Um Bebê para Dana

"O que está acontecendo? Por que me pediram para vir aqui?" Se a voz rouca de Jake não entregava o quanto ele estava impaciente, o bater constante dos seus dedos na mesa certamente entregava.

Jake Rayburn nunca foi um homem paciente e esperava que as pessoas fossem pontuais. O fato de o advogado do seu avô ter chegado tão tarde fez com que ele se contorcesse na cadeira.

Ele nunca tinha conseguido entender por que tantos advogados tinham cadeiras tão pequenas e desconfortáveis nos seus escritórios. Jake tinha comprado assentos superconfortáveis para os seus clientes de Nova York.

Ou talvez o problema fosse o seu tamanho. Jake era um homem alto e musculoso. Ele deslocou seu peso e girou para poder esticar suas longas pernas.

"Sr. Rayburn, desculpe por deixá-lo esperando,” disse o advogado, afrouxando a gravata enquanto contornava Jake para chegar à sua cadeira do outro lado da mesa.

Uma gota de suor escorreu por sua bochecha, embora o ar-condicionado estivesse ligado.

Tudo isso foi suficiente para fazer Jake enrolar os lábios para dentro.

Mas ele ficou quieto. Essa reunião só poderia ser sobre a herança que ele receberia após o falecimento de seu avô.

"Antes de mais nada, sinto muito por sua perda, Sr. Ray..."

"Pode me chamar de Jake."

O advogado apertou os lábios e fez um breve aceno de cabeça. "Então insisto que me chame de Allen."

"Presumo que esta reunião seja sobre o testamento do meu avô, Allen?"

"Isso mesmo." O advogado folheou os papéis em sua mesa.

O homem obeso estendeu uma mão trêmula sobre a mesa e Jake pegou os papéis.

"Seu avô te deixou uma soma total de vinte milhões de dólares."

Jake sentiu os músculos do rosto e dos ombros ficarem frouxos. Ele teve que piscar para evitar que sua visão ficasse embaçada. "Você disse vinte...?"

"Milhões, sim, disse." O sorriso do advogado parecia ser mais de alívio do que de prazer. "Seu avô sabia das suas ambições de abrir seu próprio escritório de advocacia um dia. Este é o seu ingresso."

Jake se levantou e começou a andar de um lado para o outro. "Ele sabia?"

Allen se recostou em sua cadeira. "Com as míseras ações que você possui, ele sempre soube que você tinha pouca esperança de sair do controle dele e dos sócios."

Com mais de vinte milhões de dólares, Jake poderia finalmente abrir sua própria empresa e ser seu próprio patrão. Contanto que conseguisse convencer seus clientes a se mudarem com ele, poderia começar a trabalhar sozinho em pouco tempo.

Jake fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás. "Obrigado, vovô. Obrigado por tudo."

"Há apenas, uh, uma pequena condição..."

Jake abriu os olhos e virou para Allen. O velho advogado estava suando novamente.

"Condição?"

"Bom, tem uma cláusula no testamento do seu avô." Allen forçou uma risada e puxou o colarinho.

"Que cláusula?,” perguntou Jake, se inclinando para encarar o advogado.

Allen limpou a garganta. "Para receber sua herança, você precisa estar casado."

Jake estreitou os olhos. "Como é?"

"É isso mesmo, Jake. Leia o contrato, está claro como o dia."

Jake olhou para o testamento escrito à mão, e a caligrafia refinada do seu avô o encheu de tristeza e nostalgia, além de raiva em estado bruto.

"Ninguém pode forçar ninguém a se casar, isso não existe. Que história é essa, Allen? Você disse a ele que ele poderia fazer isso? Que tipo de circo você está montando aqui?"

"Seu avô fez o testamento há alguns anos, Jake, por conta própria e contra o meu conselho, devo acrescentar."

"Você está me dizendo que a única maneira de conseguir o dinheiro é me casando?"

O advogado enxugou a testa com as costas da mão. "Sim, mas a boa notícia é que você só precisa estar casado por um ano. Depois disso, você recebe o dinheiro de qualquer forma."

"Isso é loucura." Jake jogou o testamento na mesa de Allen e bateu no abajur do advogado enquanto se movia em alta velocidade. "Ele era louco. Dane-se o dinheiro, eu não vou me casar. Casamento é para gente idiota."

Jake olhou para o porta-retratos na mesa de Allen. O advogado estava abraçado a uma mulher e a um rapaz mais jovem. "Sem ofensa."

"Só depende de você, Jake. Como você disse, ninguém pode forçá-lo a se casar. Mas nós dois sabemos que essa é a única maneira de você conseguir abrir seu próprio escritório."

Com uma carranca, Jake se recostou na pequena cadeira. "Allen, deve existir outra maneira de conseguir esse dinheiro."

"Sinto muito, Jake. O testamento é inflexível, não há como contornar isso." O advogado deu uma risadinha. "Quer dizer, acho que você sempre pode comprar uma esposa."

Jake de repente abriu um sorriso. "Meu Deus, Allen, você é um gênio! Sim, é isso. Vou pagar alguém para se casar comigo."

"Jake, eu só estava brincando..."

"Bom, eu não estou."

"Mas como você vai convencer alguém a se casar com você para conseguir a herança? Quem abriria mão de um ano da sua vida para isso?"

"Eu pagarei."

"Com que dinheiro? Sei que você ganha bem, mas isso sairia muito caro."

Jake apontou para o contrato. "Vou prometer parte da herança. Quinhentos mil. Isso é motivação suficiente para qualquer um se casar, e para ficar fora da minha vida depois."

"Você está falando sé–?"

"Seríssimo. Faça os contratos e espalhe a notícia. Alguém por aí estará disposta a fazer isso pelo dinheiro. A maioria das mulheres é gananciosa. É por isso que elas sempre tentam enganar um homem para ele se casar com elas."

Allen franziu a testa. "O quê? Nem todas as mulheres são assim, Jake."

Jake voltou a se sentar e esticou as pernas, sorrindo. "Precisaremos de um acordo pré-nupcial para acompanhar o contrato que diz que nos divorciaremos depois de um ano.

"Ela será uma esposa apenas no nome. Não é como se eu tivesse que viver com ela." Jake olhou para o advogado quando Allen não respondeu. "Não é verdade, Allen?"

"Certo,” disse o advogado enquanto enxugava mais suor do rosto com o lenço.

Jake esfregou as têmporas, levantou-se e colocou as mãos sobre a mesa. "Allen, tem alguma coisa errada? Você parece um pouco nervoso."

Ele balançou a cabeça. "Não, não, não é nada."

"Eu?" O advogado parecia horrorizado. "Por que eu?"

Jake deu uma piscadela. "Porque você sabe desse testamento há sabe-se lá quanto tempo e nunca convenceu o louco a desistir. Para mim, você é tão culpado quanto ele.

"Agora, não tenho nenhuma preferência quanto à aparência; ela pode ser gay, não me importa. Apenas se certifique de que ela seja do tipo que não vai causar problemas depois que tudo acabar."

"Jake, essa ideia é insana. O tiro pode sair pela culatra para você. E se ela se apaixonar por você e se recusar a ir embora quando o ano acabar?"

Jake sorriu. "A última coisa que quero é ficar preso a uma única mulher pelo resto da vida. E tenho certeza de que não quero um moleque berrando por aí.

"Por isso, encontre alguém que também não queira ficar presa num relacionamento. Alguém que esteja apenas atrás de uma bela grana."

Allen tirou os óculos e esfregou os olhos. Depois de um longo suspiro, ele disse: "Tá bom, Jake, vou ver o que posso fazer."