À Sombra do Perigo: Almas Silenciosas

Através das frestas da ventilação do teto, observei os homens e as mulheres desprezíveis que viemos matar enquanto eles conversavam e interagiam. A contagem atual era de vinte e um, então só faltavam mais três.

Vinte e quatro pessoas viriam dar lances e comprar escravos humanos.

Meu estômago revirou só de pensar nas dezenas de jovens vítimas inocentes sendo transportadas para o local para serem vendidas. Eu não as conhecia, mas sabia como era ter o controle arrancado de mim em um turbilhão de violência e dor.

Eu não as conhecia, mas faria tudo o que estivesse ao meu alcance para tirá-las do leilão esta noite.

"Temos vinte e três," sussurrei no meu comunicador enquanto mais dois seres humanos lamentáveis eram escoltados para a área de leilão altamente protegida.

"O caminhão com as meninas acabou de chegar. Não temos muito tempo," respondeu a voz baixa e sem emoção do meu irmão. Cain queria agir antes que levassem as vítimas para dentro do prédio. Ele estava prestes a fazer um massacre, e seu trabalho seria infinitamente mais fácil se ele pudesse trabalhar sem se preocupar em machucar pessoas inocentes.

Vinte e três. Não vinte e quatro. Se avançássemos agora, um dos alvos provavelmente escaparia.

"Sinal verde. Entrando em posição, Bravo," eu respondi, silenciosamente usando meus cotovelos para deslizar através da ventilação. Ao entrar na sala, fui direto para o meu esconderijo na plataforma de iluminação do salão principal de espetáculos, onde rapidamente me acomodei com meu rifle de precisão Barrett MRAD e inspecionei a área com minha mira.

"Bravo a postos. Você está liberado," eu disse, sinalizando que eu estava em posição e tinha usado meu celular para destrancar remotamente a entrada de Cain pela escada de incêndio.

Eu tinha uma boa pontaria e, a essa distância, seria como atirar em peixes dentro de um barril, mas meu objetivo principal era dar apoio.

Meu irmão queria olhar nos olhos desses desgraçados sádicos enquanto tirava o poder deles, além de suas vidas. Esta noite era muito importante não só para mim, mas também para o meu querido irmão gêmeo, que iria exorcizar seus próprios demônios.

Eu me xinguei em silêncio por sequer pensar no homem cruel que nos acolheu e nos criou—depois de mandar matar nossos pais. Agora não era o momento. Eu tirei Solomon da minha mente e foquei na cena diante de mim.

Pela minha mira, vi a porta de incêndio se abrir e meu irmão entrar no local. Reativei todas as travas, garantindo que ninguém pudesse fugir da retaliação que estava por vir. Em seguida, observei enquanto meu irmão avançava, como um sussurro ao vento, de um comprador para o outro, sem um pingo de hesitação ou receio.

Um corte na garganta. Uma estrela ninja no olho. Um golpe perfeito no ventrículo esquerdo que levaria a uma morte lenta, mas inevitável. Sete caíram antes que os outros sequer percebessem o perigo em que estavam.

Mantive meus olhos nas mãos, procurando por alguém que fosse atrás de uma arma escondida, embora todos os compradores fossem revistados antes de serem autorizados a entrar nesta área. Um deles sacou um pequeno calibre .22 da bota, e eu atirei em seu braço antes que ele pudesse mirar no meu irmão.

Disparei mais um tiro no joelho de um grandalhão que estava se esforçando ao máximo para pegar meu irmão desprevenido, mas a maioria desses idiotas covardes correu gritando em direção às portas trancadas ao primeiro sinal de problema.

Covardes de merda.

Quando Cain percebeu que eles não lutariam, ele começou a tomar seu tempo. Os gritos resultantes só pareciam aumentar o medo debilitante que permeava o ar. Fiquei observando cuidadosamente, garantindo a segurança do meu irmão, até que os gritos amargos desapareceram e apenas a respiração acelerada de Cain podia ser ouvida na sala cavernosa.

Rapidamente desmontei e guardei meu rifle antes de fazer o download e apagar as filmagens. Deixei a gravação original da venda de seis meses atrás, com muitos dos mesmos rostos, para qualquer investigador encontrar. Em seguida, alterei a temperatura da sala para despistar a hora exata das mortes.

Cain não estava no ponto de encontro, e com uma rápida olhada no meu celular percebi que ele ainda estava no salão principal, ajoelhado diante de suas vítimas.

Uma pontada de pavor e medo fez meus pés se moverem rápido. Em instantes, eu estava ao lado dele.

Examinei seu corpo, procurando por algum ferimento que pudesse ter passado despercebido durante a ação, mas era inútil. Cain estava literalmente pingando sangue, seu cabelo branco estava manchado de vermelho e rosa.

"Cain?"

Em vez de me responder, ele olhou para cima—e o que vi em seus olhos me chocou profundamente. Cain não estava ferido ou tendo uma crise de consciência por ter matado brutalmente vinte e três pessoas com suas próprias mãos.

Não, ele estava eufórico.

Uma euforia que afirmava a alma e induzia à felicidade ardia como fogo em seus olhos.

Naquele momento, eu sabia que estávamos à beira de um penhasco. Solomon havia treinado meu irmão para ser seu assassino pessoal desde muito jovem. Matar não era novidade para Cain. Mas sempre foi um trabalho para ele.

Agora, parecia mais uma droga.

Através do rosto feliz e ensanguentado do meu irmão, vi um futuro horrível à nossa frente. Um futuro em que eu o perderia para sua sede de sangue e ele ultrapassaria a linha de assassino para serial killer. Como eu nunca abandonaria Cain, meu próprio futuro também seria coberto de sangue.

Eu não podia deixar isso acontecer.

Era hora de recomeçar.