McKenzie Lancaster é uma bruxa que foi resgatada ainda jovem por uma matilha de lobos local. Ela se encontra em uma situação difícil quando a sua matilha é atacada por um lobo que está decidido a matar todas as bruxas que encontrar. Com os olhos fixos em Kenzie, Kieran Gallagher ("o Alfa Louco") descobre a última coisa que queria na vida: uma bruxa como companheira.
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Livro 1: Capricho do Destino
Ele está vindo atrás de você.
As palavras assustadoras marcaram os sentidos de McKenzie e, combinadas com a sensação de estar sendo observada, ela estava oficialmente enlouquecendo.
Era perturbador dormir em um lugar e aparecer em outro.
Mas lá estava ela, presa em uma premonição de bruxa, andando por uma floresta de sonhos assustadores no meio da noite, tentando desesperadamente não inalar o ar seco e azedo.
Um lobo uivou ao longe, o som cheio de dor e solidão. Ela estremeceu, sentindo aquele uivo penetrante percorrer todo o caminho até sua alma.
Um calafrio a atingiu com força, e ela agradeceu silenciosamente aos deuses por pelo menos estar vestida no vívido mundo dos sonhos.
Uma vez ela foi até lá completamente nua, e foi muito constrangedor, embora ninguém estivesse por perto para testemunhar a sua tentativa desesperada de se cobrir.
Era o mundo dos sonhos, afinal.
A lua cheia espreitava por entre os pinheiros, mal iluminando o caminho, e ela estremeceu de novo com o vento forte.
Um galho quebrou atrás dela, mas quando ela se virou, não havia nada lá. O som apenas aumentou a sensação estranha de ser caçada.
A neblina se espalhava pelo chão da floresta e uma coruja piou em algum lugar próximo, mas foi silenciada por um lobo uivando de novo.
Sempre que Kenzie se encontrava no mundo dos sonhos, era porque ela havia preparado uma poção para entrar no mundo das premonições.
O fato de saber que ela estava indo para lá ajudava a prepará-la mentalmente para o que seria, já que muitas vezes ela achava premonições como essas muito assustadoras.
Ela tinha certeza de que algumas bruxas provavelmente poderiam chegar lá sem truques, mas ela não, o que era mais do que bom, já que o lugar dava calafrios, e tinha um cheiro estranho.
Mesmo sendo uma bruxa da luz, Kenzie mal praticava seu ofício, não que fosse adiantar muito, já que ela quase não tinha poderes.
Ela tentou várias vezes lançar feitiços sozinha, mas quase nunca dava certo. Às vezes as coisas meio que pegavam fogo, mas fora isso, ela era fraca. Impotente.
O que tornava muito estranho chegar a esse plano sem ajuda.
Ela não sabia o que desencadeava as premonições quando estava lá, então geralmente andava na escuridão até que algo acontecesse.
Não podia ter um farol ou uma placa luminosa para que ela pudesse enxergar um pouco melhor?
Talvez existisse um feitiço que as bruxas experientes pudessem lançar no sonho, mas ela provavelmente nunca saberia.
Não era como se Kenzie estivesse rodeada de um monte de bruxas para aprender mais; ela foi literalmente criada por lobos.
Ela mordeu o lábio inferior.
Algo desastroso estava prestes a acontecer se ela tinha sido sugada por uma premonição sem ajuda.
Esperançosamente, o que quer que fosse, animaria um pouco sua vida, talvez acrescentasse um pouco de mistério à monotonia de sua rotina diária.
Por mais que Kenzie estivesse nervosa com o ambiente atual, ela estava um pouco animada com a possibilidade de algo diferente.
Algo para agitar seu mundo. Algo para agregar valor e talvez significado à vida dela. Não que a vida dela fosse ruim, mas não era exatamente o que ela imaginava que seria.
Então, embora ela estivesse muito consciente de que o perigo à espreita deixaria uma pessoa normal aterrorizada, Kenzie não lutou contra a empolgação que estava sentindo.
Talvez um pouco de aventura fosse exatamente o que ela precisava.
Kenzie sabia que ela era um pouco estranha, mesmo entre os Outros em que ela foi criada na comunidade sobrenatural, mas ela realmente não se importava.
Era divertido ser excêntrica e um pouco diferente, considerando que muitas coisas sobre ela aos olhos dos Outros eram simplesmente mundanas.
Seu melhor amigo e colega de matilha, Sam, a descreveria como "divertidamente esquisita" e que falava demais, mas Kenzie não via nada de errado em ser honesta. Por que ela iria querer passar a vida não sendo ela mesma?
Outro uivo, mais próximo do que antes.
Virando a cabeça, Kenzie olhou para trás de novo, em direção à escuridão da floresta.
Lá, quase fora de vista, havia um par de olhos azuis brilhantes que a encaravam.
Normalmente, a visão de um lobisomem na floresta habitual não assustaria Kenzie, mas havia algo diferente e dolorosamente familiar naquele lobo. Algo sinistro, mas cativante.
Era como se ela o conhecesse. Desde sempre.
A aura do lobo também era complicada, com um vermelho acinzentado escuro e um leve traço de azul.
Ameaça e ódio estavam estampados em seu âmago, mas também projetava uma vibração que ela não conseguia identificar. Quase como se fosse protetor... com ela?
Ele—e ela tinha certeza de que o lobo era macho—não tinha a aura de ninguém de sua matilha; ela tinha certeza disso. Como ela o conhecia então?
Não era possível, a menos que ela o tivesse visto antes, quando era criança, e mesmo assim, ela não conseguia imaginar isso como uma coisa boa.
O que fazia sentido, considerando o lugar.
Kenzie foi tirada de seus pensamentos quando o lobo à sua frente rosnou baixo antes de avançar mais de três metros, atingindo-a no peito com suas patas enormes.
Um ruído desagradável ficou preso em sua garganta quando suas costas bateram na terra dura, o lobo em cima dela.
Era difícil enxergar, mas Kenzie conseguiu distinguir um focinho e um clarão e sentiu um hálito quente em seu ombro antes que presas afiadas roçassem sua garganta.
A sua mandíbula enorme segurava-a no lugar enquanto o grande lobo preto pairava sobre ela, rosnando de forma ameaçadora como se a desafiasse a sair dali, com a barriga encostada ao seu corpo.
O pânico a consumiu, fazendo-a empurrar o lobo.
Uma decisão idiota, já que ele rosnou de novo, afundando as presas ainda mais, até ela gritar e se agarrar ao pelo denso, como se pudesse impedir que aquela criatura arrancasse a sua garganta.
Bruxa ou não, Kenzie era tão impotente no mundo dos sonhos quanto no mundo real. Por que ela não podia ser bruxa o suficiente para o impedir? Para fazer alguma coisa?
O que acontecia no sonho não podia ser real. Era só uma visão. Então, o lobo que estava sobre ela não poderia matá-la, certo?
Provavelmente. Mas ela não sabia. Não com certeza.
Respirando fundo, Kenzie tentou acalmar seu coração acelerado, virando a cabeça ligeiramente para o lado como se isso obrigasse o enorme lobo negro a soltá-la.
Talvez sua vontade de flertar um pouco com o perigo tenha sido um grande erro.
"Por favor, me deixe ir," ela murmurou baixinho, para não o assustar. Distraída, ela acariciou a lateral do animal que estava sobre ela, maravilhada com sua pelagem macia.
O lobo aceitou o carinho com um longo suspiro, e o corpo de Kenzie relaxou.
Como algo tão perturbador podia também fazer com que ela se sentisse menos aterrorizada do que deveria? E por que diabos ele estava deixando ela acariciá-lo?
Os dentes ao longo de sua garganta se ergueram ligeiramente, e o lobo lambeu sua pele como se quisesse acalmá-la.
Como se algum dia eu fosse deixar você ir. A voz sensual sussurrou em sua mente, profunda e absolutamente masculina. A voz soava um pouco arrastada, embora Kenzie não conseguisse identificar o sotaque. Irlandês?
Ela estremeceu, muito consciente de que não era por causa do frio.
Como ela poderia se sentir atraída por uma voz? E a voz era do lobo! Mas como? Os lobos só podiam falar diretamente com sua matilha ou com seus companheiros.
Esse lobo definitivamente não era da matilha dela, e Kenzie não conseguia se imaginar sendo companheira de um lobo, especialmente um tão assustador como esse.
De jeito nenhum ela sobreviveria a essa união.
"Eu não entendo. Eu não pedi nada disso. Não sei por que estou aqui."
Kenzie murmurou principalmente para si mesma, e para o sonho em particular, como se isso fosse tirá-la de lá e colocá-la de volta em sua cama aconchegante, poupando-a do que estava por vir.
Talvez se ela não olhasse mais para o lobo, ele desapareceria e levaria junto aquela voz de dar água na boca. Seria ótimo para ela.
Eu também não teria pedido nada disso, bruxa. Sua espécie é um grupo repugnante do qual pretendo livrar o mundo, mais cedo ou mais tarde.
Como se um balde de água fria tivesse sido jogado em sua cabeça, Kenzie congelou.
Sua espécie?
Bruxas?
Ele não estava dizendo... Ele não poderia ser... Um medo intenso percorreu sua espinha como um abraço frio, fazendo Kenzie estremecer.
"Você é..." Antes que as palavras pudessem se formar completamente, as imagens ao seu redor ficaram pretas, quase como se sua mente não lhe permitisse ver mais da grave situação antes que ela se desenrolasse.
Kenzie acordou, ofegante enquanto colocava a mão na garganta dolorida, esperando sentir presas cravadas em sua carne.
Seus dedos ágeis roçaram sua pele macia e Kenzie soltou o ar que estava prendendo, ignorando suas mãos trêmulas.
Kenzie foi adotada por uma alcateia de lobisomens das redondezas depois que seu clã foi massacrado quando ela tinha cinco anos de idade.
Os pais dela já tinham morrido há muito tempo quando o ataque aconteceu, e Kenzie não tinha muitas lembranças da vida antes de ser adotada.
Ela ouviu rumores ao longo dos anos de que seu clã extinto mexia com magia negra, algo que ela achava abominável, e o motivo da destruição dele.
Ela não conseguia se imaginar presa a uma criação como aquela e, embora fosse terrível pensar, ela estava secretamente feliz por ter sido resgatada e adotada pela matilha Rainstorm quando criança.
Muita sorte, segundo ela.
Kenzie também tinha ouvido falar que foi um alfa específico e sua matilha de lobos que destruíram o clã dela. Diziam que ele era cruel e totalmente implacável e, por algum motivo, odiava bruxas.
Os punhos de Kenzie apertaram os lençóis quando ela se lembrou do lobo dos sonhos chamando-a de repugnante, dizendo que a espécie precisava ser exterminada.
O sonho não estava aludindo a ele, obviamente.
Kenzie não sabia muito sobre Kieran Gallagher, o alfa que matou seu antigo clã, apenas que ele assassinava bruxas por diversão; ele odiava muito a espécie dela.
Ele tinha mais de setecentos anos e era chamado de "o Alfa Louco" entre outras matilhas dos EUA, embora ela se perguntasse se alguém seria ousado o suficiente para chamá-lo assim diretamente.
Kenzie se lembrou da conversa que seus pais adotivos tiveram uma vez, com medo de ouvir outra história sobre o bicho-papão dos metamorfos e regredir para dentro de si mesma, como fez quando chegou a Rainstorm.
Doug e Judy sabiam de fontes seguras que Kieran era o mais forte e poderoso de sua espécie.
Ele negligenciou o papel de alfa só porque estava mais focado em matar bruxas das trevas do que em governar a América com punho de ferro.
Por causa disso, o Alfa Louco era o segundo na linha de sucessão para ser presidente da delegação americana de lobos, não que suas atividades assassinas o impedissem de ser o alfa.
Acontece que a maioria dos lobos não se importava se você cometia genocídio. Eles só se importavam se você era o mais forte entre eles, e Kieran tinha força de sobra.
Os sonhos normais eram assim? Não podia ser uma visão.
Deve ter sido só um sonho estranhamente sensual e aterrorizante sobre um lobo que ela nunca conheceu e que se parecia com um lobo psicopata sobre o qual ela tinha ouvido histórias terríveis.
Ela gemeu em suas mãos.
Não é real, ela mentiu para si mesma. ~Foi só um pesadelo.~
E, mesmo assim, Kenzie sabia que iria contar esse episódio ao seu alfa, para que ele soubesse que, embora ela não tivesse provocado o sonho, ele certamente a seguiu durante o sono como um aviso.
Alcançando a mesa de cabeceira, ela pegou o celular, desbloqueando a tela para verificar suas mensagens.
Passava um pouco das três da manhã. A hora das bruxas poderia ter sido um canal para seu sonho, e era a única explicação que ela poderia dar a si mesma.
As Bruxas e vários Outros eram mais fortes pouco antes do sol começar a nascer. O pensamento não a tranquilizou, mas ela estava preparada para o dia seguinte de qualquer maneira.
Sem conseguir dormir mais, Kenzie saiu da cama, vestindo rapidamente uma calça jeans preta, um moletom cinza e um par de meias rosa neon felpudas para afastar o frio do inverno.
Morar na casa da matilha significava que ela dividia um banheiro com alguns lobos em seu andar, que era para onde ela ia quando estava decentemente vestida.
Em geral, os lobos não se importavam com a nudez, mas considerando que Kenzie era uma bruxa em todos os sentidos, ela compartilhava seu corpo com a terra, não com os colegas de matilha intrometidos com quem ela morava, que eram todos solteiros e mais do que prontos para se divertir.
Os companheiros moravam em casas separadas.
Kenzie fazia o possível para nunca ver seus colegas de matilha nus, pois era justo com eles, não que normalmente se importassem. Eles não a veriam nua se ela pudesse evitar.
Ela era considerada um pouco puritana em termos metamorfos, mas Kenzie não se importava. Ela não iria andar nua em qualquer lugar, a menos que estivesse em comunhão com a deusa Hécate durante o solstício.
Ou fazendo sexo quente e apaixonado—o que não aconteceria nessa casa.
O corredor estava quase todo escuro, com algumas luzes noturnas conectadas em tomadas que iluminavam o piso de madeira por onde ela passava, uma cortesia à jovem bruxa no meio deles.
Os lobos tinham uma visão quase perfeita em qualquer ambiente, mesmo à noite, mas ela não. Kenzie tinha poderes fracos e visão normal, o que era uma enorme chatice.
Passando pela porta aberta do banheiro, Kenzie apertou o interruptor da luz, semicerrando os olhos para ver o brilho forte antes de ir até a pia.
A água fria foi agradável quando ela enxaguou o rosto, esperando que o choque em seu organismo a acordasse o suficiente para encontrar coragem para enfrentar o sonho estranho que teve.
Por mais que quisesse procrastinar, ela precisava encontrar seus pais e o alfa para conversar com eles sobre seu sonho.
Eles gostariam de saber que o perigo estava entre eles, especialmente se o perigo fosse Kieran Gallagher.
Seu rosto ficou vermelho.
Será que ele era mesmo o lobo do sonho dela? Fazia sentido a mandíbula dele estar em volta da garganta dela em um ataque mortal.
Com a testa franzida em confusão, Kenzie pensou no sonho, na sensação dele sobre ela.
Na forma de lobo ou não, Kenzie achou o corpo dele estranhamente reconfortante, o que a assustou mais do que a reputação dele jamais poderia ter assustado. Nem mesmo as presas preparadas para um golpe mortal a assustaram.
E aquela voz…
Balançando a cabeça, Kenzie olhou para seu reflexo, pegando a escova de cabelo da bancada e passando-a pelos longos cabelos pretos.
Ela estava grata por ter cabelos grossos e lisos que não precisavam de muito cuidado além da franja.
Olhando-se no espelho, Kenzie percebeu que havia perdido um pouco de peso nas últimas semanas, com uma sensação constante de mal-estar sem motivo aparente.
Talvez fosse ~por uma razão, se sua premonição estivesse certa.~
Kenzie se livrou do pensamento, se recusando a aceitar essa realidade. Ela voltou a se observar no espelho, fazendo uma careta para suas roupas que agora não serviam mais.
Ela ainda tinha curvas, mas seu moletom estava um pouco mais largo do que o normal, não apertado em volta dos quadris como ela estava acostumada.
Com sorte, ela conseguiria recuperar um pouco de peso quando se sentisse mais ela mesma. Ela gostava de seu corpo como sempre foi.
Suspirando, ela afastou uma mecha de cabelo do pescoço para verificar se não tinha mesmo um ferimento do lobo dos sonhos.
Ali, encarando-a de volta, havia marcas de presas que desapareceram lentamente diante de seus olhos, quase como se nunca tivessem existido.
Ela ficou boquiaberta, com o rosto pressionado contra o espelho, como se a imagem fosse voltar para ela.
Um uivo rasgou o ar lá fora, seguido por vários uivos e rosnados mais profundos que pareciam abranger toda a propriedade.
Assustada, ela bateu o nariz no espelho e pulou para trás, estremecendo com a dor.
Kenzie poderia jurar que sentiu os cômodos da casa tremerem com a avalanche de ruídos, mas provavelmente era apenas sua pulsação acelerada batendo forte em seus ouvidos.
Um sino tocou ao longe, perfurando a noite a ponto de os uivos serem quase abafados.
Isso só significava uma coisa.
A matilha estava prestes a ser atacada.