Cidade Réquiem

MADDIE

Do jeito que Loch lambeu os lábios enquanto me olhava de cima a baixo, eu estava começando a pensar que sua piada sobre me comer viva não era realmente uma piada.

Canibais bilionários? Esse era o grande segredo de seu sucesso? Eu ri por dentro com uma certeza mórbida de que estava prestes a morrer a qualquer segundo.

Seu corpo musculoso e desajeitado pairou sobre mim, e ele me deu um sorriso dominador como se pudesse ler minha mente.

“Não seja tão tímida, rata. Achei que você fosse uma ladrazinha inflamada. O que aconteceu com sua chama?”

Quando ele deu um passo à frente, dei um passo para trás.

Eu não sabia para onde minha chama tinha ido, mas eu com certeza senti o calor em minhas bochechas quando elas começaram a ficar vermelhas.

Antes que eu pudesse responder, ouvi um peso enorme cair atrás de mim, batendo no chão com tanta força que minhas pernas quase dobraram.

Foi como se um caminhão tivesse caído do céu. Eu me virei, surpresa ao ver não um caminhão, mas uma pessoa.

E não qualquer pessoa...

Era Hael Dobrzycka.

Ele sorriu e lançou seus olhos esmeralda para mim, assim como ele fez no centro comunitário.

Foi perturbadora a maneira como ele olhou para mim como se me conhecesse.

Ele tinha acabado de cair do céu? Não houve tempo para questionar porque, de repente, ele estava estalando os dedos, fazendo a lareira inteira acender sob o comando.

Como é que ele fez isso?

Pensei em magia por um momento, mas eu balancei minha cabeça, me lembrando.

Bilionário.

Ele poderia obter todos os brinquedos chiques que seu coração desejasse.

Hael era o oposto de seu irmão em todos os sentidos. Um típico garoto bonito, penteado - exceto pelo cabelo tingido de verde neon.

Educado, direto. Mas também... de alguma forma, mais assustador pelo que ele não estava dizendo. O que ele estava escondendo.

"Loch, você está sendo um bom anfitrião?"

Ao contrário da voz aveludada de Loch, a de Hael era direta e precisa. Adequada para um CEO.

Loch balançou a cabeça, zombando. “Fala sério, Hael. Tenho que ser bom com a garota que roubou nossa irmã?"

“Como ela fez aquilo? Ou você não chegou tão longe?” Hael perguntou, entusiasmado.

"Eu estava prestes a-"

"Madeline, não é?"

Hael se dirigiu a mim diretamente, gesticulando com o dedo para se aproximar. Eu obedeci. Eu não pude evitar. Era como se ele tivesse lançado um feitiço sobre mim.

“Qual foi o seu método? Adoraria saber.”

Eu precisava de uma estratégia. Mentir para sair daquela merda. Mas de repente me senti obrigada a dizer a verdade. Alguma força misteriosa parecia mover meus lábios.

“Eu só... a distraí. E... roubei o relógio.”

“Sim, mas a velocidade necessária teria que ser... anormal. Entenda, nós, Dobrzyckas, temos um sistema de segurança peculiar contra este tipo de situação.”

“O que meu irmão está dizendo”, Loch cuspiu”, é que é impossível. É impossível roubar de um Dobrzycka.”

"E ainda assim você fez isso."

Eles estavam circulando ao meu redor agora. Tive que virar à esquerda e à direita para mantê-los na linha dos olhos. Eu me senti como uma presa sendo perseguida por dois falcões. Prestes a ser... comida. Engoli em seco.

"O que posso dizer?" Tentei recompor minha arrogância. “Sou rápida."

Com isso, os dois irmãos se entreolharam. Eles quase pareciam estar conversando sem falar uma palavra. Suas expressões continuaram mudando.

Suas bocas se contraindo.

"Não, Hael", Loch disse como se estivesse no meio de uma conversa, "Eu não vejo isso nela."

"Então você não está olhando com cuidado."

“É impossível”, ele zombou.

Eles se aproximaram, circulando. Agora eu não sentia que seria comida. Mas violada. Algo sobre aquela dança era... sexual. Eu podia sentir isso.

"O que vocês dois querem de mim?" Eu perguntei, tensa.

“Isso depende do que você é capaz de dar”, disse Hael.

“Ela é rápida com as mãos”, Loch disse com um sorriso. “Isso nós sabemos."

“Mas para dois de uma vez. Isso é outra história, irmão.”

“Seja o que for”, cuspi”, não estou interessada; escutou? Lamento ter roubado a porra do relógio da sua irmã. Mas não vou me curvar e aceitar essa merda. Eu não tenho medo de você. Qualquer um de vocês."

Havia um fogo na minha voz que eu nem sabia que existia. Os dois irmãos ficaram em silêncio. Eles pararam de me circundar, cada um me olhando.

Eu podia sentir a respiração de Loch em meu ombro nu. Sentir seus olhos misteriosos perfurando meu corpo, como se eu fosse sua presa.

“Ela talvez consiga, Loch”, Hael sussurrou. “Mas ainda não estou convencido."

"Ela é divertida, no mínimo." Loch sorriu. “Talvez pudéssemos contratá-la apenas para nossa diversão?"

Eu deveria ter percebido isso antes, mas de repente eu sabia que não estava aqui para ser contratada como assistente ou estagiária.

Esses irmãos estavam jogando algum tipo de jogo bizarro, e eles não consideraram adequado me dar uma pista sobre as regras.

Eu era apenas um peão.

"Como podemos saber se ela é digna?" Hael zombou, olhando rapidamente para minha roupa suja.

“Você é sempre cético, irmão”, Loch disse, rindo. "Embora eu admita, eu não tenho certeza se ela vai aguentar também. Ela é tão... frágil.”

Eu estava começando a ficar irritada. Por que diabos eles estavam falando sobre mim como se eu nem estivesse lá?

“Algum de vocês está ouvindo? Eu não-"

Mas de repente a mão de Hael estava na minha boca, Loch serpenteando em volta do meu pescoço.

"Ouça, Madeline", disse Hael. ”Você tem uma dívida conosco por sua transgressão. Você vai retribuir com um certo serviço.”

“Nosso entretenimento”, Loch zumbiu.

"Isso mesmo", disse Hael. “Você pode lutar contra isso. E enfrentar uma vida inteira na prisão. Ou você pode fazer o que dizemos.”

Merda. Merda. Merda.

Aquilo era assustador, mas também algo sobre a maneira como eles estavam me segurando, o calor de seu toque, era eletrizante.

Nunca me senti tão viva em minha vida.

Hael baixou a mão e Loch soltou meu pescoço. Ambos deram um passo para trás.

"O que prefere?" Hael perguntou.

Pensei em Darshan e Harry, meus amigos. Pensei no que aconteceria com eles, agora que o relógio de Adara se provou inútil. O que Dominic faria com eles...

Aquela era minha última chance de salvar meus amigos. Mesmo se eu não conseguisse.

"O que... o que você está me pedindo para fazer?" Eu perguntei nervosamente. “Isso não soa como um estágio.”

Hael soltou uma gargalhada, como se eu tivesse dito a piada mais engraçada do mundo.

"Ah, minha querida ratinha - você realmente vagou pela cova do dragão."

“Tão pura e inocente”, Loch disse, sorrindo agudamente.

“Só me fale o que preciso fazer”, eu disse com os dentes cerrados.

"Tudo o que desejarmos", disse Hael. Seus lábios se curvaram e se separaram, expondo sua própria dentição estranhamente pontiaguda.

Eu realmente não tinha escolha. Se eu não obedecesse, eles simplesmente me denunciariam à polícia.

Mas talvez eu pudesse ganhar algum tempo...

Eu poderia levar Darshan e Harry para fora da cidade. Longe deste inferno.

“Dê-me um dia”, eu disse. “Para colocar meus negócios em ordem.”

"E depois?" Loch ronronou.

“Então... então eu sou sua. Eu serei sua 'assistente'. Farei o que vocês quiserem."

Eu odiei dizer essas palavras. Mas eles estavam certos. Eu não tinha escolha.

Eu não tinha ninguém a quem recorrer - ninguém para cuidar de mim.

A única pessoa que poderia me tirar dessa bagunça era eu.

Com outro daqueles olhares sem palavras, os dois irmãos assentiram e se afastaram.

“Podemos concordar com esses termos, Madeline”, disse Hael.

“Vejo você amanhã, ratinha”, Loch seguiu, sorrindo novamente.

Com isso, me virei e saí correndo do escritório, sem olhar para trás.

Eu bati o botão do elevador várias vezes até que a porta se abriu e pulei para dentro, fechando os olhos.

Prendi a respiração e não soltei até que as portas do elevador se fechassem e eu estivesse descendo.

Desconfortável era pouco para descrever o que os irmãos Dobrzycka me faziam sentir.

Por que diabos eles me queriam por perto?

Por que eu era tão divertida para eles?

O mundo inteiro virou de cabeça para baixo desde que conheci os irmãos Dobrzycka.

Tudo que eu tinha certeza era disso: eu tinha uma última chance de escapar da Cidade Réquiem.

Eu tinha que sair dali.

***

Andei o mais rápido que minhas pernas podiam me levar pelos becos escuros do Bairro Esqueleto.

Sempre me considerei uma sortuda. Dado o que eu passei, eu deveria estar morta em uma vala agora.

Mas parecia que desde que decidi roubar dos Dobrzyckas, minha sorte se esgotou.

Talvez o destino tivesse decidido me foder ou talvez eu estivesse amaldiçoada, mas de qualquer forma, minhas opções não pareciam boas.

Enquanto eu corria pelo beco escuro perto de um strip club, o Dança do Dragão, o brilho verde do letreiro de neon me lembrou dos olhos fascinantes de Loch e Hael.

Quando eles olharam para mim, fui atraída por eles.

Como uma mariposa para uma chama verde-esmeralda.

Eu não sabia o que causou essa reação dentro do meu corpo, mas me apavorou ​​completamente.

Meu celular começou a vibrar e quase o deixei cair em uma poça quando o tirei do bolso com minhas mãos trêmulas.