
Acordo sentindo certeza de que tudo o que vivi ontem deve ter sido um sonho. Um sonho bem estranho.
Uma oferta de emprego que surgiu do nada, num porão secreto e escuro, onde não podem me contar nada sobre o trabalho, mas precisam saber tudo sobre minhas preferências sexuais? A vida real não funciona assim.
Quando penso nisso, mal consigo lembrar como cheguei em casa ontem à noite. Minha memória ficou confusa logo depois que saí do escritório.
Acho que devo ter ficado muito empolgada depois de conhecer o chefe da empresa onde trabalho há anos. Anos em que nunca sequer ouvi o nome “Sr. Sire”.
Tenho uma imagem clara dele na minha mente, no entanto. Ele deve ter sido real. Certo?
Está quente lá fora hoje, então decido usar um vestido leve, amarelo com flores brancas, na altura do joelho.
Penteio meu cabelo longo e preto e prendo num coque bem apertado. Até mesmo um fio de cabelo solto poderia atrapalhar meu trabalho, então sempre me certifico de manter meu cabelo sob controle. Olho no espelho uma segunda vez.
E se não foi um sonho? E se eu chegar no escritório e o Sr. Sire e Richard me levarem para o porão de novo, essa roupa vai estar boa?
Balanço a cabeça e rio baixinho. Definitivamente foi um sonho. “Sr. Sire”, meu cérebro não conseguiu inventar um nome mais realista? E “Richard” é bem comum. O quê, tipo “João da Silva” já estava em uso?
Coloco meus saltos vermelhos e batom vermelho, sabendo que vai combinar bem com minha pele pálida e cabelo escuro. Assim, tenho certeza de que pareço bem feminina e delicada. Tudo bem. Sei que sou mais forte do que pareço.
Posso ser baixinha, mas sou bem atlética. Como não tenho nada para fazer fora do trabalho, costumo ir à academia por longas horas. As pessoas sempre acham que sou fraca, mas aí eu as surpreendo quando tiramos um braço de ferro.
Rio dos meus pensamentos, pego minha bolsa e saio do prédio. Odeio esse lugar. Fica numa parte fedorenta da cidade, nada segura, e o apartamento em si é pequeno. Eu realmente preciso de quatro vezes mais dinheiro. Pena que aquilo não foi real.
Quando chego ao trabalho, cumprimento o porteiro antes de caminhar em direção ao elevador. Quando a porta se abre com um ding, porém, vejo um segurança enorme. É... aquele cara!
“Srta. Woods.” Ele sai, e eu franzo a testa. Então ele me aponta para o outro elevador. “Você não precisa trabalhar no seu antigo emprego hoje. Se estiver pronta, por favor, desça pra encontrar o Sr. Sire.”
Congelo. Não foi um sonho, afinal. O que significa, eu acho, que vou ter que descobrir o que esse novo emprego vai significar para mim.
Sigo o segurança até o elevador. Descemos até o fim, então sigo pelo corredor preto até o escritório preto, onde o Sr. Sire me recebe.
“Srta. Woods, estou feliz que você decidiu voltar e fazer o exame físico.” Ele me olha de cima a baixo por um momento. “Por favor”, acrescenta, abrindo a porta para mim.
Entro. Posso ouvir um leve som mecânico enquanto a porta desaparece atrás de mim, e então estou sozinha novamente, no corredor branco.
Caminho até a clínica, bato e entro.
“Cat, bem-vinda!” Richard acena para dentro, e coloco minha bolsa numa cadeira perto da porta.
“Se você não tem mais perguntas”, diz ele “gostaria de começar o exame imediatamente. Essa é a última coisa que precisamos fazer. Então, depois que você assinar seu contrato, pode começar a trabalhar na mesma hora!”
“Ok”, digo meio sem jeito. Ele sorri, acenando para perto de uma máquina estranha que não notei ontem.
“É aqui que você será examinada.” Paro na frente do que parece exatamente um antigo dispositivo de tortura, a donzela de ferro.
É feita de cromo brilhante, mais ou menos do tamanho e formato de um corpo humano, e tenho quase certeza de que devo entrar e fechar a porta.
Richard parece notar que estou preocupada com isso. “Você não vai sentir nenhuma dor, prometo. Você só entra, fica um pouco quente, e então o exame termina.”
Aceno. Em meio à minha confusão, decido simplesmente fazer isso. Se quisessem me matar, não haveria necessidade de passar por toda essa história sobre emprego e testes. Eu provavelmente já estaria morta.
Subo na máquina, abrindo meus braços e pernas um pouco para encaixar no formato do metal. Agora, definitivamente me arrependo de ter usado um vestido e uma calcinha bem fininha.
Richard fecha as portas. Está um pouco apertado aqui dentro, mas não tenho medo de espaços pequenos, então consigo aguentar.
O som de um scanner começa, e sinto uma cócega na minha testa. Tenho que fechar os olhos quando passa pelo meu rosto; então começa a escanear meu pescoço e ombros.
Abro os olhos. A sensação de cócega vem de um laser azul viajando pelo meu corpo. Quando atinge minha virilha, sinto uma sensação quente e confortável entre minhas pernas. Isso deveria estar acontecendo?
O laser para exatamente nesse lugar. Suspiro. É gostoso, mas é um pouco constrangedor estar ficando excitada num exame médico.
“Parece haver um problema. Vou consertar imediatamente”, ouço Richard dizer. Balanço a cabeça. Justo quando o laser está na minha virilha!
Ouço-o trabalhando atrás de mim, movendo algo na parte de trás da máquina. Então, de repente, as “pernas” da máquina começam a se abrir, com as minhas ainda dentro.
Olho para baixo, confusa. Não posso me mover ou fazer nada enquanto as pernas se abrem cada vez mais. Estou quase fazendo espacate agora. Ainda bem que sou flexível; caso contrário, isso seria bem doloroso!
“Desculpe por isso. Preciso alcançar um lugar”, Richard diz em tom de desculpa atrás de mim. Então ouço um som metálico baixo, como se Richard estivesse abrindo um compartimento ou algo assim.
“O laser vai continuar; não se assuste”, Richard me avisa. Aceno o máximo que posso com minha cabeça dentro do metal, então percebo que ele não pode me ver.
Quero perguntar o que estava errado, mas assim que abro a boca, sinto algo estranho na minha calcinha. Tipo... um puxão. Então, sinto algo frio roçar sobre a minhas buceta, por baixo da calcinha. Estremeço.
Essa máquina está mesmo com defeito! Não tenho ideia se devo mencionar ou não. É de alguma forma prazeroso, e seria muito mais constrangedor falar sobre isso do que simplesmente deixar acontecer.
Posso sentir minha respiração acelerando um pouco enquanto o toque da máquina se move bem devagar pelas minhas partes íntimas, depois mais rapidamente pelo resto do meu corpo.
Finalmente, as pernas mecânicas se fecham de repente, a porta abre, e posso sair.
“Desculpe por isso.” Richard me ajuda a sair, antes de sorrir para mim novamente. “Você passou no exame, e o questionário está ótimo. Pode voltar ao escritório do Sr. Sire agora e assinar o contrato, se quiser aceitar o emprego.”
“Eu...” Olho por cima do ombro, então me inclino e sussurro: “Esse trabalho é perigoso? Por que estão pagando tanto?”
“É simples.” Se é que é possível, Richard sorri ainda mais para mim. Pela primeira vez, me parece assustador. “Trabalhamos com animais que podem ficar bem agressivos se não os tratarmos corretamente.”
Aceno devagar. Ainda parece bom demais para ser verdade. E o sorriso largo demais de Richard não está ajudando.
Quando chegamos à porta no fim do corredor, Richard a abre para mim e entro. O Sr. Sire levanta o olhar quando entro e me sento.
“Você se decidiu?” pergunta ele com sua voz calorosa.
Aceno devagar. “Posso ver o contrato antes de assinar?”
“Claro.” Ele me entrega um pedaço de papel bem longo, e franzo a testa. Não consigo ler tudo isso na luz fraca do escritório, especialmente com o Sr. Sire me encarando o tempo todo.
Ele acena. “Essas são todas coisas legais que tenho que incluir. Se algo acontecer com você durante seu trabalho, receberá cuidados melhores aqui do que em qualquer outro lugar. Somos especializados.”
“Apenas juridiquês.” O Sr. Sire parece irritado com isso e então, aceno rapidamente. “Quer assinar?” pergunta ele.
Ele me entrega uma caneta bem pesada e de aparência cara. Pego-a.
Qual é o pior que pode acontecer?
Engulo em seco e coloco minha mão no papel. Mas então, justo quando estou prestes a assinar, paro.
“Você disse algo sobre morar aqui. Isso ainda é possível?”
“Claro. Seu apartamento ficará bem ali.” Ele aponta para outra porta que eu não tinha notado antes. Considerando como as portas parecem aparecer e desaparecer por aqui, talvez haja uma razão para isso.
“Nossas instalações de moradia têm todas as melhores coisas que você poderia querer” explica ele. “Você tem acesso a uma piscina, uma instalação de bem-estar, uma sauna privativa e uma academia... caso precise de uma.”
Posso ouvir uma leve presunção na voz dele com a última observação. O que isso deveria significar?
Olho para baixo novamente, para o contrato, ainda me sentindo insegura. O Sr. Sire se inclina para frente e coloca a mão sobre a minha. Quando olho para ela, uma estranha sensação quente começa a vir do lugar que ele está tocando, embora sua pele ainda esteja fria.
“Você se preocupa demais, Srta. Woods. Escolhi você pra este trabalho por uma razão, e nunca estou errado. Você vai gostar do seu novo trabalho. Na verdade, tenho certeza de que vai... amar.” Novamente, ele soa bem presunçoso sobre algo.
Contra meu bom senso, assino o contrato.
Quando largo a caneta, o Sr. Sire solta uma risada estranha. Ele parecia realmente confiante de que eu ia assinar, mas parece aliviado agora que assinei.
Ele se levanta, vira-se para um armário vermelho, puxa uma garrafa brilhante cheia de algum tipo de líquido escuro e enche um copo.
“Beba isso, Srta. Woods. Vai ajudar a acalmar seus nervos”, explica ele. Não quero ser rude e recusar, então engulo tudo de uma vez, tentando não engasgar quando percebo que tem gosto de algo que morreu e ficou embalsamado em rum.
“Agora vá, ratinha”, diz ele. Olho para ele confusa. Ele esclarece: “O trabalho começa agora. Vá começar os testes na sua primeira cobaia.”
Ele me empurra para fora da sala e caio de volta no corredor branco. Viro-me para ver a porta desaparecendo na parede desta vez. Ainda não consigo descobrir como essa tecnologia funciona.
“Estou feliz que você decidiu ficar”, Richard cumprimenta bem atrás de mim. Estremeço; não esperava que ele ainda estivesse me esperando.
“Vou te mostrar o vestiário”, diz ele. “Você pode continuar usando sua própria roupa se preferir, mas eu aconselharia se trocar. Algumas das nossas cobaias são sensíveis a roupas, então fornecemos roupas feitas pras preferências deles.”
Ele me leva a uma sala pequena a apenas algumas portas de onde entrei no corredor. Há dez armários e um banco onde acho que posso sentar para me trocar.
“Cada armário numerado corresponde ao quarto de uma cobaia. Vamos começar com a cobaia número um, então, se você se sentir confortável, por favor, troque para as roupas que encontrar no armário número um.”
“O que... exatamente devo fazer com essa cobaia?” pergunto. Como sempre, Richard sorri.
“A primeira tarefa é simples. Você fica amiga dela, até que ela esteja pronta para ter seu sangue coletado. Isso vai levar algum tempo; nossa última especialista precisou de três semanas”, explica ele.
Aceno. Ele se vira para voltar ao corredor. “Por favor, decida se quer se trocar. Vou esperar na frente da porta número um.”
Depois que ele sai, abro o armário e franzo a testa. Dentro há uma saia lápis preta até o joelho e uma blusa branca. Richard parecia estar dizendo que eu ficaria desconfortável com as roupas, mas isso parece uma roupa de escritório bem padrão.
Troco-me rapidamente, e para minha alegria, tudo serve perfeitamente. Ok, talvez a blusa decotada mostre meus seios um pouco mais do que eu esperaria, mas tudo bem.
Saio do vestiário e encontro Richard na frente da porta número um. Ele brinca com as chaves enquanto olha pela fresta entre a porta e a parede, como se estivesse verificando algo.
“Esta é nossa cobaia mais fácil. Bem dócil. Tenho certeza de que você vai conseguir sangue rapidinho. Se precisar de alguma coisa, estarei na clínica.” Ele me entrega uma tigela pequena com os instrumentos que preciso. “Ah, e... Cat?”
“Sim?” Olho para ele, expectante.
Estou mais do que preocupada agora, mas deve haver uma razão para todo esse sigilo, afinal. Assinei o contrato. A única opção agora é seguir em frente.
Richard me entrega a chave e me deixa sozinha.
Respiro fundo. Então insiro a chave, giro-a e abro a porta apenas o suficiente para entrar com cuidado.
Quando vejo a cobaia, solto um suspiro.
O. Que. É. Isso???