
Dois meses depois, Cassandra está atrasada para o trabalho, rezando para não ser demitida.
Seu atual chefe, Scott Smith, foi muito amigável quando ela foi para a entrevista no Rodriguez International naquela sexta-feira de manhã, mas não é com ele que ela está preocupada. Ela ouviu dizer que o chefão — dono do prédio inteiro e com sua própria suíte executiva alguns andares acima — é rígido, intimidador e sem piedade.
O chefão estava viajando a negócios, então Cassandra ainda não o conheceu, mas, pelo jeito que as mulheres falam sobre ele, ela sabe que ele é um playboy. Ela sabe que é melhor ficar longe de caras assim — não que isso faça muita diferença, já que eles preferem mulheres altas e magras como Gwen, não as baixinhas e curvilíneas como ela.
Alex estava muito agitado esta manhã, e quando ela o deixou na creche a algumas quadras do apartamento, ele chorou tão alto que partiu o coração dela. Ela o segurou por mais alguns minutos antes de ir para a estação de metrô, mas aí, no caminho para o trabalho, o trem ficou parado por problemas técnicos.
"Você está atrasada," sussurra Emily.
"Eu sei, o trem deu problema. Espero que ninguém tenha notado."
Cassandra alisa a frente de sua saia preta e lisa, pensando que ela já viu dias melhores.
"O Sr. Smith ainda não chegou, mas o chefão sim, e ele não ficou muito feliz em encontrar sua mesa vazia."
"Ele foi embora. Preciso ir." Emily rapidamente vai até sua própria mesa.
O andar onde elas trabalham é bem grande, com janelas de vidro do chão ao teto e ladrilhos de mármore preto no chão. O escritório deve ter custado uma fortuna, mas Cassandra adora. Afinal, não é todo dia que alguém consegue olhar para o chão e ver seu próprio rosto.
Cassandra passou a manhã inteira achando que era só questão de tempo até o chefão a chamar para seu escritório para demiti-la, mas o dia estava tranquilo e sem muitas emoções. Mais tarde, entre clientes que iam e vinham, Cassandra separava algumas correspondências quando o Sr. Smith ligou para sua mesa.
"Sra. Miller, você pode, por favor, vir ao meu escritório?"
"Sim, senhor." Cassandra coloca o telefone de volta no gancho, levanta-se e caminha pelo corredor.
Quando ela bate na porta, o Sr. Smith diz: "Entre," então ela nervosamente abre a porta e entra. Ao vê-la, ele acrescenta: "Sente-se, Sra. Miller. Falarei com você em um momento."
Cassandra obedece.
Há duas fotografias na mesa de vidro do Sr. Smith, uma de sua linda esposa e uma de seus dois filhos. Há um sofá perto da janela com uma pequena mesa na frente, e uma máquina de café está situada no canto oposto. Algumas fotografias de diferentes artistas estão penduradas na parede atrás dele.
Cassandra entrelaça nervosamente os dedos no colo. O Sr. Smith está na casa dos trinta e tantos anos e, nesse momento, está sério, esperando a hora certa para dizer algo. Esse suspense vai acabar com ela.
"Você não estava na sua mesa esta manhã."
"Sinto muito, Sr. Smith. O trem demorou um pouco mais do que o normal hoje."
"Você vem de trem? Não tem um transporte melhor?"
O trem é barato, e ela precisa economizar o máximo possível. "É o que posso pagar no momento."
"O Sr. Rodriguez não ficou feliz em ver a recepção vazia. Ele queria que eu te demitisse e eu recusei. Você tem feito um ótimo trabalho desde que chegou aqui, e eu não quero te mandar embora. Estou satisfeito com seu trabalho, mas espero que isso não aconteça de novo."
"Bom, então isso é tudo, Sra. Miller."
Cassandra se levanta, mas, quando está na porta, o Sr. Smith a chama de volta. "Acho que você tem correspondências para entregar ao Sr. Rodriguez."
Ela viu algumas cartas endereçadas a ele. Emily normalmente leva a correspondência do chefão, mas Cassandra não a viu no caminho até o escritório do Sr. Smith.
"Sim, senhor."
O Sr. Smith segura uma pasta. "Você pode, por favor, levar isso para o escritório dele, junto com a correspondência? Mandei Emily resolver umas coisas, e ele está esperando esses documentos."
Ela pega a pasta do Sr. Smith, sai do escritório dele e volta para sua mesa, onde coleta toda a correspondência endereçada ao Sr. Rodriguez. Ela pensa que talvez devesse mandar outra pessoa fazer isso, mas aperta o botão do elevador mesmo assim.
Quando o elevador a leva até o último andar, seu coração bate freneticamente dentro do peito.
Emiliano Rodriguez está de pé, olhando pela janela do seu prédio empresarial. A semana dele não foi nada boa. Sua mãe acabou de ter um infarto. Ela está bem, descansando em casa com a enfermeira particular que ele contratou, mas ainda assim isso o assustou.
Emiliano passa a mão pelo seu cabelo preto. Ele não é do tipo que se casa e tem filhos; ele ama o estilo de vida de playboy que vive — sem compromisso, sem apegos. Afinal, ele sabe que as mulheres só dormem com ele pelo dinheiro e pelo que ele pode dar a elas. Elas não são diferentes daquelas que são pagas para dormir com homens.
Emiliano gosta de ter mulheres em sua cama e aceita o que elas dão, mas não confia em ninguém e em nada neste mundo. Ele aprendeu desde pequeno a não esperar nada de ninguém, que as pessoas só cuidam de si mesmas.
Quem conhece Emiliano sabe que não deve mexer com ele ou irritá-lo. Sua reputação o precede.
Ele odeia pessoas que se atrasam. E se ele fosse um cliente querendo informações sobre os serviços do banco? Esse atraso não é nada profissional, e não é a primeira vez que ele precisa se preocupar com o funcionamento do banco.
Emiliano vai até sua mesa e liga para Scott. "Onde está a pasta que eu pedi?"
"Pedi para a Sra. Miller te entregar. Pensei que ela já tinha ido."
"Quem é essa?"
"A recepcionista. Mandei Emily resolver outra coisa."
Emiliano vê que tem outra ligação. "Eu te ligo de volta," ele murmura para Scott. Na outra linha, ele diz, "Nicole," para sua secretária.
"Tem uma Sra. Miller aqui, senhor. Ela disse que o Sr. Smith a enviou."
"Mande-a entrar." Ele desliga o telefone e se levanta.