
"Qual é o significado disso?" A voz de Theodore tinha uma ponta afiada enquanto ele olhava para o capitão Elijah. "Sinto muito, Sr. Jefferson," respondeu o piloto, com a cabeça baixa em sinal de deferência. "Foi uma ordem real. Enquanto estivermos sobre a França, estaremos sujeitos à lei francesa. Não havia nada que eu pudesse fazer."
Naquele momento, uma elegante limusine preta parou na base dos degraus do avião e um casal de setenta e poucos anos desceu. Eu soube imediatamente quem eles eram. Quer dizer, quem não conhecia os monarcas mais poderosos da Europa?
O rei Luís usava um terno elegante e o mesmo broche real dourado que eu passei a desprezar. A Rainha Olympe usava um vestido branco esvoaçante e uma cara feia. Eles caminharam em direção ao avião como se fossem donos dele e subiram os degraus em nossa direção com um ar de graça e autoridade.
O braço de Theodore envolveu minha cintura enquanto ele murmurava: "Jasmine, sinto muito. Eu deveria ter percebido." Tentei ajeitar meu cabelo rapidamente, sentindo-me mal vestida com minha confortável calça de moletom e por ter acabado de transar no avião. Eu não estava em condições de conhecer avós, muito menos da realeza.
"Theodore," disse o rei Luís ao subir a bordo, seu olhar se deslocava entre mim e Theodore. "Peço desculpas por essa situação. Mas você não me deixou escolha. Não posso permitir que você recuse meu convite. Pelo menos não até que você tenha visto a vida que poderia ser sua." Olhei para a Rainha enquanto ele falava. Embora ele parecesse amigável e afável, o comportamento dela era gelado, uma frieza indiferente irradiava dela.
"E esta deve ser a Jasmine," disse o rei Luís, com um sorriso caloroso dirigido a mim. "Onde estão meus bisnetos?" Senti a mão pequena de Thea pressionar minha perna, seus olhos arregalados de apreensão. Ela sempre foi tímida com estranhos.
"Thea," eu disse. "Estes são seus bisavós. Você os conheceu quando era bebê, mas talvez não se lembre." "Aí está ela!" A voz do rei ecoou, fazendo com que Thea relaxasse e sorrisse. "Você parece o Papai Noel," ela riu, apontando para ele.
"Não é a primeira vez que me dizem isso," ele riu, piscando para ela e batendo em seu nariz. A rainha permaneceu em silêncio, com o rosto encoberto. "E onde está nosso mais novo bisneto?" Seu olhar se voltou para Theodore e para mim.
Olhei de relance para Theodore, que fez um aceno tenso de aprovação. Claramente, nenhum de nós gostava disso, mas não havia nada que pudéssemos fazer agora. Corri até Greta, que já havia pegado Emrich. Ela o entregou a mim com cuidado.
Eu o levei até o rei, cujo rosto se iluminou com entusiasmo. "Este é o Emrich. Quase o chamamos de Louis," admiti. "Em homenagem ao senhor." Havia algo reconfortante na presença do rei, um calor que desmentisse seu status real. Embora eu não estivesse feliz com o fato de ele ter nos forçado a vir para cá, ele era o tipo de pessoa com quem não se podia ficar bravo. E acho que seus motivos eram puros o suficiente.
"Ele se parece muito com Theodore, não é, Olympe?" perguntou o rei Luís à rainha. "Suponho que sim," respondeu ela de forma brusca, oferecendo um sorriso frio, mas nada mais. "Posso segurá-lo?," perguntou o rei, pegando Emrich. Instintivamente, eu me afastei. Afinal de contas, eles haviam basicamente nos sequestrado. Vi o rosto do rei se abater.
Percebendo meu desconforto, Theodore se colocou protetoramente na minha frente e na de Emrich, olhando para seus avós. "Chega. Explique o que está acontecendo neste segundo e por que você sentiu a necessidade de desviar meu avião." "Você leu minha carta e eu recebi sua resposta." disse Louis, em tom mais sério.
"Então você tem sua resposta," disse Theodore, de forma cruel. O Rei Luís suspirou. "Sinto muito pela maneira como as coisas aconteceram," disse ele, seus olhos encontrando os meus. Ele parecia genuinamente apologético. "Mas ser um membro da realeza traz certas expectativas. Queríamos conhecer você e seu novo filho. Vocês fazem parte da nossa família."
O silêncio que se seguiu foi pesado, e eu podia ver Theodore ficando na defensiva. "Não estou pedindo que assuma nenhuma função oficial hoje e, se experimentar a vida real e decidir que a despreza, poderemos conversar a respeito disso mais tarde. Mas, neste momento, a Coroa precisa de você. O primeiro-ministro é impopular, o Senado está em rebelião aberta contra ele e o herdeiro do trono é incapaz de conquistar o amor do povo. Precisamos de você".
Olhei de relance para Theodore. Eu podia vê-lo mastigando o lábio interno. Foi somente agora que a verdadeira escala e o escopo do poder da família de Theodore estavam me atingindo. Coloquei uma mão em seu ombro para acalmá-lo.
"Agora, posso segurar meu bisneto, por favor?" perguntou Louis, com o tom mais leve. "Ele é adorável demais." Para minha surpresa, Emrich não chorou quando o passei gentilmente para o rei. Ele parecia confortável nos braços de Louis.
O rei Luís fez uma cara de bobo, fazendo com que Emrich caísse na gargalhada. Apesar de minha interação limitada com Luís, estava claro que Emrich gostava dele. A semelhança familiar era evidente em seus olhos, ambos de um impressionante tom de jade.
Minha hesitação diminuiu um pouco. Essas pessoas eram minha família, quer eu gostasse ou não. Essa era a vida que eu havia escolhido quando me casei. Mas isso não significava que eu deixaria que eles mandassem em nós. Eles precisavam respeitar a nós e a nossa família. E certamente não significava que eu estava me comprometendo com uma vida na corte real.
"Agora que todos nós nos conhecemos," disse Theodore finalmente, "é hora de nos despedirmos. Estamos indo para nossa viagem em família." "E com que avião?" disse Louis. Não parecia ameaçador, apenas uma pergunta.
Que merda. De repente, percebi que nosso avião não era o único que ouvia o rei Luís. Ele era o monarca deles, e nenhum avião decolaria sem a sua autorização. "Vou fretar um que não tenha medo de você," Theodore rebateu. "Você pode nos derrubar se quiser, mas sei que não o fará."
"Fique por uma semana, Theo," implorou Louis. "Depois você pode ir para onde quiser. Eu só quero passar algum tempo com meus bisnetos. Estou ficando velho." Suas palavras pairaram no ar, como um lembrete sombrio de sua mortalidade.
A rainha pareceu surpresa com a insistência dele, seu rosto refletindo seu descontentamento. Louis, por outro lado, parecia genuinamente angustiado com a ideia de irmos embora. Ao vê-lo embalar Emrich, senti uma pontada de simpatia.
"Bem," comecei, olhando para Thea, que estava observando seu bisavô com os olhos arregalados. "Talvez pudéssemos ficar por apenas uma semana." Por um momento, o maxilar de Theodore se contraiu. Em seguida, ele voltou os olhos frios para o Rei e a Rainha.
"Tudo bem, ficaremos por uma semana," ele admitiu. "Mas apenas uma semana." O rosto do rei se iluminou de alegria, enquanto a expressão da rainha permaneceu indecifrável. Somente eu percebi o breve lampejo de irritação que cruzou seu rosto.
Ao descermos as escadas em direção à limusine que nos aguardava, Theodore se inclinou para sussurrar em meu ouvido. "Vamos para Versalhes." Um nó de ansiedade se formou em meu estômago a cada passo que eu dava.
Isso estava realmente acontecendo. Estávamos indo para Versalhes.