Lobo à Luz do Luar

"Não, Elijah! Estou avisando, não faça isso!" Sage ergueu as mãos na frente do rosto e caminhou lentamente para trás.

Elijah sorriu e continuou andando para a frente.

"Elijah…", ela o avisou novamente.

De repente, ele correu em sua direção. Sage gritou, tentando fugir dele.

"Não-não-não-não-não-não-não-não, NÃO!" ela gritou quando Elijah passou os braços em volta de sua cintura. Ele a ergueu do chão enquanto ela lutava para se libertar.

Caminhou em direção ao lago e parou na beirada. Sage envolveu os braços com força em volta do pescoço dele. "Se eu for para a água, vou levar você comigo!"

Elijah sorriu e encolheu os ombros. "Tudo bem", disse ele, e imediatamente pulou na água.

Sage gritou quando caíram. Elijah a soltou quando eles emergiram de volta à superfície. "Seu idiota de merda."

Elijah riu quando ela jogou água em sua direção. "Você pediu por isso, prima."

"Como diabos eu pedi por isso, primo?"

Ele mostrou a língua para ela.

Sage bufou. "Você é uma criança."

Ele saiu da água e puxou sua bermuda para cima, alto demais, até que o cós atingiu suas costelas, então cruzou os braços e olhou por cima do ombro.

Sage seguiu seu olhar e viu suas irmãs. Elas ainda estavam tomando banho de sol, preocupadas demais em ficar com o bronzeado perfeito. Ela fixou os olhos em Elijah.

Ele tinha uma expressão travessa nos olhos.

"Elas vão matar você."

Ele balançou as sobrancelhas para Sage e se virou para elas. Depois de respirar fundo, ele se lançou sobre elas. Sage ouviu suas irmãs gritarem quando ele pousou em cima delas.

"Seu filho da puta de merda!" Iliza gritou com ele.

"O que diabos há de errado com você, seu idiota?!" Jessica adicionou.

Elas o empurraram para longe.

"Agora nosso bronzeado não vai ser da cor certa!" Iliza afirmou enquanto olhava seu corpo.

"Você acabou de arruinar todo o nosso verão, Elijah", acrescentou Jessica.

"Diz o gay que tem mais roupas do que nós." Jessica colocou as mãos nos quadris e olhou para ele.

"Até parece, vocês têm uma loja inteira para vocês."

Sage revirou os olhos e também saiu da água.

Jessica e Iliza estavam sempre reclamando que, em suas próprias palavras, as lobas "feias e pobres" sempre compravam roupas na mesma loja que elas.

Ele se recusou, mas as irmãs fizeram de tudo para irritá-lo com esse assunto, para que ele acabasse cedendo.

E foi exatamente o que aconteceu.

Sage secou seus longos cabelos negros como a meia-noite, que desciam por suas costas. Ela vestiu a camisa de Elijah, que terminava logo abaixo de sua bunda, e caminhou até os outros.

"Mesmo assim, você é um cara, e ainda tem mais roupas do que Sage."

Sage olhou feio para Iliza.

"Cara, eu não sou vaidosa como vocês três. Eu tenho uma quantidade normal de roupas com as quais me sinto confortável. Não preciso de uma loja inteira."

Iliza revirou os olhos para ela. "Uma loba precisa estar sempre no seu melhor estado possível, caso sua alma gêmea apareça."

Sage bufou. "Que bom que eu sou humana, então", ela afirmou.

Assim como suas irmãs, ela era filha de um alfa, mas em vez de nascer lobo, ela nasceu humana. Seus pais tentaram descobrir o porquê, mas nunca conseguiram.

Eventualmente, eles simplesmente a aceitaram.

Sua matilha não se importava. Eles a aceitaram por quem ela era e ficaram felizes por ela não agir como uma pirralha mimada, como suas duas irmãs mais velhas.

Sage sabia que nunca seria capaz de herdar o título de alfa de seu pai, mas ela não se importava. Tudo o que ela queria era terminar seus estudos e se tornar a primeira astrônoma da matilha.

De qualquer matilha, aliás.

Ela sempre amou astronomia e astrologia. Ao crescer, ela sempre se perguntava sobre o universo ao seu redor. Sua mãe falou que ela devia perseguir sua paixão e aprender sobre o assunto.

Sage não precisou ouvir isso duas vezes.

Logo ela aprendeu tudo sobre as constelações, a lua, os planetas e as estrelas em geral.

Agora, ela estava aprendendo as mitologias gregas sobre as constelações. Era algo que ela adorava estudar, e sua imaginação costumava correr solta. Ela se perguntava se havia alguma verdade nisso.

Distraída, ela seguiu as linhas de sua tatuagem preta e branca em seu antebraço direito. Ela a observou.

Era uma tatuagem de apenas contornos. Linhas brancas e pequenos círculos formavam sua constelação favorita, Sagitário, e as linhas pretas formavam uma lua crescente atrás das linhas brancas.

Sage se lembrou do dia em que a fez. Ela foi com Elijah e Romeo, alma gêmea de seu primo, no tatuador do bando. Romeo estava se tatuando com a impressão da pata do lobo de Elijah.

Num impulso, ela decidiu que queria uma tatuagem também e ela simplesmente sabia que tinha que ser esta, embora ela nunca tivesse visto a imagem antes.

Seus pais ficaram chocados quando viram, mas gostaram mesmo assim.

Uma rajada de vento passou por eles. Elijah, Iliza e Jessica enrijeceram imediatamente. Sage olhou para eles. "O houve?"

Elijah cheirou o ar. "Sangue."

Foi a única palavra que ele disse, mas todos sabiam que significava más notícias. Eles imediatamente pegaram suas coisas e começaram a caminhar de volta para a vila da matilha.

Cheiro de sangue pode significar muitas coisas, mas principalmente, perigo. Forasteiros estavam sempre espreitando perto da fronteira e ninguém queria encontrá-los. Especialmente com a Gangue da Lua.

Eles eram um grupo de forasteiros que se divertiam matando matilhas inteiras. Eles eram odiados e temidos.

De alguma forma, eles sempre venciam. Não importava o quão forte a matilha fosse, eles sempre conseguiam destruí-la inteira.

Bem, quase sempre. Havia uma matilha que eles atacaram, mas falharam.

A matilha Lobo de Fogo.

Como uma matilha, ela era extremamente rara: pois não era apenas uma, mas duas.

A matilha Lua de Fogo e a da Lua de Lobo eram aliadas próximas. Os dois alfas eram amigos, e quando a matilha Lua de Fogo foi atacada pela Gangue da Lua, eles foram ajudados pela matilha Lua de Lobo.

Sem muito esforço, eles venceram e a Gangue foi quase completamente exterminada.

Os dois alfas lideram suas próprias matilhas e territórios sem interferência um do outro, mas, quando necessário, permanecem juntos.

Unidos como um só, para derrotar qualquer um que os desafie.

Logo, todos começaram a chamá-los de matilha dos Lobo de Fogo. Todas as matilhas os temiam, mas também queriam uma aliança com eles.

Todo mundo tinha ouvido o boato de que as casas de matilha deles eram próximas uma da outra, perto da fronteira que separava os territórios, as quais os lobos podiam cruzar quando quisessem.

Para os humanos, não era grande coisa, mas para os lobos era. Ter tanta confiança entre duas matilhas era raro.

Ninguém sabia se os rumores eram verdadeiros, já que ninguém tinha permissão para chegar tão perto, exceto os alfas aliados, e mesmo eles mantinham a boca fechada.

A matilha de Sage também era aliado deles, pois seu tio, primo e avó viviam na matilha.

Quando seu pai recebeu o título de alfa, seu tio, Rick, foi embora. Ele e seu pai, o avô de Sage, nunca se entenderam, e quando Rick saiu do armário, as coisas só pioraram.

Sage ouviu as histórias sobre como eles sempre brigavam, e sobre quando seu avô o ameaçou tirar a chance do título de alfa se ele não arranjasse uma alma gêmea logo, e ele ficou furioso.

Rick disse que não queria ser um alfa que precisava fingir. Ele disse que não se importava com o título, e que seu irmão, pai de Sage, poderia ficar com ele.

Depois que o pai de Sage foi nomeado alfa, ele foi embora com sua mãe. Seu avô e sua avó também tinham problemas entre si, e só voltavam para aniversários e Natal.

Sage sempre teve um ótimo relacionamento com o tio. Ela sempre ficava feliz quando o via e podia conversar com ele sobre qualquer coisa.

Seus pais eram diferentes. Eles estavam sempre tensos, especialmente se seu tio a tocava. Era sempre como se eles tivessem medo de que ela explodisse. Até hoje, ela ainda não sabia a razão.

A outra coisa que ela ainda não entendia era como Rick gerou Elijah. Ele era gay, mas tinha um filho.

Sage e Elijah sempre brincavam sobre como ele devia ser um deslize de uma noite de bebedeira, mas não sabiam se isso era verdade. Rick nunca contou a eles.

Sage foi arrancada de seus pensamentos quando sentiu um forte cheiro metálico. Demorou um pouco para perceber o que era. Ela parou de andar e olhou para Elijah.

"Por favor, não me diga que você pode sentir o cheiro." Ele sabia que se até mesmo um humano pudesse sentir o cheiro, significava algo ruim.

"Eu consigo."

"Porra!" Elijah gritou.

"O que está acontecendo?" Perguntou Iliza. Ninguém respondeu.

Elijah, Iliza e Jessica mudaram para suas formas de lobo. Sage subiu nas costas de Elijah. Eles tinham que voltar e rápido. Algo definitivamente estava errado!

Eles começaram a correr em direção à vila e o cheiro só ficou mais forte. Assim que chegaram, eles viram o massacre.

Homens, mulheres, filhotes, adolescentes, idosos. Ninguém estava vivo ou inteiro. As ruas estavam cobertas de corpos. Para onde quer que você olhasse, veria entranhas e membros arrancados.

As construções estavam cobertas de sangue, e tudo estava silencioso.

As lágrimas encheram os olhos de Sage e ela colocou a mão na frente da boca. Isso não poderia estar acontecendo. Quem faria algo assim?

Eles sempre foram uma matilha que amava a paz, e só lutavam quando precisavam. Eles não mereciam isso!

Nenhum deles disse nada enquanto caminhavam pelas ruas, tentando não pisar em nada. Sage chorou ao ver os corpos de pessoas que ela conhecia. Doc, sua professora, seus amigos.

Não havia mais ninguém.

Caminharam em direção à casa da matilha. Sage olhou para duas coisas penduradas em cada lado da porta: corpos.

Ela caminhou lentamente para a frente e, quando viu quem eram, parou e caiu de joelhos.

"NÃO!" ela gritou. Seus gritos se transformaram em soluços incontroláveis. E ela ouviu suas irmãs gritarem também.

Seus pais estavam pendurados pelo pescoço, e estavam nus.

Sua mãe estava sem um braço, e seu pescoço e tórax estavam abertos. Os hematomas na parte inferior do abdômen e na parte interna das coxas sugeriam que ela foi brutalmente estuprada antes de ser morta.

Seu pai foi esfolado vivo e teve todos os membros arrancados.

O sangue ainda estava pingando de seus corpos. Isso era algo que a assombraria pelo resto de sua vida.

Elijah colocou a mão em seu ombro. Ela olhou para a porta e a raiva encheu seu coração. Havia uma mensagem escrita com sangue.

"A Gangue da Lua esteve aqui."

Nunca, em toda sua vida, ela sentiu tanta fúria.

Como alguém podia ter tão pouco respeito pelos mortos? Como alguém poderia fazer isso?

Ninguém disse nada e o som de choro encheu o ar.

"O que nós vamos fazer agora?" Perguntou Iliza. Sua voz estava rouca.

"Eu informei meu pai através do elo mental. Vocês tem permissão para ficar conosco por enquanto", Elijah respondeu enquanto enxugava as lágrimas.

"Precisamos enterrá-los", disse Sage. Sua voz também estava rouca.

Elijah a abraçou. "E é isso que vamos fazer."