
11 de novembro de 2017
Lumen
"Raphael, para onde vocĂȘ estĂĄ me levandoâ" eu exigi, mas antes que eu pudesse terminar a pergunta, ele estava me puxando para uma sala ao lado.
Ele fechou a porta.
Eu olhei em volta; era um escritĂłrio. Provavelmente de Gabriel.
"Excelente. Estamos em um escritĂłrio. VocĂȘ quer me dizer o que estĂĄ fazendo?"
"Eu sĂł precisava ficar sozinho com vocĂȘ", ele respondeu, seus olhos dançando com travessura.
"Quantas vezes preciso dizer que nĂŁo estou interessada, para que vocĂȘ coloque isso em sua cabeça?" Eu perguntei asperamente, esperando que quanto mais rude eu fosse, menos eu sentiria o desejo no fundo do meu nĂșcleo. Aquele que ansiava por ele.
"Eu sei que vocĂȘ estĂĄ mentindo. Eu posso ver atravĂ©s de vocĂȘ."
"Pela milionésima vez, não estou mentindo... " Ele me agarrou antes que eu pudesse terminar, me empurrando contra a porta fechada. Ele pressionou seu corpo contra o meu.
Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria arrancado sua cabeça com uma mordida.
Nenhum homem consegue me empurrar, se pressionar contra mim, sem meu pedido explĂcito.
Mas, o Raphael...
Era como se ele pudesse ouvir meu corpo pedindo por ele.
Ele estava alimentando exatamente o que meu desejo ansiava.
Ele moveu o rosto de volta para o centro, de modo que ficamos olhando um para o outro, a apenas centrĂmetros de distĂąncia.
Eu queria que ele me beijasse. NĂŁo, eu precisava que ele me beijasse.
Eu precisava provar seus lĂĄbios, senti-los contra os meus, senti-los na minha pele, descendo pelo meu corpo.
Antes que eu pudesse fantasiar por mais um segundo, sua mão moveu-se para o meu peito. Eu engasguei quando ele pressionou a palma da mão sobre o meu coração. Havia apenas o tecido fino da minha blusa entre nós.
"Seu coração estå acelerado."
"NĂŁo estĂĄ."
Em menos de um segundo, ele agarrou minha mĂŁo e a empurrou contra meu prĂłprio peito, com a palma para baixo.
Eu podia sentir meu batimento cardĂaco e, sem dĂșvida, estava acelerado.
"Se seu corpo estĂĄ reagindo assim agora, imagine o que acontecerĂĄ durante a temporada de acasalamento. "
Ele estava olhando para mim com tanta intensidade, com tanta fome, e tudo que eu queria fazer era ceder.
Eu sĂł queria deixar minha mente ir, deixar meu corpo assumir o controle... entĂŁo, ele venceria. Eu nĂŁo poderia deixĂĄ-lo vencer.
Eu o empurrei para longe de mim, caminhando atĂ© a parede mais distante da sala."VocĂȘ tem que me deixar em paz."
"Eu nĂŁo posso te deixar em paz."
"Por quĂȘ?"
"Eu te disse. Eu nĂŁo consigo parar de pensar em vocĂȘ. Eu nĂŁo consigo parar de desejar vocĂȘ, querida. Ă sĂł vocĂȘ."
A maneira como ele falou, tĂŁo genuĂno, teria me enganado se eu fosse apenas uma garota. Mas, eu nĂŁo era.
Eu estava viva hĂĄ muito tempo, tinha visto muito, para ser enganado por Raphael Fernandez.
"NĂŁo me importo", respondi.
"Eu nĂŁo posso ter mais ninguĂ©m", ele continuou, se aproximando de mim."Todo ano, toda vez que eu enlouqueço, eu perco controle. Sabe? Enlouquecer de luxĂșria, de desejo? Tudo que eu quero Ă© vocĂȘ, Eve. Mas vocĂȘ nunca estĂĄ lĂĄ."
"E eu nĂŁo estarei de novo desta vez."
"Eu nĂŁo quero as outras garotas, vocĂȘ nĂŁo vĂȘ? Eles nĂŁo fazem nada por mim. Nada. Mas nĂŁo tenho outra escolha. VocĂȘ nĂŁo me deixa outra escolha."
"Eu as tenho. Mas nunca Ă© satisfatĂłrio. Nunca Ă© o que eu preciso. VocĂȘ Ă© a Ășnica pessoa que preciso."
"VocĂȘ transou com elas? As outras meninas?"
Ele assentiu."Mas eu me odeio depois. VocĂȘ tem que acreditar em mim. Eu sei que nĂŁo estĂĄ certo, eu sei que nĂŁo deveria ceder, mas Ă© como... Eu nĂŁo consigo me controlar. Quando estou assim, tudo que preciso Ă© sexo. E se eu resistir, isso afeta tudo. Afeta meu papel como Alfaâ"
"Oh, cale a boca! NĂŁo me venha com aquele pobrezinho da histĂłria do Alfa do MilĂȘnio, Raphael." Eu corri em direção Ă porta, cansada de falar com ele.
No segundo que ele me disse que estava transando com outras garotas, minha excitação estourou como uma bolha.
A fantasia acabou.
Mas, antes que eu pudesse virar a maçaneta, Raphael agarrou meu cotovelo. Ele gentilmente me virou para que eu ficasse de frente para ele novamente."VocĂȘ estĂĄ enfurecida."
"Por quĂȘ?"
"VocĂȘ nĂŁo consegue." Ele disse suavemente, baixinho, e suas sobrancelhas se ergueram em questionamento."VocĂȘ nĂŁo consegue?" ele repetiu.
"Isso nĂŁo Ă© da sua conta", eu rebati. Mas era verdade.
Eu não conseguia ficar excitada... não podia fazer sexo... com mais ninguém. E não era justo que ele pudesse.
Ele estendeu a mĂŁo, colocando uma mecha do meu cabelo atrĂĄs da minha orelha e exalou.
O gesto me pegou desprevenido. Eu esperava que ele sorrisse para mim, me desse um de seus olhares arrogantes e me empurrasse contra a parede novamente.
"Eu nĂŁo queria te chatear."
Eu revirei meus olhos."NĂŁo estou chateada."
"Esta temporada, nesta Haze, serĂĄ diferente, Eve. Porque nĂłs dois estamos em Lumen. Queremos um ao outro. NĂłs precisamos um do outro." Ele pegou minha mĂŁo e desta vez eu nĂŁo me afastei.
Havia algo nas palavras que ele dizia, na maneira como olhava para mim... Era como se ele fosse uma pessoa diferente.
"Por que vocĂȘ veio aqui?" Eu sussurrei.
"VocĂȘ jĂĄ sabe a resposta, nĂŁo sabe?" Ele me puxou para ele, e no segundo seguinte seus lĂĄbios estavam nos meus.
O beijo foi tĂŁo gentil, mas depois mudou. O fogo estava de volta, queimando dentro do meu nĂșcleo - o beijo tĂŁo quente, tĂŁo urgente, que eu estava vendo estrelas.
EstĂĄvamos nos agarrando, precisando nos aproximar, e entĂŁo senti a parede atrĂĄs de mim.
Raphael tinha me empurrado contra ele, e agora seu corpo estava contra o meu. Eu podia sentir sua dureza, mas nĂŁo era o suficiente.
Eu queria sentir mais disso. Tudo isso.
"VocĂȘ Ă© tĂŁo sexy", ele sussurrou entre beijos, e eu abri meus olhos para vĂȘ-lo. Seus profundos olhos castanhos estavam olhando para mim, era um olhar que eu jĂĄ tinha visto muitas vezes antes.
Eu me libertei de seu aperto. Eu corri pela sala."NĂŁo. NĂŁo, Raphael. Isso nĂŁo pode acontecer. Eu nĂŁo vou deixar."
"Do que vocĂȘ estĂĄ falando?" ele exigiu saber, passando a mĂŁo pelos cabelos grossos.
"VocĂȘ nĂŁo pode me ter. Eu nĂŁo posso deixar."
"VocĂȘ nĂŁo estĂĄ fazendo nenhum sentido."
"Deixe-me ser clara. Eu nĂŁo quero, e nunca irei, querer vocĂȘ. NĂŁo concordo com nada que envolva vocĂȘ. VocĂȘ quer me ter? Pode ter. Mas vai ser contra a minha vontade."
"Eu nunca tive uma mulher contra a vontade dela em minha vida", Raphael trovejou.
Eu sabia que isso o machucaria. Foi por isso que disse isso.
Lobisomens - e Alfas, especialmente - eram contra o estupro por mais tempo do que eu.
Para eles, o estupro significava uma incapacidade de atrair amor. Isso significava que o lobo em questĂŁo era inferior. E os lobisomens nĂŁo eram nada sem seu complexo de superioridade.
"NĂŁo entendo o motivo de vocĂȘ estar fugindo de mim", disse ele.
Ele estava dando um passo em minha direção novamente, mas eu estava cansada desse jogo.
NĂŁo importava o quĂŁo molhada de desejo eu estava, o quanto eu ansiava por seus lĂĄbios de volta nos meus, nada disso importava.
Abri a janela atrĂĄs de mim."VocĂȘ nĂŁo tem que entender", eu disse a ele antes de pular.
Eu podia ouvi-lo correndo para a janela enquanto eu agarrava um galho de ĂĄrvore e cambaleava para frente, pulando para uma ĂĄrvore diferente.
Mas, não me importei. Eu balancei minha cabeça livre desses pensamentos, livre de qualquer coisa a ver com Raphael Fernandez.
Eu estava em Lumen para fazer uma coisa: proteger as irmĂŁs Morgan.
Ainda assim, a data tocou em minha mente.
Era 11 de novembro.
Eu tinha apenas mais um mĂȘs e meio.
Eu estava andando por Woodsmoke, o bairro dos Morgan, quando vi o parquinho ao longe.
Aumentei o passo, minhas botas batendo no chão até chegar ao banco do parque.
"VocĂȘ veio", eu disse para o homem alto de meia-idade no banco.
Ele tinha o cabelo bem cuidado e um sorriso caloroso e usava os Ăłculos mais nerd que eu jĂĄ vi.
"O quĂȘ, essa Ă© a Ășnica saudação que recebo?" ele perguntou.
Eu sorri e me sentei ao lado dele."Ă bom ver vocĂȘ, Kim."
"à bom te ver. Tå tudo bem?" Kimbringe me conhecia hå muito tempo. Séculos. Então, ele me conhecia bem o suficiente para saber que eu nunca liguei só para bater papo.
"Sim. Eu só... estava procurando informaçÔes."
"NĂŁo Ă© para isso que serve a sua ala?"
"Isso é sobre a cabeça de Killian."
"Estou ouvindo."
"à sobre... " Eu parei, olhando Kimbringe nos olhos. Ele acenou com a cabeça, entendendo imediatamente.
"Eu não ouvi nada de novo sobre ele. Não até o momento, de qualquer forma."
Eu exalei."VocĂȘ vai me avisar se ficar sabendo de algo?"
"Claro, Eve", Kimbringe respondeu, dando um tapinha na minha mão."Ah, antes que eu esqueça..."
Ele se levantou, batendo nos bolsos de ambos os lados de sua jaqueta antes de encontrar o que estava procurando.
Ele enfiou a mĂŁo e tirou uma pequena sacola de presente. Como cabia dentro de seu bolso, eu nĂŁo sabia.
Pessoas como Kimbringe, Divindades, eles possuĂam mais magia do que qualquer outro ser. Eles podiam fazer quase tudo. Incluindo sacolas de presentes adequadas em seus bolsos, aparentemente.
Ele o estendeu para mim.
Eu olhei para ele e ele soltou uma risada quando viu minha expressĂŁo."Abra, vocĂȘ vai gostar."
"Se Ă© batom rosa, nĂŁo somos mais amigos", eu disse, pegando a sacola de presente dele e colocando minha mĂŁo dentro.
Peguei um frasco de comprimidos. Mais comprimidos R21.
"Obrigado, Kim." Eu balancei a cabeça para ele. Eu tinha apenas alguns comprimidos restantes no frasco que eu tinha na casa dos Morgan, e não havia exatamente um posto em Lumen para eu recarregar.
"Para que servem as divindades positivas?" ele perguntou com um sorriso."Mas nĂŁo Ă© isso. HĂĄ algo mais aĂ."
"O quĂȘ?"
"Algo que vocĂȘ vai precisar em breve. Nunca os perca de vista, estĂĄ me ouvindo?" Olhei para Kimbringe, querendo revirar os olhos com a urgĂȘncia em sua voz. Mas, eu tinha juĂzo.
Kim era uma divindade poderosa, com certeza, mas ele tambĂ©m era a Ășnica pessoa em minha vida que tinha sido uma fonte constante de ajuda.
EntĂŁo, coloquei a mĂŁo de volta na bolsa, tateando. NĂŁo senti nada no inĂcio, depois foi como se eles simplesmente aparecessem. Eles eram duros, de vidro, pensei. Havia cinco deles. NĂŁo, seis.
Eu puxei um. Era um frasco de vidro. Como o tipo que um aluno do ensino mĂ©dio usaria na aula de quĂmica.
Mas eu, eu vi apenas um uso para isso em minha vida.
Para transportar sangue.
"Kim, para que serve isso?" Eu perguntei, voltando-me para ele. Mas, não havia ninguém no banco.
Kimbringe havia sumido.