O Destino de Quincy - Capa do livro

O Destino de Quincy

Nicole Riddley

Q e J

Quincy St. Martin

Percebi que atmosfera está bem diferente quando abri os olhos esta manhã.

Não sei o que é, mas posso sentir. Já são nove da manhã, mas a casa toda está silenciosa.

Eu nem me preocupei em tentar terminar de limpar os banheiros depois da reunião de ontem ou lavar a roupa, como devo fazer hoje.

Acho que estou pagando o suficiente pela minha acomodação, que é esse cubículo, com as economias de uma vida que tiraram de mim.

Sim, sou amarga e mesquinha mesmo.

Surpreendentemente, ninguém bateu à minha porta exigindo que eu faça minhas tarefas habituais hoje.

A atmosfera sombria me segue enquanto eu caminho para o banheiro do outro lado do corredor para escovar os dentes e tomar meu banho.

Eu voltei rapidamente para me trancar em meu quarto, novamente.

"Estou entediada," eu digo a Oliver.

Agora é meio-dia e estou com muita fome. Estou tentando descobrir o que vou fazer a seguir, mas não consigo pensar quando estou com fome.

"Por que está tão silencioso hoje?" Eu pergunto a Oliver.

Uma batida repentina na minha porta me faz pular da cama.

Eu me arrasto lentamente para a porta, pensando se é ou não sensato abri-la. Ainda posso sentir a mão do Beta em volta da minha garganta. Tive pesadelos com isso ontem à noite.

"Ei, sou eu", diz uma voz baixa através da porta fechada. Jorden!

Eu rapidamente destranco a porta e abro. "Oi."

Seus olhos castanhos chocolate me observam da porta. "Me encontra no jardim dos fundos da casa da vovó em vinte minutos", ele diz, antes de se afastar silenciosamente.

Fecho a porta com um clique e troco o short do pijama por uma calça jeans.

Eu visto uma camiseta cinza e um par de tênis brancos, e passo um pente pelo meu cabelo preto e liso.

Eu tenho um pequeno espelho velho pendurado na parede em frente à minha cama. Peguei aquele espelho da velha casa da minha avó e pendurei lá eu mesma.

Não sou vaidosa, mas uma garota precisa de um espelho.

Meus olhos verdes me encaram do espelho. As pessoas sempre comentam sobre como meus olhos verdes são incomuns e vivos.

Sempre me pergunto se herdei isso do meu pai biológico desconhecido, porque nenhum dos meus parentes aqui tem olhos verdes.

Acho que é uma das coisas na vida que nunca vou descobrir. Pelo menos o inchaço ao redor dos meus olhos por causa do choro da noite passada já se foi.

Corro para fora porque a antiga casa da minha avó fica a quinze minutos a pé da casa do bando. Antes de sair, pego um lenço e coloco em volta do pescoço.

***

"Oi, J!"

"Ei, Q."

Jorden me chama de Q e eu o chamo de J. Juntos, somos Q e J, entendeu? Não? Bem, tudo bem.

Também não entendo, mas quando o Jorden, aos sete anos de idade, me disse que seríamos J e Q, concordei com ele de todo o coração.

O eu de seis anos achou que essa era a coisa mais legal de todas.

Isso foi até eu descobrir que eu seria a sua ajudante, aquela que vai buscar as coisas para ele quando estávamos lutando contra os males do mundo.

Não sou ajudante de ninguém. Nós já discutimos sobre isso.

Agora somos Q e J, na minha cabeça. Mas para ele, ainda somos J e Q.

Eu examino o jardim diante de mim. Essa costumava ser a alegria da minha avó. Ela costumava passar horas cuidando de seu jardim enquanto Jorden e ficávamos brincando.

Já se passaram alguns meses desde a última vez que o vi, e agora ele está selvagem. Existem ervas daninhas entre os canteiros, arbustos, lírios e margaridas.

A grama selvagem cresce livremente entre os tomates, ervilhas, abóboras e beterrabas.

Jorden deve ter visto algo nos meus olhos, porque disse: "Eu planejava em regar as plantas de vez em quando, mas não sou bom nisso. Talvez o novo proprietário seja melhor."

"Sim." Eu engasgo a minha resposta.

É difícil acreditar que esse lugar agora é propriedade de outra pessoa. O novo proprietário ainda não se mudou, mas espero que eles amem e cuidem desse lugar tanto quanto minha avó fez.

Eu olho para cima e dou um sorriso lacrimejante para o meu primo.

"Aqui", ele disse, me entregando um sanduíche embrulhado em guardanapos de papel.

Só o cheiro já me dá água na boca. Enfio o sanduíche de peru na boca. Oh, tão bom! Eu sei que pareço uma porca, mas estou com fome, e estamos só eu e o Jorden aqui.

Parece que não como há dias! Oh, espere! Eu realmente não como há dias, exceto por algumas bananas que roubei da cozinha ontem de manhã, antes de começar as minhas tarefas.

Eu olho para o meu primo, dando-lhe um grande sorriso com a minha boca ainda cheia. O sorriso que ele dá de volta parece triste.

Encontro seus olhos escuros me observando com atenção enquanto termino de comer. Engolir ainda dói, mas um estômago faminto dói também.

De repente, ele se aproxima e começa a desenrolar o lenço do meu pescoço. "Jorden..." eu protesto, mas ele inclina a cabeça para inspecionar a minha garganta.

Um músculo palpita em sua mandíbula enquanto seu dedo desliza suavemente na pele avermelhada da minha garganta. Com a mesma rapidez, ele me solta e enfia as mãos nos bolsos da calça jeans.

Ele se vira e chuta uma pedra. Seu movimento reflete as suas frustrações. Ele chuta as pedras mais uma vez.

"Você tem que sair daqui", ele disse.

Meu coração gagueja com suas palavras, e eu apenas o observo por um momento. Seus ombros largos estão curvados e a sua cabeça está baixa.

O vento sopra o seu cabelo selvagem. O cabelo dele está ficando cada vez mais comprido e por isso, começa a enrolar. Se ficar longo o suficiente, vai começar a se transformar em cachos.

Eu costumava zombar do cabelo dele quando éramos pequenos, porque secretamente eu desejava ter aqueles cachos.

"Você me ouviu, Q? Você tem que sair daqui. O quanto antes."

Ele se vira para olhar para mim. Seus olhos estão muito tristes. "Não posso te proteger, Q. Você tem que ir para longe daqui e não voltar mais."

"Por quê?" Eu conheço o Jorden. Há algo que ele não está me contando. "Jorden?"

"Está tudo fodido, sabe, Q? O meu pai está ferrado. O nosso bando é um grande desastre."

Nunca ouvi o Jorden St. Martin xingar desse jeito, antes. As bocas sujas da família sempre foram a minha avó e eu, tanto que tínhamos um potinho de palavrões.

Eu ainda tenho aquele potinho. Costumávamos colocar uma moeda de dez centavos nele cada vez que xingávamos. É por isso que tento não xingar tanto. Estou falida.

Jorden passa os dedos pelos cachos rebeldes antes de esfregar o rosto com a mão. Seus olhos parecem cansados.

Ele é mais do que um primo para mim. É como um irmão. Ele é o único que costumava visitar a nossa avó com frequência. Ninguém mais vinha.

Eu costumava me sentir secretamente culpada por ela ter que ir à casa do bando para ver todos eles.

Talvez, se eu não morasse lá, eles teriam visitado a vovó mais vezes.

Eu ouço o som do vento soprando nas folhas e farfalhando as folhas da grama alta.

O canto dos pássaros nunca soou tão doce.

Estamos tão longe de todos e isso, por si só, é uma liberdade. Eu sinto falta disso aqui.

"Você sabia que a Judith Maddox, nossa ex-Luna, morreu ontem à noite?" disse Jorden, quebrando o silêncio pacífico.

"Ela está morta?"

Talvez seja por isso que tudo parecia tão estranho hoje mais cedo. Eu não conhecia a velha Luna muito bem, ela estava acamada há anos, mas ainda assim fiquei meio triste.

Jorden acena com a cabeça. "Ela morreu ontem à noite", ele repete. "Quer ouvir algo engraçado, Q?"

"Ok," eu digo. Não sei o que pode ser engraçado nisso.

"Ontem, depois que todos deixaram o escritório do meu pai, o velho Sr. Maddox veio visitar o meu pai."

Eu aceno, mas tenho um mau pressentimento.

"Eu acho que não há nada de estranho nisso, já que eles são melhores amigos. Meu pai serviu como seu Beta por décadas enquanto ele ainda era um Alfa, mas de alguma forma eu tinha um mau pressentimento sobre isso. Ou talvez porque ainda estava chateado com o meu pai por colocar as mãos em você. Não sei, mas seja o que for, decidi ouvi-los. Entrei em um armário de vassouras ao lado do escritório, onde a parede é mais fina. "

"OK."

"Q, eu o ouvi dizer ao meu pai que você é a companheira de segunda chance dele", ele disse. A sua respiração fica mais pesada. Seu peito se move para cima e para baixo muito rápido. "É besteira, Q. Como ele pode encontrar a companheira de segunda chance quando a sua verdadeira companheira ainda estava viva? Idiota! É mentira, e ouvi meu pai concordar com ele. Eles concordaram que você é a sua companheira ontem à tarde, e ontem à noite... justo ontem à noite, a companheira dele morreu!"

Ele agarra meus braços com força. "Não posso deixar que toquem em você, Q. Não posso deixar meu pai colocar a mão em você de novo, porque ele vai acabar te matando. E eu não posso deixar aquele porco velho colocar a mão em você..."

Sua voz falha e ele balança a cabeça.

"Eles devem ter feito algo para acabar com ela. Só pode ser. Eu sento isso no meu coração. Se eles a mataram, o que seriam capazes de fazer com você?"

Eu puxo as minhas mãos de seu aperto, envolvo meus braços em torno de sua cintura e coloco a bochecha contra seu peito. O corpo dele está tão tenso e rígido. Seu coração está batendo rápido.

Isso deve ser muito difícil para o Jorden. Não sei por que estou tão calma.

Acho que vou começar a pirar em breve, mas tenho que me certificar de que o Jorden se acalme antes de começar a perder o controle.

Depois de um tempo, senti seu corpo começar a se soltar enquanto ele envolveu seus braços em volta de mim e enterrou o rosto no meu cabelo. Seu batimento cardíaco começou a voltar ao normal.

"Eu não quero que você vá, mas não posso mantê-la segura. Eu odeio não poder proteger você, Q."

"Tudo bem, J. Tudo bem", digo a ele, embora a minha cabeça esteja girando.

Eu não tenho nenhum dinheiro. Para onde eu posso ir? Como faço para sair daqui?

Eu sei que eles não me deixariam ir antes, mas uma vez que um deles me reivindicasse como sua companheira, seria impossível sair daqui.

Solto Jorden quando tenho certeza de que ele se acalmou o suficiente. Nós dois nos sentamos de pernas cruzadas na grama, um de frente para o outro, como costumávamos fazer quando éramos mais jovens.

"Eu te amo tanto quanto amo a Joelle, talvez mais. Acabei de perder a vovó e agora estou prestes a perder você também." Eu vejo seu pomo de adão balançar enquanto ele engole em seco. "A vida é uma droga."

Eu apenas aceno. Como vou sobreviver? É um mundo assustador lá fora, mas a ideia de ser marcada pelo Velho Sr. Maddox e ficar presa aqui para sempre é ainda mais assustador.

Não posso ir para a universidade, como planejado. Será o primeiro lugar que eles vão me procurar, quando descobrirem que eu parti.

Eu tenho que ir o mais longe possível, onde eles não possam rastrear o meu cheiro.

Tenho que arranjar um emprego. Quem vai me contratar? Eu teria que ir para o sul. Talvez eu vá para Las Vegas e seja uma stripper.

Talvez eu me mude para o Texas e trabalhe em um bar decadente como garçonete.

"Vou ter que trabalhar nas ruas ou algo assim e mudar meu nome para Candy".

Sem querer ofender nenhuma Candy, mas se eu tiver que trabalhar nas ruas, quero que esse seja o meu nome.

"Por que você tem que trabalhar nas ruas e mudar o seu nome para Candy?" Jorden me perguntou depois de me olhar estranhamente por quase um minuto.

"Bem, saco vazio não para em pé! Duh!"

Jorden suspira. "Você não vai vender o seu corpo, Q. Eu não vou deixar", ele disse. "Você tem uma imaginação tão selvagem."

Ele balança a cabeça. "Não se preocupe. Eu tenho tudo planejado. "

"Para onde eu iria, J? Não tenho para onde ir. Não tenho dinheiro. Mesmo se eu tivesse o dinheiro, sei que eles me encontrariam se eu fosse para a universidade, como planejei."

"Não, a universidade agora está fora de questão. Você tem que ir para longe. O mais longe que você pude, para que ninguém possa rastrear o seu cheiro. Você vai para esse lugar."

Ele me entregou um pedaço de papel que tirou do bolso de trás da calça.

É uma carta de aprovação em uma pequena faculdade na Califórnia. Lembro-me de deixar aquela carta no meu antigo quarto na casa da vovó. Tinha sido apenas uma viagem da minha parte quando me inscrevi para aquela faculdade. Sonhava em ir para algum lugar longe daqui onde ninguém me conhecesse. Naquela época, a vovó ainda estava viva e eu não tinha nenhuma intenção real de me mudar para o outro lado do país com ela.

Eu fico olhando para a carta.

"Mas eu mandei um e-mail para a faculdade dizendo que não iria para lá. Acho que provavelmente eles já deram o meu lugar para outra pessoa."

"Sim, mas o Jonah está lá para cuidar de você e ele conhece alguém que pode consertar isso."

"Jonah?" Meu queixo caiu. Jonah é o irmão mais velho de Jorden.

Ele deveria assumir o título de Beta de seu pai quando ele completou vinte e um anos, há mais ou menos uns seis anos, mas ele deixou o bando antes que isso acontecesse.

Ouvi dizer que ele teve uma grande briga com o seu pai e o velho Sr. Maddox, que ainda era o Alfa naquela época.

Eu tinha 12 anos quando ele foi embora e não sei muito além do que ouvi por aí.

Jonah é conhecido como um encrenqueiro. Ele está sempre se rebelando contra o seu pai. Sempre fazendo o que não deveria.

Misturando-se com a turma errada. Brigando. Disseram que ele é uma má influência. Ninguém sabe para onde ele foi. Bem, aparentemente, o Jorden sabe.

"Eu não sabia que você ainda mantinha contato com ele."

"Sim, ele entrou em contato comigo há dois anos e me deu seu número, apenas para emergências. Isso se qualifica como uma emergência", respondeu Jorden.

"Eles vão se reunir na lua ardente, hoje à noite. Prepare-se para sair por volta das oito, quando todos estiverem ocupados lá."

Eu sei o que vai acontecer. Haverá uma grande reunião sob o luar.

O corpo dela será queimado em uma pira na clareira na floresta a cerca de oitocentos metros da casa. Então, todos se transformarão em seus lobos.

Eles uivarão para a lua e correrão para mostrar seus últimos respeitos à pessoa, neste caso, a velha Sra. Maddox.

Eu estava lá para a minha avó, embora eu apenas tenha ficado do lado, sozinha, quando todos se transformaram e foram para a corrida.

"Aqui, pegue o número dele. Ligue para ele assim que chegar, e aqui está algum dinheiro. Eu sei que não é o suficiente, mas vai te ajudar a começar."

Eu fiquei olhando para um pedaço de papel e a pilha grossa de notas de cinquenta dólares em minha mão. Deve haver mais de mil dólares aí.

"Não posso aceitar esse dinheiro, J. Este é o seu dinheiro."

"Precisamente. É meu dinheiro, então posso fazer o que quiser com ele e quero que você fique com ele", diz ele. "Apenas aceite, Q. Pare de discutir comigo. Você não pode se dar ao luxo de ser orgulhosa agora. Você vai precisar."

Eu fiquei olhando para o dinheiro em minhas mãos. Eu sei que ele está certo. "Obrigada, J," digo a ele.

"Ei, Q?"

"Sim?"

"Me desculpe por nunca ter te defendido quando eles zombaram de você e te intimidaram. Eu sou um covarde." Ele olha para o chão, sem encontrar os meus olhos. Deve ser difícil para ele admitir isso.

"Tudo bem, J", eu respondo com sinceridade. Nunca esperei que alguém lutasse as minhas batalhas por mim.

"Pra constar, eu estou orgulhoso de você, Q. Você nunca desistiu. Você não merece nada disso e é muito forte", ele disse.

"Vai com tudo e tenha uma vida boa, Q. Nunca olhe para trás."

Sim, eu não tenho mais nada aqui. Acho que não vou voltar. A única pessoa de quem sentiria falta seria o Jorden.

Lágrimas começam a brotar em meus olhos, mas levantei meu queixo e sorri.

"Eu pago você de volta, J. Um dia eu pago o seu dinheiro de volta." Não sei se isso é possível, mas é bom dizer isso. Isso me fez sentir que vou vê-lo novamente.

"Você é muito parecida com a sua avó, Q."

"Mesmo???" Eu sorri para ele. Algumas gotas de lágrimas caíram pela minha bochecha.

Limpei o choro, rapidamente. Esse é o maior elogio que alguém poderia ter me dado. Minha avó tinha sido uma pessoa incrível!

Ela tinha acabado de perder seu amado companheiro quando a filha deixou um bebê recém-nascido indesejado, que ela nem se preocupou em nomear, em sua porta.

Minha avó pegou o bebê. Ela o batizou com o nome de seu companheiro, Quincy St. Martin. Sim, ela me deu o nome de meu falecido avô.

Ela poderia ter se afundado no luto depois de sofrer uma perda tão grande, mas ela se levantou e deu ao bebê um nome e um lar.

Isso é o quão incrível minha avó era.

"Sim, você é orgulhosa e forte, mas gentil e bondosa... e um pouco doida", Jorden disse.

"Eu também te amo, J. Eu também te amo."

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