falecido pai não era mais a principal influência de Dillon. Ela olhou para ele com lágrimas nos olhos.
"Quero dizer, irmã..." ele suavizou. "As leis existem para nos proteger. Para proteger você também", acrescentou.
Deanna sabia que Dillon tinha boas intenções, mas naquele momento ela percebeu que tinha que agir sozinha.
Ela não era como as outras. Ela nunca foi. Era apenas uma questão de tempo até que sua vida refletisse esse fato.
Agora que seu pai se foi, a divisão entre ela e o resto da família parecia estar se aprofundando a cada dia.
Ela não podia confiar em ninguém agora. Ela não podia contar a ninguém seu plano ou pedir ajuda.
Nem um servo, nem um irmão. Não quando a própria família real estava no centro desse ato de traição.
Cabia a ela resolver esse mistério.
"Aqui", disse Deanna, pegando uma carta de sua mesa. "Leve isso para Helena."
Dillon assentiu e saiu, aparentemente satisfeito por ter uma missão a cumprir.
Deanna o perdoou por não entender.
Ele era jovem, órfão de pai. Ele já queria tanto ser um homem.
Deanna sentou-se e observou o horizonte através das vidraças de sua janela.
O sol estava baixo no céu e, embora a noite estivesse quente, a princesa bastarda começou a tremer.
Ela tinha que fazer algo para ajudar Mary.
Depois que eles deixaram Deanna para se recuperar do ataque, Aeon sabia que tinha que dar alguns detalhes a seu irmão.
"Eu deveria ter estado lá antes", ele admitiu.
"O que?" perguntou Max. "Eu estava lá assim que ouvi os gritos. Não consigo imaginar como você conseguiu chegar primeiro."
Aeon os ouvira enquanto subia a escada. Ele estava com medo de chegar tarde demais...
"O que eu quero dizer, irmão," ele continuou depois de uma pausa, "é que eu deveria saber que isso ia acontecer. Eu vi algo ontem à noite que ainda não mencionei."
"O que?"
"Vi o príncipe Lamont com a camareira. Ele deu a adaga a ela."
"O que? Quando?"
"Na cozinha. Quando desci para pegar a comida para você.
"Por que você não me contou isso? Eu tenho agido de acordo com o seu esquema esse tempo todo, jogando elogios para aquela velha bruxa, suportando seu sorriso afetado e o jeito que ela se agarra ao meu braço…"
Aeon revirou os olhos, mas o deixou terminar.
"... e o tempo todo," Max continuou, "você tem escondido informações importantes de mim? A garota quase morreu, Aeon!"
"Eu sei disso," Aeon retrucou. "E mantenha sua voz baixa. Não queremos que ninguém nos descubra."
"Primeiro você diz que a rainha deve me notar, agora você diz que precisamos permanecer discretos. É confuso. Se decida."
"Seu papel é ser notado, cortejar a rainha. O meu é permanecer discreto."
"Então, qual de nós está fazendo um trabalho ruim? Você é quem quase deixou a princesa morrer," Max disse.
Uma imagem passou pela mente de Aeon:
Deanna estava no chão, a camareira segurando a adaga em sua garganta.
Foi por tão pouco.
Se a serva fosse uma assassina experiente, Aeon não teria chegado a tempo de salvar a princesa.
Aeon estava fumegando. Seu irmão estava esquecendo quem mandava. "Chega!" ele rugiu.
Max ficou surpreso com seu tom. "Sinto muito, irmão. Só acho que você está correndo riscos desnecessários. Não vejo por que você não me contou a história completa."
Eles chegaram ao seu quarto.
"Ok," disse Aeon, sabendo que Max tinha boas intenções. Ele só queria ser incluído; ele provavelmente estava certo.
"Então, o que Lamont tem contra Deanna?"
"Eu honestamente não sei," Aeon respondeu. "Não consigo imaginar o que alguém poderia ter contra aquela garota."
Ele pensou no momento em que eles se olharam pela primeira vez enquanto ela os observava chegando ao castelo.
Seu cabelo comprido estava esvoaçando descontroladamente, mas eram seus olhos, mesmo daquela distância, que eram impossíveis de ignorar.
Aeon se concentrou e encontrou Max olhando para ele, um pequeno sorriso se formando nos cantos de sua boca.
Ele limpou a garganta. "Temos que ser mais cuidadosos daqui em diante. Não há como dizer quem mais poderia estar envolvido na trama. Este reino não é o que costumava ser."
"E agora?" perguntou Max. "Não se pode confiar em Lamont. Deanna está em perigo iminente. E de jeito nenhum eu vou ser capaz de aguentar mais um segundo com aquela rainha!"
"Sinto muito, Max, mas devemos continuar com o plano. Eu preciso observar por mais alguns dias enquanto descubro nosso próximo passo…"
Max estremeceu exageradamente.
"Pare de tremer, Max," Aeon repreendeu. "Não devemos ser precipitados. Nosso esquema só vai durar um pouco mais."
"Se você pensar sobre isso," ele continuou, "as intenções da rainha foram a oportunidade perfeita para disfarçar nossos propósitos. Você não terá que se tornar seu companheiro."
"Espero que não."
Aeon sabia que estava mais zangado consigo mesmo do que com Max.
Ele deveria ter chegado imediatamente ao fundo desse mistério na noite passada.
Ele deveria ter seguido a camareira e exigido saber o que ela estava fazendo com a arma.
Ele deveria ter dado um soco na cara de Lamont quando ele teve uma chance na cozinha.
Aeon lembrou a si mesmo que tudo estava bem. Ele tinha chegado à princesa a tempo. O sangue de ninguém estava em suas mãos.
Foi bom que ele não tenha agido precipitadamente.
Ainda assim, Max estava certo. Eles tinham que ser mais cuidadosos.
Eles precisavam descobrir o que estava acontecendo completamente — e rapidamente. Aeon estava cansado de sentir que estava sempre um passo atrás.
Ele tendia a refletir sobre as coisas por muito tempo.
Ele não queria agir sem os fatos, mas ele estava em território desconhecido aqui, e esta situação era mais perigosa do que ele esperava.
Andando pelo corredor para ver como Deanna estava, ele acelerou o passo.
Ele precisava ficar de olho nela, assim como em Lamont.
Seu coração vibrava com a ideia de vê-la novamente.
O efeito que ela teve sobre ele era... inesperado.
Mas ele precisava vê-la. Ele sentia isso em seu corpo, na forma como seu coração batia quando ela estava perto, e a forma como suas extremidades formigavam quando ela falava com aquela voz suave dela.
Max, apesar de suas queixas, conseguia lidar com a rainha.
Aeon parou na esquina do quarto de Deanna.
Ele olhou para a porta dela, não tendo planejado o que ia fazer neste momento.
Ele olhou para o corredor. Ninguém estava por perto.
Ele ficou surpreso que nenhum guarda foi postado em sua porta, considerando que houve um atentado contra sua vida hoje.
Era possível, é claro, que Lamont não estivesse agindo sozinho.
Talvez Aeon pudesse ouvir através da porta.
Ele só precisava ter certeza de que ela estava segura.
Assim que ele estava prestes a se mover, Aeon viu a porta de Deanna começar a se abrir.
Ele voltou para as sombras.
Ela continuou a abrir devagar, silenciosamente, como se a pessoa lá dentro também não quisesse ser notada.
Sentindo o perigo, Aeon colocou a mão na adaga que ele usava em seu quadril.
Uma figura encapuzada colocou a cabeça para fora da porta, olhando para cima e para baixo no corredor.
O coração de Aeon quase parou com a ideia de um intruso no quarto de Deanna, mas então uma grossa mecha de cabelo chocolate caiu pesadamente do capuz.
Ele reconheceu a figura como a própria princesa.
Ele suspirou de alívio quando novas perguntas substituíram seus medos.
Aeon prendeu a respiração e rezou para não ser ouvido.
Depois de um momento, Deanna saiu de seu quarto, dirigindo-se para as escadas dos criados.
Aeon queria avisá-la que não era seguro para ela sair, mas ele sabia que seu quarto não era mais seguro do que a noite escura.
Ela poderia estar fugindo?
Ou planejando vingança?
O que quer que ela estivesse planejando, ela não queria ser observada.
Intrigado para saber para onde a princesa bastarda estava indo, Aeon permitiu que ela fosse embora.
Ele a observou recuar pelo corredor, dando-lhe uma vantagem.
Então ele a seguiu.
Aeon manteve distância enquanto seguia Deanna noite adentro.