
Flagrados no Telão
Quando Ellie flagra seu marido — o CEO de tecnologia Derek Brighton — em uma cena comprometedora com a chefe de RH no telão de um show do Goldray, seu mundo desmorona diante de milhares de pessoas. De coração partido, ela vira as costas para a traição... e vai direto para os holofotes. Então, Leo Voss entra em cena, o irresistível vocalista tatuado da banda.
O que começa como um encontro nos bastidores logo vira um romance avassalador. Ele é um deus do rock de jaqueta de couro. Ela, sua nova musa. Juntos, são imparáveis. Mas, à medida que Ellie reencontra sua voz, a atenção da mídia atinge níveis caóticos. E quando a ex-esposa de Leo reaparece, Ellie se vê diante do risco de mais uma decepção pública. A última coisa que ela precisa é complicar ainda mais sua vida... ou será que vale a pena apostar num amor que não segue regras?
Trouble
Algumas mulheres ficam bravas. Algumas se vingam. Ela conseguiu um rockstar.
ELLIE
Cadê o Derek? Ele disse que almoçaríamos juntos hoje. Para falar a verdade, almoço não é bem a palavra certa.
Desde que Derek fundou a NFNLYF, sua empresa de IA destinada a prolongar a vida humana, ele só bebe sucos verdes e chama isso de “segunda refeição”.
Ando pelo corredor de piso de mármore, olhando para as salas de reunião com janelas enormes. O escritório da NFNLYF no Vale do Silício é simples demais para o meu gosto, mas Derek não liga para minha opinião.
Do outro lado do corredor, vejo a assistente de Derek, Jenny. Ela é jovem, esperta e dedicada. Sorrio ao me aproximar dela.
“Oi, Jenny! Viu o Derek?”
Jenny parece surpresa. “Eleanor! Ah, oi. O Derek está esperando você?”
Sinto uma pontada de preocupação. “Deveria estar. Combinamos de almoçar, não?”
Jenny levanta um dedo com uma unha bem-feita. “Um momento. Deixa eu ver a agenda dele.”
Eu esperava que Derek trabalhasse menos e passasse mais tempo comigo agora que é tão bem-sucedido. Nossos filhos já cresceram e saíram de casa.
Parei de trabalhar para criar nossos filhos enquanto Derek corria atrás dos sonhos dele. Agora sua empresa vale bilhões.
Era para estarmos curtindo o tempo juntos, saindo, viajando e tendo aventuras. Ou pelo menos almoçando juntos.
Temos só quarenta e cinco anos, não estamos mortos.
Mas esse é parte do problema. Derek quer evitar a morte modificando seu corpo, o que significa nada de álcool, pizza, TV ou sexo.
20 anos atrás, tínhamos uma vida sexual ótima. Mas em algum lugar entre as vitaminas e o “não fazer coisas divertidas”, perdi o homem que amava.
“Ele está na sessão de crioterapia”, diz Jenny. “Se quiser esperar, ele só vai demorar mais alguns—“
Não ouço o resto e começo a descer as escadas de mármore em direção à sala escura onde Derek instalou a máquina de crioterapia.
Estou de saco cheio de esperar por ele. Sou sua esposa. Ele pode falar comigo agora.
A máquina faz um barulhão quando me aproximo. Respiro fundo, abro a porta da sala e então grito quando o ar gelado me atinge.
“Caramba, que frio!”
Derek está lá de pé, pelado, com a pele brilhante. Parece artificialmente lisa, como borracha. Ele me olha com cara feia.
“Droga, Ellie! Nunca vou ganhar do Bryan Johnson nas Olimpíadas do Rejuvenescimento se você atrapalhar meu plano assim!”
Tento não revirar os olhos. “Dá pra sair, por favor? Está congelando!”
“Não. Você estragou a reação do meu corpo. Vou ter que começar tudo de novo.”
Sinto uma pontada de tristeza. Comecei a sonhar acordada de novo. Não com outros homens, mas com Derek, como ele costumava ser, antes de se importar com todas essas coisas.
É irônico porque ele está ótimo—muito em forma—mas não me deixa encostar nele. Eu preferiria um marido com aparência normal a essa versão fria do meu marido qualquer dia.
“Ainda vamos almoçar? Quer dizer... hm... fazer uma segunda refeição?”
Estou tremendo agora, mesmo vestida. O ar gelado bate no meu rosto, formando uma nuvem aos meus pés.
“Desculpe”, diz Derek sem emoção. “Jenny deve ter cometido um erro. Tenho uma reunião com a chefe de RH, Candi.”
Derek sempre coloca o trabalho em primeiro lugar. Candi começou há menos de um ano. Ela tem a minha idade, mas mexeu no rosto para parecer mais nova.
Acho que coisas ruins não importam quando te fazem parecer mais jovem.
“Não dá pra remarcar?”
“Receio que não.”
Derek sai da máquina de frio, se secando.
“Não vou prejudicar meu cérebro com TV e definitivamente não vou comer nada não saudável. Mas não, não posso. Vou levar a equipe para ver Goldray hoje à noite, no SAP Center.”
Sinto uma pontada de ciúme. “Goldray? Posso ir?”
Menti quando disse que não sonho acordada com outros homens. Há só um homem em quem penso—Leo Voss—o vocalista do Goldray.
Tem algo no sotaque britânico dele e no corpo tatuado e atraente que o torna irresistível. E de qualquer forma, gostar de celebridades não conta.
“Não”, diz Derek firmemente, deixando cair a toalha. “Só membros da equipe NFNLYF.”
Ele fica lá, pelado, me olhando com cara feia.
“Tudo bem”, digo. “Vou pedir comida pra mim.”
“Óleos hidrogenados vão te matar!” Derek grita enquanto me viro e saio.
Fora do prédio, estou prestes a entrar no meu carro quando Jenny corre pelas portas, seu crachá balançando no pescoço.
“Eleanor! Espera!”
Por um momento, temo que ela vá me alertar sobre os perigos da luz do celular e “prejudicar o cérebro” para Derek.
Paro, segurando minhas chaves. “Está tudo bem?”
“Sim!” ela diz, ofegante. Então pisca várias vezes e limpa a garganta. Nunca vi ela tão nervosa antes.
“Tem certeza?”
“Eu—hm”, Jenny começa a tossir. “Estou ficando doente. E não posso ir com a equipe pra ver Goldray hoje à noite. Esperava que você pudesse ficar com meu ingresso.”
“Sério?” começo a sorrir. “Sinto muito que não esteja se sentindo bem. Honestamente, eu adoraria. Mas Derek disse que é pra integração da equipe. Ele não quer que eu vá.”
Jenny me entrega um ingresso do Goldray, então se vira e acena antes de correr de volta para o prédio.
Mas não tenho tempo para pensar muito nisso. Não vejo o Goldray ao vivo desde que o último álbum deles saiu, há três anos.
Dizem que este não é tão bom, mas quem se importa?
Fico animada pensando em olhar para o Leo Voss enquanto ouço a voz maravilhosa dele. E talvez, só talvez, Derek aja como uma pessoa normal por uma noite, e a gente possa dançar junto debaixo das luzes, lembrando quem costumávamos ser.
O estádio está lotado, e confiro de novo o número do assento no meu ingresso. É estranho que seja lá em cima, mesmo que Derek possa pagar pelos melhores lugares para a equipe.
Estou atrasada, e dá pra ouvir uma música conhecida. O pessoal está gritando.
Não faço sexo há mais de um ano, desde que “não fazer sexo” virou parte importante do plano de saúde de Derek.
Passo pela barraca de comida, e o cheiro de pipoca é tentador. Derek não vai comer comigo, mas talvez Candi queira?
Ela pode parecer uma boneca, mas parece simpática. Decido comprar uma pipoca grande.
Então, me sentindo rebelde, compro uma cerveja. Uma Corona gelada vai cair bem.
Estou me espremendo pela multidão, subindo em direção aos assentos quando Leo Voss começa a falar.
“Sei que vocês estão cansados de olhar pra mim, então vamos colocar alguns de vocês no telão.”
Rapidinho olho para o telão e vejo uma família acenando para a câmera.
Leo ri.
“Ah, que fofo. Olhem só—mamãe, papai e um bebezinho. Ela está usando fones de ouvido cor-de-rosa! Será que ela tem idade pra estar aqui? Ah, foda-se—tem que começar cedo. Opa, não devia estar falando palavrão. Vamos continuar.”
Sinto uma pontada de saudade. Lembro daqueles dias agitados quando meus filhos eram pequenos.
Agora tenho sorte se eles ligarem uma vez por semana.
Olhando para as escadas na minha frente, tento não derramar minha cerveja ou minha pipoca. Leo continua falando.
“Um grande aplauso para o grupo de jovens ali! Obrigado por virem, amigos. Ah, ok, eles estão... rebolando? Não sei se estão no show certo. A Sabrina Carpenter está se apresentando na rua de baixo.”
Me sinto um pouco tonta ao chegar no topo do estádio. Não cansada; com um marido como Derek, também me mantenho saudável, só que não de forma maluca.
Procuro a fileira C, encontro ela e peço desculpas enquanto me espremo passando pelas pessoas em direção ao assento 219.
“Certo”, diz Leo com seu sotaque charmoso. “Quem mais temos aqui? Ah, legal, esse casal de meia-idade bem ali. Você, com a camiseta com o símbolo do infinito. E você, a loira com as pulseiras.”
As palavras “símbolo do infinito” chamam minha atenção. Esse é o logotipo da empresa de Derek.
Olho para cima e meu coração afunda ao ver Derek no telão, abraçando Candi por trás. As mãos dela estão sobre as dele, os dedos entrelaçados.
Candi ofega, cobrindo o rosto, e se vira para longe da câmera.
Derek pisca várias vezes, como se não acreditasse no que está acontecendo, e então tenta se esconder, que nem criança pega fazendo coisa errada. Só que ele foi pego passando a mão nos peitos falsos enormes de Candi.
Passo o olhar do telão para a cena horrível diante de mim. Acho que vou vomitar.
“Ah, vocês não querem aparecer na câmera?” diz Leo. “Ou são muito tímidos, ou estão tendo um caso.”
Os sons do estádio somem enquanto caminho em direção a eles. Meu marido e sua chefe de RH, agindo como se o estádio inteiro não tivesse acabado de ver ele enrolado nela que nem uma cobra.
Estou tremendo de raiva. Não consigo falar.
Derek ainda está agachado no chão. Olho para as bochechas vermelhas dele, a testa suada, e então para Candi, cuja boca se abre quando me vê.
Derek me olha assustado. Ele levanta as mãos.
“Querida, posso explicar.”
“Espera, quem é essa?” diz Leo. “Morena usando calça de couro e uma camiseta do Goldray, muito bonita por sinal. Ah, merda. Ela é a esposa dele?”
O telão ainda está mostrando a gente. Do outro lado do estádio, olho nos olhos de Leo. Nesse momento estranho e terrível, sinto como se ele estivesse aqui para me apoiar.
Puxo meu braço para trás, levantando o copo de plástico bem acima da minha cabeça. Olho direto para o Derek.
“Seu. Babaca.”
E então jogo o copo para frente, lançando cerveja na cara dele.















































