
Dei mais uma olhada na minha mala e no celular.
Lá fora ainda estava escuro, mas o sono não vinha.
Fazia todo sentido deixar um homem que adorava mandar nos outros e se achar o máximo.
Eu conhecia bem esse tipo. Eram todos iguais, só queriam poder, sucesso e mulheres bonitas.
Olhei o celular de novo. Sesi não tinha ligado nem mandado mensagem, e eu ficava preocupada quando ela sumia assim.
Não era bom sinal quando minha mãe ficava triste. Cresci pisando em ovos perto dela quando estava deprimida, sabia que podia ser bem complicado.
Eu iria para Roma de qualquer jeito. Só precisava arrematar a última joia no leilão para meu trabalho, e nenhum Theodore da vida ia me impedir.
Quando o táxi saiu da vila cedinho, fechei os olhos e tentei relaxar.
Só agora percebi o quanto o Theodore me deixava tensa. Dava para imaginar aquele cabeça-dura me obrigando a voltar para casa, pouco se importando com o que eu queria ou não.
Um barulhão me assustou, e o motorista do táxi freou de repente. Logo vi que tínhamos batido na traseira de um carro, e o motorista esfregava a cabeça.
“Tenho certeza que conferi o estepe antes de sair. Estava lá”, disse ele, confuso.
Estávamos no meio do nada, e meu motorista não queria pedir socorro ao chefe logo na primeira semana. Sem saída, ajudei-o a remendar o pneu furado com uma cola especial.
No começo, deu certo—andamos alguns quilômetros. Mas aí o pneu furou de novo, e tivemos que parar. Tentamos ligar pedindo ajuda, mas o motorista não conhecia a região, e todas as oficinas diziam que ia demorar horas.
Sem opção, tentamos consertar o pneu mais uma vez, mas logo estávamos os dois sujos, cansados e putos da vida.
Liguei para Sasha pedindo uma força—vai que ela conseguisse mandar alguém da festa da noite anterior. Ela disse que mandaria alguém o mais rápido possível. Enquanto esperávamos, o sol estava de rachar, e eu estava morta de cansaço por não ter dormido.
Acabei pegando no sono durante a espera.
Eu estava de pé diante da Tara, que dormia. Seu rosto estava corado pelo sol. Movi meu corpo para lhe dar mais sombra.
“Acorda, Tara. Temos que ir embora.”
Ela fez uma careta, como se eu tivesse jogado sua boneca favorita pela janela usando um saco plástico de paraquedas.
Nesse dia, ela se cortou tentando pegar a boneca do meio das roseiras. Fiquei um mês de castigo sem poder andar de bicicleta por causa disso.
Tara se sentou e olhou para o único carro por perto—não era o que a trouxera. “Cadê o táxi?”, ela perguntou.
“Foi embora”, eu disse, abrindo o porta-malas. Minha cabeça latejava. “Você adiantou nossa viagem.”
Nos últimos 30 minutos, eu estive trocando pneus com o taxista, enquanto a Tara tirava sua soneca. Reparei na camiseta e shorts sujos dela. Devia ter tido um dia e tanto.
“Precisa trocar de roupa. Não quero essa sujeira toda nos bancos do meu carro”, falei enquanto tirava minhas próprias roupas sujas.
Normalmente, eu teria avisado antes de me despir—é o mínimo de educação. Mas ela não estava sendo educada, então não me senti na obrigação de ser.
Tara se olhou como se só agora percebesse o estado em que estava. Fiquei me perguntando como ela conseguiu se sujar tanto, se estava dormindo.
“Como ficou tão imunda assim?”, me aproximei, surpreso com o tom irritado da minha voz.
Isso a deixou furiosa, e eu gostei. Quando a Tara ficava com raiva, me excitava horrores.
Ela fingiu não se importar, encostando-se no meu carro quando eu sabia que estava fervendo por dentro. “Transei com o motorista.”
“Ah, claro que sim”, disse baixinho.
Ela pareceu desapontada—esperava uma reação diferente. Então resolveu me desafiar. Abriu o shorts, puxou o zíper e deixou cair. Estava fazendo o que eu fizera.
“Posso pegar minha mala?”, ela perguntou segurando a camiseta.
Chutei a mala para ela. “Se não estiver de sutiã dessa vez, vou te dar umas palmadas tão fortes que não vai conseguir sentar até chegarmos em casa.”
Ela mordeu o lábio antes de vestir a camiseta sobre o rosto vermelho.
Ela estava de sutiã—branco e sedoso, transparente, exceto por duas cerejinhas. A calcinha tinha as mesmas cerejas.
Engoli em seco durante o silêncio. Sempre me metia em encrenca perto dela.
Como se despertasse de um transe, peguei sua mala, coloquei no porta-malas e fui para o carro. Contei até dez para não deixá-la plantada ali.
Apressada, tropeçando nos próprios pés com um vestido pela metade, ela entrou no carro bem quando eu ia dar a partida.
Minha boca se contraiu. Devia ser o recorde de velocidade de uma mulher trocando de roupa.
Eu observava pela janela enquanto ele dirigia pela estrada esburacada.
Não precisava olhar para ele. Conhecia bem aquele semblante e não estava nem um pouco feliz por ter me interessado tanto por Theodore Morelli na juventude.
Acompanhei seu crescimento, de um rapazinho franzino a um homem atraente que fazia a cabeça de muitas mulheres. Mas não eram só elas que gostavam dele—meu avô adorava o Theo mais que o próprio filho. Ele sempre sonhou em nos ver juntos.
Meu avô sonhava em unir nossas famílias pelo matrimônio, mas para mim isso era um pesadelo. Cresci presenciando meus pais num casamento arranjado por interesse, tendo que suportar a todo custo. Eu não desejava isso para mim.
Jurei a mim mesma que preferia ficar solteira a me casar com alguém que não me amasse mais que a si próprio. E Theodore Morelli jamais seria esse tipo de homem.
Levei a mão ao peito, trêmula, quando Theo parou para abastecer.
“Me deixa na rodoviária. Eu me viro de lá”, falei.
Ele permaneceu em silêncio. Quando entrou para pagar, saí do carro, peguei minha mala e comecei a caminhar pela rua.
Contei até vinte antes que o carro de Theo reduzisse a velocidade ao meu lado.
“Aonde vai?”, ele indagou, com o braço para fora da janela.
Ergui o queixo e fingi que não era comigo.
“Entre no carro.”
“Não.”
“Tara.” Ele falou mais alto, e eu o encarei.
“Sabia que é contra a lei perseguir as pessoas?”
“É mesmo?” Ele ergueu a sobrancelha. “E viajar sem documentos, será que é mais grave?”
Parei de andar e olhei para ele surpresa enquanto procurava minha carteira.
Ele parou o carro ao meu lado e desceu, balançando minha carteira entre o polegar e o indicador.
Fiquei furiosa.
“Devolve isso.”
“Vem buscar.”
Mesmo não sendo mais crianças, me senti como uma menina de cinco anos fazendo birra. Pulei nele.
Ele me agarrou e me jogou no banco traseiro.
Não larguei. Agarrei sua camisa, puxando-o para o banco de trás, enquanto nossas pernas ficavam penduradas para fora da porta aberta.
Enquanto isso, o carro começou a descer a rua. Theo não havia puxado o freio de mão.
“Não se mexa”, sussurrei, com o rosto colado no dele, enquanto me esticava para puxar o freio.
Theodore soltou um gemido e encostou a cabeça no meu ombro.
Estávamos agindo como crianças, mas algo bem adulto pressionava meu baixo ventre, fazendo-me congelar e olhar diretamente em seus olhos.
Senti sua mão sobre a minha no freio, enquanto puxávamos. O peso do corpo dele fazia o meu reagir de um jeito estranho, e pisquei surpresa.
Theodore parecia muito calmo. A maneira como seu corpo se encaixava no meu era deliciosa demais, mas errada.
Ele se ergueu nos cotovelos, e senti seu cheiro limpo e másculo. Eu tinha passado um mês com homens com perfume mais doce do que o meu.
O temível Theo exalava perigo.
“Me solta”, sussurrei. “Preciso estar num leilão em Roma hoje à noite.”
Sua expressão demonstrou que não gostou dos meus planos.
“Você não pode me obrigar a ir com você. O Nono faleceu. Pare de tentar agradá-lo.”
Ele moveu a cabeça como se eu tivesse dado um tapa, saiu de cima de mim e do carro.
Levantou minhas pernas e empurrou-as para dentro, então fechou a porta e me trancou.
Fiquei observando-o colocar minha mala no porta-malas. Depois entrou no banco do motorista, e voltamos a andar.
“Isso é sequestro”, eu disse enquanto subia para o banco da frente, toda desarrumada, chocada e quase chorando.
“Cale-se, Tara. Você terá tempo em Roma para fazer o que precisa. Não quero ouvir mais nenhuma palavra de você. Entendeu?”
Olhei para ele com os olhos arregalados.
“Depois ouviremos o testamento, e que Deus tenha piedade de nós lá”, ele disse baixinho.
Quis dizer a ele que pedi ao meu pai para ir em meu lugar. Mas ele parecia tão sério que me contive. Eu ficaria feliz desde que pudesse comprar a pulseira de que eu precisava.
Acomodei-me melhor no banco de couro macio e toquei o ponto em meu quadril onde tinha sentido a pressão. Meu corpo todo estava estranho.
Ele percebeu isso e deu um sorrisinho. Engoli em seco e respirei fundo antes de encará-lo.
“Me diz uma coisa, Theodore, você tem uma fivela de cinto enooorme ou só ficou felizinho em ser mau comigo?”