
As Cores do Fogo 2: A Profecia do Fogo
A rainha Kira do Reino Dani é a primeira mulher dragão metamorfa em séculos, e a corte não a deixa esquecer a única coisa que eles consideram mais importante: um herdeiro. Depois de decepções e conspirações para substituí-la, a descoberta de uma profecia muda tudo. Uma criança “nascida da casa e das chamas” poderia decidir o destino do reino, e Kira sabe que ela e sua filha ainda não nascida estão no centro disso. Mas quando uma poderosa rival com sangue de dragão chega, os laços familiares e o dever real entram em conflito. Desta vez, Kira se recusa a ser apenas uma coroa ou um receptáculo — ela está pronta para se tornar uma tempestade que ninguém pode conter.
Capítulo 1
Livro 2: A Profecia do Fogo
KIRA
A ideia de um herdeiro me dava calafrios. Fazia-me pensar no que isso realmente significava.
Passei a mão pela barriga, lisa e silenciosa.
Era melhor não chorar. Era melhor fingir que um dia eu teria um bebê. Um dia. Em breve.
Chegaria o momento em que eu daria à luz, e o conselho pararia de fazer perguntas. Mas não era agora.
Mas para eles, eu era rainha apenas no nome. Mesmo com um dragão, ainda duvidavam se eu era boa o suficiente, forte o suficiente, útil o suficiente para gerar um herdeiro.
O valor de uma rainha era medido pelos filhos que ela ainda não tinha. O conselho observava minha barriga vazia ficar mais vazia a cada dia que passava.
Alguém bateu na grande porta de madeira, suavemente e de um jeito familiar.
“Pode entrar”, disse em voz baixa.
Minha irmã Raya entrou, com um sorriso forçado. Ela não era mais a Princesa de Valon, mas Lady Raya Dani, esposa do irmão de Cerion, Arion.
Raya se aproximou. Sua pele clara e cabelos brilhavam ao luar.
O casamento não tinha diminuído sua beleza. Se é que possível, a tinha tornado ainda mais radiante.
Raya ficou em silêncio no início. Ela sabia que era melhor não falar naquele momento.
Ficou ao meu lado junto à janela, tocando meus dedos e mantendo aquele sorriso forçado.
“Eu senti”, ela disse baixinho.
Ela sabia tão bem quanto eu. Eu não estava grávida.
Fiz que sim com a cabeça. “Não aconteceu de novo.”
“Sinto muito”, ela quase sussurrou, e senti nossos corações doendo juntos.
“Às vezes penso que algo em mim está quebrado -” Tentei soar forte ao dizer isso, mas minha voz falhou.
Eu sempre me esforçava para ser forte. Sempre fui durona e capaz de lidar com as dificuldades.
Superei a perda da minha mãe. Aguentei as surras do meu próprio pai.
Até lidei com o fato de ganhar um dragão de repente.
“Kira.” A voz de Raya ficou firme de repente. “Você não está quebrada. Você manteve este reino unido mesmo com pessoas querendo sua cabeça e um conselho que torce mais pelo seu fracasso do que pelo seu sucesso.”
Eu ri um pouco; era uma mistura de raiva e tristeza.
“Tente dizer isso aos velhos. Eles contam as vezes que não engravidei e sempre ficam de olho no meu ciclo.”
“Seu valor não está em ter um filho”, ela disse.
Ela fez soar verdadeiro; ela acreditava nisso, mesmo que não fosse realidade.
“Para eles, está. Eles cochicham na sala de reuniões: 'Ela não nos deu um herdeiro.'” Soltei um grande suspiro enquanto esfregava os olhos.
“Então deixe que suas mentes pequenas fiquem menores. Você tem seu próprio dragão, e dragões são parceiros para a vida. Isso é destino. Seu casamento é destino.”
Quando eu duvidava, Raya sempre me fazia sentir mais confiante.
Olhei para um pequeno retrato pintado na prateleira. Era de nossa mãe.
Nossa mãe, parecendo jovem e bonita — com um lenço lilás sobre os ombros.
“Você pensa nela às vezes?”, perguntei.
“O tempo todo”, Raya respondeu.
“Ela saberia o que dizer.” Minha voz tremeu. “Ela me disse: 'Quando o mundo estiver barulhento, encontre o silêncio. E quando até o silêncio doer, chore. Chorar pode te tornar forte, não fraca.'”
Raya me abraçou — era quente e reconfortante, como só o abraço de uma irmã pode ser. Eu precisava disso. “Você não está sozinha. Estou aqui”, ela me disse.
Abracei-a por um longo tempo antes de soltá-la. “Como é estar casada neste castelo? Você ainda está feliz? Arion ainda acorda cedo para praticar tiro com arco na varanda?”
Ela sorriu. “Sim, estou feliz, Kira, e ele acorda todas as manhãs para praticar. Ele se oferece para me ensinar, e toda manhã eu o lembro que ele se casou com uma princesa. Você sempre gostou mais de lutar do que eu.”
Eu ri de verdade. “Você o torna melhor, Raya.”
“É isso que o amor deve fazer, não é?”
O momento era ao mesmo tempo feliz e triste.
“Amor — eu o tenho, mas esta noite parece frágil, como se pudesse ser facilmente quebrado pelo fracasso.”
“Kira.” Ela respirou fundo. “Se você nunca tiver um filho, você e Cerion ainda governarão — juntos. E Arion e eu, o conselho, seu povo — manteremos sua memória viva — para sempre.”
“Sem filhos, algumas pessoas são esquecidas”, lembrei a ela.
Seus olhos azuis pareciam esperançosos, algo que eu pensava estar há muito perdido. “Então escreveremos novas histórias.”
Após um longo abraço, Raya me deixou sozinha com meus pensamentos.
Deitei-me na cama sob lençóis de seda preta frescos, cansada mas não derrotada.
Mas não conseguia pegar no sono. Fiquei deitada acordada e imóvel.
Ouvi sons suaves no quarto. Uma porta rangeu — passos familiares que eram quietos e cuidadosos.
Então a cama se moveu, e eu soube que Cerion estava ali.
Cerion não falou ao se deitar sob as cobertas; ele apenas colocou o braço ao meu redor e ficou ali quieto e imóvel comigo.
Segurei seu braço, mantendo-nos próximos um do outro.
Ele suspirou, então beijou o topo da minha cabeça. “Kir, você está acordada?”
Ele já sabia a resposta. Fiquei em silêncio.
“Queria poder tirar sua dor”, ele disse. Sua voz não estava firme ou segura; não era como o Cerion que eu conhecia. Soava triste e emocionada.
Ele ficou quieto por um longo tempo antes de falar novamente. “Cada sussurro maldoso, cada dor no seu corpo, cada dúvida — queria poder fazer tudo isso desaparecer. Odeio que este reino te julgue pelo que acham que seu corpo deveria fazer. Você não é menos, Kira. Nunca será — para mim, jamais.”
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto quando ele disse isso.
“Esperarei, até que os deuses decidam, ou para sempre se eles escolherem não fazê-lo. E se nunca tivermos um filho, ainda deixaremos nossa marca na história sem um.”
Sua mão moveu-se para minha barriga e repousou ali, me dando esperança novamente.
Coloquei minha cabeça em seu peito, acalmando meu coração acelerado ao ouvir o dele.
Lar.
“Eu te amo”, ele disse baixinho, me abraçando mais forte. “Pelo que você é, não pelo que você dá.”
Assenti levemente e fechei os olhos. As esperanças do reino podem depender da minha capacidade de ter um bebê, mas esta noite, a própria esperança está em nós — em nosso amor — amor verdadeiro.
Adormeci, não porque tudo estava perfeito, mas porque por ora, era suficiente ser amada.














































