
Estava grudada no meu laptop, ignorando o bolo de carne que Grace tinha reaquecido para mim depois que cheguei do lago, assim como as notificações de mensagens iluminando meu celular - provavelmente de Emily.
Randy estava desaparecido desde o meu encontro com Cade, mas eu estava grata por ter uma distração a menos.
Eu estava absorta demais.
Eu estremeci.
Seguindo a sugestão de Amanda, decidi fazer uma pesquisa e, por um instante, entendi por que todos ficaram tão chocados.
Willy tinha aquele tipo de aparência impecável - um conjunto perfeito de feições e um sorriso radiante que pertencia à capa de uma revista.
Não à uma foto de presidiário.
Eu só encontrei uma foto em que ele parecia genuinamente chateado: o resto, incluindo fotos espontâneas tiradas depois de seu julgamento, quando ele estava sendo levado em seu macacão laranja brilhante, eram todas iguais.
Seu rosto estava estampado com um sorriso incandescente.
Como se ele não tivesse um arrependimento no mundo.
Ainda mais perturbadora era a semelhança com seu filho…
Tirando os olhos e a óbvia diferença de idade, que só parecia elogiar Willy, ele e Cade eram praticamente sósias.
Não admira que todos em Elk Springs fossem tão cautelosos com Cade.
Ele era a cara do homem que estava participando de seus churrascos e ensinando seus filhos a jogar uma bola curva.
Eu não conseguia nem imaginar o choque.
A traição.
As que eram mais difíceis de encontrar, e uma vez que as encontrei, não consegui encará-las por muito tempo.
Uma líder de torcida do ensino médio queimada viva, derretida até os ossos.
Um bombeiro, seu corpo encontrado na beira da estrada, sua cabeça encontrada do outro lado da cidade, no meio de um canteiro de abóboras.
Tirando a confissão assinada por Willy e as recordações — troféus de suas vítimas — encontradas em seu barracão de ferramentas.
O único elo, na verdade, era a suavidade de tudo. A falta de testemunhas ou provas.
Todas as vezes, sem exceção.
Willy afirmou em uma entrevista em vídeo exclusiva com Rachel Porter, uma jornalista local, que encontrar suas vítimas e fugir da polícia por tanto tempo não foi sorte.
Que ele tinha algo para ajudá-lo ao longo do caminho.
Algum tipo de arma secreta, uma ferramenta que lhe dizia quem escolher e como fazê-lo.
De forma perfeita.
Quando Rachel o pressionou sobre o assunto, ele mostrou suas covinhas e abaixou a cabeça timidamente.
"Destino", ele finalmente disse.
Os cantos escuros da Internet, no entanto, não se convenceram.
Centenas e centenas de sites de fãs e comunidades online dedicadas a libertar Willy Woods, ou elegê-lo presidente, ou conceber seus filhos – todos diziam a mesma coisa:
Havia uma arma lá fora. Algo real. Não algo ilusório, como o destino.
E Willy a estava protegendo.
Porque, talvez, Willy acreditasse que outra pessoa deveria terminar seu trabalho.
Minha atenção foi quebrada, finalmente, pelo súbito flash de luzes vermelhas e azuis que se espalharam pelo meu quarto mal iluminado.
Espiando pela janela do meu quarto, observei quando duas viaturas policiais pararam do lado de fora da casa de Emily.
Depois mais duas.
Um policial — ou pelo menos alguém que parecia estar no comando — parou nos degraus da varanda dela, chapéu nas mãos, balançando-se levemente para frente e para trás, quase como um tique nervoso.
Emily respondeu o chamado e saiu ao lado de duas pessoas que eu só podia supor que fossem seus pais.
Os policiais conversaram com eles por um momento, então, hesitantes, caminharam pela garagem até o quintal cercado.
Os holofotes nos fundos da casa foram acesos, iluminando o quintal e o que quer que estivesse atrás da cerca, fora de vista.
Minha curiosidade tomou conta de mim e desci as escadas.
Eu silenciosamente me esgueirei para a varanda dos fundos, tomando cuidado de desligar as luzes do sensor de movimento de dentro, certa de que a polícia não aceitaria a minha espionagem.
Nossa casa, como a maioria na vizinhança, tinha um pequeno galpão nos fundos, que eu decidi que teria a vista perfeita para o quintal de Emily.
Corri pelo quintal até o canto onde o galpão estava encostado na cerca vizinha.
Subindo no parapeito da janela do galpão, agarrei a borda do telhado e tentei me impulsionar.
De repente, um forte par de braços envolveu meu torso, me puxando para baixo, uma mão se movendo para fechar minha boca, sufocando meu grito.
O intruso me girou, me prendendo contra o galpão.
Apertando os olhos na escuridão para ver seu rosto, eu já sabia quem era.
"Eu vou te soltar agora, mas eu preciso que você prometa não gritar", ele sussurrou. "Você promete?"
Assenti, embora não tivesse intenção de manter minha palavra.
"Eu só estava tentando mantê-la fora de vista. Você parece um pouco suspeita, sabe."
Ele me soltou, dando um passo para trás para me dar algum espaço.
Aquele garoto tinha audácia.
"Eu ouvi no meu rádio da polícia que eles encontraram um corpo. Queria dar uma olhada mais de perto." Ele disse isso com indiferença, como se estivesse oferecendo uma explicação perfeitamente lógica.
Como se todo mundo tivesse um rádio da polícia dando sopa pela casa.
Preparando-me para dizer algo sarcástico, eu me interrompi.
"O quê... o que você quer dizer com 'um corpo'?" Eu sussurrei de volta.
"Você sabe, do tipo morto."
"Sim, acho que entendi essa parte."
Tentei não pensar nisso, ter qualquer tipo de preconceito contra ele por causa de seu pai, mas não pude evitar.
Meu pulso acelerou, e eu quase pude ouvir meu coração batendo em meus ouvidos.
Dei um passo para trás, batendo a parte de trás da minha cabeça contra o galpão.
"O que é que você fez?" Eu sussurrei, não querendo dizer isso em voz alta.
Apesar da escuridão e da minha quase incapacidade de ver seu rosto, senti suas feições endurecerem.
"Eu não fiz nada. Eu não matei ela." Ele deu um passo em minha direção e eu me encolhi.
"Por que mais você estaria aqui? Por que você-"
"Eu te disse, eu só queria dar uma olhada mais de perto. Esse tipo de coisa não acontece aqui."
O facho do holofote da casa ao lado ricocheteou no topo da cabeça de Cade, quase criando uma auréola ao seu redor.
"Eu estava prestes a dar uma boa olhada também", acrescentou. "Mas então você apareceu e estragou tudo."
"Eu não", comecei, acidentalmente levantando minha voz, até que ele colocou a mão mais uma vez sobre minha boca.
"Você quer ver o que está acontecendo, ou não?"
Eu considerei mordê-lo uma segunda vez e correr para dentro.
Mas eu não pude resistir a vislumbrar o que estava do outro lado da cerca.
Lentamente desenrolando seus dedos da minha boca, eu sussurrei, "Tudo bem. Mas não estrague isso."
Eu o segui até o carvalho maciço perto da borda de nossa propriedade, cujos galhos se inclinavam ligeiramente sobre a cerca e acima do quintal de nossos vizinhos.
Cade, sem esforço, passou por cima do galho mais baixo e ofereceu uma mão enluvada para me puxar para cima.
Assim que me posicionei em segurança, ele começou a subir a altura da árvore nos galhos mais resistentes.
Eu tentei acompanhar.
Cade parou em um galho largo, talvez seis metros no ar, rastejando para fora do tronco para me dar algum espaço.
"O que você vê?"
Ele parou por um momento, concentrando-se, antes de deslizar o fio sobre o pescoço e entregar os binóculos para mim.
"Nada", disse ele. "Eles estão todos amontoados em torno dela."
Todo o esquadrão, pelo que parecia, cercava fascinado o corpo.
Meu olhar varreu para a parte da cerca que dava para a entrada, onde o policial que bateu na porta da frente silenciosamente entrou no quintal.
Aproximando-se do local onde o esquadrão estava reunido, ele rapidamente olhou para o corpo antes de caminhar abruptamente em direção à varanda, pegando seu bloco de notas para escrever algo.
Algo nele parecia tão...
"Quem é aquele?" Eu perguntei, entregando os binóculos de volta para Cade. "Aquele policial sozinho, em pé."
Cade o estudou por um momento. "Ele é o novo delegado. Acabou de se mudar para cá na semana passada. Delegado Larsson, acho que é o nome dele."
"Bem, algo sobre ele é apenas-"
"Shh. Eles estão se movendo", Cade sussurrou, empolgado.
"Dê-me isso." Agarrei os binóculos dele e observei os policiais se dissiparem, abrindo espaço para um médico legista.
Eu segurei minha respiração.
O corpo era de uma menina, não muito mais velha que eu.
Ela estava deitada de costas, os olhos eternamente congelados de horror.
O que restava dela, de qualquer maneira.
Ela foi comida viva.
Fechei os olhos com força, o estômago revirando. Cade pegou o binóculo da minha mão flácida e olhou fascinado para o cadáver mutilado.
"Há algo desenhado na mão dela", ele sussurrou fervorosamente. "Parece uma linha de tinta preta... ou talvez o número um."
Isso não fazia sentido, considerando que ela tinha sido comida viva. Que tipo de animal sabia escrever?
A menos que não fosse um animal.
Foi quando me atingiu.
Cade inclinou a cabeça para mim, em confusão.
Eu não ia perder tempo fazendo perguntas.
Eu precisava ficar o mais longe possível de Cade Woods, o mais rápido possível.
Agarrando o galho, me joguei para baixo e caí no chão, meus joelhos dobrando debaixo de mim.
Me levantando, corri para minha casa.
Atrás de mim, o som de galhos quebrando foi seguido por um breve grunhido quando ele atingiu o chão também.
E então ele estava de pé. Correndo atrás de mim.
Porque ele precisava.
Ele saberia disso melhor do que ninguém.
Sem pontas soltas.