
Música tema do capítulo: "Swim", de Chase Atlantic.
"Ele bebeu do seu canudo?" a April coloca um vestido preto, que estava pendurado em um cabide, enquanto está em frente ao espelho, inclinando a cabeça para o lado, contemplativa.
O vestido parece ser extremamente curto e não deixa nenhum espaço para a imaginação.
As mangas são de renda, e o decote e a área das costas são totalmente abertos. Basta uma viradinha errada e o peito dela será exibido para o mundo inteiro ver.
Ela parece estar indo a algum lugar, e espero de verdade que não tente me arrastar junto, como na noite passada. Não estou a fim de conhecer mais nenhum rapaz bonito e assustador.
É como se as minhas palavras tivessem acabado de atingi-la quando ela se vira para me olhar, com os olhos arregalados. "Ele bebeu do seu canudo?!"
Suspirando exasperada, ela se deita ao meu lado.
"Eu já avisei que ele deveria ficar longe de você, mas ele simplesmente não me ouve." Ela balança a cabeça em sinal de frustração. "O Blaze sabe ser muito teimoso."
Lembro da facilidade com que ele e eu nos unimos por causa de seu desenho e de como o Sr. Jones me alertou para manter distância dele. Estou em conflito porque a imagem que eles estão pintando não é a mesma que estou vendo.
Esfrego o meu braço. "Uhm, ele não parece tão ruim..."
"Ruim?" Ela suspira, virando o tronco para me encarar. "Certo, escuta aqui, Harmony... Você não pode levar o Blaze a sério. Ele nunca é sincero com ninguém. Não é que ele não queira ser... ele simplesmente não consegue, mesmo que queira."
Minhas sobrancelhas se unem e eu enrolo os meus pés embaixo de mim. "Como assim?"
Imediatamente, a porta se abre, interrompendo a nossa conversa. A Tia e a Yuna entram no quarto, trazendo com elas um forte cheiro de perfume feminino.
Elas estão usando vestidos curtos e seus cabelos estão bem penteados, com maquiagem perfeitamente aplicada.
"Prontas?" a Yuna pergunta, e a Tia olha para mim com um sorriso.
"Você vem também, Harmony?"
"Se eu vou aonde?" Meus olhos se desviam entre ela e a April, que coloca a palma da mão na testa enquanto balança a cabeça.
"Esqueci de perguntar. Estamos indo pra uma festa no final da rua. É numa república famosa aqui perto. Quer vir?"
Balanço a cabeça instantaneamente, sem a necessidade de pensar duas vezes. "Não, vou ficar aqui, festa não é a minha praia".
Ela franze a testa, me cutucando. "Vamos, vai ser divertido."
"Outra hora", prometo, depois me arrependo imediatamente.
Odeio festas. As pessoas estão sempre fumando nesses tipos de rolês e isso não é bom para a minha asma.
Além disso, caras bêbados e assustadores costumam ficar à espreita nesses eventos, e não quero ser vítima de uma agressão sexual em uma festa de república. Simplesmente não é o lugar certo para mim, e só de pensar já fico com coceira.
"Ok, então fica pra próxima!" a Yuna sorri, e eu resisto à vontade de dizer: "Espera sentada".
Às vezes, meus pensamentos podem ser bastante agressivos, mas os meus sentimentos atrevidos parecem nunca sair pela minha boca. Ainda não reuni coragem para falar a verdade com ousadia.
A April se levanta da cama. "Eu ainda não me troquei, me deem um minuto, pessoal."
Ela vai para o banheiro com o vestido que escolheu, nos deixando no quarto pequeno. As meninas me dão sorrisos estranhos, e eu retribuo com outro sorriso estranho.
O banho da April não demora muito e logo ela sai, me tirando dessa situação desconfortável.
Meus olhos examinam a roupa dela e percebo que as minhas especulações estavam corretas. Esse vestido não deixa absolutamente nada para a imaginação.
Se a minha mãe me visse vestindo algo assim, ela me mandaria para um colégio de freiras depois de pedir ao Pastor Dennis que borrifasse água benta em mim.
As meninas começam a conversar novamente, sobre coisas que eu não tenho a menor ideia. Finalmente, elas estão prontas para ir embora, e um suspiro de satisfação escapa dos meus lábios. Estou precisando de um tempo sozinha.
A April acena para mim e me dá a chave do quarto, caso eu decida sair. Isso não vai acontecer, mas eu aceito mesmo assim, caso precise de comida da lanchonete.
Elas fecham a porta, calando a conversa enquanto o quarto fica silencioso novamente. Meus lábios se esticam em um sorriso largo diante da quietude pacífica que agora me cerca. Adoro ficar sozinha.
Decido tomar um banho, ajoelho na cama e puxo a mala na minha direção. Meus dentes mordem o meu lábio quando abro o zíper da bolsa e sou recebida com alegria pelo cheiro do amaciante Snuggle.
É um cheiro semelhante ao de uma criança recém-nascida e eu sorrio ao pensar na minha mãe. Aos domingos, ela normalmente lavava a roupa de todos enquanto eu tirava a comida da geladeira para preparar o jantar.
Depois, cozinhávamos juntas, comíamos e, mais tarde, assistíamos a um filme na Netflix até ficarmos com sono. Já estou com saudades dela.
Minha mãe e eu nem sempre fomos próximas. Eu era a menininha do papai, mas desde que ele morreu, tenho me apegado mais à minha mãe para me distrair das lembranças tristes.
Somos o remédio uma da outra, já que passar tempo comigo evita que ela se torne uma viúva deprimida.
Pego uma camiseta amarela grande com um par de shorts brancos antes de me levantar e ir para o banheiro.
Entro no chuveiro e os dedos dos meus pés se contorcem quando tocam no piso frio de cerâmica. Arrepios imediatamente percorrem a minha pele quando ligo o chuveiro, com gotas frias saindo dos buracos e escorrendo pelas minhas costas.
Aperto os dentes com força enquanto aplico rapidamente o sabão na bucha. Não há como tomar um banho quente em Homewood, então esse será o meu destino pelos próximos quatro anos; é melhor eu me acostumar.
Enxaguo o corpo antes de desligar o chuveiro e pegar uma toalha no cabideiro, pisando no tapete felpudo enquanto me enxugo.
Saio do banheiro com os cabelos úmidos, encosto na cama, passando os dedos pelos fios cheios de nós antes de amarrá-los desleixadamente em um coque rápido.
É em momentos solitários como esse, quando estou sozinha e confortável, que posso exercitar os meus talentos. Assim, em vez de revisar as anotações que fiz hoje, decido desenhar.
Ver o desenho do Blaze despertou a minha paixão por essa habilidade e, como depois de hoje posso ficar muito ocupada com todos os trabalhos das matérias do semestre, por que não aproveitar a noite para desfrutar das minhas habilidades criativas?
Chamo isso de explosão de liberdade.
Tiro o meu bloco de desenho da mochila antes de pegar meu lápis 3b na bolsa. Coloco o bloco na cama, puxando um dos joelhos até o peito enquanto penso no que desenhar.
Quase que instantaneamente, um par de olhos azuis passa pela minha mente e minhas bochechas se aquecem, e fico envergonhada com os meus próprios pensamentos.
Não é que eu tenha algum tipo de interesse nele, mas seus olhos são sedutores e nunca vi nada parecido antes. Não se trata apenas da cor deles, mas também da maneira como eles tendem a parecer vazios às vezes.
Não consigo identificar exatamente qual é o lance, mas eles parecem mais estranhos do que os olhos de qualquer outra pessoa que já vi.
Meu motivo para querer desenhar as pupilas do Blaze é totalmente inocente. Tenho certeza.
Meu lápis paira sobre a página, e eu mordo o lábio, concentrada, enquanto começo a desenhar os olhos do meu colega da aula de inglês.
"Ah, merda!" Dou risada quando o Cole cospe álcool na mesa, incapaz de manter a bebida no estômago enquanto o líquido escorre pelas suas narinas. Eu me afasto da superfície do vômito enquanto a morena no meu colo balança a cabeça, com nojo.
"Eu desisto, eu me rendo", ele diz entre uma respiração e outra, e meus lábios se abrem em um sorriso.
"Eu tô vendo. E o meu dinheiro?" Estendo a minha mão e ele suspira, enfiando a mão na calça com uma cara de dor. O James está ao meu lado, morrendo de rir enquanto mastiga um canudo.
Você acreditaria em mim se eu te dissesse que odeio estar aqui, nessa festa, perto de todas essas pessoas? Não consigo identificar uma pessoa nessa sala de quem eu realmente goste.
O James é legal, mas não consigo sentir aquele amor fraternal que as outras pessoas sentem pelos seus colegas. Meu coração está vazio, e só consigo pensar que o traseiro dessa morena está roçando no meu pau.
"Vocês, cuzões, deveriam saber que não se desafia o Blaze Xander, porra!" o James grita com os braços abertos, olhando para a sala cheia de pessoas boquiabertas.
"Ele é o campeão dos jogos de azar! Por favor, saibam disso. Quem mais quer desafiá-lo? Quem?!"
Eu dou uma risadinha. "Cala a boca, seu idiota..."
A única razão pela qual venho a essas festas é para ganhar dinheiro fácil apostando com otários que têm muito dinheiro para desperdiçar. Fazemos uma coisa chamada "O desafio da cerveja".
Sim, o nome é tosco pra caramba; não fui eu quem inventou. Apostamos em quem consegue beber mais bebida alcoólica de uma vez, sem vomitar. O Cole acabou de perder para mim e, por isso, tem que me dar duzentos dólares.
Essa é a única razão pela qual estou aqui com todas essas pessoas irrelevantes.
"Mais cinquenta, idiota." Eu aperto a palma da mão e ele suspira antes de enfiar a mão no bolso e tirar uma nota amassada.
Ele a entrega para mim, e eu sorrio enquanto a desdobro, levantando-a bem alto sob as luzes brancas da sala para verificar se é mesmo verdadeira.
"Obrigado. Foi um prazer fazer negócios com você", eu digo, e ele não consegue evitar o sorriso fraco que surge nos seus lábios enquanto seu amigo o leva para o sofá.
Ele está praticamente agachado, e eu o encaro com pena. Jesus, é só álcool, não uma injeção letal.
A multidão se separa, pois a diversão acabou, e posso sentir a gata da noite caindo no sono. Essa garota precisa acordar agora.
"Levanta. Tenha uma boa noite", eu digo, e ela vira o rosto.
"Sério?"
Minhas sobrancelhas se franzem quando ela coloca o cabelo atrás da orelha de um jeito sensual. "Achei que íamos subir pra um dos quartos e..."
"Você tem camisinha?"
Seu rosto fica vermelho. "Não..."
"Exatamente. Você não vai dar o golpe da barriga em mim. Agora cai fora, as minhas pernas estão quase dormentes."
Ela franze a testa, saindo do meu colo com uma cara de desapontamento. Percebo que ela ainda está de pé ao meu lado, com os braços bem cruzados e a ignoro enquanto coloco o dinheiro no bolso, olhando para o James.
"Cadê a minha prima?"
"É isso que estou me perguntando." Ele saca o celular, a luz azul ilumina o seu rosto enquanto eu me levanto.
Vejo a garota de cabelos castanhos finalmente se afastar pelo canto do olho e sorrio, mordendo os lábios para conter uma risada.
A festa é barulhenta e cheia de gente e, como meu objetivo da noite acabou, estou começando a ficar entediado. Não vi a minha prima a noite toda e, para falar a verdade, estou secretamente esperando que ela traga aquela garota tímida com ela.
Seria divertido.
"Boa noite, seus dois imbecis."
Uma voz soa atrás de nós, e viramos a cabeça para ver a April parada com a palma da mão na cintura.
"É falar do demônio e ele aparece." Eu sorrio, e ela revira os olhos, trazendo seu corpo até o meu, para um abraço. Beijo a sua cabeça e me afasto enquanto o James olha para a roupa dela com desejo.
A Tia e a Yuna estão ao lado dela, mas a Harmony...
Não está aqui.
Eu me encosto na parede, pressionando a minha cabeça contra a superfície. "Cadê a Virgem Maria?"
"Quem?" a April encolhe o rosto, e eu dou uma risadinha.
"A Harmony, dããããã."
"Ela tá no quarto", responde a Tia.
"Blaze, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, por favor, deixa aquela pobre garota em paz." A Yuna levanta as mãos dramaticamente, e eu coloco o meu braço em volta dela, puxando-a para perto.
"Você tá com ciúmes? Podemos voltar pro meu quarto, se você quiser."
Ela sibila e se afasta de mim, fechando o rosto, para fingir desgosto. "Que se foda, o seu charme não funciona comigo."
"April, minha querida. Você tá muito esplêndida essa noite." O James lambe os lábios, e minha prima se encolhe ao desviar os olhos dele.
"De qualquer forma, a Yuna tá certa, Blaze. Deixa a Harmony em paz. Você deveria escolher outra aluna do primeiro ano pra incomodar."
"Olha, April, eu não posso fazer isso, porque quando eu encafifo com alguém, não consigo parar até conseguir o que quero." Eu me viro e começo a sair da sala, e ela franze a testa atrás de mim.
"Aonde você tá indo, Blaze? Acabamos de chegar!"
Levanto um dedo, acenando para a porta da frente. "Vou no banheiro!"
Vou procurar a Senhorita Ingênua. Acho que ela é mais interessante do que essa festa.
Coloco os meus lápis e giz de cera no chão, satisfeita com o que produzi. Já faz algum tempo que não desenho, por isso estou surpresa com o fato das minhas habilidades ainda serem as mesmas.
Sorrio para mim mesma enquanto inclino a cabeça, olhando com orgulho para o desenho.
Eu pretendia desenhar apenas um par de olhos azuis, mas agora toda a parte superior do corpo do Blaze está no papel.
Minha memória fotográfica gravou o rosto dele tão claramente na minha cabeça que não pude resistir ao impulso de esculpir mais do que apenas os seus olhos.
É assustador como a ilustração ficou bem realista, e posso sentir borboletas se acumulando no meu estômago. Olho fixamente para os olhos do esboço, minhas bochechas se tornam vermelhas mais uma vez.
Balanço a cabeça. Desenhar uma imagem dele não significa que eu esteja interessada nele. Eu tenho certeza disso.
Agora que provei para mim mesma que meu talento ainda está presente, devo me desfazer disso.
Eu pego o desenho e seguro as pontas de cada extremidade para rasgá-lo ao meio, mas uma batida suave na minha porta me faz congelar.
Adio o momento de rasgar a folha, colocando-a na cama enquanto me levanto e vou em direção à porta.
Abro-a e meu corpo enrijece imediatamente quando os meus olhos encontram um par de olhos azuis muito familiar. Dessa vez, não no papel, mas na vida real.
"Oi, Harmony."
Ele está usando uma camiseta cinza com jeans pretos rasgados e, em vez dos brincos de argola prateados, está usando um par dourado. Pela sua aparência, ele provavelmente estava na festa.
Seu olhar é de diversão enquanto eu o encaro, como uma estátua. Então, me obrigo a falar. "Uhm, a April não tá..."
"Não tô aqui por causa da April", ele interrompe. "Posso entrar?"
Ele não espera por uma resposta e passa por mim, seu perfume hipnotizante atinge as minhas narinas. Não tenho certeza se é sabonete líquido ou perfume; só que sei que a fragrância é divina.
Hesito em fechar a porta, decidindo não trancar, caso ele tente fazer algo comigo.
Tenho recebido muitos avisos sobre esse cara. E se ele for um estuprador? Não quero descobrir da pior maneira possível.
"Por que você tá aqui?" Pergunto enquanto me viro, puxando o meu short para baixo para que cubra mais as minhas coxas. Ele percebe e sorri levemente, virando para inspecionar a mesa de cabeceira de madeira.
"Só pra ver como você tá", diz ele, enquanto pega um porta-retratos com uma foto minha e da minha mãe. Ele olha fixamente para a foto e eu o observo com firmeza, mexendo nas mangas da minha camiseta.
"Quantos anos você tinha aqui?" Ele olha para mim e eu engulo desconfortavelmente.
"Quatorze."
Ele acena lentamente, voltando a olhar para a foto enquanto inclina a cabeça de forma observadora. "Você é bonita desde novinha."
Meu rosto desabrocha como uma rosa vermelha, e ele coloca a foto no chão enquanto continua a olhar ao redor do quarto.
Ele caminha em direção ao beliche e vejo seus olhos semicerrados enquanto ele olha atentamente para alguma coisa. Acompanho o seu olhar e um leve suspiro sai dos meus lábios quando ele pega o desenho da cama.
"Isso é…"
Eu o pego rapidamente, puxando-o para trás de mim enquanto me afasto dele. Um sorriso se desenha em seus lábios vermelhos enquanto ele se vira para mim.
"Posso ver?"
Aperto com mais força atrás de mim. "Não..."
"Por que não? Eu sou a tua inspiração, então eu tenho o direito de ver."
"Não é você." Minto, e ele cruza os braços por cima do peito tonificado, com os bíceps salientes e sexys.
"Sério?"
"Sim... é uma pessoa aleatória..."
Ele dá de ombros e acena com a cabeça, e percebo que ele vai deixar para lá. "Ok, sem problemas..."
Ele se vira para ir embora, mas imediatamente se vira, me pega desprevenida e tira o desenho das minhas mãos em um piscar de olhos.
Meus olhos se arregalam e eu me jogo para pegá-la de volta, mas ele se vira, rindo baixinho enquanto a inspeciona rapidamente.
"Uau!" Ele sorri. "Ficou top. Eu fiquei ainda mais bonito no desenho!"
"Devolve!" Protesto, puxando o seu braço, mas ele mal se mexe quando os músculos se flexionam. Franzo a testa. "Blaze!" Fico na ponta dos pés, tentando alcançá-lo enquanto ele segura o desenho bem acima da cabeça.
Ele está sorrindo e eu estou muito envergonhada.
Impulsivamente, dou um grande salto, mas essa é a abordagem errada, pois acabo derrubando nós dois na cama.
Caio em cima dele, com meus seios encostando em seu peito duro. Um pequeno suspiro sai com o contato, e ele olha fixamente para os meus olhos com um sorriso nos lábios.
Meu estômago se revira com o olhar intenso que ele está me lançando, seus dentes mordem o lábio inferior com força.
Pisco, nervosa, tentando me afastar quando ele pressiona a palma da mão contra as minhas costas para me manter firme no lugar. Meus olhos se arregalam, e seu sorriso se abre ainda mais.
"Não desiste…", ele sussurra. "Tenta de novo... tenta alcançar."
Ele está segurando a foto acima da cabeça enquanto olha para mim. Fico olhando para ele por um tempo, com seus olhos sedutores me deixando em transe.
Mas me lembro do desenho que fiz essa noite e vai ser a situação mais embaraçosa para mim se eu não conseguir recuperá-lo. Então, estico o meu braço, franzindo a testa pois não alcanço.
Ele ri levemente ao ver a expressão de luta no meu rosto. "Tenta mais."
Ergo o braço novamente, minha necessidade de recuperar o desenho ofusca o fato de que meu rosto agora está perto demais do dele.
O meu braço está começando a latejar à medida que uso toda a força que tenho dentro de mim e, quando meus dedos estão prestes a tocar o papel, ele sutilmente afasta a mão.
Ergo as sobrancelhas para ele e ele dá uma risadinha. "O quê? Tenta pegar."
Ele está sendo injusto, mas não tenho tempo para discutir. Preciso do desenho de volta agora mesmo ou posso muito bem me jogar de um penhasco.
Faço um gesto para tentar novamente, mas paro quando percebo que com mais um movimento nossos lábios podem se tocar. Cada vez que estico o meu braço, ficamos mais próximos.
Nossos rostos agora estão a centímetros de distância e ele me olha com olhos de ressaca. Começo a entender que essa era a intenção dele o tempo todo.
Ele quer que fiquemos bem próximos; quer que nossos rostos fiquem a centímetros de distância.
Eu jogo a toalha, tentando me afastar dele, quando ele nos vira de modo que eu fique deitada de costas enquanto ele fica em cima de mim.
Meus olhos estão enormes enquanto eu o encaro, e ele ri da minha expressão de espanto, a luz do teto faz com que seus dentes pareçam ainda mais brancos.
"Não se preocupa. Não vou fazer nada com você, olhos verdes."
Ele se afasta de mim com um sorriso suave, e a prova do meu constrangimento inunda o meu rosto. Ele ajeita a roupa enquanto morde o lábio inferior e eu me sento lentamente, me afastando sutilmente dele.
Ele estende o desenho na minha direção e eu o pego antes que ele possa retirar a mão. Ele dá uma risadinha e eu baixo o olhar, envergonhada.
"Obrigada", murmuro, dobrando e colocando o papel debaixo do travesseiro. Quando olho para cima, vejo que ele está me encarando e resisto à vontade de me contorcer.
"O que foi?"
Ele sorri. "Você quer me dizer por que desenhou o meu rosto?"
Eu me mexo, sem jeito. "Eu já disse que não é você. Você não é o único cara do mundo que tem olhos azuis."
"Sim, você tá certa, mas vi que você desenhou a minha camisa também." Ele acena com a cabeça para o meu travesseiro. "Essa camisa verde perfeitamente desenhada é a mesma que eu usei na aula hoje." Ele sorri novamente.
"Você também não é o único cara do mundo que tem essa camisa", tento me defender, e ele se inclina para trás sobre as palmas das mãos, titubeando levemente.
"Ok. Você tem razão. Você ganhou."
Eu sorrio suavemente em triunfo, e um pequeno silêncio cai sobre nós. Ele, então, vira a cabeça para me olhar novamente. "Mas eu também sou culpado. Eu meio que já desenhei o seu rosto, também."
Olho para ele com admiração. Ele me desenhou? Eu vi o desenho dele do Naruto e é muito bom. Estou extremamente curiosa para ver esse desenho de mim.
"É mesmo? E onde tá?"
"Na minha cabeça", ele começa a falar, mantendo o olhar fixo no meu. "Eu desenhei o seu rosto na minha mente, Harmony."
"E você deveria ver como eu te vejo..." Seu tom é baixo, quase inaudível, como se estivéssemos compartilhando um segredo. "A imagem é tão precisa... que se você visse com seus próprios olhos... se assustaria."
Engulo em seco enquanto a atmosfera se torna mais tensa.
"Tudo é perfeito. Seus olhos, nariz..." O olhar dele se volta para a minha boca e minha respiração se acelera. "E esses lábios rosados e sensuais..."
Meu coração bate forte e eu me agarro à beirada da cama, com ansiedade. Sua cabeça começa a se mover lentamente, e eu afundo as minhas unhas no colchão, meus ombros caem timidamente.
No entanto, não consigo me mover, como se ele tivesse me paralisado de alguma forma. Deve ser um feitiço; por que me sinto congelada?
Tento dizer alguma coisa, mas os meus lábios se separam quando ele encosta a testa na minha, seu hálito de menta se mistura ao meu. Ele está fazendo alguma coisa comigo, mas não sei o que é.
De repente, a porta do quarto se abre e eu me liberto de seu feitiço, me afastando dele rapidamente enquanto a April fica ali parada, com os olhos arregalados.
Um silêncio se espalha pelo quarto e eu deixo o meu olhar cair, cheia de constrangimento. O Blaze sorri, levantando da cama e indo em direção à minha colega de quarto. "A festa já acabou?"
Ela estreita os olhos, suas pupilas o seguem enquanto ele passa por ela. "Sério, Blaze? Você tem que parar com isso".
"Parar com o quê?" Ele dá uma risadinha e ela revira os olhos.
"Você é tão falso."
Mais uma vez, ele não nega. Ele olha para mim e pisca sutilmente, e deixo o meu olhar cair enquanto ele se afasta e sai.
Assim que a porta se fecha atrás dele, a April olha para mim como uma mãe desapontada, e eu afundo no lugar.
"Harmony", ela suspira, jogando descuidadamente a bolsa no chão. "O que o Blaze tava fazendo aqui? Com você - sozinha?"
"Ele..."
"Ele… eu não sei." Suspiro, e ela empurra o cabelo para trás, parecendo exausta.
"Ele deu em cima de você?"
Lembro das palavras sensuais que ele pronunciou e de como encostou a testa na minha. Abro a minha boca para responder quando ela fala novamente.
"Harmony, o Blaze é muito charmoso. Ele não consegue evitar ser assim, certo? Ele vai flertar com você e dizer coisas muito sensuais e, assim que sair pela porta, vai dizer a mesma coisa pra outras dez garotas.
Ele é meu primo e eu o amo, mas você é legal e não quero que acabe igual outra menina que eu conheço."
Quero perguntar quem, mas prefiro encerrar essa conversa o mais rápido possível. Acho que a minha mente está apenas tentando bloquear a verdade ruim sobre o Blaze.
"Ok, entendi", eu digo, e ela sorri.
"Vou tomar um banho." Ela se dirige ao banheiro, fechando a porta atrás de si.
Não faço ideia do que acabou de acontecer. A Harmony Skye nunca permitiria que um garoto - que ela conhece há apenas um dia - a beijasse.
Depois que ele disse todas aquelas palavras naquele tom assustador e sedutor, quase como se estivesse entoando um feitiço, fiquei paralisada - do cérebro para baixo.
Eu provavelmente deveria manter distância dele; não acho que ele seja um ser humano normal.
Pego o desenho debaixo do meu travesseiro e decido rasgá-lo ao meio. Fico olhando para ele por um tempo e, em vez de fazer o que pretendia, dobro-o e o coloco na minha mala.