Raven Flanagan
NOVA
Logo em seguida, uma voz feminina macia e atraente quebrou a tensão sexual que estava no ar. "Ah, aí está você, Alek. Procurei você por toda parte."
Alek ficou visivelmente tenso ao ouvir aquela voz. Logo depois, ele inclinou a cabeça para o lado quando uma mulher Dragaken alta e elegante colocou a mão em seu ombro. Ela caminhou até o lado dele e, em seguida, fixou os olhos em mim.
Eu já estava olhando para ela, incapaz de pensar.
Ela usava um vestido preto elegante e de bom gosto, com detalhes em ouro que se destacavam em contraste com sua pele prateada. Os cabelos azuis perolados caíam em uma trança complexa, porém sofisticada, pelas costas. Seus chifres eram curvados para fora, maiores e mais longos do que os de Alek, com anéis de ouro na base. Eles tilintavam como sinos dos ventos a cada movimento sutil que ela fazia.
Mas suas roupas estavam longe de ser a coisa mais impressionante sobre ela. Era o broche dourado em seu vestido, representando o símbolo do Senado Intergaláctico: uma estrela radiante surgindo entre duas asas que se curvavam ao redor dela como um escudo.
Essa mulher era uma senadora Dragaken. Um dos títulos mais altos que um ser de qualquer planeta poderia ter.
"E quem é sua nova amiga?" A julgar pela sua voz, imagino que seus discursos no senado sempre prendiam a atenção da multidão.
Eu poderia passar o dia inteiro ouvindo-a falar.
Os olhos de Alek me encontraram novamente. Ele arqueou uma sobrancelha e, de repente, percebi que a mulher Dragaken estava falando de mim. Toda a cor do meu rosto se esvaiu.
Se essa mulher mais velha estava falando com Alek, ela deveria ser a mãe dele. E, se ela era mãe dele, então isso significava que...
"Nova!" A voz do meu pai reverberou pelas paredes, ricocheteando no interior do meu crânio como uma bala perdida.
Logo depois, vi meu pai surgir de trás da senadora Dragaken. Um borrão de cabelos pretos recentemente salpicados de cinza e pele marrom-dourada apareceu na minha frente, e seus braços me envolveram, esmagando o ar que restava nos meus pulmões.
Com o rosto espremido contra o meu, meu pai não parou de falar. "Onde você esteve? Estou ligando para o seu comunicador há meia hora! Achei que você tinha perdido o ônibus ou o embarque ou se perdido no terminal."
Retribui seu abraço com rigidez, mais por obrigação do que por qualquer outra coisa. Dava para contar nos dedos das mãos o número de vezes que nos abraçamos desde que eu era criança, e cada novo abraço só servia para aumentar a dor de sua ausência. Agora, seu abraço parecia tão estranho quanto os Dragaken ao meu lado.
"Estou bem, pai,” disse. Quando me afastei, acrescentei: "Me distraí com as vistas da nave quando embarquei. Sinto muito." E tentando ficar bêbada, pensei.
"Ah, não tem problema. É muita coisa para absorver." Ele balançou vigorosamente a cabeça e dispensou minhas desculpas.
Dei uma olhada em sua aparência, desde o terno preto elegante até o novo brilho em seus olhos castanhos que se espelhavam nos meus. Eu não o via assim desde que minha mãe foi embora. O ressentimento, que havia diminuído depois do álcool, ressurgiu de repente, se esgueirando dentro de mim como um animal prestes a atacar. É claro que ele estava feliz. Ele sempre parecia mais feliz longe de nós. Longe de mim.
"Nossa, como eu sou mal-educado!" Ele deu um tapa na testa e depois olhou para todos os presentes. A nobre Dragaken esperava pacientemente, observando nosso abraço, e de repente me dei conta de como nossas ações devem parecer triviais para eles.
Sem mencionar a indecência de meu primeiro encontro com meu meio-irmão. Meu rosto ficou vermelho. Essa foi a pior maneira de conhecer um novo membro da família.
"Khalla, Alek" - meu pai levantou o braço no ar como se estivesse me apresentando - "esta é minha filha, Nova!" O orgulho em sua voz soava cômico até mesmo para meus ouvidos humanos.
"A Nova e eu já tivemos o prazer de nos conhecer,” comentou Alek. Uma nova onda de culpa me invadiu e fiquei tensa, mas ele não disse mais nada.
Meu pai manteve uma mão em meu ombro enquanto encarava Alek. "É mesmo?,” gritou com uma empolgação desmedida.
Incapaz de ler os olhos vazios de Alek, eu me precipitei. "Sim. Eu tropecei quando entramos na hiper onda e ele me segurou para que eu não caísse de cara no chão.
"Que ótimo,” Khalla comentou, mantendo uma postura elegante que eu seria capaz de imitar. Seus olhos ficaram azuis quando ela olhou para o filho. "Muito bem. Talvez vocês dois se deem bem."
A pressão em meu ombro sumiu subitamente. Olhei para a esquerda e vi meu pai olhando para o computador de pulso enquanto esfregava o pescoço com a outra mão. Ele respirou por entre os dentes e deixou escapar uma espécie de assobio.
"O que foi, querido?" Khalla perguntou, em um tom frio e contido.
"Era da recepção. Houve um problema com o quarto da Nova."
Enfim, minha salvação. Acho que as estrelas finalmente se cansaram de rir às minhas custas e aceitaram me mandar embora - coberta de vergonha e da sensação molhada vinda dos meus desejos doentios.
"Algum problema?" Os olhos de Khalla foram invadidos por um tom Carmesim, mas logo ficaram azuis.
"Eles superlotaram as passagens da Terra." Meu pai cravou os dedos em meu ombro enquanto me sacudia. "Sinto muito, Nova."
"Tudo bem,” eu disse, virando-me para encará-lo. "Acho que é melhor eu..."
Antes que eu pudesse dizer mais uma palavra, a máscara de compostura de Khalla caiu. Sua longa cauda em forma de cobra balançou agressivamente, estalando no ar como um chicote, e suas presas refletiram a luz enquanto ela soltava um rosnado baixo.
"Como eles ousam errar a reserva de uma senadora intergaláctica? Vou acabar com eles!"
Vários seres no convés ouviram a confusão e olharam em nossa direção, mas, ao notarem o broche do senado que Khalla usava, logo desviaram o olhar.
"Não se preocupe, minha flor,” meu pai disse, virando-se para segurar o braço de sua esposa. "Vamos resolver isso."
Pela primeira vez, notei a diferença de altura entre eles. A senadora era mais alta do que meu pai, e ele tinha que inclinar a cabeça para trás para olhá-la nos olhos. Mas ele a olhava com tanta adoração que achei que não se importava.
Quando foi a última vez que eu o vi tão feliz?
Nunca. Nem mesmo quando mamãe ainda estava conosco.
Alek limpou a garganta. O som repentino me deu palpitações.
"Se não for muito presunçoso da minha parte apresentar uma solução, e se não houver oposição, eu não me importaria de dividir meu quarto com a Sra. Ramos. É uma suíte grande e, afinal, somos uma família agora."
Uma pausa tão extensa quanto o universo nos engoliu. Senti um aperto no estômago, que se retorcia como um vulcão em erupção. Cerrei os dentes ao sentir minha pele arder e meu corpo se enrijecer.
Nossos olhos se encontraram e a tensão que me ligava a Alek ressurgiu. O calor formigante retornou entre minhas pernas. Pensamentos impróprios adentraram meu cérebro como vermes e se fixaram com força. Ele é seu irmão, repreendi-me, afastando mentalmente os vermes com pouco sucesso. ~Não de sangue… mas isso não faz diferença para os humanos.~
"Não quero atrapalhar,” deixei escapar quando o silêncio se prolongou.
Os olhos azuis e frios de Khalla se arregalaram quando ela recuperou a compostura, inalando com firmeza e juntando as mãos.
"Imagina! Alek tem razão, somos uma família agora. Talvez seja uma boa oportunidade de vocês se conhecerem melhor." Ela disse em um tom agudo. "E será temporário, pois vou falar sobre esse assunto com o Capitão Hux'lon antes do jantar. Eles pagarão por esse insulto contra o Senado Intergaláctico."
"Isso mesmo, mostre a eles quem manda, querida,” meu pai a incentivou.
Uma camada fria de suor fez cócegas em minha pele, enquanto o pavor percorria todo o meu corpo. Se não fosse pela gravidade superficial que mantinha meus pés grudados no chão, eu teria me desmanchado em pedacinhos.
Como Alek teve coragem de sugerir algo assim depois do que aconteceu entre nós? A ideia de ficar presa e sozinha com ele não me trouxe nenhum pensamento puro à mente.
"É muito gentil de sua parte oferecer seu quarto para dividir com minha filhinha, Alek,” disse meu quando finalmente saí do meu transe. "Eu agradeço de verdade, e tenho certeza de que a Nova também."
Você não diria isso se tivesse nos visto juntos há dez minutos.
"Não sou uma garotinha, pai,” protestei, meio irritada. "Tenho vinte e oito anos. Ou você se esqueceu disso enquanto estava ocupado salvando o espaço?" E deixando nossa família desmoronar, acrescentei mentalmente.
Ele se virou, piscando para mim. "Ei, não me lembre de que estou ficando velho, está bem? Se algum dos jovens cadetes do meu esquadrão a ouvisse dizer isso, eles teriam um dia de folga."
Khalla riu educadamente da piada do meu pai e colocou uma palma com garras bem cuidadas em seu ombro. Ela compartilhou um breve olhar com Alek antes de voltar sua atenção para mim.
"Nova, tenho certeza de que você está cansada da viagem e da sua primeira vez entrando em hiper onda. O jantar é daqui a algumas horas, se você quiser tomar um banho. Alek, você pode acompanhá-la até o quarto?,” ela perguntou.
"Com certeza." Ele deu um passo à frente sem olhar para mim.
"Foi um grande prazer conhecê-la, Nova,” disse Khalla, com anéis dourados tilintando em seus chifres enquanto tocava gentilmente a parte superior do meu braço. "Seu pai fala muito bem de você e estou ansiosa para saber mais no jantar."
"D-digo o mesmo,” gaguejei.
Estrelas, eu não sei como falar com uma senadora. Devo estar passando vergonha. Evitei o olhar do meu pai, certa de que o aborrecimento estava se infiltrando na minha expressão. No mínimo, ele poderia ter me avisado que sua nova esposa era uma ~senadora~ intergaláctica.
"Vejo você no jantar." Meu pai acenou com a cabeça enquanto passava pelo braço de sua nova esposa. Ele se inclinou e sussurrou: "E não se atrase. É um daqueles jantares chiques".
"Tudo bem. Vejo você mais tarde." Fiquei parada ali enquanto meu pai e a senadora Velorum desapareciam no convés lotado. Ele parecia um cachorrinho seguindo sua nova dona, feliz por estar aqui com ela.
Suponho que essa era a vantagem de se casar e, de quebra, ser promovido. Ele tinha encontrado sua felicidade e mamãe a dela. Só faltava eu.
Senti a presença de Alek perto de mim. O formigamento entre minhas pernas reapareceu. Não era felicidade, mas talvez aliviasse a solidão esmagadora que me consumia, mesmo que por pouco tempo.
"Se você me seguir, terei prazer em levá-la até o depósito de bagagens e mostrar-lhe o quarto." A voz dele chegou aos meus ouvidos, causando um arrepio lascivo em mim.
Ele é seu meio-irmão, lembrei a mim mesma com firmeza enquanto nos afastávamos. Me esforcei para não olhar para a cauda dele ou imaginar as coisas que ele poderia fazer com ela.
Essa seria a viagem mais longa da minha vida.