Ahanaa Rose
KARA
"Pode entrar," eu digo ao ouvir uma batida na porta e me viro para ver o Marcus com um pequeno sorriso no rosto e as mãos atrás das costas. "Por que você parece tão feliz?"
"Não posso estar feliz?"
Levanto uma sobrancelha. Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele ri e estende os braços para mim.
Ele tem um cupcake com uma única vela acesa nas mãos. "Feliz Aniversário, Kara!"
Ah, pelo amor de Deus.
Volto a fazer a minha mala. "Não sei do que você está falando."
Ele coloca o cupcake na mesa. "Achei que você diria isso, mas a Lana tentou ligar para você. Como você não atendeu, ela me ligou e me contou."
"Ótimo! Tenho dezoito anos e ainda não me transformei. Obrigada por me lembrar, Marcus."
Ele suspira. "Olha, a Lana me pediu para fazer isso, e não é nada fácil dizer não para ela."
Dou uma risada. Ele está certo; não é fácil dizer não para a Lana. Ela simplesmente não entende o significado dessa palavra.
"Ela te ameaçou?"
Ele dá de ombros. "Não sei do que você está falando."
Não consigo segurar a risada e logo ele abre um sorriso. Vou até o cupcake, respiro fundo e apago a vela com um fuu satisfatório.
O Marcus sorri para mim e dou de ombros como se dissesse, Para evitar um incêndio.
Ele começa a rir enquanto volto para a cama e me sento, respirando fundo, tentando aliviar um pouco da agonia do meu corpo.
"Ainda está com dor?" Tem preocupação nos olhos dele.
"Nada que eu não possa aguentar."
Ele percebe o estado do quarto. "Já está fazendo as malas?"
"É, bem, quero estar preparada para quando ele me expulsar oficialmente."
Ele se senta no banco da minha penteadeira e apoia os braços sobre as pernas. "Kara, você precisa entender as coisas do ponto de vista dele.
"Ele é o grande alfa, o líder de todos os bandos. Se ele tiver uma luna que não pode se transformar, os alfas das outras matilhas vão desafiá-lo pelo título antes que o mandato dele acabe, e ele não pode permitir que isso aconteça."
O meu lábio treme. "Me diga, Marcus, de que lado você está? Você me chama de sua luna, mas defende as ações do seu alfa?"
Ele respira fundo.
"Quem estou enganando? Até eu entendo os motivos dele."
A dor familiar começa a surgir no meu peito e um nó se forma na minha garganta.
Por mais que eu tente negar, tudo isso está me machucando; não importa o quanto eu tente não querer um companheiro, é tudo o que desejo.
Um homem que me ame e me aceite como sou, alguém para chamar de meu, alguém que a Deusa da Lua escolheu para mim—
Marcus e eu pulamos com o som estridente do alarme que só soa por uma coisa...
"Ladinos."
Corremos para a janela e vemos lobisomens entrando no território através da floresta. Dezenas deles.
O Marcus agarra os meus ombros, com os olhos cheios de preocupação. "Kara, preciso que você fique aqui e se esconda. Entendeu?!"
Eu o empurro. "Até parece que vou me esconder sendo que tem pessoas por aí que eu posso ajudar!"
O rosto dele se contorce de raiva. "Kara! Esse não é o seu trabalho e, além disso, você não está em condições de ajudar ninguém."
As minhas costelas estão me matando, mas depois de uma vida inteira de tragédia e agora um companheiro que me rejeita, aprendi a conviver com a dor.
Dou um olhar severo a ele e digo, "Você viu quantos ladinos tem ali? Todo mundo vai ter que ajudar a afastar esses animais.
"Não me importo com o que o Zane ou qualquer pessoa diga. Enquanto estiver aqui, sou a luna dessa matilha e tenho que defender o meu povo!"
Ele olha para o teto. "Deusa, me ajude. Tudo bem! Mas apenas reúna as mulheres e as crianças. Não lute! Entendeu?"
Aceno com a cabeça de forma solene e saímos rapidamente da casa juntos.
Ao chegarmos lá fora, o caos já se instalou. A cena é horrível: tem corpos espalhados por toda parte, lobos lutando entre si e sangue encharcando o chão.
A destruição, a morte… é devastadora.
Sinto o pânico crescendo dentro de mim e a minha respiração ficando pesada. Alguém me agarra e me sacode, mas tudo que consigo ver e cheirar é sangue.
Em meio ao caos, ouço alguém gritando o meu nome, e o Marcus olha para mim como se eu estivesse prestes a desmaiar.
"Você está bem?"
Fecho os olhos e respiro fundo antes de voltar a abri-los. "Vai."
Eu me afasto do Marcus, com o meu coração batendo forte no peito, e corro em direção às crianças assustadas que buscam refúgio atrás das árvores. A cada passo, a minha determinação fica mais forte.
Quando estou prestes a alcançar elas, um lobo ladino com pelo cinza salta na minha frente, bloqueando o meu caminho.
A minha adrenalina aumenta, mas antes que o ladino possa atacar, outro lobo rapidamente o ataca pela lateral.
Aproveito a oportunidade e passo correndo pela batalha de feras para chegar às crianças. As mais novas estão encolhidas atrás dos adolescentes, que mantém uma postura firme.
"Vocês precisam vir comigo, garantam que todos fiquem juntos. Quero os mais novos na frente e qualquer um que tenha treinamento de nível três ou maior atrás."
Enquanto as crianças se organizam, me posiciono atrás da cobertura das árvores, examinando os arredores em busca de qualquer sinal de perigo.
De repente, encontro o olhar penetrante de um lobo parado na minha frente. Mas não me sinto ameaçada e então percebo: é o Marcus.
Reúno as crianças perto de mim e começamos a nossa fuga, disparando entre os lobos da matilha.
A poucos metros da casa, um ladino ataca o nosso guardião, resultando em uma luta feroz enquanto eles se agarram e rolam no chão, disputando uma vantagem.
Eu me sinto dividida. Quero ficar e ajudar, mas também conheço as minhas limitações contra lobos tão poderosos.
Ele vai ficar bem, Kara. As crianças precisam de você.
Continuamos correndo e logo chegamos à entrada dos fundos, que leva ao porão.
Guio a última criança para dentro e o meu coração afunda quando vejo uma garotinha no chão, um pouco mais atrás, segurando o tornozelo com dor e lágrimas escorrendo pelo rosto.
E um ladino está avançando na direção dela.
Os meus instintos entram em ação, me impulsionando a agir. Ignorando a dor lancinante no meu corpo, levo as minhas pernas ao limite enquanto corro em direção a ela com uma determinação inabalável.
Com cada fibra do meu ser, me jogo na frente da garota, protegendo ela do perigo que se aproxima.
O meu alívio por ter conseguido alcançá-la dura pouco.
A dor surge de novo, atingindo todo o meu corpo, até em lugares que eu não sabia que era possível. É como se os meus ossos estivessem sendo remodelados e reorganizados.
Observo com admiração e espanto enquanto pelos pretos surgem nos meus braços, sinto o meu rosto se contorcer e as minhas gengivas se abrem e rasgam enquanto dentes afiados abrem caminho.
Mas não tenho tempo para processar o que está acontecendo, muito menos para sentir medo. Quando o ladino ataca a garotinha, ajo instintivamente.
Mas não é o meu corpo humano que colide com o ladino, e sim o corpo de um lobo que encontra o dele no ar.
Eu me sinto poderosa e fora de controle ao mesmo tempo. Os meus instintos de lobo me dominaram e estou lutando com garras e dentes para proteger a garota.
Puta merda!
Eu me transformei.
Eu me transformei, porra.
Conforme continuo lutando com o ladino, ouço uma voz suave na minha mente.
"Kara."
Eu me pergunto se seria a minha imaginação pregando peças em mim, mas a voz fica mais alta e clara, ecoando através dos meus pensamentos.
Essa é a conexão mental que o Keith me falou? Estou falando com o meu lobo?
Eu sussurro na minha mente, "Por favor, me diz que não estou ficando louca."
O meu subconsciente se enche de risadas lindas e sonoras. "Está tudo bem, Kara. Você não está ouvindo coisas. Se concentre e prometo que vou explicar tudo depois."
Sem nenhuma dúvida na minha mente, sei que devo seguir as instruções dela, abrir mão do controle e direcionar a minha atenção para a luta.
Mordo o lobo, me deliciando com o sabor de ferro enquanto os meus dentes afundam na carne dele. Ele solta um grito alto e corre para as árvores. Antes que eu possa comemorar, vejo mais dois ladinos vindo na minha direção.
Bem, podem vir, idiotas.
É uma experiência muito estranha, como se eu fosse apenas uma passageira no meu próprio corpo. É como se outra pessoa estivesse me controlando.
Mas então, do nada, sinto um toque sutil na minha pele, mesmo que não tenha nada fisicamente ali. Sinto arrepios na minha espinha.
Ouço aquela voz de novo—"Não se preocupe, eu cuido disso"—e a minha mente se acalma, como se fosse um bálsamo para os meus pensamentos perturbados.
O meu corpo automaticamente assume uma postura de defesa e, sem pensar, um grunhido baixo e ameaçador escapa da minha garganta.
É um som tão primitivo e poderoso que faz com que os ladinos recuem imediatamente.
Um lobo com pelo loiro escuro sai da floresta e lentamente vem na minha direção. A boca dele está bem aberta, revelando caninos afiados com sangue escorrendo deles.
"Precisamos ter cuidado. Esse tem sangue alfa."
Guiada pelo meu lobo, eu me viro para agarrar a garota e correr. Mas o lobo loiro é mais rápido e me empurra, me fazendo voar contra uma árvore.
Enquanto me recupero, vejo ele se virando para a garota, pronto para atacar. Sem pensar, corro até ele enquanto um lobo de pelos cor de areia agarra a garota com as patas e a leva para um lugar seguro.
Eu o mordo ao mesmo tempo em que ele me morde, e iniciamos uma batalha feroz, rolando no chão enquanto golpeamos e atacamos um ao outro.
Algo pressiona as minhas costas, viro a cabeça e vejo outro lobo ladino com pelo preto me atacando. Ele arranha a minha barriga e se vira para o meu pescoço, pronto para acabar comigo.
Mas antes que ele consiga, um lobo com pelo castanho claro surge para me ajudar. Ele agarra o pescoço do ladino que está nas minhas costas, tirando ele dali e jogando ele sobre o loiro.
Os ladinos rosnam, mas recuam com cuidado. Depois de se afastarem o suficiente, eles se viram e fogem para a floresta.
Observo enquanto todos os outros ladinos seguem o seu líder, deixando para trás um rastro de destruição.
Mas antes que eu possa processar tudo o que aconteceu, o meu corpo começa a tremer incontrolavelmente. A dor é insuportável enquanto me contorço pelo que parece uma eternidade.
É mais doloroso me transformar de volta? Ou é porque a adrenalina está baixando agora que a batalha acabou?
Eu me enrolo em uma bola, tentando desesperadamente evitar ser dominada pela agonia que sinto nos meus músculos, ossos e nervos.
Só sei que estou na forma humana novamente pela sensação da minha pele macia ao pressionar os dedos nas palmas das mãos.
Mas não é suficiente, sinto a vida se esvaindo de mim e o meu sangue escorrendo no chão.
"Shh, Kara, sei que está doendo. Vou fazer o meu melhor para curar você."
Sussurro para ela, "Não estou entendendo. Quem é você?"
Posso sentir ela sorrindo. "Meu nome é Selene. Sou o seu lobo. Esperei muito tempo para te conhecer."
Algo é jogado sobre mim e então o Marcus me levanta em seus braços. Não consigo não chorar, porque cada toque, cada movimento, faz parecer com que facas quentes estão entrando na minha pele.
O Marcus está sem camisa e eu me aconchego em seu pescoço, tentando desesperadamente encontrar algum conforto no seu calor.
"Está tudo bem," Marcus diz com a voz suave, "estou com você."
Eu resmungo de dor. "Mas... as crianças. A matilha... preciso ajudar."
Ele beija o topo da minha cabeça. "Você já fez o suficiente, minha luna. Descanse."
Quero argumentar, mas a dor e a exaustão são grandes demais. Preciso fechar os olhos…