
Meu coração batia forte no meu peito enquanto as palavras de Caspian ecoavam em minha mente.
O tempo parecia ter parado enquanto nos encarávamos.
A luz do sol brilhou através do dossel dos ciprestes acima de nós, sua luz dourada transformando a baía em um lugar mágico.
O farfalhar das folhas ao vento e o murmúrio das águas lentas eram como a canção da natureza.
As palavras de Caspian pairaram no ar entre nós, carregadas de esperança. Eu me encontrei atraída por seus olhos, e afastei meu olhar dele antes que pudesse me afogar neles.
"Se ao menos pudéssemos." Eu sorri, tentando rir das borboletas vibrando no meu estômago.
"Nós podemos", disse Caspian. "O que está nos impedindo?"
"Tantas coisas..." Eu me afastei dele e olhei para o pântano. "Este lugar é o lar, Cas. Para onde iríamos? Não é como se pudéssemos voltar para nossa matilha e fingir que nada aconteceu."
A Cúpula era uma cerimônia lobisomem impregnada de tradição.
Nenhum lobo escolheria voluntariamente abandonar seu verdadeiro companheiro. Era tabu. Era rejeitar o presente da Deusa da Lua.
E isso colocaria um alvo na matilha Blue Moon.
"Não podemos fazer isso com as nossas famílias", eu disse.
Caspian se aproximou de mim e pegou minhas mãos nas dele. Seu toque era quente. Confortável.
"Claro, nosso bando pode ser perseguido por um tempo", começou Caspian. "Mas só por um pouco. A matilha real tem problemas muito maiores do que dois lobos que fugiram."
Seu sorriso fácil acalmou um pouco do medo em mim, e de repente não parecia uma ideia tão ruim.
"Imagine, Lyla", sussurrou Caspian. "Só eu e você. Em qualquer lugar do mundo."
Meu coração disparou ao pensar nisso. Podíamos fazer as malas e sair daqui até amanhã de manhã.
"Eu estava pensando que poderíamos ir para a França primeiro", disse Caspian. "Conhecer a Cidade Santa."
"Nós vamos cometer um crime, e a primeira coisa que você faria é ir para a Cidade Santa dos lobisomens?", perguntei, rindo.
Os olhos de Caspian brilharam com malícia. "Sim. Eu apertaria a mão da Deusa da Lua e diria a ela: 'obrigada por nada!'"
Revirei os olhos. Eu poderia imaginar Caspian fazendo isso com um sorriso sacana.
"E depois que eles deixarem você sair da prisão, e aí?", perguntei.
"Depois faríamos uma turnê pela Europa", disse ele. "Ou talvez Ásia. Ou ambas, por que diabos não?" Ele sorriu e pressionou sua testa na minha. "Eu não me importo para onde vamos, Ly. Desde que estejamos juntos."
Fechei os olhos e me entreguei à fantasia.
Tudo parecia terrivelmente romântico.
O material do qual os sonhos eram feitos.
Quem não gostaria de viajar pelo mundo e passar o resto do tempo com o amor de sua vida?
Um espinho em minha mente estourou a agradável bolha do meu sonho.
Uma pontada no fundo do meu coração.
"Nós não podemos, Cas", eu disse, meu coração pesado com as palavras.
Caspian suspirou, a felicidade frágil saindo dele com a respiração.
"Você não está curioso?", perguntei, pensando na Cúpula. "Você não quer ter certeza?"
"Eu não diria que estou curioso..." Caspian se afastou de mim, e eu já sentia falta do calor de seu toque.
"Desculpe." Eu me senti devastada. "Eu só preciso saber, para poder deixar tudo isso para trás."
"Ok."
"Por favor, acredite em mim, nada me faria mais feliz do que descobrir que somos os verdadeiros companheiros um do outro", eu disse. "É só–"
"Para, Ly", Caspian me cortou com um sorriso gentil. "Não se sinta culpada. Você não é uma pessoa ruim por querer saber com certeza. Somos lobisomens. Está na nossa natureza."
Caspian apertou os olhos contra o brilho do sol.
Eu me afastei do brilho também.
Estranho, apenas alguns momentos atrás eu achava o pôr do sol lindo.
Agora só doeu meus olhos.
"Eu também quero descobrir", ele admitiu. "Mas estou mais assustado do que curioso. Acho que eu estava apenas tentando evitar tudo isso."
"Com medo de que não sejamos realmente companheiros?", perguntei.
"Isso, mas mais medo do que significaria se não formos." Ele fez uma pausa para reunir seus pensamentos. "Isso significaria que tudo o que temos é uma mentira? Que meus sentimentos por você não são reais?"
Engasguei e senti meu coração se partir.
"Não!" Corri até ele e passei meus braços ao redor dele. Pressionei meu rosto em seu peito. "Nunca."
Senti lágrimas brilhando em meus olhos, mas as pisquei de volta. Olhei para Caspian quando tive certeza que eles não iriam transbordar.
"Eu te amo, Cas. E nada vai mudar isso… com ou sem vínculo de acasalamento, você sempre será importante para mim."
"Obrigado." Sorrimos um para o outro, olhos enevoados. "Você também."
Fiquei na ponta dos pés e pressionei meus lábios nos dele.
Ficamos assim nos braços um do outro por um tempo, nenhum de nós querendo soltar.
"Droga", Caspian disse eventualmente. "Isso ficou sombrio muito rápido."
"E de quem é a culpa?"
"Desculpa, amor, mecanismo de defesa." Ele franziu a testa de repente. "Bom, se o pior acontecer e minha verdadeira companheira for outra pessoa... espero que ela seja gostosa, pelo menos."
Eu ri e dei um tapa no peito dele.
"Idiota."
Ele sorriu para mim.
O sol havia caído atrás do horizonte quando o crepúsculo começou a engolir o céu. O gorjeio de cigarras e sapos ecoou ao nosso redor.
"É melhor voltarmos", disse Caspian. "Grande dia amanhã."
"Sim. Grande dia."
Ele pegou minha mão na dele, e juntos caminhamos de volta para a casa da matilha real.
De uma forma ou de outra, toda essa incerteza terminaria amanhã.
Eu só torcia para que fosse um final feliz.
"Nervoso?"
Eu me virei quando Caius se sentou ao meu lado no telhado do hotel Fleur de Lis.
"Tremendo", eu disse, inexpressivo. Olhei para o pântano que cercava a mansão. Inspecionei a terra que era minha. As famílias e matilhas que viviam ali.
Todas as pessoas pelas quais eu era responsável.
"Como se eu tivesse algum tempo para ficar nervoso com a Cúpula."
"Tenho um bom pressentimento sobre este ano", Caius meditou.
"Você disse a mesma coisa sobre o ano passado."
"Sim." Caius assentiu solenemente. "Mas este ano tenho certeza."
"Certo."
Lancei um olhar de soslaio para o meu estoico beta. Ele tinha sido beta do meu pai antes de ser o meu. Eu o conhecia desde criança.
Ele nunca foi o tipo brincalhão, mas estava convencido de que eu encontraria minha verdadeira companheira em cada Cúpula.
Todos os anos ele estava errado.
"Você é um romântico incorrigível, não é?", perguntei a ele.
Ele apenas me encarou, seu olhar sem emoção era a única resposta que eu precisava.
"Por que você insiste tanto nisso, então?", perguntei.
"Você é o alfa real", Caius me lembrou.
"E a matilha precisa de uma luna."
"Estou noivo de Magnolia."
"É diferente."
Suspirei e dei um tapa em um mosquito irritante que mordeu meu pescoço.
"Qual a diferença, Caius? Magnolia é perfeita para o papel. Ela é inteligente e ferozmente leal. Ninguém na matilha real contestaria isso."
"Você tem razão." Caius assentiu. "Magnolia seria perfeita para o bando."
"Então, qual é o seu ponto?"
Ele olhou para mim, seus olhos escuros ilegíveis.
Pisquei, desarmado pela súbita franqueza de Caius.
"Eu me importo muito com Magnolia", eu disse. "Ela é uma das minhas amigas mais próximas."
"Mas ela não é sua companheira. Sua verdadeira companheira.
Eu me afastei dele e olhei para os jardins do hotel. Algumas pessoas ainda estavam do lado de fora, aproveitando os últimos minutos da luz do dia para se preparar para a Cúpula de amanhã.
Homens e mulheres ansiosos percorriam os campos, misturando-se e conversando, esperando um vislumbre de seu verdadeiro companheiro.
Eu podia sentir a ansiedade deles. A excitação nervosa. A única preocupação deles era se seriam ou não abençoados pela Deusa da Lua amanhã.
Eles não se importavam com a política. Com a economia ou com as relações entre matilhas.
Levavam uma vida simples e feliz.
"Infelizmente, nem todos nós temos o luxo de esperar por nossos verdadeiros companheiros." Eu fiz uma careta. "Eu me dei bem todos esses anos sem um."
"Tenha um pouco de fé, Sebastian." Caius se levantou e colocou a mão no meu ombro. "A alegria de conhecer um verdadeiro companheiro não é uma possibilidade que você deveria descartar tão rapidamente."
Meu beta me deixou sozinho no telhado para meditar.
Examinei os esperançosos da Cúpula abaixo de mim.
Mas quanto mais eu olhava, menos esperança eu sentia.
Ninguém que eu vi me interessou.
Certo?
Suspirei e me levantei, esticando as pernas.
Caius estava errado. Este ano não seria diferente.
Assim que me virei para sair, algo chamou minha atenção. Duas figuras emergiram do pântano, caminhando de volta para a casa da matilha.
Meu olhar foi atraído para ela como uma mariposa para uma chama.
Ela me notou no telhado e fez um pequeno aceno, e de repente eu me vi sorrindo.
Balancei a cabeça para ela enquanto as palavras de Caius se repetiam em minha mente.
Lyla me deu um sorriso antes de desaparecer dentro do hotel.
Balancei minha cabeça, voltando à realidade.
"Não tenha muitas esperanças, Sebastian", murmurei baixinho para mim mesmo. "Mais um ano, mais uma Cúpula."