Emma teve todo o seu mundo virado de cabeça para baixo da pior maneira. Jake, o único homem em sua vida em quem ela pôde confiar, se foi. Seu trabalho perfeito é uma memória distante. Seu futuro é sombrio.
Ela perdeu a fachada fria que passou anos aperfeiçoando e foi deixada em uma crise desolada, tentando recuperar alguma forma de normalidade. Ela está com o coração partido... até que Jake volta direto para sua vida.
No entanto, desta vez há bagagem do passado. Haverá algo mais entre eles? Eles conseguirão superar os desafios?
Livro 2: O Efeito Carrero
O metrô para o trabalho está lotado como sempre, apesar de ser bem cedo; o cheiro e o barulho são sufocantes. Me sinto fraca e a náusea tem me atormentado há alguns dias; o estresse de mudar de escritório e me afastar do Jake está me deixando fisicamente doente.
Olho para o meu relógio pela milésima vez essa manhã.
Estou atrasada de novo. Qual é o meu problema?
Solto um gemido por dentro. Parece que não consigo me concentrar em nada. O Giovanni Carrero gritou comigo tantas vezes nas últimas três semanas que estou pensando em pedir demissão. Ele me rebaixou a uma entregadora de café e estou perdendo aos poucos tudo pelo que trabalhei. A minha reputação como assistente pessoal eficiente está arruinada. Ouvi boatos sobre mim circulando pela empresa—que o Jake Carrero me demitiu pela minha incompetência e me transferiu para o prédio do seu pai porque ficou com pena de mim.
É doloroso. As mentiras me deixam chateada, mas eu as empurro para o fundo da minha mente junto com todo o resto sobre o Jake Carrero. É melhor do que as pessoas saberem a verdade: que a assistente estúpida e ingênua se apaixonou pelo chefe e que ele não sentia o mesmo.
Essa verdade dói mais do que os boatos e as mentiras.
O pai dele tem mais assistentes do que precisa, mas ele gosta de estar cercado por um bando de pessoas que fazem o que ele manda; mesmo assim, estou sobrando. Me tornei uma recepcionista sem uma mesa, sem tarefas e sem responsabilidades. Sou aquela pessoa para quem pedem as coisas mais insignificantes, como arquivar documentos, ir ao Starbucks e servir bebidas quentes para engomadinhos de terno durante uma reunião. O que só aumenta os boatos de que sou inútil.
A minha vida acabou.
Já pensei em pedir demissão muitas vezes, procuro por vagas de emprego quase sempre que posso, mas tem uma coisa que sempre me impede.
Na verdade, alguém!
De alguma forma, trabalhar para a Carrero Corporation é a minha ligação com o Jake, e ainda não estou pronta para deixar ele para trás, se é que algum dia vou estar. Apesar de eu não ter visto ele ou ouvido falar dele, a dor ainda é muito forte. Fui literalmente cortada da vida dele, nem mesmo as fofocas do escritório parecem saber o que está acontecendo na vida do Jake desde que ele me dispensou.
Acho que é por isso que ele mantém a sua equipe pequena e com pessoas de confiança, ao contrário do seu pai, que tem um exército de subordinados, e todos parecem saber sobre os negócios do Carrero Sênior. Ele não é muito reservado em relação a muitas coisas, sempre falando alto e dando ordens.
Ele grita com os funcionários com frequência, não tenta esconder os seus movimentos e sempre arrasta uma comitiva com ele para onde quer que vá. Ele tem um grupo de seguranças, assistentes e vai saber quem mais, sempre amontoados ao seu redor, atendendo a todos os seus caprichos. Sinto falta do ego menos inflado e mais simples do Jake. Ele só precisava de mim... por mais irônico que possa ser.
Ando o último quarteirão até o prédio do meu novo escritório; ele é alto e muito iluminado, outra coluna de vidro pontiaguda e de aparência rígida, assim como a Sede Executiva, onde fica o escritório do Jake. Uma coluna afiada como uma faca, no meio das empresas de Manhattan, tão alta quanto a maioria. Eu me arrepio. Odeio trabalhar aqui. Odeio tudo nesse lugar. Sinto falta de tudo que eu tinha na Sede Executiva além do Jake.
O interior frio é pouco convidativo e os funcionários da Carrero Tower sempre têm muito medo de sair da linha estando sob as ordens do Carrero Sênior. A energia descontraída da Sede Executiva não existe aqui e nunca pensei que veria o dia em que sentiria falta da espontaneidade do Jake. As atmosferas dos dois prédios são muito diferentes.
A recepcionista me lança um olhar de desaprovação quando passo apressada e sei que pareço desarrumada. Perdi a hora, acordei assustada e praticamente me vesti enquanto saía correndo pela porta. Esse corte mais curto e ondulado do meu cabelo tem vida própria, mas simplesmente não me importo mais. Eu a encaro com frieza para fazer com que ela pare de me observar.
Sim, estou atrasada... Não me importo.
Ela desvia o olhar rapidamente. Ela já me viu com raiva antes. No meu terceiro dia aqui, ela derramou café na minha saia lápis bege ao passar por mim e soltei a Emma adolescente sem pensar duas vezes. Eu estava sensível e agressiva naqueles primeiros dias, e uma palavra errada fez com que ela sentisse a minha fúria. O meu rosto se retorce ao pensar na Emma calma e controlada do passado, que sempre foi tão equilibrada.
Onde ela está agora?
Ela pulou de uma maldita ponte! Parece que não consigo trazer ela de volta, não importa o que eu faça. Sinto falta dela. O Jake Carrero a matou; semanas de lágrimas podem fazer isso com uma pessoa.
Deixo a minha bolsa e o meu celular em uma mesa no meio do mar de mesas temporárias do escritório. É um espaço livre para todos, onde você se senta quando precisa de um lugar. Sinto falta de ter o meu próprio escritório e espaço individual, mas não é como se eu merecesse mais isso. A vontade de administrar e organizar a vida do meu novo chefe foi embora. Não tenho nenhum interesse na agenda dele ou nas suas responsabilidades. Me tornei um desastre e provavelmente não conseguiria nem organizar uma festa universitária em uma cervejaria.
O meu celular vibra do outro lado da mesa; o nome da Sarah aparece na tela junto com o seu rosto sorrindo em uma selfie. Ela é a minha melhor amiga e colega de apartamento, mas sabe que não deve me incomodar no trabalho. Ela nunca me liga aqui, por isso a preocupação cresce no meu estômago quando pego o telefone.
"Sarah, o que foi?" Pergunto em um tom cortado pela apreensão, com um medo crescente de que alguma coisa está errada.
Pelo menos ainda tenho a ansiedade comigo.
Isso continua igual.
"Emma, desculpa por te incomodar no trabalho. Sei que você não gosta. Mas a sua mãe está aqui," ela murmura sem jeito e fica quieta ao me ouvir bufar irritada.
"Mas que m—?" Eu me interrompo, olhando ao redor e procurando ouvidos atentos pela sala. Vejo alguns assistentes andando de um lado para o outro, então abaixo o tom de voz, aproximando a minha boca do celular para sibilar baixinho, "Que merda ela está fazendo aí?" Sei que não devo descontar na Sarah, ela só está passando o recado, mas estou fervendo de raiva por todos os poros do meu corpo com a simples menção da presença de Jocelyn Anderson. Essa mulher frágil e patética que escolheu outro namorado abusivo em vez do bom senso ou da lógica.
Ela não tem o direito de aparecer assim! Invadindo a minha vida depois do que ela fez.
"Ela disse que veio te ver... para conversar. O que devo fazer com ela, Ems? Preciso sair para o trabalho daqui a pouco; estou no turno da manhã hoje." Ela parece genuinamente chateada e sabe que está em uma encruzilhada, mas a minha amiga sabe o que deve fazer, se tiver algum bom senso. Respiro fundo, reprimindo a minha raiva interior para ficar calma e manter um tom neutro.
"Manda ela embora," respondo sem rodeios. "Preciso voltar ao trabalho, Sarah. Tchau."
"Emma, mas—"
Desligo rapidamente. Sei que a Sarah vai tentar me convencer a mudar de opinião, mas não consigo lidar com isso agora. Não consigo lidar com nada ultimamente. Só preciso que tudo na minha vida bagunçada e miserável volte dez passos para trás, para que o meu cérebro tenha tempo de se reorganizar. As últimas semanas têm sido uma dor de cabeça constante e sinto que estou me afogando. Mal consigo respirar com tudo que está acontecendo.
O meu celular toca de novo, mas rejeito a ligação. A Sarah é persistente e tem sido ainda mais desde que as minhas mudanças começaram a afetar ela; sinto que ela está me sufocando sendo superprotetora. Ela não conhece essa minha versão, essa bagunça feita de lágrimas e mau humor, os esquecimentos ou o caos que estou deixando por onde passo. Acho que até ela quer de volta um pouco da antiga Emma, e estou tentando fazer isso, para o nosso bem. A insegurança dela em relação à minha nova personalidade é evidente e perturbadora.
Porém, de alguma forma, a menção à minha mãe virou uma chavinha dentro de mim, e uma onda de dormência surge à medida que a parte controlada e fria da Emma profissional toma conta. Vou ter de lidar com a minha mãe em algum momento e só me irrita ainda mais o fato de ela achar que pode aparecer sem avisar, como se eu devesse o meu tempo a ela. Levanto o meu queixo de forma desafiadora.
Isso mesmo, use a raiva como motivação para o seu retorno, se agarre a esse pequeno pedaço de desafio e coloque a sua vida de volta nos trilhos!
Fico aliviada ao sentir a pequena chama queimando no fundo da minha barriga mais uma vez.
Você ainda está aí, Emma. Você consegue.
Entro na sala de reuniões e vejo a bagunça deixada pela reunião do café da manhã que obviamente perdi. Não que eu me importe. Suspiro pesadamente porque vou ter que limpar tudo, apesar de esse andar pagar faxineiras para manter o local arrumado, mas elas geralmente só aparecem depois do expediente. Faço uma careta ao pensar nas tarefas monótonas que se tornaram minha responsabilidade. É muito desanimador, considerando que eu costumava viajar pelo mundo como o braço direito de um CEO bem-sucedido.
Que merda aconteceu comigo? Há um mês, eu era a assistente pessoal do Jake Carrero! Eu organizava toda a vida dele, sentada em hotéis cinco estrelas e analisando contratos com ele. Éramos amigos e eu tentava ignorar o fato de que estava perdidamente apaixonada por ele.
Balanço a cabeça, reprimindo os pensamentos que surgem sem ser convidados, e começo a pegar os documentos e pastas espalhados pela mesa e devolvê-los ao carrinho para serem arquivados. Empilho as canecas e os pratos vazios no armário de bufê ao lado da porta. Pelo menos posso me distrair com a limpeza desse espaço e trazer um pouco de calma de volta ao caos na minha cabeça. Mergulho o meu cérebro na tarefa de limpar a bagunça feita pelos ocupantes anteriores da sala; espero que esse foco se reflita nos meus pensamentos e me ajude a voltar a mim.