O Seán dá um tapinha na minha cabeça e bagunça o meu cabelo enquanto eu choramingo, não querendo que ele volte para dentro e vá embora. O estranho, Axel, disse que poderíamos ficar até que o Seán voltasse ao trabalho, depois voltaríamos para casa.
Conheço apenas uma casa e estou animado para voltar para ela.
Claro, a minha lona quebrou e não tenho mais o travesseiro, mas eu vou ficar bem.
Eles conversaram enquanto eu comia, mas às vezes me diziam para diminuir o ritmo ou me lembravam de beber água.
Sei que o Seán se preocupa quando ele me manda fazer as coisas, porque ele já faz isso há algum tempo e explicou que só quer garantir que eu não passe mal.
Ele parece gostar do Axel, então eu também o obedeço.
O Axel não fez nada de ruim comigo na casa dele, mas eu ainda não sei o que esperar dele.
"Vamos, não faz assim, garoto. Eu tenho que trabalhar pra que você ganhe aquele prato incrível de vegetais e frutas. Então, que tal você ficar com o Axel essa noite e eu vou passar pra uma visita pela manhã?"
O Seán ri profundamente, segurando suavemente o meu queixo e levantando a minha cabeça para eu olhar para ele.
Eu amo o Seán, ele é a minha pessoa favorita no mundo inteiro.
Ele é o homem mais lindo que já conheci, além do Axel, pois ele tem lindos olhos castanhos, e a sua barba é a coisa mais macia que já senti e eu amo muito.
Quando o conheci, ele era assustador e eu não confiava nele, mas ele me alimentou e falou comigo de maneira suave, até que eu simplesmente não conseguia mais evitá-lo ou ter medo dele.
Agora não consigo me imaginar sem falar com ele todos os dias.
Mas o fato de ele querer que eu fique naquele lugar grande, assustador e estranho me faz chorar. Quero o meu beco, a minha casa.
O Seán me puxa e fico entre as suas pernas enquanto ele se senta ao lado do Axel. Já terminei a minha comida e a água.
Sua grande mão passa pelo meu cabelo, e outra pousa no meu quadril enquanto ele sorri, mas posso ver que é um sorriso forçado.
Seus olhos castanhos têm uma impressão idêntica à de quando ele me viu pela primeira vez; preocupados.
"Zyon, meu amor, eu sei que você quer o seu beco, mas você precisa entender que não é saudável lá pra você. O Axel e eu queremos que você fique seguro. E você tá seguro com ele. Você pode, por favor, ficar com ele?"
A voz profunda do Seán é suave e cuidadosa, me fazendo prestar atenção.
Pisco enquanto tento me imaginar ficando naquele lugar mais uma noite. E eu não aguento.
Estava tudo bem quando o Axel estava acordado e se movimentando, mas depois tudo ficou muito quieto e isso me assustou.
Estou acostumado com aquele barulhinho constante, de um rato rastejando ou de uma pessoa ocasional andando tarde da noite.
Aquele lugar não tinha nada que me ajudasse a dormir, nenhum som que não fosse muito alto ou muito baixo. Nada.
O Seán percebe a minha dificuldade e suspira pelo nariz.
"Eu sei que é uma mudança muito grande, e que você tá com medo. Eu prometo que você vai ficar bem. O Axel vai estar lá se alguma coisa te incomodar, pede ajuda pra ele se precisar ou quiser alguma coisa. Eu vou lá de manhã pra ver como você tá. Você confia em mim, certo?"
Instantaneamente eu aceno. Confio nele mais do que tudo. Minha resposta rápida faz o Axel rir o e Seán sorrir.
"Bom, eu confio no Axel pra te proteger e cuidar de você. Então, por favor, fica com ele, por mim? Eu me preocupo com você, meu filhotinho."
Posso ver que ele quer que eu tente ficar lá na casa grande novamente, e se isso o impedir de se preocupar e ele confia no Axel, então acho que posso dar mais uma chance.
Ele disse que viria me ver amanhã, então fico ansioso.
"...OK."
O Seán sorri ainda mais e dá um beijo molhado na minha cabeça enquanto se levanta. Eu choramingo e limpo enquanto o Axel ri.
"Bom menino. Eu preciso ir agora, mas vejo você amanhã de manhã. Tchau, querido."
De volta ao lugar estranho, o Axel prepara outra coisa – um sanduíche, eu acho – para eu comer.
Ele não fala muito, e estou feliz, prefiro apenas dar uma olhada nesse lugar.
Tem uma parede assustadora feita de janelas, na frente delas há uma escrivaninha com uma TV enorme, uma mesinha branca com um livro em cima, e algo que parece uma mini TV.
A almofada confortável em que acordei também é preta com almofadas brancas fofas e macias. Honestamente, eu as amo.
Também tem coisas fofas no chão duro e escuro, não confio em mim mesmo para não tropeçar e cair nelas ou escorregar no chão, então fico rastejando por aí.
O Axel não parece se importar, ele anda devagar o suficiente para que eu possa acompanhá-lo.
Ele parece legal, mas a maneira como nos conhecemos foi ruim. Ele invadiu o meu beco, derrubou o meu telhado... não é uma boa maneira de fazer alguém gostar de você.
Mas ele me alimentou, me limpou, me deixou dormir com um cobertor bem quentinho e um travesseiro fantástico e me levou para ver o Seán.
Hoje também foi um dia muito divertido. Estou feliz que ele tenha vindo comigo.
Roubar comida e correr com ele, mostrar a minha casa à luz do dia e fazer ele conhecer o Seán... Foi tudo simplesmente incrível.
Talvez eu devesse dar uma chance a ele.
"Zyon, quer assistir um filme antes de dormir?" o Axel de repente se senta no meu lado no sofá.
Eu pisco para ele. Nunca assisti a um filme antes ou, se assisti, não me lembro. Eu concordo.
O Axel sorri e se levanta para ir até a TV e se ajoelhar, abrindo uma portinha para tirar alguma coisa.
Observo enquanto ele vasculha uma pilha, cantarolando e depois colocando um disco embaixo da TV.
Quando ele volta para o sofá, ele rapidamente me cobre com um cobertor e se recosta com os pés em cima da mesa.
"Esse é um filme da Disney chamado Moana. Acho que você vai gostar."
Só posso acenar com a cabeça enquanto a TV chama toda a minha atenção. Toca músicas e mostra pessoas diferentes, até animais falantes.
Eu assisto vários outros filmes, eu acho, até que aparece uma garota com um homem grande.
O Axel aperta um botão no controle e tudo se move novamente.
Sou atraído quando me inclino um pouco para frente, não querendo perder nada do que está passando na tela.
Odeio admitir, mas eu estou nervoso.
Sou o tipo de cara que segue o fluxo das coisas, não estou acostumado a pensar demais e por isso não fico muito ansioso. As coisas simplesmente acontecem como devem acontecer.
Mas o garoto que encontrei não vai precisar mais de mim. Não, ele está com o Axel agora.
Não vou mais precisar garantir que ele coma, beba água suficiente, não terei que confortá-lo, nada.
O Zyon foi uma mudança emocionante e adorável na minha vida.
Quando nos conhecemos, eu estava endividado, trabalhando em três empregos para pagar as contas, passando por um término difícil com o meu ex-namorado submisso e, por causa disso tudo, eu estava bem deprimido.
O Zyon melhorou o meu humor. Ele precisava de alguém para sustentá-lo.
E embora eu não conseguisse tirá-lo das ruas, tentei ao máximo garantir que ele comesse todas as noites.
Ele, sem saber, me ajudou a superar a depressão e a superar o meu ex. Saber que eu tinha que me preocupar com ele fez eu me esforçar por ele.
Fiz de tudo para me livrar das dívidas e encontrar um lugar grande o suficiente para nós dois.
Economizei dinheiro para comprar roupas e medicamentos que ele possa precisar se ficar doente – ou simplesmente comprar qualquer coisa que ele queira ou precise.
Agora não tenho mais dívidas, quatro anos depois, moro em um apartamento bonito e ainda estou economizando dinheiro.
Embora eu trabalhe apenas em dois empregos, ambos consomem muito tempo; o turno da noite eu faço no restaurante em Crossroads, mas de dia trabalho em uma obra, das nove às cinco.
Mas o Zyon está sob os cuidados de outra pessoa agora, e estou nervoso por ver o meu filhotinho na casa de outro homem.
Prometi ao Zyon que eu iria visitá-lo, e o Axel, que parece muito amigável e atencioso, me disse que gostaria de falar comigo hoje, depois da nossa pequena conversa na noite passada.
Já sei que ele é dono de uma boate (ele me contou), mas vendo o prédio onde ele mora, percebo que ele é mais rico do que eu pensava.
O Axel me passou o número do andar por mensagem de texto (ele pediu o meu número de telefone, caso precisasse de ajuda com o Zyon), e enquanto entro no elevador rapidamente percebo que o apartamento dele fica na cobertura.
Ele mencionou que o elevador abre direto para o apartamento e que ele estaria esperando por mim.
Infelizmente, a subida não demora muito e, antes que eu perceba, a porta se abre e eu vejo um apartamento luxuoso e brilhante.
Admito, faz eu me sentir um pouco inadequado.
O Axel está parado atrás de um sofá branco, mexendo no controle remoto da TV, vestindo um moletom e uma regata preta.
Ao ouvir o elevador apitar, ele se vira com um sorriso amigável, e seus olhos azuis brilham enquanto ele se aproxima de mim.
Admito que o Axel é um homem atraente. Ele tem um jeito de modelo, um corpo tão em forma quanto o meu, mas é menor.
Tem os cabelos curtos e pretos, bagunçados como se ele tivesse ‘acabado de sair da cama’, e a pele é levemente bronzeada.
"Ei. O Zyon ainda tá dormindo, acho que assistir filmes foi emocionante demais, ele desmaiou depois do quarto filme."
Ele aponta para o sofá, mantendo a voz baixa.
Eu sorrio com a imagem mental do Zyon assistindo a filmes. Acho que ele nunca fez isso antes, e sei que ele ficaria animado com o que quer que estivesse passando, mesmo que não entendesse muito bem.
"Só quatro? Eu pensei que ele ficaria acordado pra assistir tudo." Eu rio enquanto vou até o sofá, sorrindo ainda mais.
O Zyon está aconchegado contra um dos travesseiros peludos, um cobertor grosso cobre o corpo dele até o nariz, e os cabelos estão espalhados sobre os olhos.
Ele é absolutamente adorável, um filhotinho precioso.
Eu me inclino para tirar suavemente uma mecha de cabelo do olho dele e puxo mais o cobertor sobre o seu ombro.
"Estou feliz de ver que ele conseguiu ficar no sofá, na outra noite ele dormiu no chão," o Axel sussurra do meu lado. Posso sentir os olhos dele em mim, observando como eu lido com o Zyon.
Concordo com a cabeça, me endireitando para olhá-lo nos olhos. "Você queria conversar."
Não é uma pergunta – ele afirmou, e não vou usar o Zyon para enrolar.
Sei que não estou fazendo isso, mas já estou nervoso, preciso ouvir o que ele quer me dizer.
O Axel assente, apontando para a cozinha.
Eu sigo e me apoio contra o balcão enquanto ele se inclina e olha para mim.
"Você significa muito pro Zyon. Eu já saquei. E quero ver ele o mais confortável e feliz possível. Sinto que a única maneira de manter o menino seguro, saudável e confortável é você ser uma presença constante na vida dele."
Concordo com a cabeça, mas dou espaço para ele continuar.
"O Zyon confia em você." Ele hesita um pouco antes de endireitar a coluna. "Você age como se fosse o dominante dele. Né?"
Eu aceno: "Ele precisa de diretrizes, horários, regras. Eu dei a ele comida, mas não poderia estabelecer regras que tivessem a ver com punições ou recompensas."
"Sim, eu acho que nós podemos trabalhar juntos pra dar pro Zyon tudo o que ele merece. Dois dominantes são melhores do que um só, quando estamos falando de um filhotinho que cresceu nas ruas, você não acha?"
Antes que eu possa responder, o Zyon se levanta, gritando e correndo, evitando os tapetes, para passar os seus bracinhos em volta do meu pescoço.
Eu rio enquanto coloco o meu braço embaixo dos joelhos dele e o seguro perto de mim.
"Com certeza."
