O Dom de Artêmis

Eu estava na floresta para desenhar as flores silvestres. Eu adorava desenhar. Era minha paixão. Era também um meio de expressar meus sentimentos e aproveitar o silêncio.

Eu não era introvertida, mas gostava de estar sozinha.

Concentrei-me nos diferentes tons das pétalas. O sol brilhava forte sobre as flores, lançando diferentes tons de azul.

Felizmente, eu trouxe tudo o que precisava para lhes fazer justiça. Peguei meus lápis e giz de cera e comecei a trabalhar.

Eu estava tão absorta no meu esboço que quase não ouvi as patas no chão da floresta. Um lobo surgiu atrás de mim, e sorri para ele.

Era um lobo louro-areia que reconheci como meu melhor amigo, Kyle. Nós crescemos juntos no bando, mesmo que eu fosse apenas humana.

O alfa do bando me adotou quando eu era apenas um bebê e me criou como um deles porque, segundo ele, fui abençoada por Ártemis. Sim, a própria Deusa da Caça.

Eu tinha uma cabeça de veado olhando para uma lua crescente tatuada no meu braço e, segundo meu pai, era a bênção da Deusa.

Graças a esta marca, eu poderia me conectar mentalmente com todos os licantropos e convocá-los, mesmo aqueles que não eram lobos.

Como eu sabia que funcionava? Bem, digamos que, quando bebê, eu não tinha controle total sobre isso, e alguns outros licantropos se sentiam atraídos por mim.

Isso causou muitos problemas para a patrulha de fronteira, mas eles me perdoaram. Na maioria das vezes.

"O que foi, Kyle?", perguntei ao lobo atrás de mim, mas continuei desenhando.

Virei meus olhos verde-claros para os amarelos dele. Isso foi inesperado. O que meu pai queria?

"Que tipo de novidade?", perguntei, curiosa.

"Tudo bem, mas você sabe que eu não gosto disso," eu disse, franzindo a testa.

Ele riu, rosnou e abaixou seu corpo para eu poder pular em suas costas. Eu odiava subir no seu lombo, era mais difícil montar um lobo do que um cavalo. Eles não eram tão equilibrados.

Segurei seu pescoço com toda minha força enquanto ele corria pela floresta.

Eu confiava em Kyle com minha vida, mas isso não significava que eu não estivesse com medo.

Eu montava em suas costas quando criança, e meu pai sempre disse que eu deveria parar de fazer isso porque era um gesto muito íntimo, mas Kyle não tinha parceira por enquanto e não se importava.

Quanto a mim, provavelmente nunca teria um parceiro, mesmo que meu pai fosse persuadido do contrário.

Ele disse que minha marca era a prova que a Deusa me escolheu para um grande propósito. Certo. Até parece. Quem iria querer uma humana como parceira?

Kyle parou na frente da nossa casa da matilha.

Era uma casa enorme onde os lobos viviam. Lá também ficavam os escritórios dos líderes, além de uma enorme cozinha onde todos nós podíamos comer juntos, se quiséssemos.

Desci das costas de Kyle para entrar na casa. Meu meio-irmão e futuro alfa do bando, Jacob, me cumprimentou na porta.

Ele era a cópia de nosso pai, e sempre me tratou como sua irmã de verdade, mesmo que não tivéssemos parentesco de sangue.

Ele era alto, cerca de 1,80m, e seu cabelo castanho, da mesma cor que o meu, estava em um corte de skatista. Ele era musculoso porque treinava muito e tinha todas as lobas a seus pés.

Ele ainda não estava acasalado, então isso lhes dava esperança.

Kyle sorriu para meu irmão quando entrou na casa comigo e colocou a mão no meu ombro, ganhando um olhar de Jacob. Ele odiava quando Kyle me tocava, ele era muito protetor comigo.

Ele pousou seus olhos castanhos em mim enquanto eu caminhava até ele e sorriu amorosamente.

"Penny. Vamos. Papai está nos esperando."

"Certo, Jake. Você sabe o que ele quer?"

"Não, realmente não."

"Excelente."

Ele riu e me deu um de seus sorrisos matadores, aquele que faz todas as lobas não acasaladas do bando desmaiarem.

"Você sabe que ele odeia quando você é sarcástica", disse ele.

"Ele sabe que eu não posso evitar." Dei de ombros.

"Certo", ele riu.

Entramos no escritório do alfa, e lá estava uma versão mais velha de Jacob. Meu pai estava atrás de sua mesa de madeira e imediatamente me senti feliz. Eu sempre me senti segura e bem quando ele estava por perto.

Tal era o poder do alfa.

Alfa Richard ergueu os olhos castanhos e sorriu. Ele se endireitou na cadeira antes de fazer sinal para nos sentarmos. Quando fizemos isso, ele olhou para nós.

"O rei alfa Sirius virá nos visitar em breve."

Arregalei meus olhos e Jake também.

O rei alfa dos lobisomens era na verdade um licano. Eles eram lobos maiores e mais fortes com uma forma de meio animal, meio homem que os lobisomens não tinham.

Eu sabia que o rei alfa odiava humanos e viu como um mau sinal meu pai ter me acolhido, então a notícia me deixou desconfortável por um momento.

"Não se preocupe, Penelope. Ele não está vindo por sua causa", meu pai disse, tranquilizador. "Houve algum problema com os vampiros por aqui, e por isso pedi a ajuda dele."

"Devo... ficar longe enquanto ele estiver aqui?", perguntei, incerta.

"Vá para a faculdade como de costume e não mude seus planos. Você é minha filha, e este bando é a sua casa."

Sorri para ele, e ele sorriu de volta. Eu sabia que ele sempre me apoiava, mas eu ainda tentava ficar bem longe do rei. Era o melhor para todos.

Uma semana se passou antes do dia de sua chegada, e eu estava voltando da faculdade para casa. Eu estava sozinha esta noite porque Kyle já estava em casa para cumprimentar o rei.

Meu pai organizou uma festa para ele, seu beta e alguns membros do bando real. Eu esperava que eles gostassem.

Eu estava andando pela floresta, me aproximando do nosso território. Eu podia sentir as folhas quebrando sob meus pés. Eu gostava desse som. Eu gostava de andar na floresta.

Ser criada por lobisomens foi definitivamente uma vantagem para mim. Cantarolei para mim mesma enquanto passava pelas árvores.

A lua estava lançando luz suficiente para que eu pudesse ver meu caminho. As estrelas também estavam aparecendo, e isso quase me deu vontade de desenhar o cenário, mas me esperavam em casa, e eu não podia demorar mais.

Não era um lobo, porque eles sempre me faziam saber de sua presença, já que eu não podia usar meu olfato como eles.

Liberei meu poder que eu costumava usar para "ouvir" quando eles usavam o link mental, mas a coisa atrás de mim não era um metamorfo.

Senti o pânico tomar conta de mim e apressei o passo. A fronteira estava marcada por um sicômoro, e eu só tinha que passar por ela por segurança.

Eu poderia usar meu poder para pedir ajuda, mas não queria fazer isso a menos que estivesse em perigo.

Eu me sentia assobiando para um cachorrinho de colo, e eu respeitava os lobos demais para isso.

Eu queria correr, mas isso poderia incitar a coisa atrás de mim. Respirei até que a presença surgiu bem atrás de mim. Eu estava com muito medo, então projetei meu poder e esperei que Jake me ouvisse.

"O que uma humana está fazendo aqui? Você não sabe que o lobo mau mora bem ali?"

Ele examinou meu rosto e riu ao me reconhecer. O som estava me gelando até os ossos.

"Oh! Eu reconheço você, saco de sangue. Você é a filha do alfa Richard. A pequena humana que ele acolheu abandonada na floresta. Bem, bem... vou me divertir com você."

Eu queria chorar, mas não lhe daria a satisfação. Tentei chutá-lo, mas isso só o fez rir. Ele trouxe meu pescoço perto de suas presas, então ouvimos um rugido poderoso.

O vampiro olhou para trás e arregalou os olhos.

Ele me derrubou, e segurei minha garganta dolorida enquanto olhava para o maior lobo cinza escuro que eu já tinha visto. Ele estava mostrando suas presas para o vampiro e rosnando ameaçadoramente.

"Que diabos...", disse o vampiro.

O lobo saltou entre nós e ficou protetoramente na minha frente. O vampiro fugiu, mas o lobo não o perseguiu. Ele virou seus olhos dourados com auréolas roxas para mim e continuou rosnando.

Eu estava segura?