
Amada nos Reinos: Meu Demônio, Meu Amor
Era um demônio cujos olhos haviam testemunhado os horrores desperdiçados da guerra; ele desceu às profundezas do inferno e sobreviveu para contar a história. Agora, era o amor que o dilacerava. O amor era a coisa que destruía sua própria essência.
Reve, um príncipe demônio de olhar marcado por batalhas, encarou os cantos mais sombrios do inferno sem pestanejar, mas nada jamais o desfez como Azlyn. Ela é humana, presa a ele por correntes que nunca escolheu, e corajosa demais para o próprio bem. Faíscas estalam, arrastando-os para um território perigoso que nenhum dos dois ousa nomear. Quanto mais resistem, mais o calor aumenta, até que cada olhar ameaça acender um incêndio que não poderão controlar. Mas o mundo deles foi construído para mantê-los separados, e o preço por desafiá-lo pode ser a ruína. Em um reino governado pelo medo e pelo desejo, um amor como o deles pode brilhar o suficiente para sobreviver? Ou será o fogo que destruirá os dois?
As Regras do Reino
Azlyn abriu os olhos devagar. Viu que estava deitada de bruços num piso frio de mármore. Ela olhou para o lado e viu um tapete bonito e macio no chão perto dela.
Ela podia sentir as mãos amarradas com força atrás das costas. Sabia por experiência que precisava tentar se sentar e olhar ao redor.
Não era a primeira vez que isso acontecia com ela. Tinha certeza de que não seria a última.
Ela se balançou e se forçou contra o chão para se levantar sem encostar em nenhum dos móveis ao redor. Ela conhecia as regras muito bem e não iria quebrá-las—não antes de ter a chance de causar uma primeira boa impressão no seu novo mestre.
Depois de muito esforço, ela conseguiu se levantar até ficar de joelhos, mas quando parou, sentiu o quanto seu corpo doía.
Sua cabeça estava latejando. Provavelmente devido a pancada que levou para ficar inconsciente. Sua visão estava embaçada. Mas como disse, nada disso era novidade.
Ela olhou ao redor observando os detalhes. Logo percebeu que estava no quarto mais bonito que já tinha visto na vida.
O lugar inteiro estava coberto de decorações caras, peles e sedas. O tapete ao seu lado devia valer mais do que ela gastava com comida por pelo menos um ano.
A cama atrás dela era feita de madeira entalhada sofisticada. Parecia tão macia que ela pensou que devia ser como deitar numa nuvem.
Havia três estantes, decoradas com diferentes itens. A primeira tinha muitos livros bonitos. A segunda tinha armas antigas. E a terceira tinha vários troféus, medalhas e prêmios.
Poltronas grandes e macias ficavam num canto ao redor de uma grande lareira de pedra, com uma mesa entre elas. Tinha muito dinheiro nesse lugar.
Quem quer que fosse o dono desse quarto tinha muito bom gosto.
Azlyn ficou ali sentada no chão frio pelo que pareceram horas, se perguntando quanto tempo esperaria antes que alguém a encontrasse. Esperava que não demorasse muito mais. Não estava confortável daquele jeito.
Seus pensamentos silenciosos foram de repente interrompidos pelo som de passos se aproximando. Esperava que quem quer que fosse estivesse vindo para esse quarto.
Mal podia esperar para descobrir quais horrores a aguardavam em sua nova vida.
Começou a ouvir o som de vozes baixas vindo através da porta fechada. Tentou escutar o máximo que pôde da conversa.
“Antes de entrarmos, só queria dizer que espero que tenha se divertido hoje,” ela ouviu um homem dizendo.
“Feliz aniversário, filho!”
A porta se abriu para revelar dois demônios, um mais velho e um mais jovem. Os olhos de Azlyn passaram rapidamente sobre o mais velho, mas pararam num homem tão bonito que ela não conseguiu desviar o olhar.
Nunca tinha visto outro como ele antes.
Ele tinha traços marcantes e fortes. Seus olhos eram escuros como o oceano à noite. Seu cabelo negro contrastava com a sua pele oliva.
Os pequenos chifres pretos no topo de sua cabeça se misturavam ao seu cabelo curto e quase pareciam desaparecer. Ela imaginou que ele escolhia não deixar seus chifres no tamanho normal, para que não fossem assustadores a menos que ele precisasse que fossem.
Ele estava muito bem vestido, mostrando que vinha de uma família muito rica. Seus músculos eram grandes e se moviam sob o tecido, que se agarrava a ele como uma segunda pele.
Havia algo familiar e reconfortante nele. Algo que ela não conseguia entender e sabia muito bem que não deveria estar sentindo.
Nenhum demônio jamais trouxe conforto. Era contra a natureza deles.
Azlyn logo percebeu que estava encarando, paralisada. Sabia que isso era contra as regras e rapidamente mudou sua postura para uma mais apropriada, abaixando o olhar para o chão.
Estava irritada consigo mesma por cometer um erro tão grande. Sabia que não devia olhar um demônio nos olhos, especialmente um que claramente era de uma família nobre.
“Sei que ela nunca poderia substituir a Teanna. Mas me disseram que ela é muito bem treinada e obediente. Deve ser uma nova escrava muito boa para você,” disse o demônio mais velho.
Os dois entraram no quarto e olharam Azlyn mais de perto.
“Levante-se, escrava,” ordenou o demônio mais velho.
Com dificuldade, ela fez como foi ordenado e se levantou.
Ela sentiu tontura, provavelmente por causa do ferimento na cabeça, e começou a perder o equilíbrio. O medo a dominou enquanto caía para frente. Não conseguia se equilibrar com os braços amarrados atrás das costas.
O demônio mais velho se afastou, sem oferecer nenhuma ajuda. Era normal para um demônio, e ela não ficou surpresa.
Tentou se preparar. Sabia o que ia acontecer. Bateria o rosto num dos muitos móveis bonitos à sua frente.
Se tivesse sorte, nada seria quebrado e talvez ela não seria punida.
Ela se preparou para o impacto quando de repente sentiu um par de braços fortes ao seu redor.
Por um momento, se sentiu segura e feliz. Era como se suas preocupações tivessem ido embora. Ficou com a sensação de estar sendo segurada com força por esses braços estranhos.
Os braços a empurraram com cuidado para trás e a colocaram de pé.
Levou um minuto para ela entender o que estava realmente acontecendo. Sua mente demorou mais do que deveria para processar.
“Opa! Cuidado! Você está bem?” disse uma voz aveludada com preocupação.
O corpo de Azlyn parecia estranho, e sua mente tentou encontrar uma resposta. O que tinha acabado de acontecer? Por que ele a ajudou?
Ela deveria estar no chão agora.
Ela foi invadida pela confusão e por um desejo estranho de estar envolvida naqueles braços novamente. Mas logo afastou esse pensamento. Não podia dar atenção à ideias tão perigosas.
“Sim, estou bem. Obrigada,” ela finalmente respondeu.
Azlyn foi rapidamente trazida de volta à dura realidade pela ardência de uma mão contra seu rosto.
“Como ousa responder tão casualmente!” o demônio mais velho olhou para ela com raiva.
“E-eu sinto m-muito, m-mestre! Eu p-peço desculpas! J-juro que n-nunca vai a-acontecer d-de novo, mestre!” ela disse rapidamente, com medo.
“Sou o Rei Chesed. Pode me chamar de 'Vossa Majestade' ou por qualquer outro título que se adeque à minha posição,” disse o demônio mais velho, apontando para si mesmo.
“Ele é seu novo mestre,” disse o demônio mais velho, apontando para o demônio mais jovem e atraente ao seu lado.
“Sim, Vossa Majestade,” ela respondeu com uma pequena reverência de cabeça.
Mal podia acreditar no que tinha ouvido. Apenas mais uma informação para adicionar a todos os pensamentos em sua mente agora.
Ela estava mesmo trabalhando no palácio agora? Como escrava pessoal de um dos príncipes? Isso podia mesmo estar acontecendo? Por que ela?
Talvez parecesse uma boa notícia para uma escrava ser mandada para o palácio. Mas no Reino dos Demônios, era o oposto. Um dos piores lugares para uma escrava trabalhar era dentro do castelo.
Havia mais mortes de escravos aqui do que em qualquer outro lugar em todo o reino.
“Qual é o seu nome, escrava?” perguntou o Rei Chesed, embora não se importasse com a resposta. Ele a chamaria e a qualquer outra pessoa do que quisesse.
“Meu nome é Azlyn, senhor.”
“Ah, Azlyn. Bem, este é meu filho, Príncipe Reve. Ele é seu mestre agora. Você faz o que ele mandar.”
“Claro, senhor. Obrigada, Vossa Majestade,” ela respondeu com outra reverência.
“Vou deixar vocês dois se conhecerem melhor. Mostre a ela os aposentos dela quando terminar. Você pode querer limpar suas roupas também. A sujeira dela tocou nelas,” disse Chesed com nojo. “Boa noite, filho. Feliz aniversário.”
Com isso, o Rei Chesed saiu do quarto e desapareceu no castelo, deixando os dois sozinhos.
O Príncipe Reve ficou ali parado, encarando Azlyn por um momento. Ela começou a se sentir nervosa. Sentiu os olhos dele pesados sobre ela, mas não queria levantar o olhar para ver a expressão em seu rosto.
Sabia que ele deveria estar desapontado com ela. Provavelmente esperava algo melhor do que uma escrava suja para seu aniversário.
Ela queria poder simplesmente desaparecer. Ele era lindo, e ela era uma bagunça completa.
Depois do que pareceu uma eternidade, ele se virou e fechou a porta. Deu um passo à frente e estendeu a mão em direção à cabeça dela.
Ele notou que ela estava sangrando e queria verificar o ferimento. Mas logo puxou a mão de volta quando a viu se afastar.
“Não vou bater em você,” ele disse suavemente.















































