Melanie Gomez
REI ALFA THEO
Ficar sentado aqui no carro com a cabeça inclinada para trás, com a minha companheira e os pais dela, enquanto dirigimos para o orfanato é estranho. Não de um jeito ruim, mas nunca imaginei que precisaria de ajuda para chegar ao carro.
Tentei ir sozinho, mas minha companheira teve que me segurar com a ajuda do pai dela. Recuperei um pouco da minha força, mas ainda estou instável. Um médico veio me examinar e ele também nunca tinha visto nada parecido.
Seus irmãos voltaram para cuidar da matilha e seus pais ficaram conosco.
Eu rio comigo mesmo porque se, sendo o rei, estou assim, imagina o que teria acontecido com o Stern? Ele provavelmente estaria em coma.
Eu tento relaxar, sentado com a minha pequena Cora ao meu lado, quando começo a ouvir fungadelas. Levanto a cabeça, olhando confuso para os pais dela, quando o alfa aponta para a minha companheira.
Olho para baixo e vejo que ela está aconchegada em mim, chorando. Estendo a mão, tiro o cinto de segurança dela e a pego no colo.
"O que aconteceu?"
"Eu machuquei meu companheiro! Por que você me quer se eu fiz isso com você? Eu não queria fazer isso!," ela falou suavemente enquanto as lágrimas caíam.
"Cora, baby, eu não estou bravo! Você é minha e eu já te amo! Nós vamos resolver isso, eu prometo. Estou recuperando um pouco da força e, antes que você se dê conta, vai tudo se resolver. Por favor, não chore!"
Ela assentiu, enterrando a cabeça em meu peito enquanto eu a abraçava. Em poucos minutos ela estava dormindo. Ela precisava disso, foram 12 horas difíceis.
Sabíamos que não podíamos esperar, então, assim que terminamos de comer, nos preparamos para sair. Eram algumas horas de carro até o orfanato.
Achei que seria tudo familiar para eles, mas, como disseram, o orfanato que os procurou.
Quando chegamos e estacionamos, eu já conseguia me manter em pé. Mas tive que me sentar rapidamente porque logo a energia se esgotou.
Entramos e fomos conduzidos a uma sala enquanto esperávamos Sandy, a diretora. Cora não quis se sentar na cadeira que puxei para ela, então ela se arrastou para o meu colo.
Felizmente, ela é do tamanho certo, se encaixa direitinho. Perfeitamente feita só para mim.
Quando a diretora entra, ela nos vê e a cor desaparece do seu rosto. Ela sabe de alguma coisa. Posso ver o pai dela ficando irritado.
"Precisamos de respostas agora. Por que você queria que a adotássemos? Por que, quando ela encontrou seu companheiro, ele ficou assim? De onde ela veio? Por que a loba dela é branca com olhos azuis e suas tatuagens aparecem no pelo dela?," Cannon questionou.
"Bom, para começar, sim, ela é uma lobisomem. Ela foi trazida aqui porque precisava ficar escondida. Há pessoas que virão atrás dela, especialmente agora que sua loba está ativa. Seus pais foram mortos tentando escondê-la.
"A cozinheira do palácio a tirou de lá e veio até nós, explicando o que precisávamos fazer. Ela precisava ser treinada como uma guerreira até que sua loba aparecesse. O palácio da sua família ainda está de pé e espera que ela volte para casa.
"Só preciso dar um telefonema e nos dirão o que fazer. Seus inimigos aguardam seu retorno desde que ela completou dezoito anos.
"Felizmente para ela, já faz tanto tempo que a maioria foi embora, acreditando que ela está morta," Sandy nos explicou, o que só nos deixou com mais perguntas.
"Deixa eu ver se entendi. Tricora é a filha perdida da família real mutante de Aries. Aquela que todos pensavam ter sido dizimada. E ela é, agora, a rainha de todos os mutantes?"
"Sim, o que agora, já que você é companheiro dela, faz de você o rei dos mutantes," Sandy respondeu.
Isto é muita coisa! Muito além do que jamais pensamos ser possível. Eu fico olhando para os pais dela enquanto eles olham para mim. "Então agora vamos fazer a ligação."
Ficamos sentados em silêncio enquanto Sandy pega o telefone e tira um papel do arquivo. Ela digita e, depois de alguns toques, uma voz profunda atende do outro lado da linha.
"Segurança real."
"Argon? É a Sandy. A fênix acordou."
"Estamos a caminho! Devemos chegar em 30 minutos."
Ela desliga e ficamos sentados esperando essas pessoas chegarem. Não temos certeza do que esperar, mas temos a sensação de que as coisas irão acontecer rapidamente e rezamos para que, quando voltarmos para casa, tudo se acalme um pouco.
Inclino a cabeça para trás, fechando os olhos para tentar recuperar mais forças quando ouvimos carros estacionando. Olho para os pais dela quando cerca de vinte homens de terno e fones de ouvido entram com todos os olhos voltados para a minha companheira.
Um deles, que parece ser muito mais velho que os outros, dá um passo à frente. Dou uma cutucada gentil em Tricora e, quando ela olha para cima, para nele.
Ela rapidamente se levanta, pula na mesa e encosta a testa na dele por um minuto, fechando os olhos, e depois recua, sorrindo. Ele tem um sorriso enorme e a puxa para um abraço.
Ok, não sei do que se trata, mas deve ser um jeito que eles têm de se comunicar. Ele a coloca no chão e olha para mim, rindo.
"Então é verdade, quando a realeza encontra seu companheiro, esgota sua energia. Vamos todos, vamos levá-los ao palácio para que o rei recupere as energias. Teremos que reforçar a segurança porque assim que for anunciado que ela está de volta, haverá ataques."
"A matilha do rei alfa será transferida para o palácio, assim como seus exércitos. Em seguida, teremos que fazer uma coroação. Todos os mutantes alfas das regiões serão convidados. Depois disso, o verdadeiro trabalho começa," anunciou Argon.
Todos nós nos levantamos quando um pensamento passa pela minha mente. Stern vai se irritar quando perceber quem ele rejeitou. Que idiota, mas ela é toda minha agora!
Tento dar um passo e minhas pernas aparentemente não querem funcionar e tenho que me segurar na mesa. Demora um pouco, mas finalmente consigo me orientar e começo a andar.
Ao sairmos, vemos ainda mais caras criando um caminho do prédio até os carros. Somos rapidamente levados para o carro e empurrados para dentro enquanto Argon e outros homens se amontoam, esmagando-nos no centro. Argon grita para o motorista ir embora.
Olho para trás e vejo os pais dela sendo empurrados para dentro do outro carro. Olho em volta e decido colocar Cora no meu colo para termos um pouco de espaço.
"Então, preciso saber, o que foi aquilo que ela fez com a cabeça? É um tipo de comunicação?"
"Em certo sentido, sim. Quando ela era um bebê, tinha sua loba Jenna presente. Quando o ataque aconteceu, meu lobo Kaan prometeu a ela que a esconderia e ele voltaria quando chegasse a hora," respondeu ele.
"Mesmo que ela mesma não se lembre de mim, sua loba se lembra. Então nossos lobos se reconectaram e restabeleceram esse vínculo de confiança."
"Quando chegarmos e acomodarmos vocês na sala do trono, todos os seguranças e funcionários caminharão em fila, pressionando a testa na dela e na sua. Isso estabelecerá um vínculo entre vocês e eles. Existem muitos mutantes que trabalham para nós, pois englobamos e representamos todos os mutantes."
Eu apenas me sento e fico olhando, apertando meus braços ao redor dela, sentindo-a tremer. Ela começa a choramingar. Olho para Argon, ele também já está olhando para ela.
Ele rapidamente vem até nós, agarra o rosto dela e pressiona a testa na dela. Ela passa a chorar pra valer enquanto entramos no território real.
Em uma fração de segundo, ela joga a cabeça para trás, solta um grito de gelar o sangue, caindo no meu colo. Eu viro com os olhos arregalados para Argon, cuja cabeça caiu em frustração. Estou perplexo, mas, antes que possa dizer qualquer coisa, ele fala.
"Ela começou a se lembrar do ataque. O grito veio do rompimento dos laços com seus pais. Tentei convencê-la com meu lobo, mas a loba dela não estava ouvindo e entrou em pânico.
"Ela vai ficar bem, mas é como se ela tivesse acabado de perder os dois, apesar de já ter se passado mais de 20 anos. Temos que ir devagar."
Aceno com a cabeça, olhando para frente, e vejo um enorme palácio aparecer acima dos telhados das casas. É branco brilhante com detalhes opalescentes. Achei que meu palácio fosse grande, mas esse é monstruoso.
Vejo bandeiras azul-claro tremulando quando subimos até o portão principal. Os exércitos ficam nas casas externas ao redor das instalações. Quando há um ataque, existem túneis subterrâneos para as famílias correrem para o castelo enquanto os guerreiros lutam.
Vemos o que parecem ser milhares de pessoas paradas. As mulheres parecem emocionadas, assim como os lobos mais velhos. Quando paramos, Cora abre os olhos, se espreguiça e olha para Argon, encostando a testa na dele. Ele acena com a cabeça e diz ao motorista para parar e para nos prepararmos para sair daqui.
Vemos homens correndo e nos cercando. A porta se abre e Cora sai, e a multidão explode em gritos. Eu a observo mudar para sua loba, o que provoca mais comoção. Ela olha para mim, fazendo sinal para eu segui-la, então rapidamente mudo e vou atrás dela.
Caminhamos ladeados pelos guardas até o portão do castelo e, quando ela entra, o vento sopra forte como se soubesse que ela estava em casa. No momento em que passo para dentro dos portões, sinto minhas forças retornarem e me sinto eu mesmo novamente.
Caminhamos até as portas principais enquanto voltamos às nossas formas humanas, acenando para a multidão. Somos conduzidos ao palácio e a entrada está além de tudo que já vi antes. Os pais dela são trazidos e também ficam maravilhados.
Não temos muito tempo para olhar em volta. Logo somos guiados até a sala do trono para ocuparmos nossos lugares. De repente Cora para, olhando para Argon.
"Onde está a cozinheira que me salvou e me tirou de lá?," ela perguntou.
"Depois que te deixou no orfanato, Ana fugiu, mas eles a pegaram e a mataram. Sua filha Annabelle ainda trabalha aqui, é a nossa cozinheira. Você a conhecerá quando ela passar," explicou Argon.
Nós entramos na sala do trono, um salão enorme. Todo branco com detalhes em azul claro e cadeiras douradas no centro. Olhamos para os tronos em estado de choque quando nos aproximamos, tomando nossos lugares.
Ficamos sentados por horas enquanto todos passavam. A última pessoa entrou chorando, se apoiando em Argon, e sabíamos que era Annabelle. Cora deu um pulo, correndo em sua direção enquanto Annabelle caía de joelhos. Ela colocou a testa na de Annabelle, e elas se abraçaram, chorando.
Argon caminhou até mim e ficou ao meu lado. "Elas nasceram no mesmo dia e brincaram juntas até o dia do ataque. Annabelle perdeu sua melhor amiga naquele dia e rezou para que elas se reencontrassem algum dia."