Quando um problema no encanamento do prédio força Zavien e seu cachorro, Pablo, a se mudarem para o apartamento de Lara, a vida dele se transforma em uma mistura intensa de provocações, intimidade inesperada e um afeto que cresce a cada dia. A relação deles se aprofunda enquanto eles lidam com os altos e baixos da convivência diária, levando a momentos divertidos e calorosos. Com amigos, desentendimentos e alguns momentos constrangedores na jogada, será que esse novo romance sobreviverá ao caos?
Livro 2: Amigos
Quando se mudou para seu novo lar, Lara só tinha elogios para o edifício e seu apartamento. O aluguel cabia no orçamento, o prédio era bem conservado e ficava num bairro agradável. Ela tinha uma vaga na garagem para estacionar seu carro antigo, e o apartamento era um charme, com móveis novos e bonitos.
Mas, agora, ela já começava a ver os problemas. O maior deles era que os apartamentos de A até E tinham um sério problema de infiltração, causando vários alagamentos. E, por isso, ela tinha companhia morando com ela.
Ou melhor, duas companhias, se contasse com o Pablo (e ela contava). Antes mesmo de abrir a porta, Lara já sabia quem lhe esperava do outro lado, mas nem imaginava tudo que aconteceria por causa disso.
“Nem pensar” disse ela com firmeza.
“Somos amigos, não é?” perguntou Zavien, com um ar travesso. Ele tinha tirado a máscara para tentar convencê-la com aquele sorriso charmoso, e estava funcionando. Que droga.
“Isso vai pôr nossa amizade à prova. Não estamos preparados para isso.”
“O que não mata, fortalece.”
“Você está presumindo que eu não vou te matar” ela rebateu secamente.
“Eu não queria jogar essa carta, mas, como a única pessoa que sabe sobre a presença secreta de Pablo aqui, você tem que me ajudar” ele disse, ficando sério e balançando a cabeça. Pablo também parecia concordar, lá de dentro do enorme moletom.
“O Pablo morando aqui em segredo não é problema meu.”
Mesmo falando isso, ela sabia que tinha perdido a discussão. O sorriso torto de Zavien não desapareceu. Ela soltou um som irritado e se moveu para deixá-lo entrar.
“Tudo bem! Mas você vai se arrepender de ter pedido.”
“Não tenho dúvidas” ele disse todo animado. “Posso colocar minhas coisas no seu quarto?”
“Eu tenho regras” ela disse, seguindo-o enquanto ele espalhava seus poucos pertences pelo apartamento.
Alguns livros na estante dela - ela teve que arrumar porque ele bagunçou a organização - algumas coisas na geladeira, as tigelas de comida e água de Pablo perto da geladeira, e a caminha dele ao lado da saída de ar perto da TV.
“Não entre no meu quarto” ela começou.
“Eu já estive lá antes” ele lembrou.
“Não use o banheiro antes de eu me arrumar para o trabalho” ela continuou, ignorando o que ele disse.
“Então vou fazer xixi na pia da cozinha” ele sugeriu.
“Você não pode criticar o que eu assisto na TV, nem discutir sobre isso” ela advertiu.
“Eu nem assisto TV” ele lembrou.
“Por último” ela disse, ignorando as respostas bobas dele, “se você vai ficar aqui, tem que cumprir todas as tradições de pijama.”
“Quer dizer além de fazer xixi na pia e invadir seu quarto?”
Ela lançou um olhar feio para ele. “Todas as tradições de pijama. Sem discussão.”
Ela estendeu a mão e esperou que ele concordasse. Ele parecia preocupado, mas quando Pablo colocou a cabeça para fora do moletom e lambeu o queixo dele, Zavien suspirou e apertou a mão dela.
“Quão ruim pode ser?” ele perguntou com um ar de tranquilidade. O olhar de medo no rosto dele quando ela sorriu foi o suficiente para deixá-la feliz antes de ir para seu último turno de trabalho da semana.
***
Era estranho voltar para casa e encontrar alguém lá. Diferentemente da maioria das pessoas, Zavien não “trabalhava”. Não havia emprego fixo para críticos. Era só ele, o computador e aquela garrafa enorme de shampoo/condicionador/sabonete ocupando um canto inteiro do chuveiro dela.
Ela ficou chocada quando viu aquela coisa.
“Como pode ser shampoo e condicionador ao mesmo tempo?” Lara perguntou desconfiada. Zavien só deu de ombros e continuou digitando no teclado.
“E como também pode ser sabonete?”
Outro dar de ombros.
“Estou surpresa que sua pele não esteja caindo. Na verdade, levante a camisa rapidinho. Ela provavelmente está.”
“Se você quer que eu tire a roupa, vai ter que me pagar um jantar primeiro” ele disse, sem tirar o olhar da tela.
“Eu não vou julgar. Não muito, pelo menos.”
Ainda sem reação. Ela suspirou e se recostou no sofá.
“Sabe, se sua pele estiver seca…”
Zavien suspirou e finalmente olhou para ela, claramente irritado com a provocação.
“Você sabe muito bem como é a minha pele.”
Satisfeito por tê-la feito corar, ele sorriu todo convencido e voltou ao trabalho.
Ela soltou um suspiro baixinho, fazendo biquinho. Ele sabia exatamente como ficava sem camisa, e era maldade lembrá-la disso. Fazia um tempo desde que ela o vira assim, mas Lara lembrava perfeitamente.
A sensação da pele surpreendentemente macia dele (mesmo usando aquele sabonete estranho) ainda estava fresca na memória. E ainda tinha aquela coisa toda dos gemidos.
Por que ela parecia não ter o mesmo efeito nele? Ela se perguntou se andar por aí com seus shortinhos apertados iria funcionar.
Lara rapidamente afastou esse pensamento. Ela não devia pensar em sexo. Eles eram amigos. Mesmo que tivessem feito coisas que borravam os limites da amizade, continuavam sendo amigos.
Por outro lado, ela seria uma amiga ruim se não cuidasse da saúde dele, não é? É, isso era sobre a saúde dele. Nada além disso.
Ele soltou um suspiro cansado, finalmente fechando o computador e dando toda sua atenção a ela.
“Então, você não vai parar de me encarar até que eu te dê atenção, não é?” ele perguntou.
“Só estou sendo uma boa amiga” ela respondeu, com o nariz empinado e um fungado desdenhoso. Na verdade, o que ela queria mesmo era continuar olhando para ele.
“Não sei se posso dizer o mesmo sobre você” Lara acrescentou fazendo biquinho.
Seus esforços não o fizeram tirar a roupa, mas conseguiram fazê-lo ficar quieto no sofá enquanto ela examinava seu rosto um pouco perto demais.
De acordo com suas regras temporárias de colega de quarto, Zavien tinha que cumprir todas as tradições de pijama, e máscaras faciais eram uma das tradições favoritas dela.
“E aí, minha pele está se desfazendo?” ele perguntou, parecendo entediado.
“Sim” ela mentiu, embora, graças a Deus, a pele dele fosse perfeita, macia e sem marcas.
“O que você usa para lavar o rosto mesmo?”
“Sei lá” ele respondeu com um suspiro. “Algum sabonete barato que achei no mercado na última vez em que fiz compras”.
Ele a irritava demais. Ela aplicou a máscara facial verde e pegajosa na pele dele com um pouco de força demais, ignorando o olhar divertido que ele dirigia a ela.
“Então, transformar a si mesma e os outros em ogros é uma tradição de pijama?” ele perguntou.
“É, agora fique quieto” ela respondeu.
“Ficar quieto também é uma tradição?” ele perguntou.
“Não, mas com você, é sempre uma boa opção” ela retrucou fingindo um sorriso doce. Ele não pareceu impressionado.
Ela estava na metade da aplicação da máscara quando ele suspirou, recostando no sofá e se afastando dela.
Ela lhe lançou um olhar irritado, mas ele não se mexeu.
“Eu devia ter tirado a camisa logo” ele reclamou.
“Tarde demais” ela respondeu.