
. . . Acordei e percebi que estava tudo escuro. Não tinha acendido nenhuma luz porque peguei no sono durante o dia.
O cobrador de dívidas estava na minha casa, mas ainda não tinha me visto. Eu não havia recebido nenhuma notificação oficial.
Comecei a recuar devagarzinho, planejando dar no pé pela porta da frente. O cobrador saberia que eu tinha fugido dele, mas não poderia fazer muita coisa depois que eu saísse.
Na escuridão, conseguia ver a entrada da cozinha. Me preparei para sair correndo.
“Mallory Moody?" A criatura perguntou, dando um passo à frente.
Eu estava parada feito estátua, mas quando ele se mexeu, entrei em ação.
Virei para correr para fora da cozinha, mas dei de cara com o batente da porta em vez de entrar no corredor. Fiquei zonza e caí no chão.
Antes que pudesse me levantar, ouvi o cobrador dizer:
“Achei o interruptor!”
Cobri os olhos quando a luz da cozinha se acendeu.
“Bem melhor”, disse a criatura na minha cozinha.
Eu só tinha ouvido histórias sobre como os cobradores de dívidas eram bonitos, então não estava preparada para ver um ao vivo e a cores.
Ele tinha cabelos escuros e ondulados penteados para trás. Sobrancelhas grossas sobre olhos azuis brilhantes. O rosto era bem simétrico e tinha um queixo forte.
O cobrador usava um terno chique cinza com camisa branca e gravata vermelha. Sapatos brilhantes.
Mesmo assustada, tentei dar um jeito no meu cabelo todo bagunçado. Me senti uma boba fazendo isso, mas sua beleza me fez sentir mal com a minha aparência.
“Deixe-me ajudá-la a se levantar”, ele disse, estendendo a mão.
Achei que fosse uma armadilha para me fazer apertar sua mão, o que é como assinar um contrato no mundo mágico. Não peguei sua mão. Usei uma cadeira para me levantar.
“Mallory Moody?" Ele perguntou de novo quando fiquei de pé.
Fiquei calada.
A criatura continuou falando:
“Meu nome é Slater. Serei seu auditor.”
Sem pedir licença, sentou-se à mesa. Tirou uns papéis dobrados do bolso do paletó.
“Estou aqui para cobrar suas dívidas”, disse, então apontou para a cadeira à sua frente. “Por favor, sente-se.”
Eu poderia ter recusado, mas não queria ser mal-educada. Olhei ao redor da cozinha, tentando pensar no que fazer.
Pensei em dar no pé, mas olhei para meu cobrador de dívidas novamente e mudei de ideia.
Dava para ver que, por baixo do terno elegante, Slater era bem forte e poderia facilmente me alcançar.
Então vi minha chaleira de metal no fogão.
“Acabei de acordar e estou meio confusa”, disse. “Posso fazer um chá?”
Slater pareceu surpreso, mas não desconfiado. Ele disse:
“Claro. É sua casa. Não precisa me pedir permissão.”
“Que gentil da sua parte”, falei. Fui até o fogão e me dirigi à pia como se fosse encher a chaleira. “Você quer chá também?”
Slater ergueu a sobrancelha.
“Eu aceito.”
“Ótimo, mas primeiro, olhe isso!" Disse, pulando para frente com a chaleira e segurando-a na frente do rosto de Slater.
Slater ficou confuso por um momento, mas logo olhou para seu reflexo.
“Nossa senhora”, ele disse. “Sou muito bonito.”
“Sim, você é”, concordei. “Acho que nunca vi ninguém mais atraente.”
Pensei em Randall naquele momento, mas não ia contar ao cobrador de dívidas. Não queria contar nada a ele.
Segurando a chaleira firme, disse:
“Então, você realmente é um demônio.”
“O advogado do diabo”, Slater me corrigiu. “Não sou o diabo. Fui feito no fogo para trabalhar para Hades. Isso me tornaria seu filho, mas sou mais como um funcionário.”
“Interessante”, disse enquanto Slater virava a cabeça para ver o lado de seu rosto.
Olhei para o relógio, me perguntando por quanto tempo teria que fazer isso.
Faltavam cerca de seis horas para o sol nascer. Não achava que conseguiria manter meu braço levantado por tanto tempo, então precisava bolar outro plano logo.
“O que é isso?" Slater disse de repente.
Parei de me mexer e tentei ver o que ele estava olhando.
“O que foi?" Perguntei.
“Tem uma marca”, disse Slater.
Ele continuou olhando para seu reflexo e pegou um lenço do bolso.
“Deixe-me limpar”, disse à chaleira enquanto começava a esfregar o metal brilhante.
“Ah, não”, ele disse, então olhou para mim meio sem graça. “Não era uma marca. Era um pouco de manteiga. Desculpe ter sujado sua chaleira.”
“Ai, minha Luna!" Gritei, mas não porque me importava se a chaleira estava limpa. Como sua imagem na chaleira estava borrada, ele não continuaria olhando para ela.
“Não se preocupe tanto”, disse Slater. “Posso limpá-la com água e sabão.”
Fiquei apavorada quando ele começou a se levantar.
“Espere!" Disse a ele.
Slater olhou para mim e, enquanto ele olhava, recolhi meu braço.
Joguei a chaleira na cara dele com toda a força que pude.