A palavra "desafio" mal descrevia a situação. Assim que me apresentei ao guarda, seus olhos se tornaram sombrios. Ele me encarou com desconfiança, já que eu havia chegado justamente quando um ataque ocorrera.
"Fique aqui," ordenou ele, lançando-me um olhar de advertência quando eu disse que iria acompanhá-lo. "O Alfa e a Luna estão isolados da matilha. Não precisamos de você atrapalhando." Em seguida, transformou-se rapidamente em lobo e correu para a floresta.
Agucei meus sentidos. Se estavam isolados da matilha, sem ninguém conseguindo se conectar ou sentir o cheiro deles, provavelmente havia prata envolvida.
O lobo do guarda, com seus olhos amarelos brilhantes, observou-me com interesse enquanto eu corria tão rápido quanto ele em forma humana. Eu raramente exibia minhas habilidades de sangue Alfa, mas precisava da minha bolsa médica caso encontrássemos feridos.
Movendo-me silenciosamente pela vegetação da floresta, de repente percebi que havia um grupo de lobos ladinos à frente. Meus olhos se arregalaram de preocupação, mas eu não podia revelar o que sabia sem ser notada. Eu não fazia parte da matilha há anos e não podia me conectar com lobos desconhecidos.
Sem aviso, pulei sobre o guerreiro, usando minha energia Alfa para fazê-lo voltar à forma humana. Ele rosnou, baixo e irritado, tentando me afastar com seu corpo tomado pela raiva.
Com uma mão sobre sua boca, usei a outra para sinalizar silêncio. Antes que ele pudesse nos denunciar, sussurrei em seu ouvido: "Lobos ladinos à frente."
Virei a cabeça, apurando os ouvidos. "Dez, pelo que posso ouvir... E há um cheiro de uma fêmea da matilha, talvez a Luna Mãe."
O guerreiro parou de lutar e assentiu para mostrar que entendera antes que eu tirasse minha mão. "Sou a Eliza, a nova curandeira da matilha — caso você estivesse se perguntando sobre a bolsa. Qual é o seu nome?"
"Você é uma Alfa," ele disse de imediato.
Eu assenti.
"Guerreiro Thomas. Gama." Ele se sentou, todo tenso. "Não consigo sentir nada."
Era evidente pela sua expressão que ele não acreditava totalmente em mim. Suas orelhas se mexeram, mostrando sua incerteza, então ajustei ligeiramente minha postura e apontei para o nordeste.
"Eles pararam a cerca de cinquenta metros daqui. O lobo da matilha parece fraco. Você consegue chamar reforços?"
Ele assentiu, com olhos negros e sobrancelhas franzidas. "A batalha principal está acontecendo do outro lado das nossas terras. Ninguém está por perto. Eles conseguiram fazer os ladinos recuarem um pouco, mas o guerreiro mais próximo está a dez minutos. O Beta Edward está vindo."
Concordando com a cabeça, fiz sinal para que ele se levantasse e me seguisse. Eu precisava chegar um pouco mais perto para ouvir, mas ainda assim garantir que ficássemos longe o suficiente para que os ladinos não nos encontrassem.
Seus sentidos, mais fracos sem a conexão da matilha, não eram tão bons, dando a Thomas e a mim uma vantagem. Encontrei um lugar perto de um grande carvalho e levantei o braço, indicando para pararem.
Em nossa nova posição, um Gama como Thomas seria capaz de ouvir os ladinos também, mas ainda estaríamos escondidos. "Não podemos ir mais longe sem sermos vistos. Você consegue sentir o cheiro deles agora?"
"Sim, um pouco, mas é a Luna Mãe... Eles devem estar sequestrando-a para pedir resgate ou fazer o Alfa ceder seus recursos. Mas por que pararam? Ainda estamos a cinco minutos das terras livres."
Seus olhos ficaram distantes enquanto ele transmitia as informações à matilha. "O Alfa foi encontrado. Ele está vindo com alguns homens."
Deixei minha loba assumir o controle, suas habilidades superiores me permitindo quase ver o grupo à frente — assim como os morcegos usam o som para enxergar. A imagem escura se formou, e eu rosnei suavemente, embora normalmente não o fizesse.
Os ladinos estavam ao redor da Luna, que estava deitada imóvel no chão. Um macho estava entre suas pernas, tocando-se enquanto abria o cinto. Suas intenções eram claras e terríveis.
Voltando à forma humana, olhei rapidamente para Thomas, então abri minha bolsa médica e elaborei um plano rápido. Tínhamos muito pouco tempo, e meu coração batia acelerado de preocupação.
"Preciso que você fique calmo, Gama, mas eles estão machucando sua Luna. Não podemos esperar por ajuda, e eles são muito mais numerosos que nós."
Seus olhos rapidamente se voltaram para os lobos ladinos, e eu podia facilmente ouvir seu coração batendo forte.
"Machucando?"
"Eles vão estuprá-la. Não temos tempo para um plano. Você pega a direita, e eu pego a esquerda. Avise o Alfa, mas temos que ir. Agora."
Não olhei para trás. Transformando-me em loba novamente, corri pela floresta, minhas patas batendo forte no chão enquanto eu perseguia o cheiro ruim dos ladinos.
