
Snowred: A Maldição do Lobo
Ellie nunca imaginou que sua fuga começaria sendo caçada. Mas quando Snowred — o notório e implacável guerreiro lobisomem — a arranca da única vida que conhecia, ela é jogada em um conto de fadas distorcido, repleto de perigo, desejo e magia negra. Com uma Rainha Má puxando os fios das sombras, Ellie se torna mais do que uma presa: ela é a faísca que pode quebrar a maldição de Snowred... ou destruir os dois no processo.
O doce encontra o selvagem, e o fogo se choca com o gelo, enquanto o amor deles queima e machuca na mesma medida. Um quer liberdade. O outro quer paz. A Rainha quer vê-los destruídos. Mas o destino pode ter outros planos.
Seja bem-vindo(a) à floresta. Nada aqui é seguro, nem mesmo o amor.
Desejo
ELLIE
As nuvens sobre o Vale de Gelo estão carregadas e baixas. Parecem prestes a desabar do céu e engolir tudo.
Mas não há tempestade lá fora tão terrível quanto a que ruge dentro de mim. Tudo por causa das notícias devastadoras que acabei de receber.
As palavras do Mensageiro da Lei ainda ecoam em minha mente, mesmo que ele já tenha partido há um bom tempo. Não sei ao certo quanto se passou. O tempo parece distorcido agora. A única coisa que parece real é a carta em minhas mãos.
Minha família adotiva se foi — todos eles.
Pereceram em uma avalanche monstruosa a caminho de sua casa de veraneio na parte nobre do Reino de Alma — onde a Rainha reside. O trenó deles foi encontrado destroçado e parcialmente soterrado próximo à beira de um precipício.
Agora não haverá mais surras por eu ser lerda. Nem mais jantares frios enquanto todos se fartavam. Nem mais silêncio quando eu chorava. Nem mais hematomas. Nem mais apelidos cruéis. Nem mais anos tentando me esconder pelos cantos.
A carta diz que foi um triste acidente.
Mas eu compreendo o verdadeiro significado. E posso ver as assinaturas.
A escrita no final, manchada de sangue, é o que não sai da minha cabeça. Foi feita com mão trêmula, e a tinta está borrada pelo que sei ter sido pavor.
Eu via frequentemente esse tipo de medo — quando me olhava no espelho, à mesa de jantar deles e atrás de portas trancadas.
O Mensageiro da Lei não expressou pêsames. Apenas me entregou o aviso e uma chave.
“Quando terminar de lamentar”, ele disse sem emoção, “deve se vestir de acordo com sua nova posição. Você é a Senhora desta casa agora, Ellie.”
Então ele partiu, apertando o casaco e fechando a porta atrás de si como se quisesse fugir rapidamente.
Desabo na cadeira de balanço perto da lareira, onde eu estava fazendo meias porque precisava — ninguém nunca me deu nada.
A cabana de madeira tem apenas o básico. O suficiente para viver, mas não para viver bem.
O fogo crepita suavemente. Lá fora, a neve toca as janelas delicadamente. Mas eu não consigo me mover.
Quando sinto esse tipo de medo ou o peso esmagador da tristeza que vem com a morte, vou para um lugar seguro em minha mente.
Meu lugar seguro é uma história muito antiga que me confortava quando eu sentia esse tipo de medo.
Quando eu era pequena, minha história antiga favorita era Snowred.
Todos no Vale a conhecem. Era sobre o melhor Cavaleiro da Rainha Myrage, um homem chamado Snow.
Ele podia se transformar em um enorme lobo branco, muito grande e silencioso. Seu pelo era tão branco que se camuflava na neve, então ninguém o via chegando.
Ele era a arma da Rainha — ela o enviava atrás de seus inimigos, e ele sempre voltava com um coração.
A Rainha invejosa do reino vizinho.
A esposa do padeiro.
A criada.
Qualquer um que parecesse mais bonito que ela ou tentasse tomar seu poder...
Snow fazia o que ela mandava e voltava com seus corações.
A parte da história que eu mais gostava era o final.
Snow tinha uma família secreta que havia sido forçada a deixar as terras da Rainha por motivos desconhecidos.
Mas ele esteve lutando por eles o tempo todo, cuidando de seu filho e esposa doente.
Quando a Rainha descobriu seu segredo, ela testou sua lealdade ordenando que matasse sua família.
Ela pensou que ainda teria seu amor no final.
Ela era forte demais, e Snow ficou com cicatrizes das garras felinas dela.
Envergonhado de seu rosto marcado, ele se retirou para a floresta, escondendo-se nas partes mais frias do Vale de Gelo.
Ninguém sabe o que aconteceu com sua esposa e filho.
Essa história tinha centenas de anos.
Eu odiava a Rainha, que ainda está viva hoje, governando sobre todos nós...
Mas eu amava a história do guerreiro que lutou por sua família.
Cresci no Vale de Gelo. Vi Snow quando era criança.
Ele salvou minha vida.
Pelo menos... gosto de pensar que sim.
Dez anos se passaram.
Tenho vinte anos agora.
Mas nunca esquecerei o meio do inverno, quando eu tinha dez anos e fui vendida como empregada para uma família rica.
Minha família amorosa havia morrido enquanto estava fora do Vale a negócios.
Depois disso, tudo ficou confuso — não por tristeza, mas por algo mais estranho, mais denso que a tristeza.
Minhas primeiras lembranças são difíceis de recordar, como se estivessem atrás de uma névoa que nunca consegui dissipar.
Tudo que eu sabia era que não tinha ninguém. Nada.
E assim, fui forçada a trabalhar duro para os vizinhos.
Eu tinha um lugar para morar, mas era terrível ser um fardo para eles.
Uma noite, depois de quebrar um prato e levar um tapa no rosto, saí descalça para a neve. Não me importava com o que acontecesse. Só queria que acabasse.
Andei até meus pés ficarem dormentes e minhas pernas cederem.
Um lobo branco, três vezes maior que qualquer um que eu já tenha visto ou ouvido falar.
Silencioso. Imóvel. Me observando.
Fechei os olhos, certa de que estava prestes a morrer por uma mordida fatal.
E sabe o que aconteceu?
Acordei na manhã seguinte em minha cama. Aquecida. Segura. Sem explicação.
Até hoje, ainda não tenho certeza se foi real ou apenas um sonho.
Mas eu precisava que fosse.
Comecei a acreditar nele. Não apenas no lobo, mas no homem. No protetor. Naquele que ajudava quando ninguém mais o fazia.
Porque me agarrei à crença de que Snow havia me salvado.
Esperei esperançosa pelo dia em que a vida me traria outra pequena coisa boa para aliviar meu sofrimento. O dia em que ele poderia voltar.
Nos anos que se seguiram, vivi graças à bondade das pessoas da vila.
Pequenos sinais de que o mundo não era todo ruim.
Eu me sentia como uma princesa secreta da cidade.
Nos meus sonhos, ele parecia o mesmo, cicatrizado mas forte. Ele voltaria por mim, bateria na porta com gelo ainda nos ombros e me diria que queria me manter segura e me fazer sua nova esposa.
Há rumores. Sussurros. Histórias contadas em voz baixa sobre uma sombra branca na floresta.
O tipo de histórias que você só acredita se já o viu. E não posso deixar de me perguntar se ele é o motivo pelo qual todos estão mortos.
Será possível que ele tenha me salvado duas vezes?
Então faço uma mala.
Porque se Snow é real — e se ele fez isso — preciso olhá-lo nos olhos.
Não sei se quero agradecê-lo. Ou gritar com ele. Ou implorar para que fique.
Mas tenho que encontrá-lo. E se eu sair para a neve, posso chamar sua atenção.
Prefiro procurá-lo em vez de ficar sentada naquela cadeira de balanço, pensando repetidamente em todos os cenários possíveis.
Ele me salvou na natureza uma vez — talvez faça isso de novo.
Então lá vou eu. Deixo minha casa para trás, uma fina linha de fumaça subindo da chaminé enquanto entro nas árvores. O frio parece mais intenso aqui. A luz não alcança o chão na floresta.
Tudo cheira a casca de árvore congelada, pinho e algo um pouco... selvagem.
Quanto mais fundo caminho, mais sinais vejo...
Galhos quebrados no alto, como se por algo maior que um urso, pegadas se transformando em marcas de garras.
Ele está aqui fora. Eu simplesmente sei.
Ando até minhas pernas doerem, até a lua brilhar acima das árvores. Então paro.
Faço uma fogueira, minhas mãos tremendo mais de excitação do que de frio. Como um pedaço de carne seca e me forço a beber água, mas não consigo dormir.
Meu coração bate rápido demais, meus pensamentos claros demais.
E se ele estiver diferente?
E se eu tiver inventado tudo?
Em algum momento, fico exausta demais. Me enrolo debaixo da capa, o fogo queimando baixo, e caio em um sono agitado cheio de lobos brancos e garras afiadas.
E então acordo.
Não por causa de um som. Não por causa de movimento.
Mas porque sinto fortemente que não estou sozinha.
Abro os olhos contra a luz do fogo, os pelos dos meus braços se arrepiando antes que eu entenda completamente o porquê.
Alguém está aqui.
O vento sopra forte atrás dele, mas ele não se move.
Um homem.
Sua sombra é grande logo além da borda do fogo — alto, imóvel, silencioso.
E então eu vejo.
Uma mecha espessa de cabelo loiro-branco.
Ele não fala.
Eu também não.
Porque cada história que já contei a mim mesma está bem na minha frente, observando.
Como se nunca tivesse partido.















































