
Eu tinha que ficar de olho em Lea hoje.
Forcei meus ouvidos, mas aparentemente ela ainda não tinha se mexido esta manhã.
Talvez eu estivesse paranoico. Eu contei a ela sobre o mundo Imortal na noite passada – ninguém poderia já estar sabendo.
Houve o encontro com a lobisomem. Ainda assim, eu duvidava que alguém tivesse me visto matar aquela renegada…
Mas Lea e eu poderíamos ter sido vistos juntos antes de eu me revelar a ela.
Se ela tivesse problemas, seria facilmente rastreada até mim.
Senti uma pontada de culpa. Eu a trouxe para isso. Se ela tivesse problemas... eu não seria capaz de viver comigo mesmo.
Eu a ouvi se mexendo no andar de cima agora.
Olhei ao redor da cozinha, imaginando o que ela gostaria no café da manhã.
Bacon estava fora de questão.
O mesmo para ovos, queijo, leite…
Café preto e geleia na torrada teriam que servir.
"Olá." Lea entrou na cozinha, parecendo revigorada apesar de suas roupas de ontem.
"Oi. Café da manhã?", perguntei a ela.
"Claro", ela sorriu. "Mas depois preciso ir. Vou visitar minha mãe hoje."
"Sem problemas", respondi. Então, lembrando que eu precisava ficar de olho nela hoje, "Você se importa se eu for?"
Ela pareceu surpresa. "Ahhh…"
"Por favor?", perguntei, arregalando meus olhos até que ela riu alto.
"Olha só, o lobisomem virou o cachorrinho que caiu da mudança... Tudo bem, você pode vir."
Eu não acho que ela contaria para a mãe sobre o mundo imortal. Ainda assim, eu queria passar mais tempo com ela, não apenas para sua própria segurança, mas também para ver como ela estava reagindo a tudo... isso.
Era muita coisa para assimilar, tudo que eu contei ontem à noite.
Eu queria saber se ela ficaria bem.
Eu servi o café e adicionei creme ao meu. A torrada pulou da torradeira, assustando nós dois.
Comemos em um silêncio social, ambos aparentemente perdidos em pensamentos.
Olhei pela janela. Parecia que ia ser um dia lindo.
"Onde sua mãe mora?", perguntei.
Lea corou. Sua pele morena, muito parecida com a minha, quase não mostrava nenhuma mudança na pigmentação, mas eu podia sentir o sangue quente subindo para suas bochechas.
"Não é perto", disse ela depois de engolir a torrada. "Na verdade, você tem carro?"
"Sim, sem problemas."
"Devemos ir, então." Ela empurrou o prato em direção à pia. "Eu dormi demais, e minha mãe é muito exigente quanto ao horário de visita."
Esvaziei minha caneca de café e nos apressamos para nos arrumar.
Enquanto eu lavava o rosto na pia do banheiro, Lea entrou atrás de mim para usar o espelho também.
Eu a vi olhando para a escova de dentes extra e os outros produtos duplicados colocados ao redor do banheiro. Agora que eu os estava vendo através dos olhos dela, eles pareciam estar em toda parte.
"Você estava pronto para uma visita minha?", ela brincou, encontrando meus olhos no espelho.
Não respondi, fingindo estar concentrado no que eu estava fazendo.
Passei por Lea para encontrar meus sapatos e jaqueta.
Quando eu estava pronto, ela estava parada na porta, parecendo nervosa.
Peguei minhas chaves no gancho na parede e descemos os degraus até os fundos da casa, onde meu carro nos esperava na garagem.
Lea olhou para o Audi.
Forcei uma risada. "Desculpe."
Abri a porta para ela, e ela deslizou no assento de couro. Fui para o lado do motorista, me perguntando no que eu estava me metendo.
"Para onde?", perguntei, afivelando o cinto. Mas ela já estava digitando algo no GPS.
A voz monótona feminina anunciou: "Começando—jornada—para—Washington—Centro—de—Correções—para—Mulheres".
Eu não sabia por que permiti que Liam me acompanhasse para ver minha mãe.
Achei que deveria explicar, dar a ele algum conhecimento prévio, mas não sabia o que dizer...
Parecia que ele podia sentir essa luta interna. Ele ligou o rádio para aliviar a tensão.
Não era como se eu permitisse que um amigo visse esse lado da minha vida, mas Liam me deixou ver a vida dele ontem à noite...
E, além disso, não é como se eu tivesse revelações tão chocantes quanto "Eu sou um lobisomem imortal" para ele.
Era justo que eu o trouxesse. Ele confiou um segredo muito grande a mim.
E, de qualquer forma, uma mãozinha seria bem-vinda. Minha mãe pode dar muito trabalho.
A viagem de carro começou tranquilamente. Então começamos a conversar um pouco sem jeito — sobre qualquer coisa, menos os dois tópicos em destaque em nossas mentes: o mundo imortal e a sentença de prisão de minha mãe.
"Então, você gosta de ser bartender?", Liam me perguntou.
"Ah, tudo bem, conheço gente nova..." Fiz uma pausa antes de fazer mais um esforço. "Paga as contas, sabe? E as horas significam que tenho tempo durante o dia para treinar. O boxe realmente me mantém sã mais do que qualquer outra coisa."
Liam sorriu: "Bom, você definitivamente me deu uma surra no outro dia!"
"Ô se dei", respondi com um sorriso, apontando para ele não perder a nossa entrada.
Liam estacionou o carro e entramos no prédio. Notei a maneira como seus olhos verdes percorriam cada detalhe da instalação.
Depois de recebermos nossas instruções e passarmos pelos procedimentos habituais de entrada, esperamos pela minha mãe.
Depois de alguns minutos, ela chegou com um sorriso brilhante, parecendo mais saudável do que eu a via há muito tempo.
"Lea!", ela gritou, sua voz uma oitava mais alta que o normal. "É tão lindo ver você."
Ela disse isso como se eu não fosse esperada. Ela sabia exatamente quando eu vinha.
"E quem é esse jovem bonito?", ela perguntou, olhando para Liam.
"Sou Liam."
"Sandra", ela sorriu. "Namorado?", ela perguntou, virando-se para mim.
Confusa por seu humor animado, eu ainda não tinha dito uma palavra. Eu não confiava.
"Não", eu disse. "Ele é…"
"...gay", Liam terminou para mim.
"Ah", minha mãe disse, visivelmente desanimada.
Melhor assim. Eu precisava de um amigo mais do que eu precisava de um pau amigo.
"Bom, veremos se é isso mesmo", disse ela, piscando visivelmente para mim.
"Mãe!"
"O quê? Você nunca sabe até…"
"Eu acho que ele sabe", sibilei para ela.
"Estou apenas me divertindo um pouco, Lea! Você é tão séria."
Mudei de assunto. "Como está a clínica de reabilitação?"
Minha mãe pareceu notar pela primeira vez onde ela estava.
"É boa. Ótima. Muito boa, na verdade", disse ela. "Virei a página. Estou melhorando agora."
Eu zombei. Ela nem parecia estar tentando ser convincente desta vez. "Mãe, você precisa levar isso a sério."
"Estou levando, Lea", disse ela. "Eu sinto muito por tudo que eu fiz você passar no passado. Não fui justa com você. As coisas serão diferentes agora."
Experimentei um déjà vu quando versões anteriores dessa promessa inundaram minha mente.
Eu sabia que deixar a esperança entrar só seria me preparar para a decepção.
Minha mãe se virou para Liam. "Ela não acredita em mim. Minha própria filha não acredita em mim…"
Eu estava fumegando, cansado de toda essa música e dança.
Liam dobrou e desdobrou as pernas.
Minha mãe continuou: "Eu sei que é minha culpa... eu a decepcionei tantas vezes antes."
"Vai... vai ficar tudo bem", Liam disse a ela.
"Eu só queria que Lea me perdoasse", ela respondeu, sua voz chorosa.
"Você nunca me pediu perdão!", eu gritei.
"Bem, eu..." A dor era evidente em seu rosto.
"Você me negligenciou toda a minha vida, e agora você vai bancar a vítima? Você está falando sério?!" Eu empurrei minha cadeira.
"Lea, espere–"
Eu me levantei e saí antes que eu tivesse que ouvir outra de suas besteiras.
Fiquei lá sentado por quase um minuto com a mãe de Lea, sem saber o que fazer.
"Ela não vai voltar", ela disse. "O horário de visita ainda não acabou, mas... ela não quer me ver."
"Ok", eu respondi desconfortavelmente.
Eu ainda queria dar a Lea uma vantagem para que ela pudesse esfriar a cabeça antes que eu a alcançasse.
Eu tinha certeza de que ela achava que seu comportamento era justificado – e talvez realmente fosse, o que eu sabia? –, mas Sandra parecia magoada e até sincera em seus esforços...
Dei um sorriso tenso para Sandra e assenti antes de me levantar para seguir minha amiga.
Eu virei minha cabeça.
"Foi um prazer conhecê-la", eu disse.
Sandra forçou um sorriso quando um guarda da prisão a guiou para longe.
Tentei entender por que a visita tinha ido tão mal.
Passei pelos seguranças e procurei por Lea no estacionamento.
Ela já estava de pé ao lado do carro, com os braços cruzados sobre o peito.
Vários outros carros estavam espalhados pelo estacionamento. O horário de visita só terminaria às 19h30, mas Lea parecia pronta para sair mais cedo.
Quando eu acenei para ela e comecei a andar em sua direção, uma brisa me atingiu, trazendo o cheiro de um Imortal para minhas narinas. Meus sentidos aguçados trabalharam horas extras enquanto eu farejava o ar furiosamente.
Enrijeci quando minha visão periférica captou um vislumbre de uma figura sombria do outro lado da cerca...
No segundo que levei para virar a cabeça, a figura já havia desaparecido atrás do prédio.
Ou talvez nunca tivesse estado lá.
Mas eu sabia que haveria consequências para as ações de ontem.
Meu sangue gelou.
Se a família real já estivesse atrás de nós…
Nós estávamos realmente fodidos.