Charlotte e os 7 Gostosões

“Sinto muito, senhorita,” diz a secretária da faculdade pela quinta vez. Mordo o lábio, pensando no que fazer.

Posso aceitar a oferta da faculdade ou voltar para a casa dos meus pais e encarar três horas de viagem até lá. Apoio os cotovelos na mesa e falo baixinho para que ninguém possa ouvir.

“Então, eu teria que morar em uma república nesse semestre?”

“Exatamente, mas se aparecer uma vaga, a gente te transfere. É o melhor que posso fazer por você.”

“Tudo bem. Eu aceito,” digo quase em um sussurro.

A secretária prepara os papéis para eu assinar. Vinte minutos depois, estou com as chaves da república em uma mão e a minha mala na outra.

Andando pelo campus, vejo como todos parecem felizes, levando suas coisas para os dormitórios, e isso me deixa um pouco chateada.

Sigo em frente, olhando para a minha prisão por um semestre ou menos. É o meu último ano na faculdade, e quero que seja tão bom quanto o primeiro.

É, tá bom.

Subo os degraus com a minha mala e respiro fundo antes de abrir a porta. Ouço vozes vindas do que acho que é a sala de estar e caminho nessa direção.

Vejo sete garotos sentados, falando sobre a primeira festa do ano e como ela vai ser incrível. Limpo a garganta e a sala fica em silêncio enquanto todos olham para mim.

Calma, Charlotte. São só garotos. “Oi, sou a Charlotte,” digo, acenando.

“A festa só começa à noite, gata,” diz um dos garotos no sofá. Olho para ele com a cara fechada. Uma coisa que odeio mais do que estar aqui é ser tratada como objeto pelas pessoas, principalmente por homens.

Olho ao redor, mantendo um sorriso forçado. Eles começam a gritar, não comigo,, mas sobre a situação. Fico observando enquanto eles apontam dedos uns para os outros.

Um assobio alto faz todos se calarem. Eles se viram para olhar para o garoto de cabelo preto, que agora está de pé. Ele olha para o loiro musculoso antes de falar.

Hmm... Já dá para saber quem é que manda por aqui.

“Meu nome é Darren Reed. Você deve saber quem eu sou...” Ele olha para trás, para os outros garotos. “Bem, você deve conhecer todos nós.”

Eu estudo gastronomia. Se não estou na aula ou estudando, estou na cozinha da faculdade ou cozinhando em casa, criando novas receitas.

Eles franzem o rosto, sem acreditar em mim. Aposto que todas as garotas da faculdade conhecem eles. A maioria delas já ficou com pelo menos um dos sete.

O Darren me olha com interesse, provavelmente porque nenhuma garota diria que não os conhece.

“Pode me mostrar o meu quarto? Quero arrumar as minhas coisas,” peço, me sentindo desconfortável com o jeito que ele está me olhando. Posso ver nos olhos dele que ele é problema. Um problema que eu não quero.

“Teve algum mal-entendido. A senhora Martha disse que receberíamos um estudante chamado Charley. Achamos que fosse um cara—já que aqui é uma república masculina.

“Estamos em 2016. Vocês não deveriam presumir nada, e o meu apelido é Charley, de Charlotte,” digo, colocando o cabelo atrás da orelha. “Agora, pode me mostrar o meu quarto?”

O Darren parece surpreso, mas disfarça limpando a garganta e se virando para a sala. “Primeiro, venha conhecer todo mundo, depois te levo até o seu quarto e te deixamos em paz.”

Darren olha para mim por cima do ombro. Aceno com a cabeça, caminhando mais para dentro da sala, deixando minha mala para trás. Percebo os garotos trocando olhares rápidos.

Toco na tela do celular dele para chamar sua atenção.

“O que foi?” ele diz, olhando para mim.

“Pode me chamar de Charley ou Charlotte. 'Gata' não vai rolar, e é machista. Não sou uma feminista maluca, mas tem coisas que não vou engolir, como apelidos desnecessários.”

“Gostei dela,” diz o cara ao lado dele. “Sou Tristan Beckett, também estudo administração, junto com o meu irmão gêmeo aqui,” ele olha para a esquerda. Eles são idênticos.

“Vincent,” diz o outro gêmeo, acenando. Acho que ele é o gêmeo mais quieto. “Também estamos no time de futebol americano. Eu diria em que posições jogamos, mas acho que você não entenderia.” Tristan dá de ombros.

“E à sua esquerda...” Darren aponta para o outro lado da sala. Os três últimos garotos parecem estar entediados comigo, ou talvez só entediados em geral.

Caminho até eles enquanto o mais musculoso dos três se levanta. Ele estende a mão e coloco a minha na dele.

“Chase Tucker, sou o quarterback da faculdade e líder dessa casa, e gostaria que você seguisse as regras daqui.

“Mas nada disso importa agora, porque você está aqui. Ao meu lado estão os meus dois braços direitos, Miguel Jackson e Austin Kramer. Todos estudamos administração e estamos no time de futebol americano. O Darren vai te mostrar o seu quarto.”

Ele solta a minha mão e bate uma palma. “Vamos lá, pessoal.” Os garotos se levantam e saem pela porta da frente.

“Você tem cinco minutos,” Chase diz a Darren antes de sair também.

“Esse é o seu quarto. O banheiro é naquela porta. Só bata antes de entrar.”

“Por quê?” Abro a porta. Parece um banheiro normal.

“Bem, o único quarto disponível na casa era este, e você vai dividir o banheiro com o Chase...”

“O quê? Não tem outro? Não quero ele entrando no meu quarto quando precisar usar.” Olho para ele como se fosse maluco.

Ele me dá um sorriso de desculpas. “Só bata na porta do banheiro, não entre no quarto dele sem pedir de jeito nenhum e não faça barulho depois das nove da noite nos dias de semana.

“Podemos ser uma república, mas como todos fazemos administração, gostamos de estudar para ir bem na faculdade. Siga essas três regras e você vai ficar bem.”

“Darren, vamos logo!” Everett grita lá de baixo.

“Já vou!” ele grita de volta, saindo do quarto. “Te vejo mais tarde, Charley.”

“Tchau.”

Desfaço as malas e dou uma olhada na casa com calma. A cozinha é incrível e tem eletrodomésticos top de linha.

O fogão atrai a minha atenção; não é um fogão qualquer, mas um Majestic com oito bocas e uma gaveta aquecedora.

Caramba, essa coisa custa pelo menos dezesseis mil. Estou morrendo de vontade de cozinhar nele, mas a cozinha está uma bagunça, assim como o resto da casa—a sala, a entrada, a sala de jogos, a academia e a sala de TV.

Meu celular toca. Tiro do bolso e vejo o rosto da Raven na tela.

“Ei, cadê você?” ela pergunta.

“Oi pra você também.”

“É, oi, agora, onde você está? Tem uma garota chata colocando as coisas dela no nosso quarto.”

“Ah não, eu devia ter te ligado quando saí da secretaria. De alguma forma todos os dormitórios estão ocupados, e agora estou morando na Casa Croakington.”

Ouço ela ofegar e depois silêncio. “Raven, ainda está aí?”

“Sim, sim. Só acho que ouvi errado. Parece que você disse que está morando na Casa Croakington—que é uma república masculina.

“O que significa que só garotos moram aí, e por garotos quero dizer os jogadores mais gatos da faculdade e do time de futebol americano. Além disso, Chase Tucker—sua paixão do fundamental. Meu Deus, Char Char, você podia muito ficar com ele.”

Reviro os olhos. “É, quase isso. Posso te dizer que todos eles odeiam que eu esteja aqui, principalmente o Chase Tucker, mas a Martha da secretaria disse que vai me ligar assim que um dormitório ficar vago, e espero que seja logo.”

“Nossa, não queria ser você agora. Brincadeira, eu adoraria ser você. Eles são todos tão gatos. Então, o que você vai fazer por enquanto?”

“Bem, primeiro vou limpar a casa toda e fazer o jantar. É a minha forma de agradecer por me receberem e de pedir que por favor não me matem enquanto durmo.” Digo brincando.

“Tenho certeza que eles não vão fazer isso,” ela ri. “Mas parece uma boa ideia, cozinhar e limpar a casa. Sabe de uma coisa?”

“O quê?”

“Você é como uma Branca de Neve moderna.”

“Ha ha ha, muito engraçado.”

“Não, sério, você está morando em uma casa com sete caras e vai cozinhar e limpar para eles. Com sorte, um ou dois deles podem querer te—”

“Tchau, Raven, te ligo mais tarde.”