Annie Whipple
BELLE
"Eu aprendo as coisas muito rápido e nunca fico doente," eu disse à mulher atrás do balcão da pequena butique arrumadinha. "E eu posso começar o mais rápido possível, agora mesmo, se quiser."
A simpática lojista — Loretta, segundo seu crachá — me estudava com um olhar solidário.
Eu sentia seus olhos deslizarem sobre minhas roupas sujas e cabelos despenteados antes de, finalmente, se fixarem no hematoma do lado esquerdo do meu rosto.
Eu sabia que parecia completamente deslocada na butique imaculada. Loretta estava vestida da cabeça aos pés com marcas famosas, com unhas vermelhas e bem cuidadas.
Não havia uma mecha de cabelo fora do lugar em sua cabeça loira, que emoldurava perfeitamente seu rosto em forma de coração. Ela parecia cara. Madura. Linda. Parecia que esta cidade era o lugar dela.
Eu estava nervosa quando entrei na loja pela primeira vez. Eu não esperava conseguir um emprego. Tenho certeza de que todos os empregados de Loretta eram como ela — bem vestidos, com as vidas resolvidas.
Eu não era nenhuma dessas coisas. Mas eu estava desesperada.
Loretta hesitou por um momento antes de responder e sorrir com pesar. "Sinto muito, querida. Eu adoraria te entrevistar, mas não estamos contratando ninguém novo agora."
Olhei atrás de mim, para a porta da frente, e a placa "Estamos Contratando" que estava pendurada. Era a única razão pela qual eu tinha entrado na butique.
Loretta seguiu meu olhar. "Preenchemos a vaga de manhã," ela explicou apressadamente.
A esperança que girava em meu peito rapidamente se dissolveu.
"Mas eu adoraria pegar o seu contato e te avisar se algo aparecer", continuou Loretta. Ela tentou sorrir novamente.
Apreciei sua gentileza e que ela estava tentando me oferecer conforto, embora nós duas soubéssemos que eu não tinha chance.
Eu acenei a cabeça. "OK. Ficaria muito agradecida. Obrigada."
Esta deve ter sido a quarta ou quinta loja em que entrei procurando emprego hoje. Eu precisava de um emprego, o mais rápido possível.
Pelo menos Loretta foi gentil comigo em vez de enxotar para fora como os outros lojistas.
Eu conseguia ver que ela era uma boa pessoa. Ela parecia realmente triste por não poder me ajudar.
"Vou ser muito honesta com você, querida," ela continuou logo antes de eu sair.
Ela olhou ao redor rapidamente como se quisesse ter certeza que ninguém ouviria o que ela estava prestes a dizer.
A única outra pessoa que estava na loja conosco, uma mulher mais velha com uma bolsa de aparência muito cara no ombro, tinha acabado de sair. Então estávamos completamente sozinhas.
"Eu adoraria te contratar", Loretta se apressou em dizer. "Eu quero te ajudar. Eu consigo ver que você precisa de uma folga. Mas não posso."
Ela hesitou, com as mãos inquietas à sua frente. "Você não vai conseguir um emprego nesta cidade. Não temos permissão para contratar pessoas de fora."
Minhas sobrancelhas se ergueram. "Pessoas de fora?"
Ela assentiu. "É difícil de explicar, mas… Esta é uma comunidade unida. E o chefe de nossa comunidade precisa aprovar todos que querem entrar."
"O chefe da comunidade? Como o prefeito ou algo assim?"
"Pode se dizer assim. Nosso prefeito".
"Então eu tenho que falar com o prefeito antes de procurar um emprego aqui?"
Ela suspirou. "Bem, não, não exatamente. Sinto dizer que você não vai conseguir nenhum emprego em Evergreen. Ninguém vai te contratar."
Não entendi o que ela quis dizer. Eu nunca tinha ouvido falar de uma cidade onde os empresários contratavam apenas os locais.
Tudo o que eu sabia era que estava cansada. E sobrecarregada. E com muita dor. Eu não tinha a capacidade mental para entender o que ela estava dizendo. E nem queria tentar.
Eu apreciei o fato que ela me disse, porém. Dessa forma, eu não continuaria fazer papel de boba fazendo entrevistas para empregos que não tinha chances de conseguir.
"Ok", eu disse lentamente. "Você sabe se a próxima cidade tem as mesmas regras malucas?"
"Woodhurst?" perguntou Loreta. "Não. Não tem. Mas eu não iria lá se fosse você."
"Por que não?"
"É decrépita. E tem muito crime. Simplesmente não é um bom lugar para se viver."
Os cantos dos meus lábios se levantaram. "Eu cresci em Minneapolis. Acho que consigo lidar com uma cidadezinha no Maine."
Loretta parecia preocupada. Ela me estudou, franzindo as sobrancelhas de preocupação. Mas ela não disse mais nada.
"Obrigada pela ajuda. E por me contar sobre toda essa coisa do trabalho." Segurei a alça da minha mochila e agarrei a alça da minha mala.
Comecei a andar até a porta. "Vou sair do seu caminho agora."
Loretta me parou logo antes de eu sair. "Espere, querida", ela gritou.
Parei e me virei para olhar para ela. Ela contornou o balcão e se aproximou de mim com passos hesitantes.
"Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você?" ela perguntou.
Eu fiz careta. "O que você quer dizer?"
Ela olhou ao nosso redor. "Eu só não me sinto bem mandando você para fora neste frio, especialmente com seu estado."
Troquei meu peso de pé, me sentindo desconfortável e um pouco envergonhada. Eu não estava tão ruim, estava?
"Você está fugindo de alguém?" ela continuou em voz baixa. "Talvez da pessoa que deixou esse hematoma no seu rosto?"
Meu desconforto aumentou quando dei um passo para trás. Eu não podia acreditar que uma estranha estava me perguntando isso.
Eu apreciava seu desejo de ajudar, mas a última coisa que eu queria fazer era falar sobre o que tinha acontecido entre meu antigo companheiro e eu.
Até mesmo pensar em Grayson fazia meu peito doer, tirando todo o ar dos meus pulmões. Minha marca queimou no meu pescoço, e eu estremeci.
"Ah, querida", disse Loretta, obviamente notando minha reação. "Eu sinto muito."
A dor diminuiu depois de alguns segundos e pude respirar novamente. Tirei o cabelo do meu rosto e minhas mãos tremiam. Exaustão corria em minhas veias.
"Está tudo bem. Eu estou bem." Solto um suspiro profundo. "Quero dizer... eu ~vou ~ficar bem."
Loretta não parecia convencida. "Você tem algum lugar para ficar esta noite?"
Não tinha. Mas não ia dizer isso a ela.
Honestamente, eu não queria sua ajuda. Pela minha experiência, as pessoas dizem que estarão prontas para te ajudar e então te apunhalam pelas costas no momento em que você começa a confiar nelas.
Os seres humanos são fundamentalmente egoístas. Prometi a mim mesma que cuidaria das coisas sozinha. Eu precisava me pôr de pé sem depender de mais ninguém. Essa era a única maneira de eu sobreviver.
"Sim. Eu tenho um lugar para ficar esta noite," eu disse a Loretta com tom firme.
Seus olhos se estreitaram. Era claro que ela não acreditava em mim. Não importava, no entanto. Não havia nada que ela pudesse fazer sobre o assunto.
"Eu preciso ir," eu disse antes que ela pudesse continuar me questionando.
"Espere um momento." Loretta voltou correndo para trás do balcão. Ela pegou um post-it e uma caneta, escrevendo algo.
Quando terminou, ela se aproximou de mim mais uma vez. Ela me entregou o papel. "Este é o meu número. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, não hesite em me ligar ou ligar para a boutique."
Olhei para o telefone dela e de volta para ela. Eu não entendia por que ela parecia tão intenta em me ajudar. O que ela esperava ganhar com isso?
Guardei o pedaço de papel no bolso do casaco, sabendo que nunca mais olharia ou pensaria nele novamente. Além disso, eu nem tinha telefone. "Uh, obrigada. Vou me lembrar disso."
Loretta assentiu e sorriu mais uma vez. Ela ainda parecia preocupada, olhando para a minha figura com cautela e torcendo os dedos na frente de seu corpo.
"Obrigada novamente," eu disse. Então abri a porta da frente e saí.
Joguei o número na lata de lixo mais próxima.