Natalie Le Roux
Uma risada profunda encheu o espaço quando a conexão com o Conselho de Decágono terminou.
Bor ergueu os olhos da tela, encontrando os profundos olhos castanhos escuros de seu segundo em comando.
"Você está se divertindo, Korom?" Bor perguntou, sentindo a tensão sair de seus ombros.
Korom balançou a cabeça. "Engraçado, você não acha? Apenas alguns momentos atrás, você estava dizendo que todos nós precisávamos de uma boa luta para aliviar um pouco a tensão que crescia nos guerreiros. Agora, recebemos essa chamada."
Bor riu de seu segundo em comando e amigo de longa data. Se alguém sabia como ver o humor em uma situação em que muitos dos guerreiros sem dúvida morreriam, esse alguém era Korom.
Balançando a cabeça para o homem esparramado na cadeira em frente à sua mesa, Bor se levantou e foi até a estante de bebidas atrás dele.
"Colete as informações sobre o planeta chamado Terra. O conselho pediu que salvemos os habitantes deste mundo. Eu quero saber com o que estamos lidando."
Korom não hesitou em obedecer ao pedido. Isso era uma coisa que Bor apreciava em seu subordinado. Ele podia fazer Bor rir, mas ainda era um dos guerreiros mais mortíferos de todo o seu exército.
Até Bor tinha que apreciar a tenacidade do homem para matar. Ele não era apenas hábil na arte de tirar uma vida. Korom era um mestre nisso. Nenhum outro poderia tirar uma vida como Korom fazia.
Mas por mais que o homem irradiasse perigo mortal, ele também era um dos homens mais leais e honrados que Bor já conheceu.
Bor entregou uma bebida ao amigo enquanto ele se sentava novamente em sua mesa. Já fazia um tempo desde que o Conselho do Decágono pediu ajuda aos guerreiros Torian.
Mas, como a mulher assustada do conselho havia mencionado, todo o financiamento que os guerreiros Torian conseguiam para manter não apenas seu mundo natal seguro, mas todos os planetas sob o governo do Decágono viam dekes, seria muito imprudente não fazer o que eles pediram.
"Parece que esta Terra é habitada por uma pequena raça de seres masculinos e femininos. Eles não são muito diferentes de nós, irmão," afirmou Korom, levando a bebida aos lábios.
Bor tomou um gole do líquido âmbar escuro, observando a informação passar pelas telas.
Humanos. É assim que essa raça se autodenominava. Pequenos, frágeis e fracos. Ele rosnou baixo, seu aborrecimento em ajudar outra raça fraca aflorando.
"Eles não estão sob a proteção do Conselho do Decágono. Por que o conselho se envolveria com um planeta tão primitivo?" Korom perguntou, olhando Bor com uma sobrancelha levantada.
"Não foi o conselho que pediu a nossa ajuda. É o observador, comandante Kurmar."
"Observadores? Eles são apenas rumores ... certo?"
Bor balançou a cabeça. Eles tiveram essa conversa muitas vezes no passado. As histórias dos observadores e do observatório chamado Olho se espalharam pelo universo por centenas de anos.
Mas ouvir o homem na comunicação falar as palavras trouxe verdade às histórias que incomodavam Bor mais do que deveria.
"Não mais. O comandante Kurmar é o observador-chefe. A única vez em que ouvi esse título sendo usado foi quando falaram sobre o Olho."
Um rosnado profundo e perigoso veio de Korom, fazendo Bor se levantar para olhar para seu amigo.
A névoa pesada e escura vibrando ao redor de seu corpo maciço demonstrava a raiva mal controlada que o homem sentia por aqueles que assistiam ao sofrimento e à morte e não faziam nada a respeito.
"Está mudando, meu amigo," Bor disse em uma voz suave. "Os observadores estão se envolvendo com este mundo. Talvez seja um sinal do que está por vir."
"Não entendo a necessidade de zelar pelos mundos subdesenvolvidos. Para que? Conhecimento? O quanto aqueles kisak podem aprender simplesmente observando uma raça de tão longe?"
Bor sabia de onde vinha a raiva do homem. Seu planeta também sofreu a força implacável dos spinners muitos anos atrás.
Apenas os observadores e o Conselho do Decágono não os achavam prontos para se juntar aos outros planetas por muitos anos mais. Era apenas pelo destino que seu amigo se sentava diante dele agora.
Abandonado em um navio de carga para morrer sozinho no escuro, Korom foi salvo pelo pai de Bor em uma missão para encontrar os piratas que atacaram e saquearam a nave, matando qualquer um que estivesse a bordo.
A mãe de Korom havia escondido o bebê nas grades do chão, salvando sua vida.
Só depois que a embarcação entrou no território do Decágono é que os Torians foram enviados para investigar.
"Questionar as razões do Olho e o comportamento desonroso dos observadores não é do interesse de nosso povo, meu amigo."
"Nosso mundo está finalmente prosperando mais uma vez. Se nos permitirmos viver no passado, ele nunca nos libertará de seu domínio irritante."
"Eu lhe dei minha palavra há muitos anos, Korom, e ainda a mantenho. Encontraremos aqueles que mataram sua família e você terá sua vingança. Por enquanto, temos uma nova missão."
***
Lilly ficou o mais imóvel possível embaixo da enorme caminhonete estacionada na lateral do campo. Ela tentou manter a respiração o mais silenciosa possível, não querendo fazer o menor som.
Um pequeno grupo de alienígenas feios que atacaram a Terra três semanas atrás estava se movendo em sua direção. O cruzamento entre um lagarto e uma aranha era algo saído de um pesadelo.
Mas, como Lilly aprendeu nas últimas semanas, eles tinham uma pequena desvantagem. Eles eram completamente cegos. Contanto que ela não fizesse nenhum som, eles deveriam passar direto por ela.
Pelo menos, ela esperava que sim. Se ela tinha alguma esperança de voltar para suas irmãs, ela precisava escapar deste campo e voltar para a pequena cidade de Sikes, Louisiana.
O campo fora apenas um pit stop para elas, tendo viajado de Monroe ao longo das semanas.
Sua respiração ficou presa em seu peito quando o som de raspagem das garras se aproximou.
Inclinando a cabeça para o lado, Lilly prendeu a respiração enquanto observava o enxame passar por ela, indo na direção de onde ela tinha acabado de vir.
Ela não tinha ideia do porquê havia tantos deles aqui. Pelo que ela viu dos monstros alienígenas, eles gostavam de comer qualquer coisa que se movesse ou tivesse pulso.
Não havia muito disso nas ilhas da Louisiana, então o grande número de criaturas a confundiu.
Centenas de pernas rasgaram o asfalto enquanto eles passavam pelo caminhão, fazendo a pesada peça do maquinário tremer e gemer com a força de seus corpos quase impenetráveis batendo nela ao passarem.
Lilly fechou os olhos, respirando lenta e silenciosamente, e pensou nas irmãs esperando na velha casa de fazenda que haviam encontrado na noite anterior.
Seu coração se apertou com a memória de como Violet estava doente.
Sua tosse alta e sibilante quase as matou alguns dias atrás, mas graças ao raciocínio rápido de Tulip, elas conseguiram sair do pequeno posto de gasolina com vida.
A única das quatro irmãs que não estava indo muito bem com todas essas coisas de fim do mundo era Rose.
Não que alguma delas estivesse se divertindo, mas a jovem mimada estava acostumada a um estilo de vida mais luxuoso.
Lilly sorriu ao se lembrar de sua irmã tendo que se aliviar nos arbustos pela primeira vez.
A sequência de xingamentos criativos que saiu de seus lábios perfeitamente pintados de vermelho era o suficiente para deixar qualquer marinheiro orgulhoso.
Depois que a horda passou, Lilly ficou deitada por mais alguns instantes, a mochila que usara para pegar o remédio presa com força na mão.
Sua mente lutou para pensar em todos os medicamentos que encontrara numa pequena farmácia na periferia da cidade.
Como estudante de medicina, ela deveria saber o que era tudo isso, mas seu campo não envolvia produtos farmacêuticos. Ela era uma estagiária cirúrgica com apenas um ano de residência restante.
Então o planeta virou uma merda, e ela e suas irmãs começaram a fugir.
Uma coisa pela qual ela seria eternamente grata era ter ido para casa para visitar seu pai no seu septuagésimo aniversário.
Todas as meninas foram para casa passar o fim de semana com o pai. Foi quando a primeira bola de terror negro caiu do céu.
A única coisa pela qual ela seria eternamente grata era ter ido para casa para visitar seu pai no seu septuagésimo aniversário.
Todas as meninas foram para casa passar o fim de semana com o pai. Foi quando a primeira bola de terror negro caiu do céu.
Ninguém poderia esperar que os meteoros explodissem nas horríveis criaturas que agora devoravam tudo em seu caminho.
Com um último olhar ao redor, Lilly se moveu o mais silenciosamente que pôde pelo chão duro e úmido.
Ela saiu de debaixo do caminhão, examinando a área em busca do menor dos movimentos, antes de se levantar.
À distância, ela podia ver o enxame escuro de criaturas correndo de volta para a cidade de onde ela acabara de retirar de todos os suprimentos que pudesse encontrar.
Se sentindo desafiadora, Lilly ergueu o dedo médio na direção da massa que partia, segurando-o por alguns segundos no ar, depois baixou a mão para o lado do corpo.
Com um longo suspiro para acalmar os nervos, Lilly se virou e se moveu rapidamente em direção à casa da fazenda a apenas um quilômetro de distância.
Ela precisava chegar até Violet e as outras. Sua irmãzinha precisava desesperadamente da medicação, e nenhuma delas comia há mais de dois dias.
Com todas as mortes acontecendo ao redor delas, Lilly esperava encontrar comida em abundância em cada casa.
Mas, como o destino ou alguma outra força doentia queria, as criaturas ou comeram qualquer coisa que não estivesse em uma lata ou simplesmente cobriram tudo com o lodo nojento que escorria de suas bocas.
Enquanto ela corria para a casa, os olhos examinando os campos abertos ao seu redor, Lilly não pôde evitar o sorriso que se espalhou em seu rosto. Ela havia conseguido.
Ela empurrou a porta, sem dizer uma palavra, enquanto se movia para a sala dos fundos. Rose a encontrou na porta do que antes era uma adorável sala de estar no campo.
"Você encontrou algo?" Rose sussurrou, seus olhos esperançosos.
Lilly assentiu com um largo sorriso, tirando a mochila das costas.
Tulip veio até ela, dando-lhe um abraço apertado, e Lilly percebeu o brilho de lágrimas nos olhos da irmã mais nova.
"Por que demorou tanto?" Tulip perguntou em voz baixa, seu corpo pequeno e magro como um palito tremendo.
"Tive que esperar que uma horda dessas coisas passasse. Não sei o que os deixou irritados, mas eles estavam com muita pressa para chegar a algum lugar."
Os olhos de Rose se estreitaram e Lilly já podia ver as palavras se formando em sua irmã olhando em seus olhos. Ela a parou antes que ela pudesse falar.
"Eu não tive escolha, Rose. Estou bem. Encontrei remédios para Violet e comida para todas nós. "
Isso parou a reprimenda que ela podia ver crescendo em sua irmã. Com uma piscadela, Lilly se abaixou e tirou da mochila as quatro latas de ensopado de carne que havia encontrado, bem como um pequeno saco de arroz.
Isso era suficiente para alimentá-las por pelo menos três dias se tivessem cuidado com as porções. Ela pegou as três caixas de medicamentos e se levantou.
"Eu preciso levar isso para Violet. Rose, você e Tulip preparem o jantar. Ficaremos aqui mais uma noite, mas precisamos nos mudar. Essas coisas estavam indo para algum lugar e eram muitas."
"Eu não gosto disso. Pode haver mais, e eu realmente não quero ficar por aqui para descobrir."
Rose acenou com a cabeça, pegando as latas de Lilly e gesticulou para que Tulip fosse com ela.
Lilly entrou na sala, onde Violet estava deitada em um sofá. Ela estava tão pálida, sua pele tinha um tom doentio de cinza, e a fina camada de suor em sua pele preocupava Lilly.
Ela se ajoelhou ao lado da mais nova e colocou a mão em sua testa. Ela estava queimando. Uma onda de pânico tomou conta de Lilly ao pensar que, mesmo como médica, ela não poderia ajudar a irmã mais nova.
O problema era que Violet havia colhido uma maçã de uma árvore ao sair de Monroe. Uma maçã que tinha o limo das criaturas por toda parte.
A maçã estava seca devido ao sol de meados de agosto da Louisiana, mas isso não a impediu de ficar violentamente doente e fraca.
Lágrimas queimaram seus olhos ao perceber que ela não tinha ideia do que estava lidando aqui. Até onde ela sabia, nenhum dos medicamentos que encontrou poderia ajudar a doce e amorosa adolescente de dezesseis anos.
Ignorando o medo de perder outro membro de sua família, Lilly pegou o medicamento e leu os rótulos. Uma caixa de antibióticos, uma caixa de analgésicos e uma caixa de anticoncepcionais. Excelente.
Na pressa de sair da farmácia, não perdeu tempo para ler os rótulos.
Ela enfiou as duas caixas na mochila, quase saindo da farmácia, até que se abaixou para se esconder de uma criatura e viu os antibióticos embaixo da prateleira.
Os olhos de Violet se abriram, seus profundos olhos azuis olhando cegamente para o teto. Todas as irmãs tinham a mesma genética. Todas tinham cabelos escuros, com olhos azuis impressionantes.
Algo de que seu pai sempre se orgulhou enquanto era vivo.
"Ei," Lilly sussurrou, acariciando a bochecha de Violet, "Eu tenho alguns remédios para você. Você pode se sentar?"
Violet acenou com a cabeça fraca, mas engasgou e começou a tossir assim que tentou se mexer. O pânico passou por Lilly com o som alto enchendo a casa silenciosa.
Violet escondeu o rosto no travesseiro, abafando o som o melhor que pôde enquanto seu corpo estremecia com a tosse.
Depois de alguns minutos, Violet recuou, seus olhos fechando novamente, e Lilly piscou para conter as lágrimas ao ver sangue no travesseiro ao lado da cabeça de Violet.
"Ai, meu Deus, não", Lilly murmurou para si mesma, afastando o cabelo do rosto da irmã mais nova.
"Eu não vou deixar você morrer, Vi. Eu juro, farei o que for preciso, mas você não vai morrer. Está me escutando?"
Violet gemeu, seus olhos permanecendo fechados. Lilly deixou cair uma lágrima, uma sensação de desamparo e derrota tomando conta de seu corpo. Não havia para onde correr.
Nenhum lugar para se esconder das criaturas, e seu corpo e mente estavam lentamente começando a desistir da luta que ainda estava por vir.