Nathalie Hooker
AURORA
"Então o Wendell está por aí e está fazendo algo que pode arruinar toda a nossa espécie?"
Um arrepio percorreu minha espinha.
"Temos que detê-lo, Wolfgang. Você tem que pedir ajuda para a Eleanor."
Ele fez uma careta com isso, e senti uma frustração familiar crescer em meu coração.
"Não..." Levantei minha mão, impedindo-o de discutir. "Você sabe que ela é a única bruxa que temos em mãos e a única pessoa que pode te ensinar poções."
Ele hesitou com a irritação na minha voz. "Eu não confio nela."
"Bom, nem todo mundo em quem confiamos é bom para nós de qualquer maneira." A resposta saiu antes que eu pudesse me conter. Ele parecia magoado. Com razão.
Será que algum dia eu conseguiria abandonar o passado que me assombrava tão profundamente?
Sonhei com o Klaus ontem à noite e em muitas outras noites. Nesses pesadelos, eu estava de volta às masmorras, desejando que o Wolfgang me salvasse antes que fosse tarde demais.
Ele não fez isso.
E eu queria perdoá-lo.
Mas eu também queria segurar a dor.
Virei o rosto, de repente ressentida.
WOLFGANG
A última pessoa com quem eu queria falar era a Eleanor. Mas a Aurora tinha razão.
Eu prestei atenção nela, seus lábios macios tremendo enquanto ela falava.
Ela parecia tão linda sob o reflexo suave da lua da tarde.
"Não importa quais sejam suas questões com a Eleanor, você tem que fazer isso, Wolfgang."
Eu não pude evitar a raiva.
Eleanor sempre desprezou meus esforços para me aproximar dela. Ela continuou fazendo o que quis com a minha companheira.
Mesmo que isso significasse submetê-la a constantes provações de fogo. Doía ver a Aurora sofrer tanto, tudo em nome da autodescoberta.
"Eu não confio nela," resmunguei. "Ela está sempre no seu cangote. Sempre fazendo você fazer coisas que não quer."
"Bom, ela não é a única, não é?" Aurora ergueu as sobrancelhas para mim.
Minhas bochechas queimaram. Eu sabia que parte dela ainda não tinha me perdoado por todos os erros que cometi quando descobri que ela era a minha companheira.
Sim, a Eleanor a submeteu a provações, mas elas provavelmente a ajudariam a se tornar sua melhor versão.
E eu? Eu não tinha feito tal coisa.
Eu namorei uma loba que a maltratou e a envenenou e depois tentei matá-la, sabendo muito bem que Aurora era a minha escolhida.
Eu a obriguei a ser minha empregada e praticamente a chamei de ladra.
Foi minha culpa que o Klaus tenha conseguido chegar nela. Aurora era altruísta, como deveria ser uma verdadeira luna. Fui eu quem a fiz sofrer, várias vezes.
Talvez ela levasse uma vida inteira para me perdoar, e talvez nunca me perdoasse.
Houve noites em que eu também não conseguia me perdoar.
"Aurora, eu..." Suspirei. "Vou passar a vida inteira tentando compensar você. De qualquer maneira que eu puder. Mas saiba que mudei e é tudo por sua causa."
Ela olhou para mim com seus olhos de oceano, ouvindo atentamente cada palavra.
"O alfa que eu era viveu com nada além de raiva e ódio por perder sua companheira. Tudo que eu queria era vingança contra as pessoas que tiraram minha mãe de mim. Eu estava tão cheio de raiva que esqueci o amor."
Dei um pequeno sorriso.
"E, então, você apareceu. Você, com aquela inocência teimosa, seu rosto doce e seu jeito de falar. Você era uma criança e uma jovem madura ao mesmo tempo."
Ela riu disso. "Ei! Isso é um insulto ou um elogio?"
Segurei seus ombros e a encarei com seriedade.
"Escuta. Você me testou. Nunca pensei que alguém pudesse desafiar um alfa, mas isso foi antes de conhecer você. Você me mostrou que eu tinha que ser bom o suficiente para você e para o meu próprio povo."
Ela tocou meu rosto suavemente.
"Wolfie—"
"E agradeço a Selene mil vezes e mais por não ter perdido você, mesmo que por muito pouco. Eu não mereço você. Na verdade, poucos lobos podem se igualar à sua divindade e beleza."
Meu amor.
Ela era minha lua e minhas estrelas.
Minha alma gêmea no éter, em Astria e em todos os outros mundos onde as almas podem sobreviver.
Ela foi colocada nesta Terra para me fazer humilde e me testar, para me mostrar como o amor é lindo.
Aconteça o que acontecer, eu nunca vou machucá-la, nunca mais.
Eu a protegeria com cada gota do sangue da deusa nas minhas veias.
Ela me tornou quase humano, inteiro.
Minha voz tremeu. "Não pretendo te perder de novo. Como Selene é minha testemunha, neste mundo e no que vier a seguir, quero enfrentar até o último obstáculo com você ao meu lado."
Ela se inclinou e beijou meus lábios. Num segundo, o ar entre nós ficou carregado e elétrico.
Ela era pura alquimia, a magia voava das pontas dos seus dedos, seu toque era fogo e alma.
Eu a puxei para perto e a beijei de volta, deixando minha língua girar contra a dela.
A gente se abraçou com força. Entrelacei minhas mãos firmemente em sua cintura.
Ela suspirou meu nome.
Antes que eu percebesse, eu a deitei no chão, e meus lábios estavam no seu nariz, nos seus olhos fechados, na sua testa e pescoço, viajando até as curvas deliciosas do seu peito.
"Eu te amo," murmurei contra o seu pescoço, lambendo o lugar onde a marquei como minha.
"Eu te amo hoje, amanhã e em milhares de outros universos."
"Uau, quanto romantismo."
A voz cantante soava como se alguém tivesse cravado uma faca em uma pedra. Cerrei os dentes e me sentei.
Aurora parecia visivelmente perturbada.
"Eleanor! Achei que você tivesse ido descansar."
Ela olhou dela para mim, com desaprovação e um brilho estranho nos olhos. "Sim, mas a noite estava tão linda que decidi que uma caminhada seria interessante."
Por que ela sempre tinha que falar em meias frases? Era como se ela não odiasse mais ninguém no mundo, exceto eu.
Também parecia que a razão pela qual ela me odiava era porque eu era o companheiro da Aurora.
Por quê?
Sim, eu protegia minha companheira, mas isso faz parte dos nossos instintos.
Eu deveria suspeitar de alguém que pudesse machucar a Aurora. E não importava que a Eleanor continuasse dizendo que só queria o melhor para a Aurora.
Ela continuava fazendo coisas que testavam suas emoções, e me machucava ver minha companheira triste, irritada e exausta por causa da bruxa.
De repente, ela voltou seus olhos brilhantes apenas para mim.
"Você gostaria de se juntar a mim na minha caminhada, filhote?"
Mostrei os dentes. "Eu gostaria que você me chamasse de alfa Wolfgang e nada mais."
Ela zombou. "Vou me dirigir a você pelo nome que achar adequado. Neste momento, você parece e fala como um cachorrinho teimoso e bobo. Então é isso que você é."
Fiquei de pé imediatamente, Cronnos ameaçando sair de dentro de mim.
Quem diabos essa mulher pensa que é?
Deixa eu sair e mostrar a ela quem é o verdadeiro alfa.
Ela está sempre tentando tirar nossa companheira de nós.
Pare com isso, tentei argumentar com ele. ~Se eu atacar ela agora, a Aurora vai ficar com raiva de mim. Não posso arriscar isso.~
Você está sempre pensando no que pode acontecer. Você nunca age. Qual é o sentido disso se não podemos defender nossa companheira de pessoas que a machucam?"
Cala a boca, seu velho pulguento! ~Fiz uma careta.
"Tendo um monólogo interno, não é?" Eleanor sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. "Então, você vem caminhar comigo?"
"Vai lá," a Aurora entrou na conversa, sua voz ansiosa. "Vou subir e dormir um pouco. Estou cansada mesmo."
Ela queria que eu fizesse esse passeio.
Suspirei, resignado.
ELEANOR
Eu gosto de fazer pessoas como o alfa Wolfgang se sentirem perdidas.
Os terrenos da mansão estavam lindos, pois não era mais dia, mas a escuridão ainda não tinha assumido totalmente.
O brilho dourado do pôr do sol lançava sua suavidade radiante ao meu redor.
A mãe de Rory teria adorado aqui. Ela ficaria orgulhosa de ver o quanto sua filha foi longe.
Se não fosse por esse cachorrinho insolente andando do meu lado com uma desconfiança óbvia em seus olhos, a Aurora já teria se recuperado há muito tempo.
A mansão era alta e majestosa, cercada por extensos jardins e um fosso cintilante que refletia o céu azul profundo acima.
Era como se eu tivesse entrado em um mundo completamente diferente, mágico e encantador.
"Fiz os jardins de rosas para manter viva a memória de minha mãe," Wolfgang falou inesperadamente.
Então o filhote tinha um passado. Isso não significava que ele podia usá-lo como uma arma contra o seu presente.
Foi por ele que Rory enfrentou um ataque que a faria questionar seu valor repetidas vezes.
Isso significava que ele era a razão pela qual ela não conseguia se desenvolver, especialmente no que dizia respeito aos seus poderes.
Ele tinha feito um bom trabalho nos jardins; eu tinha que admitir.
Flores brilhantes desabrochavam por todos os lados.
O ar estava repleto da doce fragrância de rosas e outras flores delicadas, e o som da água escorrendo das fontes contribuía para a tranquilidade daquele lugar.
"Sua mãe era uma buscadora de cheiros, eu presumo," murmurei pensativamente, mais como uma reflexão do que uma pergunta.
Ele olhou para mim, atordoado. "Como você sabe disso?"
"Sua escolha de flores. As rosas só atraem uma espécie muito particular de lobos. Eles são conhecidos por sua afinidade com os aromas, e também pela suavidade dos seus corações."
Os caminhos eram ladeados por árvores altas que balançavam suavemente com a brisa fresca, lançando sombras salpicadas no chão.
Enquanto caminhava ao longo do fosso, observei peixes nadando sob a superfície, suas escamas prateadas brilhando à luz do sol.
A água era tão clara que eu conseguia ver até o fundo, onde seixos e pedras estavam dispostos em padrões intrincados.
Fiquei ali por um tempo, hipnotizada pela beleza da cena diante de mim.
"Eu sei o que você procura, filhote."