L. T. Marshall
Estou sentada em uma espreguiçadeira macia e confortável perto da pia do banheiro feminino. É o único lugar que é perto e privado o suficiente para que eu consiga voltar à minha calma interior. A minha cabeça está uma bagunça. É mais do que só o Jake. É tudo. Desde a manhã seguinte à visita da minha mãe, tenho guardado tudo dentro mim. Ela, a minha falta de capacidade de manter o controle, a solidão dolorosa da ausência do Jake e agora ter visto ele, tudo isso é demais para mim.
Talvez seja hora de encarar a realidade e procurar outro emprego. Fui estúpida ao pensar que poderia trabalhar aqui, a apenas alguns andares de distância dele, agindo como se não nos conhecêssemos. Simplesmente não consigo fazer isso.
Não consigo lidar com a ideia de que posso vê-lo toda vez que sair desse andar. Podemos nos encontrar em qualquer lugar desse prédio e acabei de provar que não posso lidar com isso.
Olho para os móveis modernos ao meu redor e suspiro. O meu coração está mais calmo agora, mas sei que não posso continuar vivendo desse jeito e espero me sentir melhor.
Quanto tempo vai levar até que eu volte a me descontrolar emocionalmente porque o vi do outro lado do corredor? Ou em um elevador? Ou até mesmo em uma reunião? Preciso conseguir me controlar.
Preciso pensar racionalmente sobre o que é melhor para mim e seguir em frente com a minha vida.
***
Desço de elevador até um andar com um enorme refeitório para os funcionários com uma área de descanso agradável e surpreendentemente vazia. Preciso de tempo para pensar em um lugar calmo e silencioso, dar uma olhada nos classificados, refletir melhor sobre isso e pensar sobre o meu futuro e para onde vou a partir daqui.
Pego uma cadeira e me sento perto das grandes janelas de vidro com o meu chá inglês e um pãozinho para refletir sobre os meus próximos passos, agora que estou mais calma. Não tenho intenção de sair dessa mesa até planejar para onde vou ou o que vou fazer. Tenho certeza de uma coisa: não posso mais trabalhar aqui. Fui uma idiota por ter voltado, para começo de conversa.
Folheio os classificados do jornal que alguém deixou em cima da mesa e circulo algumas vagas de emprego, mas nenhuma delas é tão atrativa quanto a que estou agora, nem se compara a ser assistente pessoal do playboy mais rico de Nova York. Elas também não oferecem o mesmo nível de salário que estou acostumada a receber.
Meu Deus, preciso me esforçar mais.
Pego o meu celular e procuro por alguns sites de emprego. Vejo uma vaga para assistente pessoal de um empresário europeu e anoto a informação no meu bloco de notas.
Vou mesmo fazer isso? Decidi deixar a Carrero Corporation?
"Emma?" A voz alegre chama a minha atenção e vejo a Rosalie, a minha antiga assistente, sorrindo para mim. Ela está bonita hoje, com os longos cabelos ruivos soltos em volta dos ombros e o terninho bege justo acentuando a sua pele cor de oliva e os seus olhos cor de mel. Ela sempre foi uma garota de aparência amigável.
"Oi, Rosalie! Que bom te ver." Sorrio de volta, dobrando o meu jornal e colocando ele de lado, antes de fazer um gesto para que ela se sente. Ela dá um sorriso ainda maior e se senta à minha frente.
"Sinto sua falta no sexagésimo quinto andar; você era a minha chefe dos sonhos." Ela sorri com todo o rosto de forma graciosa e, pela primeira vez, percebo que estava com saudades dela. Nunca pensei muito sobre isso quando trabalhávamos juntas, mas ao vê-la agora, percebo que ela costumava aliviar o meu estresse e organizar os pequenos detalhes, me deixando livre para ser genial. A minha arma secreta. Mas, acima de tudo, ela sempre tinha um sorriso para mim, e eu sabia que ela me apoiava e era alguém com quem eu sempre poderia contar. Com ela, nunca senti que tinha que fazer tudo sozinha.
"Também sinto sua falta. E dos seus chocolates quentes." Dou risada, sendo aberta com ela, provavelmente pela primeira vez.
"Você parece diferente agora; me desculpa se estou sendo rude." Ela abaixa os cílios. "É que tenho te visto de longe e, não sei, parece que tem alguma coisa diferente." Um leve rubor sobe pelas bochechas dela.
"Me sinto diferente, Rosalie; você não foi rude. Acho que sou o assunto do escritório, né?" Tomo um gole do meu chá e levanto uma sobrancelha. Fatalmente, todos estão falando sobre a assistente que foi transferida só para ser mandada de volta um mês depois.
"Um pouco. Tem muitas fofocas sobre o motivo de você ter ido embora." Ela fica toda vermelha dessa vez, desviando o olhar para o jornal sobre a mesa.
"Ignora as fofocas; logo elas acabam," respondo com tanta calma que surpreendo a mim mesma. As fofocas estão correndo soltas, mas nem um pingo da verdade circula por aí. A Rosalie nunca foi de insistir para conseguir informações sobre o Jake e fico imaginando o quanto ela conseguiu perceber ou adivinhar.
"Ele sente a sua falta, sabe." Ela me observa atentamente e eu paro a minha xícara no ar a caminho da boca, balançando a cabeça antes de colocar ela de volta na mesa com cuidado.
"Foi ele quem decidiu me mandar para outro lugar, Rosalie. Eu e o Jake...," suspiro, "chegamos a um ponto em que o nosso relacionamento não estava mais funcionando." Evito os olhos dela por um momento.
"Eu entendo; dava para perceber. Só que... desde que você foi embora, não é mais divertido trabalhar para ele." As bochechas dela ainda estão coradas, revelando o seu desconforto, e ela desvia o olhar.
"Logo ele esquece, tenho certeza. É o que o Jake faz de melhor." Bato as minhas unhas na mesa, tentando encerrar esse assunto, me contorcendo enquanto a minha tristeza aumenta.
"Você vai sair?," ela dá um gritinho, se arrumando na cadeira, e percebo para onde ela está olhando; ela viu as minhas anotações no bloco de notas ao meu lado... a vaga de emprego de assistente pessoal na Europa. Não devo ter dobrado de um jeito tão discreto quanto achei que estava.
Oh-oh. Muito bem, Emma!
"Estou pensando nisso." digo suavemente, virando o bloco de nota ao contrário. Não sei por que me importo de ela ter descoberto. Todos vão ficar sabendo logo se eu entregar o pedido de demissão. Tenho certeza de que chegaria ao sexagésimo quinto andar em um piscar de olhos.
"Sei que as coisas deram errado lá em cima, mas eu sempre acreditei que você voltaria... que o que quer que tenha acontecido entre você e o Jake iria passar. Ele sente sua falta, não importa o que você diga. Vocês eram perfeitos juntos; é horrível ver vocês se afastando." O rosto dela é tão sincero que me faz perder a vontade de bufar; em vez disso, balanço a cabeça com tristeza enquanto um nó familiar ressurge na minha garganta.
"É complicado. Duvido que ele sinta a minha falta; nós queríamos coisas diferentes. Foi melhor assim. Sei que isso não é uma explicação, mas confia em mim." É a única em que consigo pensar.
"Os homens são complicados, mas uma coisa eu sei... homens de mau humor? Homens irritados e que gritam, como o Jake tem sido nas últimas semanas? Normalmente, eles ficam assim porque estão sofrendo de alguma forma. Começou no dia em que você foi embora e só piorou. Pense o que quiser sobre isso." A expressão incisiva dela e a sua sobrancelha levantada fazem o meu estômago cair.
Olho para a mesa, sabendo muito bem que o humor recente dele não tem nada a ver comigo. Ele voltou para casa com a Marissa de brinde e a informação de que seria pai. Em um momento de fraqueza, a sua ex-namorada—bêbada—que virou um caso de uma noite—garantiu isso. Não é de se admirar que o humor dele está instável. A sua vida sempre foi perfeita e descomplicada, sem vínculos ou compromissos. Quando a Marissa jogou aquela bomba em cima dele, acabou com tudo que fazia ele feliz. O Jake não está sentindo a minha falta; ele está sentindo falta da vida que ele tinha antes de engravidar uma garota.
Me vem à cabeça a imagem de um dos olhares de desprezo dele, o que me faz sorrir por um momento. Mesmo furioso ou irritado, de alguma forma, ele é muito bonito.
"Tem muita coisa acontecendo com o Jake, Rosalie; não sou nem de perto um fator para o mau humor dele. Confia em mim." Dou um sorriso tenso quando ela se levanta. Ela aperta a minha mão sobre a mesa de leve e ajeita o blazer, pegando o seu copo descartável de café.
"Preciso voltar; ele vai gritar comigo de novo se eu me atrasar. Foi bom te ver, Emma. Muito bom, de verdade." Ela me dá um sorriso enorme que derrete o meu coração. A minha reação é quase espontânea. Sem pensar, dou um pulo e abraço ela. Algo dentro de mim me diz que é um abraço de despedida. Depois de um momento de choque, ela me abraça de volta um pouco hesitante e então se afasta.
"Você está mesmo muito diferente; eu gostei." Ela se vira, sorrindo e se despedindo com um aceno. Com um estranho sentimento de saudade, observo ela caminhar entre a multidão de pessoas até sumir de vista. Ela representa tudo o que eu tinha: o escritório, ela, o trabalho com o Jake, a minha amizade com ele e um mundo totalmente diferente. Me despedir dela representa como estou me sentindo agora.
É hora de seguir em frente com a minha vida.