Fera Ferida - Capa do livro

Fera Ferida

Ahanaa Rose

3: Capítulo 2

KARA

O meu coração está acelerado enquanto ando para trás, tentando criar alguma distância entre nós. Mas antes que eu possa fugir, a multidão se afasta sem esforço, abrindo um caminho para que ele chegue até mim.

Os meus sentidos parecem aguçados e não posso deixar de notar o aroma sedutor que o rodeia: uma deliciosa mistura de chocolate e baunilha; o meu favorito.

O rosto dele toca delicadamente o topo da minha cabeça e a sua respiração desce até a delicada curva do meu pescoço.

Não. Não posso ser a companheira dele, é impossível. Ainda nem me transformei pela primeira vez. Ainda nem tenho dezoito anos.

É um erro.

Ele me vira, me segurando firme contra o seu peito, com o meu rosto pressionado contra ele.

Ele levanta gentilmente o meu queixo, guiando o meu olhar para os seus encantadores olhos verdes. Eles contrastam com a sua pele clara e seus cabelos brancos, o que intensifica o tom vibrante deles.

Ele vira o meu rosto para ver melhor a minha cicatriz e um grunhido baixo escapa dos seus lábios. "Quem fez isso com você?"

À medida que ele me aperta, a pressão aumenta, e logo se torna insuportável.

"Eu perguntei quem fez isso com você?"

Eu agarro o pulso dele. "Você está me machucando."

"Não consigo sentir o cheiro do seu lobo. Por que não consigo sentir o cheiro do seu lobo?"

"Eu... eu ainda não me transformei."

Os olhos dele se arregalam. "Quantos anos você tem?"

"D-dezessete."

Ele imediatamente me solta e me empurra como se o meu toque tivesse queimado ele, então ele se vira e sai da tenda, com os seus homens logo atrás.

Ele deixa um silêncio inquietante com a sua saída. As expressões ao meu redor são uma mistura de choque, nojo e espanto.

Fico quase grata quando a voz estrondosa do Alfa Black quebra o silêncio.

Ele para do meu lado e diz, "Por favor, pessoal, vamos voltar para as festividades!"

A música começa a tocar e a multidão se dispersa.

Alfa Black volta sua atenção para mim. "Venha, Kara."

Eu o sigo para fora da tenda e para dentro da casa da matilha, onde ele me leva até o seu escritório, com o Beta Matthew atrás de nós.

O Alfa Black vai até a sua mesa e se senta atrás dela. "Kara, o que aconteceu?"

Não consigo evitar de olhar para os meus pés, sentindo uma mistura de nervosismo e ansiedade. Os meus dedos começam a se mexer de forma automática enquanto tento processar tudo.

"E-eu não sei."

Ele bate as mãos na mesa. "O que você quer dizer com você não sabe?! Você irritou o grande alfa!"

Piscando para seguras as lágrimas, sinto uma pitada de medo nos olhos dele. "Eu acho, bem, não tenho certeza, mas acho que ele pensa que sou a companheira dele."

Os olhos dele se arregalam e ele começa a rir! Começa devagar, mas logo ele joga a cabeça para trás e cai na gargalhada.

Ouço o Beta Matthew rindo atrás de mim também.

O Alfa Black para e enxuga uma lágrima do canto do olho. "Por que o grande alfa pensaria que uma garota de dezessete anos é a sua companheira?"

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, uma voz hipnotizante responde, "Você sabe tanto quanto eu".

O Alfa Black se levanta da sua cadeira, assumindo uma postura rígida em um piscar de olhos. "Grande Alfa!"

Sinto uma mistura de emoções ao me virar e olhar para o homem que a Deusa da Lua escolheu para ser o meu companheiro.

Que piada! Ele é o mais poderoso entre o nosso povo, e eu sou o extremo oposto disso.

Mesmo assim, é desanimador vê-lo caminhar até a mesa do Alfa Black e se sentar, ignorando completamente a minha presença.

"Alfa Black, você poderia me explicar por que uma garota de dezessete anos cheia de cicatrizes, que nem sequer se transformou ainda, está destinada a ser a luna de todas as matilhas da América do Norte?"

"E-eu, hum… Deve ser um erro."

O grande alfa cruza as pernas e começa a bater os dedos no braço da cadeira; a sua impaciência é nítida. "Exatamente, é um erro."

Embora eu não seja exatamente a maior fã da Deusa da Lua, os meus pais acreditavam que tinha uma razão para todas as decisões dela, desde a escolha dos companheiros até as mortes.

Limpando a garganta, dou um passo à frente, sentindo uma mistura de determinação e curiosidade. "A Deusa da Lua não comete erros."

O meu alfa me encara fixamente, sem piscar, e até mesmo os dedos do grande alfa param de se mexer no braço da cadeira.

O meu coração dispara quando ele começa a andar em volta de mim. Sinto o pânico subindo pelo meu peito.

O que ele está pensando?

A minha respiração fica presa na garganta quando ele agarra os meus pulsos com firmeza e lentamente arrasta as suas mãos—muito maiores que as minhas—pelos meus braços, pousando elas nos meus ombros.

O toque dele causa arrepios na minha espinha. Os seus lábios roçam a minha orelha e sinto o seu hálito quente no meu pescoço.

"Me diga, criança, por que você acha que a Deusa da Lua não cometeu um erro?

"É porque você gosta da ideia de ser companheira de um dos homens mais poderosos do mundo? Você acha que vou te proteger daqueles que te intimidam? É isso?"

A bile sobe pela minha garganta. "Não."

"Bem, se a Deusa da Lua não comete erros, ela certamente tem um ótimo senso de humor para escolher alguém como você para ser a minha companheira."

Ele está certo; sou patética e fraca, nem o meu próprio lobo quer se mostrar.

Ouço outra voz grave atrás de mim, mas não ouso me virar para ver quem é.

"Alfa, ela pode não ser adequada para você, mas não pode rejeitá-la. Não vai ser bom para você nem para a sua matilha."

Ainda com a mão nos meus ombros, o grande alfa diz, "Você está certo, Beta. Acho que a Deusa da Lua decidiu que o meu caminho vai ser solitário."

Conforme ele se afasta, um vazio me envolve; me sinto estranhamente vazia. Em seguida, sinto uma saudade avassaladora. Desejo sentir o toque dele de novo.

Mas parece que ele não sente o mesmo, porque ele simplesmente retorna ao seu lugar, me deixando com um turbilhão de emoções e uma sensação de falta.

"Vou levar ela comigo. Agora que todos viram que ela é minha companheira, não tenho escolha."

"Caramba, como você parece animado."

Eu me viro e vejo o meu tio parado na porta do escritório, com uma expressão de aborrecimento.

"Alfa Kane," Alfa Black responde, "é uma reunião particular".

O tio Jacob encolhe os ombros e caminha na minha direção para ficar ao meu lado. "É sobre a minha sobrinha, então eu deveria participar."

A fúria ferve nos olhos do Alfa Black. "Eu entendo, mas você não vê a sua sobrinha há muitos anos, então essa preocupação repentina com ela é bem interessante."

Abro a boca para falar, mas o meu tio me interrompe colocando uma mão firme no meu ombro.

"Acredito que já esclarecemos por que não estive em contato, mas fico feliz em repassar o assunto na presença do grande alfa. Afinal, a sua explicação foi pouco satisfatória."

Sinto a tensão no ar enquanto o meu tio e o Alfa Black se encaram, uma batalha silenciosa que acontece bem na minha frente.

"Que chatice." O grande alfa se levanta da cadeira novamente. "Kane. Não me importa qual seja o seu problema com o Black, mas a sua sobrinha é minha companheira, o que significa que ela me pertence.

"Sugiro que você se afaste dela antes que eu tenha que rasgar a sua garganta."

Alimentada por uma onda de raiva, dou um passo à frente de forma desafiadora, pressionando firmemente um dedo contra o peito do grande alfa.

"Nunca mais fale assim de mim! Sendo ou não a sua companheira, não sou uma propriedade para te pertencer.

"Não dou a mínima se você é o grande alfa ou a Deusa da Lua, mas desrespeitar a mim e àqueles com quem me importo só vai te trazer muita dor."

O meu coração dispara quando ele arqueia uma sobrancelha, com um sorriso malicioso aparecendo no canto da boca.

Em um movimento rápido, ele agarra a minha mão, a puxando para longe do seu peito e torcendo o meu braço atrás das minhas costas.

Ele abaixa a cabeça e sussurra no meu ouvido, "Nunca cometa o erro de me ameaçar. Sendo ou não a minha companheira, vou te matar por essa desobediência. Entendido?"

Sinto a mão dele apertando ainda mais o meu pescoço.

"Entendido?"

Ofego por ar, me esforçando para pronunciar uma palavra. O aperto na minha garganta me deixa sem fôlego.

A minha voz está presa na garganta, mas consigo sussurrar, "Sim".

"Solta ela!" Ouço a raiva na voz do meu tio.

O grande alfa levanta a cabeça e olha para ele. "Você quer morrer, Kane?"

"Solta ela. Agora."

Olho para cima. Aquele sorriso familiar brinca no rosto do grande alfa enquanto ele olha para mim, seus olhos fixos nos meus em um olhar intenso.

"Vocês têm sorte de eu ter coisas mais urgentes com que me preocupar do que um alfa insubordinado e uma companheira desobediente."

Tão repentinamente quanto ele me agarrou, o grande alfa me liberta, me deixando cambaleando em direção ao abraço reconfortante do meu tio.

Com a ajuda dele, recupero o equilíbrio, e olhamos juntos para o grande alfa.

A atenção dele muda de foco e ele olha por cima do ombro para falar com o Alfa Black. "Garanta que ela esteja pronta."

O meu alfa abaixa a cabeça em submissão. "Claro, Grande Alfa."

Sem olhar para mim, ele se levanta e se vira para sair.

Eu sussurro, "Mas e o resto das festividades?"

"Não adianta ficar. Não tenho intenção de assumir uma criança." Ele segue até a porta e a fecha ao sair.

Eu me viro para o meu tio com lágrimas nos olhos.

Isso não passa despercebido pelo Alfa Black. "Sei que é difícil, mas se considere com sorte. Pelo menos ele está disposto a te manter na matilha dele; você vai estar bem protegida lá."

O meu coração dispara quando o meu tio me empurra para trás dele de forma protetora.

"Kara, vá para casa. Eu te encontro lá em breve."

Olho entre o meu alfa e o meu tio, sentindo a raiva silenciosa que pesa no ar entre eles.

Mas eu sei que não devo me envolver no conflito deles. Além disso, outras coisas exigem a minha atenção agora. Devo me preparar para partir.

Não só fui rejeitada da forma mais humilhante possível, mas agora também devo sair da minha casa.

O grande alfa está certo: a Deusa da Lua realmente tem um senso de humor doentio. Não foi suficiente que ela tenha tirado os meus pais de mim, mas ela tirou também o meu companheiro.

E não qualquer companheiro.

O grande alfa.

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